Ciro Sanches Zibordi
Mais erros que os
Pregadores devem evitar
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evangélicos
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Copyright© 2007 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de
Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.
Preparação dos originais e
revisão: Ciro Sanches Zibordi
Capa: Alexander Diniz
Projeto gráfico: Eduardo Souza
Editoração: Natan Tomé
CDD: 251 - Homilética
ISBN: 978-85-263-0891-6
As citações bíblicas foram
extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995 da Sociedade
Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.
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SUMÁRIO
DEDICATÓRIA
Perguntaram-me, recentemente:
"O que o irmão acha dos famosos pregadores da atualidade?" Respondi
que conheço poucos pregadores que façam jus a este título, e que eles não são
tão famosos assim.
Dentre os poucos pregadores
que conheço, gostaria de destacar alguns dos meus amigos, aos quais dedico esta
obra literária.
Ao Amigo Jesus, o
Pregador-modelo, maior expoente das Escrituras que o mundo já conheceu.
A Ronaldo Rodrigues de Souza,
o pregador-líder.
A Antonio Gilberto, o
pregador-mestre.
A Valdir Nunes Bícego (in
memoriam), o pregador-profeta.
A José Prado Veiga, o
pregador-conselheiro.
A Maurilo Gonçalves, o
pregador-pai.
A Francisco José da Silva, o
pregador-pastor.
A Nilton Coelho, o
pregador-adorador.
A Cícero da Silva, o
pregador-intercessor.
A José Gonçalves, o
pregador-apologista.
Aos amigos Sílvio Tomé,
Moisés Cecílio, Cássio Roberto e César Moisés Carvalho, integrantes da nova
geração de pregadores que não se deixou levar pela "nova onda". Que
Deus os mantenha assim.
E a todos os pregadores do
evangelho de Cristo, líderes, ensinadores, seminaristas e professores de Escola
Dominical.
AGRADECIMENTOS
Dou graças ao Senhor Jesus
Cristo por mais esta mensagem que dEle recebi. Reconheço a minha pequenez
diante da grandeza do Todo-Poderoso, que manteve a sua boa mão estendida sobre
a minha vida durante a execução de todas as etapas deste projeto. Apresento
esta obra ao público ledor com profunda gratidão e apreço pelos companheiros
cuja contribuição foi significativa ao meu próprio pensamento e à minha vida.
Agradeço aos meus valorosos
pais Renato e Célia; tudo começou ali, no Morro Grande — uma humilde vila da
periferia da zona norte de São Paulo —, onde deles ouvi, na infância,
ensinamentos que preservo até hoje em meu coração. Ah, não posso deixar de
agradecer também a meus sogros: Sidnei e Marisa, que sempre me trataram como
filho.
Sou grato a Luciana, minha
amada esposa, cooperadora de Deus, compreensiva, ajudadora e companheira, a
qual tem estado ao meu lado nas batalhas empreendidas; e à amável Júlia, nossa
linda filhinha, em nome de quem estendo a minha gratidão a toda a família:
irmãos, sobrinhos, tios, primos...
Tenho uma dívida de gratidão
impagável com o irmão Ronaldo Rodrigues de Souza, diretor executivo da CPAD, o
qual, desde a minha primeira obra, em 2003, acredita em meu trabalho.
Agradeço ao mestre Antonio
Gilberto por sua amizade, exemplo de vida e dedicação à obra do Senhor.
Reconheço a influência que o irmão Gilberto tem exercido sobre o ministério que
Deus me outorgou.
Sou grato a Claudionor Corrêa
de Andrade, gerente de publicações da CPAD, grande incentivador e exemplo como
escritor. Deixo aqui um conselho a quem deseja escrever bem: leia com bastante
atenção os livros do pastor Claudionor; cada obra é uma verdadeira aula de
redação e estilo.
Agradeço a Nilton Coelho, um
amigo especial com quem tenho o privilégio de partilhar projetos, dificuldades,
novas idéias, etc, sempre ouvindo de sua parte uma palavra de aconselhamento e
incentivo.
Não posso deixar de agradecer
a Sílvio Tomé (gerente da Casa Publicadora da Assembléia de Deus em Portugal),
que, embora distante geograficamente, continua bem próximo, em meu coração.
Sou-lhe grato por contribuir para a propagação das minhas mensagens escritas na
Europa.
Agradeço ao amigo Ricardo
Santos, gerente da CPAD em Niterói (Rio de Janeiro), um grande divulgador de
minhas obras em boa parte do Estado Fluminense.
Sou grato a César Moisés,
que, no dia-a-dia, tem sido um grande companheiro, com quem partilho
informações sobre a obra do ministério. Sou-lhe agradecido, ainda, por ter
aceitado prontamente o convite para prefaciar esta obra.
Tenho uma grande dívida com o
irmão Ernesto, fornecedor de hardware da CPAD, que me socorreu quando eu havia
perdido todas as informações de meu computador pessoal.
Agradeço a Francisco José,
pastor da Assembléia de Deus do Ministério de Cordovil, no Rio de Janeiro, por
compreender que o ministério a mim outorgado por Deus envolve itinerância.
Temos a tendência de nos
lembrar sempre dos amigos e companheiros que estão mais próximos, mas quero
aqui estender os meus agradecimentos a todos os pastores que passaram pela
minha vida, pela ordem, sem mencionar o local de seu pastorado: Sebastião
Magnenti, Adelino dos Santos, Maurilo Gonçalves, Genivaldo de Melo, Valdir
Nunes Bícego (in memoriam) e José Prado Veiga.
Sou grato a alguns amigos que
de alguma maneira — ainda que não tenham conhecimento disso — contribuíram para
a realização deste projeto e de outros: Cícero da Silva e Alexandre Gonçalves,
companheiros íntegros e leais; Davi Mesquita, Valter Miranda e Tamar Soares,
amigos que, durante um bom tempo, fizeram parte do meu dia-a-dia; Josafá
Franklin Bomfim, companheiro das caminhadas pós-almoço, nas quais conversamos
sobre o Reino de Deus, planos, carreira profissional e até algumas
efemeridades.
Ufa! Acabei de chegar à
conclusão de que é impossível agradecer a todas as pessoas que ao longo da
minha vida tiveram participação neste e noutros livros. Como me lembraria do
nome de cada um dos meus professores seculares, da escola dominical e do
seminário, os quais, sem dúvida, contribuíram para que eu fosse como sou?
Finalizo esta longa lista de
amigos e colaboradores agradecendo a todos os pastores, em todas as regiões do
Brasil e no exterior, que têm me convidado para repartir com o povo de suas
igrejas as mensagens que o Senhor me tem dado. Sou-lhes grato pelo amor e
hospitalidade demonstrados.
Portanto, tomando emprestadas
algumas frases de um escritor sagrado, que mais direi? Faltar-me-ia o tempo
falando de todos aqueles que me ajudam e me incentivam a correr, com paciência,
a carreira que me está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé.
PREFÁCIO
Era uma tarde de domingo do
mês de dezembro de 1996, quando, com entusiasmo, abri uma das mais populares
revistas evangélicas do país: a Seara. Quarentona e com uma nova roupagem, ela
trazia matérias e artigos interessantes. Ao folheá-la, deparei-me, na página
15, com o artigo "Há vida fora da Terra?", e por ser um assunto
relacionado à criação do Universo — objeto de minhas pesquisas há alguns anos —
passei a lê-lo.
O nome do articulista, para
meu português paranaense, me soou como um trava-língua: Ciro Sanches Zibordi.
Daí em diante, passei a ler, em todas a s
edições da extinta revista, a coluna Nosso Tempo.
Geralmente, após ler um
texto, você idealiza a pessoa e faz uma imagem mental de sua aparência. Pela
diversidade dos temas tratados, sempre que lia, imaginava alguém da faixa
etária da melhor idade. Essa idéia se cristalizou quando li — primeiro sozinho
e depois para alguns amigos, que, como eu, eram aspirantes ao ministério da
Palavra —, na página 12 do Mensageiro da Paz de outubro de 1997, o artigo
"Cuidado com os velhos chavões". Esse texto mostrou-nos a
precariedade do conhecimento bíblico em nosso meio, pois não foram poucas as
ocasiões em que ouvimos diversos pregadores citar aqueles bordões como se
fossem parte da Escritura.
Como jovens iniciantes,
estávamos ávidos por referenciais paradigmáticos e, geralmente, nessa fase,
imita-se quem está em tela, na "crista da onda" e em destaque; logo,
vê-se como essa sabedoria popular evangélica foi se alastrando.
Mas tal foi a minha surpresa
quando na edição de março de 1998 a foto do então presbítero Ciro Sanches
Zibordi foi publicada. Era um jovem (não tanto quanto eu) que, a despeito de
sua idade, tratava de temas controvertidos com segurança, profundidade e
ortodoxia singulares.
Felizmente, o tempo passou.
Com as experiências, adquiri um pouco mais de maturidade. E, com esta, as
obrigações, quando percebi, à luz da Bíblia, que ser um pregador significava
exatamente o oposto do que comumente se pensa: muitos convites,
confraternizações, grandes conferências, vultosos cachês, fama, e por aí vai.
Em lugar disso, ser verdadeiramente um pregador é ser porta-voz de Deus. É ter
compromisso com Ele e com a salvação das pessoas, mesmo que isso signifique (e
quase sempre significa mesmo!) impopularidade, desprezo e até a perda da
cabeça. Pois não se transige a verdade escriturística por nada.
Não faz muito tempo que, pela
primeira vez, ouvi o pastor Ciro ministrar. Foi no dia 23 de fevereiro de 2004,
em Belo Horizonte (Minas Gerais), em que ele, baseando-se em 2 Samuel 22.13,
pregou uma mensagem bíblica e pentecostal — "O que aumenta e mantém o fogo
do Espírito em nossas vidas?" — pela qual enfatizou algumas dimensões da
vida cristã cheia do poder: 1) batismo no Espírito Santo; 2) Palavra de Deus;
3) oração; 4) humildade; 5) consagração; e 6) renovação espiritual.
Pelos pontos abordados em sua
mensagem vê-se que não há nenhum paralelo com as aberrações feitas em nome do
pentecostalismo (difícil foi ter que dar uma palavra após essa mensagem). Desse
tempo a esta parte, temos mantido uma boa amizade.
É realmente intrigante como
as coisas acontecem na economia divina. Na época em que apresentei para os
companheiros o artigo "Cuidado com os velhos chavões", alguns não
gostaram de ver as suas "verdades bíblicas" desconstruídas. Com
prazer, anos depois, um deles, veio mostrar-me o livro Erros que os Pregadores
Devem Evitar. Era nítida e inconfundível a empolgação do meu amigo e irmão, ao
"descobrir" as gafes predicais dos oradores famosos.
Agora que convivemos na CPAD,
minha admiração pelo pastor Ciro tem aumentado. Nossa amizade e
compartilhamento de muitos aspectos positivos do ministério, mas também das
inegáveis mazelas e banalizações existentes no atual sistema eclesiástico, bem
como nos "louvores" verticalistas e ocos que sublimam o homem e
minimizam Deus, constituem a pauta de nossas alongadas análises. Só não achei
que ele teria a coragem de convidar-me para prefaciar a sua mais nova obra —
Mais Erros que os Pregadores Devem Evitar.
Neste livro, o pastor Ciro —
lamentavelmente — diagnostica e constata que desde a publicação de Erros que os
Pregadores Devem Evitar quase nada melhorou na qualidade das mensagens pregadas
em eventos de massa e grandes concentrações. Os maneirismos, as frases de
efeito, os lugares-comuns, os jargões e demais superficialismos grassam nos
púlpitos brasileiros e, infelizmente, fazem escola entre os pregadores mais
jovens.
Crendo, porém, em um
compromisso dos verdadeiramente chamados, o pastor Ciro apresenta o que há de
mais moderno em termos de modismos, e conclama aos pregadores—principalmente os
da nova geração — a manterem-se firmes e confiantes, tendo a Palavra de Deus
como ponto de partida, fundamentação, substância, conteúdo e clímax de suas
mensagens.
A recomendação do autor e de
quem escreve estas linhas, bem como o objetivo desta obra, é que a nova geração
assuma a postura requerida por Paulo do jovem pastor Timóteo, em sua segunda
carta (4.1-5):
Conjuro-te, pois, diante de
Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua
vinda e no seu Reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo,
redarguas, repreendas, exortes, com toda longanimidade e doutrina. Porque virá
tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas tendo comichão nos ouvidos,
amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e
desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu sê sóbrio em tudo,
sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.
Sempre a serviço do Reino de Deus,
César Moisés Carvalho
ISSO QUE É
CONGRESSO!
Conjuro-te, pois, diante de
Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua
vinda e no seu Reino, que pregues a palavra... com toda a longanimidade e
doutrina. Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo
comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias
concupiscências. 2 Timóteo 4.1-3
Estamos na cidade de Reteté
da Glória, onde ocorre anualmente um grandioso e tradicional congresso. Pessoas
não param de chegar. Pregadores e cantores disputam lugares junto à tribuna,
pois — como diz um ditado — quem não é visto não é lembrado. E nada melhor do
que o grande Congresso de Reteté para promover ilustres quase desconhecidos e
enriquecer ainda mais o currículo dos famosos...
(Atenção: a leitura em voz
alta dos nomes dos personagens contidos neste texto facilitará a sua
compreensão.)
É o primeiro dia do
congresso, e a expectativa aumenta momentos antes da primeira reunião, no
período da tarde.
— Quem será o pregador? —
pergunta a irmã Marionete, no meio de uma multidão de irmãos vindos de várias
cidades, os quais se acotovelam, a fim de encontrarem um lugar
"confortável" num espaço que sempre recebe quase o dobro de pessoas
para a sua capacidade.
— Vi na Internet que estão na
programação os pastores José dos Clichês, Edson Alto, Antônio Grito e Joedsnei
Lândia — responde o seu esposo, o irmão Títere. — Mas eu tô querendo saber quem
vai pregar hoje à noite.
— Eu também — diz Marionete.
— Esses pastores têm vindo em todos os congressos e já deram o que tinham de
dar. Eu queria saber se não há nenhuma novidade...
— É mesmo, Nete? — responde
surpreso o marido, que, devido ao seu trabalho, comparece ao congresso pela
primeira vez, aproveitando as suas férias.
— É claro, Tite. O Zé dos
Clichês no ano passado pregou de novo aquela mensagem sobre sonhos e enfatizou
outra vez que crente que tem promessa não morre. Já o Edson Alto ficou o tempo
todo pedindo para o rapaz aumentar o retorno. No meio da pregação, inclusive,
ele afirmou que um demônio instalara-se nos equipamentos de som. Quer saber? Eu
acho que ele tem é problema de audição...
— E o Antônio Grito foi bem?
— Ah, o pastor Grito tem mais
conteúdo, porém, ao contrário do Edson Alto, possui uma voz tão estridente que
o controlador tem que ficar diminuindo o som toda vez que ele resolve dizer
"Receeeebaaaa". Sabia que um irmão à minha frente estava até usando
um protetor auricular? — risos.
— Não sei o que é pior, Nete,
o pregador que pede para aumentar o volume além da conta, ou o que berra ao
microfone... Pobres dos nossos tímpanos — risos.
— O pastor Joedsnei Lândia
você conhece, né? É aquele que fica o tempo todo falando contra desenhos
animados, filmes, brinquedos, bonecas, casas de hambúrgueres, etc.
— Ahã... Eu até acho
interessante o alerta que ele faz — responde Títere. — O problema é que ele, ao
fazer isso, deixa de lado a exposição da Palavra.
— É verdade. Mas eu soube que
o evangelista Eli Cóptero também vem — continua Marionete. — Esse até que não
grita muito...
— É mesmo? Não é aquele que
gira o paletó em cima da cabeça? — pergunta Títere.
— Isso. No último congresso
ele foi o grande destaque. No encerramento, além de pular e rodopiar, ele jogou
o paletó no chão... Fogo puro. Ficamos todos maravilhados. Foi realmente
tremenda aquela noite...
— Mas, Nete, ele pregou sobre
o quê? O Elisafã Toche — primo de Marionete — me contou que foi grande o
reboliço, mas não soube explicar o que foi pregado... É a minha primeira vez
nesse congresso e acho estranhos esses seus relatos.
— Olha, querido, o que Eli
Cóptero falou especificamente eu não sei, porém o reteté foi bom demais... Eu
me lembro de que o tema do congresso era "Como ser um sonhador neste novo
milênio", e ele disse uma frase muito impactante: "Deus destruirá
todos os inimigos que tentarem matar os seus sonhos".
Não são apenas Títere e
Marionete que conversam, riem e transitam no local destinado aos cultos, ao som
das canções dos CDs dos grupos Queimando o Incenso e Animação Profética. Muitos
crentes, à semelhança de torcedores aguardando um grande jogo de futebol,
mostram-se ansiosos e impacientes. Mas, em meio ao zunzunzum da multidão, o
pastor Joselito Lerante resolve assumir o microfone para dar início à reunião.
— A paz do Senhor, irmãos!
— Améém!
— A paz do Senhor, irmãos!
— Amééééém!
— Eu disse "A paz do
Senhor, irmãos!" Onde está o povo do reteté? Os canelas de fogo já
chegaram?
— Amééééééééém!
— Ah, agora sim! Quantos
estão aqui, nesta tarde, para receber uma bênção? Levante a mão e diga
"Glória a Deus".
— Glóóóóóória a Deus! —
responde o povo, com as mãos levantadas.
— Quantos crêem que durante
esse congresso receberão grandes bênçãos materiais e espirituais, como chaves
de carros, casas, apartamentos... e muita, muita unção pra fazer o Inimigo
ficar apavorado?
— Amééééééém!
— Então mantenha a sua mão
levantada e ore comigo. Pai, neste momento em que estamos dando início a esse
grande congresso, ordenamos que todas as artimanhas satânicas sejam quebradas.
Pedimos que os seus anjos sobrevoem esse ginásio com brasas vivas. Determinamos
que os demônios fiquem distantes desta cidade. E, se houver algum demônio
maluco, pois só pode ser doido para estar neste lugar, que seja queimado
agoooooooora... — sons de aleluias, glórias a Deus e brados não inteligíveis.
Após essa primeira oração,
uma parte da multidão, acostumada com o evento, agita-se, enquanto outra se
divide em vários grupos: céticos, desconfiados, curiosos, decepcionados...
— Eu declaro aberto esse
congresso. Vamos neste momento convidar o nosso grupo de louvor — diz o pastor
Joselito Lerante.
O grupo então se posta, e o
seu líder e vocalista, o irmão Dan Sá, assume o microfone, ao som de
performances isoladas de cada músico, enquanto os coreógrafos permanecem atrás
do palco, aguardando o sinal para entrarem.
— Quantos estão alegres? —
pergunta Dan Sá, saltitante e sorridente.
Muitos levantam as mãos e
dizem "amém", e ele prossegue:
— Nesta tarde já posso sentir
o mover de Deus! É tarde de milagres! Aleluiaaaaaa... Uhuuuuu... Tire o pé do
chããããão...
Esse foi o sinal para os
músicos do grupo começarem a tocar um axé daqueles, acompanhado de uma
coreografia bastante animada, levando boa parte da multidão a cantar e a dançar
com muita vibração.
Após alguns
"louvores", o pastor pede para todos permanecerem em pé para a
entrada das bandeiras. A reverência enfim toma conta do ambiente no momento da
execução do Hino Nacional, e o culto prossegue...
— Vamos agora convidar as
irmãs Ana e Mada para louvarem a Deus — diz o pastor Joselito Lerante.
Depois de apresentarem alguns
"corinhos de fogo", em ritmo de forró, Ana e Mada devolvem o
microfone ao pastor, que dá continuidade ao congresso...
— Neste momento queremos
fazer as apresentações dos visitantes. Já estão conosco alguns preletores de
nosso congresso: os pastores José dos Clichês, Eli Cóptero, Joedsnei Lândia,
Edson Alto e Antônio Grito. Estamos aguardando a chegada do pastor Caio Riso,
que já está na cidade e será o preletor nesta tarde. Como vamos saudá-los?
Fiquemos de pé...
— Sois bem-vindos em nome de
Jesus e voltem sempre! — brada a multidão.
Feitas as apresentações, o
pastor "puxa" o corinho "Visitante seja bem-vindo",
enquanto Marionete, surpresa, diz a Títere que não conhece o pregador da tarde.
O pastor então chama mais uma vez o grupo de louvor, pedindo a Dan Sá que cante
e anime o povo até que o pregador chegue (este pedira para ficar no hotel, ao
lado do ginásio, até minutos antes da pregação, mas já estava atrasado em mais
de trinta minutos em relação ao horário que combinara com a direção do evento).
— Você está alegre nesta
tarde? Então dê um abraço no seu irmão — diz o líder do grupo de louvor. — Nós
vamos agora celebrar com júbilo ao Senhor, com tudo o que há em nós. Não
permita que o irmão, ao seu lado, fique parado. Assim como Miriã e Davi
dançaram, nós vamos fazer isso agora...
O pastor pede para alguém ir
buscar o preletor, e os músicos começam a tocar. O grupo de coreografia também
entra em ação, e alguns integrantes pulam e levantam as pernas de modo
alternado; outros rodopiam no palco, tudo de maneira sincronizada. O público
vibra, e o momento preparatório de "louvor" para a pregação
estende-se por longos trinta minutos, quando enfim o preletor aparece.
— Agora vamos a um momento
muito especial do culto — diz o pastor Joselito Lerante. — É a hora de
semearmos. E sabemos que, quando contribuímos para a obra de Deus, estamos
plantando no campo material para receber bênçãos materiais e espirituais.
O pastor lê 2 Coríntios 9,
ora com o povo e convida a cantora Ana Gita, que já assume o microfone
gritando:
— Uhuuuuu... Eu quero ouvir o
povo de Deus cantar comigo!
— Uh, uh, uh, uh, uh, uh... —
o povo responde, ao som de uma introdução instrumental bem ritmada, e ela
inicia a sua performance, dançando e entoando a canção "Restituição para
os que semeiam".
No meio da efusiva multidão,
o irmão Títere, mesmo confuso, ao ver todos à sua volta gritando e dançando,
une-se a Marionete...
Enfim, chega o tão esperado momento.
O pastor chama o seu filho, o presbítero Irineu Ófito, para orar. E, quando
todos pensam que ele fará isso, ocorre o inesperado. Ansioso para apresentar o
seu novo CD de mensagens, Neófito — como é chamado por seu pai — aproveita a
oportunidade para fazer uma revelação pra lá de estranha.
— Eu estava orando pela
manhã, e Deus me disse que, neste dia, Ele levantaria cem irmãos que comprariam
o meu CD. Quantos aqui têm coragem de abençoar o meu ministério? Não resista ao
chamamento do Espírito Santo.
Alguns irmãos, como Títere e
Marionete, acabam murmurando, porém outros, prontamente dirigem-se à tribuna
para adquirir o CD "É muita unção", de Irineu Ófito, que se
auto-intitula conferencista internacional... Bem, esse momento comercial dura quase
vinte minutos, e o povo, cansado, perde um pouco do ânimo para ouvir a pregação
da tarde...
— Olha, Nete, tomara que o
culto da noite não seja tão agitado. Eu não imaginava que fosse assim...
— Calma, Tite. Você nem
parece que gosta do reteté? As coisas são assim mesmo. É o Espírito Santo quem
dirige isso aqui, sabia?
Enquanto eles conversam,
Neófito ora e entrega o microfone ao pastor Caio Riso, que, aparentando certa
irritação, ironiza:
— Eu pensei que hoje não
teríamos pregação, pastor Joselito — risos. — A-le-lu-ia — diz, em tom de
deboche.
Enquanto Caio — um tanto
obeso — suspende a calça, olhando para o povo e os obreiros do púlpito, muitos
começam a dizer aleluias e glórias a Deus. Fica patente a facilidade que o
pregador tem de cativar o público.
— Eu quero cumprimentar o
povo de Deus com a sacrossanta paz do Senhor, amém?
— Amééééééééém!
— é bom estar de novo nesse
congresso. No ano passado eu não pude estar aqui porque fui levar fogo a vários
países da Europa... Aqueles alemães, franceses, italianos e portugueses agora
sabem o que é a unção da loucura... — risos. — Bem, antes de lermos uma
passagem da Bíblia, abrace pelo menos três irmãos e diga-lhes: "É bom
estar nesse congresso".
Caio Riso então suspende a
calça novamente, faz o povo ler com ele o texto de João 14.12 e brada:
— Nesta tarde, este lugar vai
tremer! Você já pode começar a mandar glória para cima, pois Jeová já está
mandando poder para baixo. Coisas maiores do que as feitas por Jesus nós
faremos agora. Se o seu cabelo começar a crescer, não fique preocupado; se o
seu vestido justo ficar solto no corpo, irmã que se sente gorda, isso tudo é
coisa nova para nosso tempo. Receeeeeebaaaaa...
O povo alvoroça-se, e o
presbítero Neófito é o primeiro a começar a rodopiar na tribuna. Vários
cantores e pastores o acompanham. E o pregador continua:
— Mas eu não vim aqui somente
para pregar milagres. Tem fariseu aqui neste altar!
— Êta, Jeová! Fala mesmo, meu
Pai! — grita a irmã Marionete, enquanto o seu esposo, Títere, cabisbaixo,
parece estar preocupado.
— Hoje Jesus vai quebrar as
suas pernas! — diz o pregador. — Prepare o lombo, fariseu! Você que vive
julgando o sobrenatural de Deus, que despreza os sinais desta última hora,
nesta tarde você vai conhecer a unção da loucura de Deus! Receeeeebaaaaaa... — sons
de línguas não inteligíveis por parte do pregador, dos obreiros do púlpito e da
multidão. Algumas pessoas começam a cair...
E o pregador prossegue:
— Encosta aí testa com testa.
Olha dentro do olho do seu irmão e lhe diga: "Satanás, você está
derrotado".
Inconformado, Títere não
obedece ao pregador e diz à Marionete:
— Que é isso? Eu vou dizer
para você essas palavras?
— Não é para mim, Tite, é
para o Diabo.
— Mas, Nete, por que eu tenho
de falar isso olhando para você?
— Tá bom, tá bom; preste
atenção à mensagem.
O pregador, então, segurando
a mão do pastor José dos Clichês, lhe pergunta:
— Tem sapato de fogo? Tem
sapaaaato?
E, vendo Clichês balançar a
cabeça positivamente, sopra sobre ele, e... Bum! O famoso pregador das frases
de efeito estatela-se no chão.
— Pule, pule, pule! —
continua Caio Riso. — Pule com um pé só! Pule! Não se importe com que vão
pensar de você. Pule, pule, pule! Receeeebaaa...
Ao som de línguas não
inteligíveis, aleluias, glórias a Deus e outras expressões, ele prossegue:
— Já tem cabelo crescendo aí?
Veja se tem dente de ouro em sua boca.
Títere está admirado, pois
ainda não houve propriamente uma pregação, e o povo parece não sentir falta
disso. O importante para todos é o reteté...
— Nesta tarde, Deus vai
batizar com o Espírito Santo. Quem aqui no púlpito tem sapato de fogo? Eu quero
ver. Levante a mão. Venham até aqui. Eu vou ungir a mão de vocês, e a minha
unção vai passar para cada um.
O pregador então declara que
a sua unção está sendo transmitida àqueles obreiros e lhes ordena:
— Desçam agora e coloquem a
mão na cabeça de quem não é batizado. O milagre vai acontecer
agoooooooraaaaa... Receeeeebaaaaaa...
Muitos caem; alguns ficam
inertes, outros, parecendo estar energizados, movimentam-se rapidamente...
Títere continua preocupado. Ele nada sente e está incomodado pelo fato de o
pregador não expor a Palavra de Deus.
— Se alguém cair perto de
você, pode deixar caído; ele vai receber a cirurgia do céu — afirma o pregador.
Pessoas começam a rolar pelo
chão. Outras andam como se fossem quadrúpedes, emitindo sons estranhos. E ainda
outras permanecem em pé, mas batem os braços, como se quisessem levantar vôo...
— Meu Deus, o que é isso? —
pensa Marionete. Na verdade, nem ela esperava ver o que estava acontecendo...
De repente, o preletor
silencia, levando todos a se calarem.
Após alguns instantes, ele
começa a rir...
— Há, há, há, há, há...
Esse é o momento do culto
mais difícil para Títere e Marionete. Ambos estão confusos, ao ver pessoas
caírem ao chão rindo, rugindo, mugindo... Vários irmãos não concordam com o que
vêem e retiram-se do local. Outros permanecem no lugar, mas, apesar de serem
instigados pelo pregador milagreiro, não se movem.
E assim a reunião da tarde
foi se prolongando, até o pregador entregar o microfone ao pastor Joselito
Lerante. Como as horas estavam avançadas, ele tratou de terminar logo o culto,
avisando os irmãos de que a reunião da noite teria como pregador um amigo seu
de infância, que ele não via há muito tempo...
— Qual é o nome dele, Nete? —
pergunta Títere.
— Não sei, meu bem. Quem
poderia ser?
Muitas pessoas ainda estão
alvoroçadas, como conseqüência da "pregação" de Caio Riso, mas o
pastor Joselito, olhando para o relógio, ora depressa e impetra a bênção
apostólica.
Fim de reunião, na parte da
tarde.
Uma hora depois...
— Nós abrimos este culto em
teu nome, ó Jesus Cristo! ao pequeno e ao adulto, luz divina vem dar por
isto... — o presbítero Ed Jesus, designado pelo pastor Joselito Lerante,
começara o culto no horário com uma oração e já estava cantando um conhecido
hino, acompanhado por alguns músicos que já haviam chegado ao local.
Pessoas vão chegando e
acotovelam-se, disputando um bom local, onde possam ouvir a pregação. A
expectativa é grande, principalmente por se tratar de um pregador novo — boa
parte do povo está no congresso à espera de novidades.
Marionete conheceu no
intervalo entre as duas reuniões a irmã Santa. Ambas nem saíram do ginásio, a
não ser para ir ao toalete, a fim de não perderem o lugar. O mesmo não ocorreu
com Títere, que saiu para comer um sanduíche, e um irmão idoso sentou-se em seu
lugar. Constrangido, fez o certo: preferiu ficar em pé do lado de fora e
acompanhar tudo pelo telão.
— Você conhece o pregador de
agora à noite, irmã Santa? — pergunta Marionete.
— Sinceramente, não, porém
estou orando para Jesus usá-lo poderosamente. O que aconteceu à tarde não me
agradou. Precisamos ouvir a exposição da Palavra, pois o verdadeiro poder do
Espírito Santo ocorre em decorrência da pregação bíblica. Isso eu aprendi com o
meu pastor Alípio Neiro, de saudosa memória, o qual me ensinou que o verdadeiro
culto fervoroso, pentecostal, onde o Espírito Santo de fato age, é o que é
feito com ordem e decência.
— Bem, irmã Santa, eu também
achei estranho o que aconteceu agora há pouco, mas quem somos nós para julgar?
Eu só sei de uma coisa: o pastor Joselito Lerante só convida pregador de
renome. Ele gosta de ver o povo bem satisfeito e animado. Por isso, estou
achando estranho ele não querer divulgar o nome do preletor dessa noite. É
possível que até ele esteja um tanto preocupado com o desempenho do novo
expoente...
Como todos ali estão
acostumados a ouvir famosos conferencistas, que se vestem como astros e se
gabam de ter pregado em inúmeros países — e que costumam chegar em cima da hora
para pregar —, os olhos permanecem fitos no púlpito, a espera de alguém
diferente dos que ali já estão. Há um obreiro sentado ao lado do pastor, mas
ninguém aposta que seja ele o preletor, haja vista a sua simplicidade.
O culto da noite desenrola-se
de maneira similar ao da tarde, até ao momento da Palavra. Entra então em cena
o pregador...
Marionete e Santa precisaram
sair do local porque a segunda, sentindo falta de ar, preferiu ver o culto pelo
telão, e a outra a acompanhou. Por isso, não presenciaram o momento em que o
preletor foi apresentado. Quando se apercebem, ele já está falando...
Decorridos alguns minutos de
sua prédica, a apatia toma conta de quase toda a platéia. A semelhança do que
aconteceu no Areópago, em Atenas — quando Paulo pregou sobre Jesus e a ressurreição
(At 17.18) —, o público fica dividido. Muitos bocejam, outros ficam inquietos,
incomodados. Percebe-se nitidamente, pelas reações das pessoas, que o pregador
não tem habilidade para animar o auditório; sua pregação não é daquelas que
elogiam os crentes, dizendo que são vencedores.
— Só pode ser uma brincadeira
— alguém comenta. — Convidaram esse aí para pregar em nosso congresso? Que
roupa é essa? Ninguém merece! Parece até que esse simplório veio de outro
mundo, com essa roupa surrada...
Outros também opinam, mas só
em pensamento:
— Pregador diferente... Não
se preocupa em produzir um clima favorável. Não nos manda repetir isso e
aquilo... Acho que ele está escondendo o jogo. Daqui a pouco vai começar a
fazer um movimento. Isso aqui tá muito parado — pensa alguém.
— Que pregaçãozinha mais
monótona — pensa outro. — Isso aqui não é lugar para ficar citando passagens
bíblicas. É preciso movimentar esse povão, que tá ansioso pra dar uns glória
(sic).
Entretanto, não é apenas o
estilo do pregador que desagrada a maioria dos participantes do congresso. A
mensagem em si os choca, levando alguns pregadores, apinhados no púlpito, a
fazer comentários duros e precipitados:
— Esse aí definitivamente não
é um pregador de congresso. O povo de Deus está aqui para ser abençoado, e não
para ser repreendido. Pra tudo tem hora. Ah, se fosse eu... Esse povo, com
certeza, já estaria todo agitado, gritando, pulando... Esse pregador não gosta
do reteté.
Mas alguns irmãos alegram-se
com a postura do pregador:
— Fala, Senhor, é isso mesmo
que precisamos — alegra-se a irmã Santa, em tom baixo.
As características do
pregador chamam mesmo a atenção de todos. Ele demonstra ser simples, humilde,
mas fala com muita autoridade. Fala de modo firme, embora não grite como os
famosos animadores de auditório, que, com berros intermináveis, quase derramam
as entranhas pela boca.
Outra qualidade surpreendente
do pregador é a sua seriedade; ele não conta piadas nem faz gracejos; apenas
emprega pertinentes ilustrações. O estranhamento não é para menos; todos
esperavam um pregador que soubesse cativar a platéia, demonstrando a sua
"unção" com gritos "supersônicos" ou conduzindo o povo à
interação por meio da repetição de frases de efeito, do tipo
olhe-para-o-seu-irmão-e-diga-isso-e-aquilo.
Irmã Santa está feliz da vida
com o pregador e sua pregação:
— Ah, se todos fossem assim!
Quem dera os renomados pregadores deixassem de lado as suas extravagâncias e
pregassem o genuíno evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo! Como tenho saudades
daquelas pregações contundentes — vindas do alto — que me faziam chorar,
arrependida por não ser como o Senhor gostaria que eu fosse... Sempre saía do
templo revigorada, renovada, disposta a melhorar a cada dia...
O pregador vai direto ao
assunto. Dispensando qualquer apresentação de currículo — uma prática comum
entre os pregadores famosos —, baseia-se em Isaías 40.3 e põe-se a dizer, com
veemência, que o tema de sua exposição é: "Arrependam-se porque é chegado
o Reino dos céus".
— A mensagem que Deus me deu
para transmitir-lhes não costuma agradar aqueles que vêm aos cultos para
receber bênçãos, e não para oferecer o que têm de melhor ao Senhor. Precisamos
nos converter a Cristo, a cada dia, e seguirmos à santificação, renunciando-nos
a nós mesmos. Vocês estão dispostos a isso? Ou pensam que a vida cristã
resume-se ao recebimento de bênçãos?
Parecendo atender à irmã
Santa, ele continua:
— Arrependam-se? — cochicham
dois obreiros sentados na tribuna. — Quem convidou esse pregador? Ele parece
que nunca pregou em um congresso! Isso não é hora nem momento de falar em
arrependimento. É preciso motivar essa "moçada".
Ao ouvir isso, outro obreiro
responde:
— É verdade. E que história é
essa de dizer que o Reino dos céus é chegado? Jesus pregava isso quando veio à
Terra, e nem por isso o Reino chegou. Paulo e Pedro disseram que o Senhor
voltará, e até agora isso não aconteceu. Por que pregar hoje sobre a Segunda
Vinda, se muitos não conhecem sequer a primeira? Eu acho que nós temos é que
pregar sobre bênçãos materiais e milagres.
Mas o pregador, que não
estava nem um pouco preocupado com o que o povo ou os obreiros à sua retaguarda
estavam achando da mensagem, prossegue:
— Endireitem as suas veredas.
Confessem os seus pecados. Não é tempo de priorizarmos os bens materiais. Temos
de pensar nas coisas que são de cima, onde está o nosso Senhor Jesus. O nosso
Salvador também alerta-nos, em Apocalipse 3.11: "Eis que venho sem demora;
guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa".
No meio do povo há alguns
grupos, seguidores dos mais diversos modismos da atualidade. Sem medo e com
muita convicção, o pregador dirige a esses uma contundente palavra:
— Quem os ensinou a fugir da
ira futura? Produzam frutos dignos de arrependimento. O machado está posto na
raiz das árvores. Toda a árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no
fogo.
Muitos não entendem essa
mensagem, não percebendo que o pregador os estava comparando a árvores, e que
eles deveriam dar bons frutos, isto é, suas obras teriam de agradar a Deus, a
menos que quisessem ser cortados — condenados pelo Senhor, o Justo Juiz. O
expoente, em momento algum, fala de sonhos de Deus, prosperidade material,
tampouco promete bênçãos ao auditório, deixando a maioria das pessoas
insatisfeitas. Seu objetivo claramente é falar de Jesus Cristo, o que não
ocorria há muito tempo no Congresso de Reteté.
— Irmãos, Jesus é maior e
mais poderoso do que eu. Convém que Ele cresça, e que eu diminua — diz ele,
demonstrando sua inteira submissão a Jesus, além de deixar claro que não queria
que o público o admirasse mais do que ao Senhor.
— Ih, já vi tudo... —
cochichou outro obreiro da tribuna. — Esse pregador segue àquela escola
ultrapassada, sem carisma; nem sabe interagir com o público...
Mas ele, cheio do Espírito
Santo e dependendo inteiramente do Senhor, prossegue:
— Esse Jesus batizará com o
Espírito Santo os que se arrependerem e confessarem os seus pecados. Se vocês
fizerem a parte de vocês, Ele fará uma grande obra em nosso meio — sons de
aleluias, glórias a Deus e línguas estranhas, pronunciadas pelo pregador e por
alguns crentes.
Muitos, acostumados com
mensagens de auto-ajuda, ficam confusos, mas alguns abrem o coração, dando
liberdade para o Espírito de Deus agir...
Para quem esperava um
show-man, o pregador não agradou. Contudo, para quem ama a Palavra de Deus, ele
não destoou, falou a verdade sem valer-se de estratégias para animar o
auditório. Ele entregou tudo o que o Senhor lhe deu. E houve resultados, que
muitos não conseguiram ver ou não quiseram admitir...
Chega, finalmente, o momento
da conclusão da pregação. Ele convida os pecadores que desejam receber a Jesus
Cristo como Senhor e Salvador, e as pessoas começam a ir à frente... Muitos
louvam a Deus em alta voz, e o pregador, após fazer uma oração, senta-se sem
nenhum estardalhaço. Nesse momento, a maioria dos pregadores do púlpito põe-se
a criticar a direção do evento por ter convidado um pregador tão comum e sem
graça...
A reunião da noite enfim
termina com um excelente saldo.
Não houve o tal reteté, mas
almas renderam-se a Cristo, crentes foram edificados pela Palavra, e alguns
foram batizados com o Espírito Santo...
Acompanhado de uma comitiva,
o pastor Joselito Lerante pergunta ao pregador:
— Agora nós vamos sair para
jantar. O que o irmão gostaria de comer, pizza ou picanha?
— Bem, para dizer a verdade,
o meu prato preferido é gafanhoto com mel silvestre...

Capítulo 1
A SÍNDROME DO
PAPAGAIO... E DA MARITACA
A língua dos sábios adorna a
sabedoria, mas a boca dos tolos derrama a estultícia. Provérbios 15.2
Há alguns anos, eu e um amigo
conversávamos em sua casa sobre pregações e pregadores. Num momento de
descontração, começamos a imitar alguns famosos animadores de auditório da
época, e ele acabou gravando em áudio uma das minhas performances
humorísticas...
Como eu jamais citaria a
Bíblia ou o nome do Senhor em uma brincadeira, empreguei na
"pregação" vários chavões de auto-ajuda, elogiei o público — formado
por meu amigo, nossas esposas e filhas — e narrei a conhecida historinha do
vaga-lume perseguido por uma cobra. Ao concluir o meu "sermão",
perguntei: "Vocês sabem por que muitos nos perseguem? Porque não suportam
ver a nossa luz brilhar". E finalizei, com voz alterada: "Brilhem,
brilhem, briiilheeem..."
Passado algum tempo, esse meu
amigo, sem dizer quem era o "pregador", apresentou a gravação que
fizemos a alguns colegas de ministério, que reagiram de maneira surpreendente.
Em vez de considerarem engraçada a "pregação", maravilharam-se da
eloqüência de quem falava. E perguntaram: "Quem é este pregador? Ele fala
com muita unção! Como podemos convidá-lo? Ele é daqui mesmo?"
Confesso que, num primeiro
momento, ri dessa história. Diverti-me com meu amigo, dizendo-lhe que me senti
lisonjeado com os comentários e que, a partir daquele momento, mudaria o meu
modo de pregar, a fim de agradar aos que gostam de ouvir berros ao microfone e
clichês que massageiam os egos.
Contudo, refletindo melhor,
cheguei à conclusão de que não havia razão para rir. Isso porque a falta de
discernimento tem aumentado, e a maioria dos pregadores jovens está seguindo
aos maus exemplos dos animadores de platéia.
"RECEEEBAAA..."
No livro Erros que os
Pregadores Devem Evitar, discorri sobre a síndrome do papagaio, que tem levado
os servos de Deus a repetirem, sem nenhuma reflexão, o que dizem os super-pregadores,
bem como os cantores-ídolos, isto é, pregadores e cantores que se comportam
como astros, recusando-se a andar segundo a Palavra de Deus. E, agindo assim,
arrebanham uma legião de fãs ou crentes nominais, que não seguem a Jesus
Cristo.
Analisarei, neste primeiro
capítulo, alguns chavões — expressões prontas, repetidas mecânica e
irrefletidamente — tidos como bíblicos. Mas também tratarei de outra síndrome,
a da maritaca, ave da família do papagaio cuja característica principal é o
grito estridente.
Muitos ajuntamentos da
atualidade não têm ordem alguma, e os pregadores, cantores e outros tão-somente
exibem-se para uma platéia de crentes interesseiros, ávidos por bênçãos, cujo
comportamento assemelha-se ao de fãs diante de seus ídolos. Como vimos na
narrativa fictícia que abre este livro, boa parte dos cultos de nosso tempo não
passa no controle de qualidade constante de 1 Coríntios 14.
É lamentável constatar que
hoje os pregadores jovens não reproduzem apenas os clichês dos famosos
animadores de auditório. Eles imitam também os trejeitos deles, a sua entonação
de voz e, principalmente, os seus ensurdecedores berros ao microfone. Mas tenho
de admitir, com tristeza: o povo de Deus, em razão de sua simplicidade,
entusiasma-se com gritos do tipo "Receeebaaa..." ou
"Profetiiizaaa..."
Não bastassem os gritos
ensurdecedores — que sem dúvida fazem parte das obras da carne (Ef 4.31) —, há
pregadores que, ao berrarem os seus clichês, ainda fazem movimentos estranhos,
como se estivessem desferindo golpes de artes marciais...
"QUANTOS VIERAM BUSCAR UMA
BÊNÇÃO?"
Esse chavão tem sido usado
para abrir congressos e cultos públicos em geral. Mas a pergunta deveria ser
outra: "Quantos vieram adorar a Deus?", haja vista o propósito
principal do culto ao Senhor: adorá-lo na beleza da sua santidade.
Infelizmente, obreiros que empregam esse clichê estão sentados na tribuna —
alguns há dezenas de anos — e ainda não aprenderam o que é um culto.
Não preciso fazer aqui uma
ampla explanação teológica para definir o culto a Deus. Trata-se do que
apresentamos ao Senhor Jesus e a maneira como fazemos isso, quer individual,
quer coletivamente (Rm 12.1,2; Mq 6.6-8; Sl 42.1,2). Individualmente, nunca
termina, pois devemos cultuar ao Senhor em todo o tempo (1 Ts 5.17; Sl 1.1-3; 2
Co 4.6). Afinal, servimos a Ele e o adoramos em espírito (Rm 1.9; Jo 4.23,24).
Coletivamente, o culto também
é para o Senhor, embora isso raramente aconteça em nossos dias. É claro que
Deus nos abençoa e nos responde no templo ou onde quer que nos reunamos (Sl 73.16,17;
Mt 18.19,20), mas os nossos ajuntamentos não devem ocorrer para sermos
elogiados e recebermos bênçãos. Também não devemos ir ao templo apenas para
pregar, cantar ou tocar um instrumento.
O pregador, o cantor e o
músico precisam ter em mente que, antes de serem isso ou aquilo, devem ser
crentes em Jesus e verdadeiros adoradores (Jo 4.23,24). Nesse caso, a sua
prioridade é adorar ao Senhor, e não pregar, cantar ou tocar um instrumento. Se
todos os obreiros do Senhor se conscientizassem disso, nunca ficariam tristes
por não terem tido uma oportunidade para pregar em um culto.
Certa irmã mandou um
bilhetinho para um pastor: "Desejo cantar um hino para Jesus". Como
havia muitas participações de conjuntos, além dos hinos congregacionais, antes
da pregação — que em muitos lugares tem sido substituída por peças teatrais ou
"empurrada" para o fim do culto por causa de intermináveis
cantorias—, a tal irmã não foi chamada para cantar. O pastor pregou e, após os
avisos finais, concluiu a reunião.
Insatisfeita, a irmã que
fizera o pedido dirigiu-se ao obreiro e lhe disse:
— Pastor, por que o irmão não
me chamou? Eu queria cantar um hino para Jesus.
— Então, cante, irmã —
respondeu o pastor.
— Ah, pastor, o povo já foi
embora...
— Mas a irmã não deseja
cantar para Jesus?
Precisamos refletir sobre as
nossas motivações ao comparecermos a uma reunião no templo. Tomemos como base
para isso 1 Coríntios 14.26, e não as nossas vontades. Temos ido ao templo para
adorar a Deus e ouvir a sua Palavra? Ou para receber bênçãos e apresentar
"louvores" e "pregações" ao povo?
"TEM FOGO AÍ, IRMÃO?"
Os pastores, os chamados
ministros de louvor e principalmente os super-pregadores ou cantores-ídolos se
valem do recurso de fazer perguntas à platéia ou elogiá-la, a fim de cativá-la.
Mandam as pessoas fazerem isso e aquilo, como se os irmãos fossem marionetes ou
títeres. Concordo que uma e outra pergunta sejam até cabíveis em uma reunião.
Também não estou propondo o engessamento da liturgia. Mas o que temos visto
hoje ultrapassa a todos os limites da tolerância.
Como as futilidades têm
tomado conta de muitas reuniões tidas como cultos a Deus! Você já percebeu como
tudo é de fogo? Varão de fogo. Sapato de fogo. Canela de fogo. Língua de fogo.
E essas efemeridades são
usadas em tom de brincadeira, desviando os servos de Deus das verdades
bíblicocêntricas. Daí surgirem perguntas esdrúxulas como estas: "Tem fogo
aí, irmão?", "Tem fogo na galeria?", "Tem fogo aqui no
altar?", etc.
Ora, eu já preguei sobre o
fogo do Espírito várias vezes.
Não há nenhum problema nisso,
pois o fogo é símbolo do Espírito Santo (1 Ts 5.19, ARA), assim como o vento
(Jo 3.8), a água (Jo 7.37-39), etc. Entretanto, o que vemos em muitos cultos é
um outro fogo, estranho, o fogo da carnalidade, da chocarrice, da falta de temor
a Deus.
Em muitos lugares, se Deus
mandasse fogo mesmo, consumiria a todos, haja vista as brincadeiras que têm
feito em reuniões em que o nome dEle é pronunciado sem nenhuma reverência.
"O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria..." (SL 111.10). "Guarda
o teu pé, quando entrares na Casa de Deus..." (Ec 5.1).
"O ESPÍRITO SANTO ME REVELA..."
Em minha época de solteiro,
eu freqüentava uma vigília na Zona Leste da cidade de São Paulo. Numa das
reuniões, certo irmão afirmou, diante de todos: "O Espírito Santo me
mostra um grande bife sobrevoando este local. Há muitos carnudos nesta
vigília". Imediatamente, o dirigente da reunião pôs-se em pé, pediu para o
irmão assentar-se e lhe disse: "Deus me revelou que o mais carnal aqui é
você".
Alguns pregadores, em nossos
dias, apesar do título que possuem, não pregam a Palavra de Deus. Sua
especialidade é gerar movimentos e mexer com as massas, apresentando
"revelações" que dizem ter recebido do Espírito Santo. Até lêem uma
passagem bíblica, no início de suas performances, mas depois o que se vê é um
animador de auditórios e uma platéia de marionetes, numa interação em que não
há lugar para a Palavra e os genuínos dons espirituais.
Há pouco tempo, eu estava em
um púlpito, em uma grande igreja, enquanto um pastor expunha a Palavra. Ao meu
lado estava um desses super-pregadores da atualidade. Vendo ele que os irmãos
recebiam a mensagem em silêncio, disse-me: "Ah, se fosse eu... Esse povão
aí já estaria dando uns glória".
E, de fato, isso aconteceu. O
dirigente do culto deu-lhe uma oportunidade, e ele fez de tudo, exceto pregar a
Palavra. E o pior é que o "povão" gostou e deu "uns
glória"...
Quem pronuncia palavras para
animar o povo, afirmando que Deus lhe revelou isso e aquilo, mentindo, a fim de
tornar-se famoso, deve se arrepender enquanto houver tempo (Ap 2.20-22).
Afinal, o próprio Senhor disse: "... o profeta que presumir soberbamente
de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não tenho mandado falar, ou que
falar em nome de outros deuses, o tal profeta morrerá" (Dt 18.20). E
alguns de fato estão morrendo por causa disso, principalmente no plano
espiritual (Ap 3.1).
O povo se deixa mesmo enganar
porque é ingênuo, em sua maioria, e se empolga com elogios e mensagens
motivacionais.
Mas Deus continua dando um
tempo para os super-pregadores reconhecerem que estão errados. Que eles olhem
com seriedade para a Palavra de Deus e reconheçam que o objetivo do pregador
não é animar o povo, e sim expor a Palavra como ela é, ainda que não agrade a
muitos dos ouvintes (At 7.54-57).
"TEM SAPATO DE FOGO?"
Pregadores que não se
preocupam em expor a Palavra — pois a sua missão é movimentar as massas — se
valem de perguntas como esta: "Tem sapato de fogo aí, irmão?" Com
muita tristeza assisti a um vídeo em que alguém que já foi considerado,
unanimemente, o maior expoente da Assembléia de Deus no Brasil participa de um
espetáculo deprimente.
No tal vídeo, o pregador é
chamado por um animador de auditório, que, apertando a sua mão, pergunta-lhe:
"Pastor fulano, tem sapato de fogo? Tem sapaaato?" E ele balança a
cabeça, em sinal de aprovação. Quer saber o que aconteceu? Bastou um sopro — e
não um soco — para levá-lo à lona, quer dizer, ao chão...
Fiquei pensando: Meu Deus, um
homem que já foi um referencial para muitos jovens pregadores, um defensor das
verdades centrais da fé cristã, alguém que admirei, cujos livros e comentários
bíblicos para escola dominical eu li, caído ao chão...
E ainda acreditando que está
certo. Que Deus nos guarde, e que vigiemos, a fim de que jamais apostatemos da
fé.
"ESSA É UMA GERAÇÃO DE
APAIXONADOS"
Você já notou como os jovens
costumam empregar o verbo "adorar" para quase tudo de que gostam,
menos em relação a Deus? "Adoro cantar", "Adoro dançar",
"Adoro ouvir música", "Adoro chocolate", etc. Mas, quando
vão falar do Senhor Jesus, o único de fato digno de adoração, dizem:
"Estou apaixonado". Isso ocorre principalmente por influência de
cantores-ídolos que "adoram" empregar frases de efeito, como:
"Essa é uma geração de apaixonados" ou "Deus não rejeita um
coração apaixonado".
Paixão, por definição, é
irracional, passageira e não leva em conta princípios. A adoração, ao
contrário, é racional (Rm 12.1), verdadeira (Jo 4.23,24) e envolve tudo o que
há em nós: espírito, alma e corpo, principalmente o nosso espírito, que é a
parte mais profunda de nosso ser (1 Ts 5.23; Lc 1.46,47; Sl 57.7).
Alguém poderá perguntar:
"O que vale não é a intenção?" Na verdade, não podemos, ainda que bem
intencionados, aceitar todas e quaisquer influências do mundo. E o clichê em análise,
conquanto para muitos seja apenas uma simples questão de semântica, tem levado
os jovens à concepção distorcida da verdadeira adoração a Deus, acima de todas
as coisas, o que é muito mais que estar apaixonado!
Sei que alguém, ao ler esta
abordagem, pode não estar muito apaixonado por este livro e seu autor. Mas
espero, sinceramente, que reflita sobre a importância de adorar somente ao
Senhor Jesus e segui-lo, abandonando a postura de fã (Lc 9.23). Não adianta
nada alguém usar uma camiseta com os dizeres "Apaixonado por Jesus"
ou viver cantando "Apaixonado, apaixonado, apaixonado...", se não
andar como Jesus andou (1 Jo 2.6)!
Abandone, pois, essa canoa
furada da geração dos apaixonados! Embarque no navio cujos passageiros são os
verdadeiros adoradores, que seguem ao Senhor Jesus, que disse: "Ao Senhor,
teu Deus, adorarás e só a ele servirás..." (Mt 4.10).
"NÃO DESISTA DOS SEUS SONHOS"
Esse chavão tem sido
propagado por super-pregadores, cantores-astros, pregadores sinceros (mas mal
informados), cantores tementes a Deus (que seguem a maus exemplos) e crentes em
geral atingidos pela síndrome do papagaio. Aliás, "Os sonhos de Deus"
ou "O crente sonhador" são os temas do momento, tanto para
composições musicais como para pregações.
Vou tratar desse assunto especificamente
no capítulo 3, ao fazer a análise de uma canção que chamam de hino, mas quero
aqui deixar claro que muitos pregadores estão deixando de pregar sobre o
sacrifício vicário de Cristo, sua ressurreição, sua Segunda Vinda, para falar
sobre sonhos. Preferem pregar sobre isso a ensinar sobre o batismo com o
Espírito Santo, os dons espirituais, a renúncia, a santificação, etc.
Os animadores de auditório
gostam de usar a biografia de José (Gn 37; 39-50) para dizer que o crente é um
"sonhador". Usam frases de efeito, como "Crente sonhador não
morre enquanto os seus sonhos não se cumprirem". No entanto, os sonhos de
José foram sonhos mesmo, revelações de Deus, e não aspirações ou projetos
humanos. Bem, falaremos disso depois.
Mas fica aqui o alerta de que
o bordão em apreço é extrabíblico e antibíblico.
"OLHE PARA DENTRO DE VOCÊ"
Pregadores berram esse clichê
com naturalidade, e crentes o assimilam, reconhecendo que de fato têm valor...
Sabia que essa frase é cem por cento humanista e contrária à Palavra de Deus?
No entanto, como as pregações, nos grandes congressos, têm sido, em geral,
palestras motivacionais ministradas na base do grito, poucos se apercebem do
perigo que há na supervalorização do ser humano.
Temos algum valor em nós
mesmos, à luz da Bíblia? Que é o homem mortal? Em nossa carne não habita bem
algum (Rm 7.18).
Somos considerados
miseráveis, sujeitos a satisfazer os desejos da carne (Rm 7.19-24). O que faz a
diferença em nosso pobre vaso de barro? O precioso tesouro que nele está (2 Co
4.7). Por isso, caro leitor, não acredite nesses animadores de auditório!
Quanto a você, pregador, lembre-se de que não foi chamado para massagear egos.
Não faça massagem; entregue a mensagem! A sua missão — se é que tem compromisso
com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra — é falar a verdade (Jo 10.41).
Leve o povo a olhar para Jesus, autor e consumador da fé (Hb 12.2), e não a
olhar para dentro de si. Nada temos; nada somos. Humilhemo-nos debaixo da
potente mão do Senhor, a fim de que Ele nos exalte (1 Pe 5.6; Tg 4.6).
"LIBERE UMA PALAVRA RHEMA"
Certo escritor, já falecido —
cujas iniciais do seu nome são K.H. —, fez muitos discípulos (e alguns
fanáticos) no Brasil, apesar de nunca ter demonstrado amor e fidelidade à
Palavra de Deus. Alguém pode até duvidar do que Jesus disse, mas, se criticar
as falácias do papai H., prepare-se para os ataques dos triunfalistas de
plantão!
No Brasil, estão entre os
fiéis seguidores de K.H. um famoso telemissionário, cantores-ídolos e outros
telepregadores.
Ah, os animadores de platéia
também têm bebido dessas fontes escuras e turvas. Resultado: todos eles mandam
o povo liberar uma palavra rhema, pela qual podem pretensamente trazer à
existência o que não existe...
"Isso é uma questão de
fé", alguém argumentará. Não obstante, a fé também deve ser controlada
pela Palavra de Deus, a nossa regra de fé, de prática e de viver. A origem de
uma profecia — profecia mesmo, e não confissão positiva — não é a nossa fé.
Afinal, não é a declaração do crente que é viva, eficaz e mais penetrante do
que qualquer espada de dois gumes, e sim a Palavra de Deus (Hb 4.12), não é
mesmo?
"PROFETIZE PARA VOCÊ MESMO"
Há algum tempo, participei de
uma escola bíblica no Nordeste do Brasil, e lá estava um conhecido pregador de
massa. Suas principais características: brincalhão, contador de piadas,
cortejador, oferecido, imodesto e sem compromisso com a Palavra de Deus. Quer
saber como foi sua pregação? Um festival de gritos, tal qual uma maritaca. Mas
o povo vibrou com os seus gracejos.
O que mais me chamou atenção
na performance do tal animador foi a frase: "Profetize para você
mesmo". Ora, com quem ele aprendeu tamanho absurdo? Qual foi o profeta,
nas páginas sagradas, que profetizou para si mesmo? Nem Jesus fez isso! E a
regra bíblica de que devem falar apenas dois ou três profetas — e não todos, ao
mesmo tempo —, enquanto os outros julgam? Nada vale o que está escrito em 1
Coríntios 14?
Quem julga uma auto-profecia?
E se ela tiver origem no coração humano ou provier do Maligno? A Palavra de
Deus não diz que o coração é enganoso (Jr 17.9)? Ela não nos alerta quanto aos
espíritos enganadores (1 Tm 4.1)? Como, pois, alguém pode mandar os crentes
profetizarem para si mesmos? Só mesmo um irresponsável para fazer uma coisa
dessa.
"QUE OS DEMÔNIOS SEJAM QUEIMADOS
AGOOORAAA..."
Há pregadores que, no início
de suas performances, fazem orações exibicionistas pelas quais estimulam os que
gostam de movimentos carnais, ocos, vazios de significado, desordeiros e
indecentes. Eles dizem, nessas "orações", que os demônios ficarão
distantes do local de culto tantos quilômetros. Caso algum demônio maluco —
"pois só pode ser maluco para estar neste lugar", dizem — demore mais
que cinco segundos para se retirar, é queimado imediatamente...
Apesar das efemeridades
descritas acima, vou tentar analisar com equilíbrio a tese de que os demônios
podem ser queimados quando alguém verbera contra eles, em um culto. Em primeiro
lugar, proponho as seguintes perguntas: Os demônios entram num local de culto?
Podem ser eles arrancados de um lugar onde os crentes se ajuntam, ou Deus
permite que eles ali permaneçam?
Sabemos que o templo é apenas
um espaço físico onde nos reunimos para prestar um culto coletivo a Deus. O
Senhor Jesus age no meio daqueles que se reúnem em seu nome e habita no coração
de seus servos (Mt 18.20; Cl 1.27). No entanto, isso não significa que o
Inimigo deixa de agir na vida das pessoas que lhe dão lugar, mesmo dentro de um
espaço onde ocorre um culto a Deus.
Nem Jesus ordenou que os
demônios ficassem distantes dEle tantos quilômetros, tampouco deu-lhes alguns
segundos para que desaparecessem, a fim de que não fossem queimaaaaaados...
Não! Jesus, no auge de sua consagração ao Pai, em jejum e oração, foi tentado
pelo Maligno, mas venceu-o pela Palavra de Deus (Mt 4.1-11).
Os demônios vêem e ouvem tudo
o que acontece em um culto. E há casos em que são eles que agem no meio do
povo, e não o Senhor Jesus! Imagine o caso da igreja de Laodicéia, em que o
Senhor Jesus estava do lado de fora (Ap 3.20)! O pastor daquela igreja, sendo
um desgraçado, miserável, pobre, cego e nu, dizia: "Rico sou, e estou
enriquecido, e de nada tenho falta". Haja arrogância!
É preciso ter em mente três
definições para a palavra "igreja". Existe a Igreja como Corpo de
Cristo, a igreja local e o templo, que também costumamos chamar de
"igreja". Os demônios não entram na Igreja — com "i"
maiúsculo —, porém no espaço destinado aos cultos sim, podendo também
influenciar ou até possuir alguns indivíduos da igreja local, mesmo durante a
performance de um super-pregador.
Portanto, mais importante do
que ficar berrando ao microfone que os demônios estão sendo queimaaados, com a
intenção clara de impressionar o ingênuo povo de Deus — que tem sido enganado
por falta de conhecimento (Os 4.6) —, é ensinar os crentes a se sujeitarem a
Deus (Tg 4.7a), a fim de que, de fato, tenham poder para resistir ao Diabo (Tg
4.7b; 1 Pe 5.8,9).
"CRENTE QUE NÃO FAZ BARULHO TEM DEFEITO
DE FABRICAÇÃO"
É mesmo? Quer dizer, então,
que o crente que grita é mais crente do que o que não grita? É a maritaca
superior às aves silenciosas ou às que emitem suaves grunhidos? Quem disse que
alguém para ser pentecostal tem de ser barulhento? Quando Elias saiu da
caverna, em Horebe, o Senhor se manifestou por meio do vento que quebrava
pedras? Estava Ele no terremoto ou no fogo? Não! Ele falou ao profeta mansa e
delicadamente (1 Rs 19.11-13).
Há casos em que, de fato, há
ruído, barulho na presença de Deus (Ez 37.7). No Céu, inclusive, haverá
altissonantes vozes de louvor a Deus: "... ouvi no céu como uma grande voz
de uma grande multidão, que dizia: Aleluia! Salvação, e glória, e honra, e
poder pertencem ao Senhor, nosso Deus" (Ap 19.1).
Mas nem sempre barulho denota
manifestação do Espírito.
Não combato a liberdade de
glorificarmos a Deus, e sim o mau costume que os manipuladores de platéia têm
de mandar o povo dizer "aleluia" e "glória a Deus" enquanto
pregam.
Isso é uma prática
reprovável, pois ninguém precisa nos mandar glorificar a Deus, num culto. E se
um crente, em um culto, quiser glorificar ao Senhor em voz baixa? É ele —
repito — inferior ao que o faz como se fosse uma maritaca?
"FALE EM MISTÉRIOS, IRMÃO!"
É triste ver uma parte do
povo de Deus sendo manipulada por homens que pensam estar lidando com
fantoches! Mandam os crentes falarem em línguas estranhas a todo o tempo, como
se pudessem fazer isso por iniciativa própria. Empregam seus bordões, levando
os incautos, quais títeres, a fazerem isso e aquilo. Em sua prepotência, pensam
até que podem controlar as operações do Espírito Santo!
Ora, as línguas estranhas — a
rigor, desconhecidas de quem as pronuncia — são dadas sobrenaturalmente pelo
Espírito de Deus. É Ele quem fala por meio de nós. Nesse caso, que história é
essa de os pregadores estimularem os crentes a falarem em mistérios? Quanta
presunção! E já não é de hoje que eles fazem isso, tratando os servos de Deus
como marionetes.
Não sou contra as
manifestações espirituais. Tenho convicção de que a promessa do derramamento de
poder do Espírito é para hoje (At 2.38,39). Aliás, o Senhor sempre me tem dado
mensagens em profecia e em línguas estranhas. Não sou eu quem resolvo falar
simplesmente porque sou pentecostal! Tudo ocorre de modo sobrenatural. Ainda
que, como profeta, eu tenha autocontrole (1 Co 14.32), não falo em línguas
porque quero. O impulso é do Espírito Santo, que é soberano em suas ações (Jo
3.8).
É bom que entendamos, à luz
da Bíblia, o porquê das línguas provenientes do Espírito de Deus. Elas podem
ser dadas para edificação do crente; e, nesse caso, não há necessidade de que
as pronunciemos em voz alta (1 Co 14.2,4). Mas há também as línguas pelas quais
são transmitidas mensagens do Senhor, quer as inteligíveis — como ocorreu no
dia de Pentecostes (At 2.7-12) —, quer as que necessitam de interpretação (1 Co
14.13,26-28).
"EU QUERO OUVIR AS SUAS LÍNGUAS
ESTRANHAS"
As línguas estranhas não são
produzidas por nós, mecanicamente, atendendo à ordem de animadores de
auditório. E essa distorção até municia os inimigos do pentecostalismo, que
gostam de zombar dos dons espirituais, principalmente devido aos abusos que
ocorrem quanto às línguas estranhas. Dizem os chamados cessacionistas que
existe contradição entre o que ocorre no meio dos pentecostais com o que
aconteceu no dia de Pentecostes.
Concordo plenamente que
esteja havendo, nesses últimos dias, mau uso dos dons espirituais. Prova disso
é a banalização das línguas estranhas. Há inclusive uma "cantora" que
gravou um "hino" que mescla pretensas línguas angelicais e uma
descrição de um certo anjo de nome impublicável que habita num "lugar
estreitinho e maravilhoso".
Mas, sabe de uma coisa? O que
realmente importa é que existem de fato línguas provenientes do Espírito. A
Palavra de Deus diz que, pelo mesmo Espírito, é dada a variedade de línguas e a
interpretação destas (1 Co 12.10), as quais podem ou não ser inteligíveis por
alguém presente num auditório, como vimos acima.
Lembro-me de que, há alguns
anos, na Assembléia de Deus em Cordovil, no Rio de Janeiro, o Senhor me deu uma
mensagem em línguas que eu desconhecia totalmente. Eu nada entendi, pois elas
provieram do Espírito. Mas havia no púlpito um pastor que conhecia vários
idiomas, o qual entendeu tudo o que falei. Pedindo o microfone, ele deu a
interpretação.
— Irmãos, o Senhor falou
claramente à igreja: "Eu sou o Supremo Senhor" — disse ele. Aleluia!
Não precisamos, pois, de estímulo externo para falar noutras línguas. Ninguém
precisa nos mandar fazer isso. Como diz a Palavra de Deus, "... um só e o
mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um
como quer" (1 Co 12.11).
Esse assunto me fez lembrar
de uma expressão muito usada em nossos dias: "reteté de Jesus". Você
já ouviu alguém falar disso ou participou de um culto do reteté? Bem, esse é o
assunto do próximo capítulo.
Capítulo 2
HAJA UNÇÃO!
Se alguém ensina alguma outra
doutrina e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e
com a doutrina que é segundo a piedade, ê soberbo e nada sabe, mas delira
acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias,
blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento e
privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho. Aparta-te dos
tais. 1 Timóteo 6.3-5
A palavra "unção" é
uma das mais pronunciadas no meio pentecostal, ao lado de outras como
"fogo", "glória", "vaso", etc. Há também
expressões novas — e esdrúxulas —, como "reteté de Jesus". Se um
pregador tem eloqüência, voz potente e principalmente facilidade para animar o
auditório, todos dizem: "Fulano tem muita unção" ou "Fulano é do
reteté". Afinal, o que é unção?
Nos tempos da Antiga Aliança,
reis, profetas, sacerdotes e coisas (colunas, objetos, etc.) eram ungidos (Gn
31.13; Êx 30.26-30; 40.15; 1 Sm 10.1; 1 Rs 19.16; Sl 133). A unção simbolizava
consagração de pessoas ou coisas ao Senhor. Mas, no Novo Testamento, Jesus
afirmou, após ter lido um trecho de Isaías (61.1-2), que a profecia quanto à
unção do Espírito sobre a sua vida tinha se cumprido (Lc 4.18-21). Deus o
ungira, no plano espiritual, e isso em si já era o bastante para o cumprimento
de sua missão na Terra (At 10.38).
O derramamento de azeite
representava, antigamente, unção divina propriamente dita sobre a vida de quem
ascenderia a uma posição de destaque (Nm 3.3; 1 Sm 16.13). No entanto, hoje,
não é mais necessário ungir pessoas com azeite para consagração ou confirmação
de seus ministérios. Basta a unção do Espírito Santo (2 Co 1.21; 1 Jo 2.20,27).
Também não é preciso ungir
objetos, a fim de consagrá-los a Deus, pois o Novo Testamento menciona a unção
literal somente para os enfermos (Mc 6.13), a qual deve ser aplicada pelos
presbíteros da igreja (Tg 5.14). O azeite, além de símbolo do Espírito Santo
(Zc 4.3-6), é o ponto de contato para estimular a fé do doente. Mas o
recebimento da cura não está relacionado com a unção, e sim com a oração da fé,
em nome do Senhor: "E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o
levantará" (Tg 5.15).
UNÇÃO DA "LOUCURA DE DEUS"
De tempos em tempos aparecem
pregadores "ungidos" anunciando novidades dissociadas das Escrituras,
mas sempre afirmando que têm o aval de Deus para isso. No plano espiritual,
estão em voga as "novas unções", acompanhadas de "novas
visões". Fala-se muito em "unção da loucura de Deus", com base
em 1 Coríntios 1.25: "Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os
homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens".
Os espalhafatosos pregadores
dessa "nova unção" vêem na passagem acima a justificativa para todas
as aberrações que dizem e fazem. Alguns têm ministrado a "bênção do
depósito celestial". Prometem que as pessoas que tiverem fé encontrarão
uma grande quantia em sua conta bancária! No entanto, a suposta bênção divina
traz ao "agraciado" um grande problema. Trata-se de um autêntico
"presente de grego"!
Não pense que sou incrédulo.
Creio sim num Deus que faz até moeda aparecer na boca de um peixe! Mas, se
aparecerem, digamos, cinqüenta mil reais na conta de alguém, como fica a sua
situação em relação à Receita Federal? Como o tal declarará isso no Imposto de
Renda, haja vista não poder dizer simplesmente: "Foi Deus quem me
deu"? O Senhor nos daria uma bênção pela qual nos tornaríamos sonegadores
de impostos, infratores da lei?
Quanto à expressão
"loucura de Deus", ela foi empregada por Paulo apenas para enfatizar
o quanto os seres humanos, por mais capazes que sejam, estão aquém do
Todo-Poderoso.
Ah, e ele também mencionou a
"fraqueza de Deus". Por que esses "ungidos" não pregam
também a "unção da fraqueza de Deus"? Como se vê, o texto que
empregam não apóia as suas atitudes extravagantes e as suas ministrações
insanas.
Por outro lado, em 1 Timóteo
6.3,4 o apóstolo Paulo — ao mencionar o "obreiro" que ensina outra
(gr. heteros, "dessemelhante") doutrina e não se conforma com as sãs
palavras de nosso Senhor Jesus Cristo — chamou esse tipo de "obreiro"
de louco! E aqui é louco mesmo! Não se trata de linguagem figurada. Eis a
descrição contida no versículo 4: "é soberbo e nada sabe, mas delira
acerca de questões e contendas de palavras..." Não seria essa a loucura ou
delírio presente na vida de alguns super-pregadores?
RETETÉ DE JESUS?
Uns dizem "reteté",
e outros, "repleplé". Ninguém sabe ao certo o que significam essas
expressões onomatopaicas — que devem ter se originado de uma brincadeira de
péssimo gosto com as línguas estranhas —, usadas para identificar pretensos
cultos pentecostais. Isso mesmo, pois, nos cultos genuinamente pentecostais, há
exposição bíblica e manifestação do poder de Deus, e não brincadeiras com os
dons espirituais e mau uso deles.
O termo "reteté"
não consta de dicionários oficiais; é um neologismo. Mas há quem diga que teve
origem no italiano; relacionado com a culinária, significaria:
"mistura", "movimento", "reboliço",
"festa", "aquilo que foge da normalidade", etc. O certo é
que essa expressão esdrúxula faz o maior sucesso no meio dito pentecostal. E ai
daqueles que falam alguma coisa contra isso! São taxados de frios e inimigos do
"mover de Deus".
Mas, quer saber de uma coisa?
Está na hora de darmos uma basta nessas efemeridades e brincadeiras na casa de
Deus!
De onde tiraram essa idéia de
que um culto só é pentecostal se pessoas marcharem, pularem, contorcerem-se ou
caírem? Que negócio é esse de os crentes ficarem rodopiando pra lá e pra cá? E
os servos de Deus que estudam as Escrituras, oram, jejuam, evangelizam e se santificam?
São eles inferiores aos crentes do reteté em razão de não tomarem parte em seus
reboliços?
QUEM GOSTA DO RETETÉ?
Já estive em várias reuniões
do reteté. Os "hinos" são apresentados em ritmos como axé, com
batuques que lembram reuniões de candomblé, e muito forró. Pura carnalidade!
Pessoas rodopiam, caem, riem, berram, etc. E alguns obreiros tolerantes,
frouxos, ainda dizem que isso se trata apenas de meninice.
Ah, se o reteté fosse apenas
meninice! Bastaria ensinar os "meninos" no caminho em que devem
andar, não é mesmo?
Porém, são poucos os crentes
que se envolvem com práticas estranhas por falta de amadurecimento. A maioria
gosta desses "moveres" por carnalidade e falta de temor a Deus! E, em
alguns casos, verifica-se até apostasia decorrente de influência maligna (cf. 1
Tm 4.1).
Obreiros neófitos gostam do
tal reteté, a ponto de se indignarem contra quem estimula o povo a ler mais a
Bíblia e ser mais equilibrado. Eles dificilmente oram e, quando o fazem,
valem-se das chamadas "orações de guerra". Ordenam, determinam,
decretam... Esses anões espirituais não têm fome pela Palavra. Quando um
pregador cita as Escrituras, bocejam. O negócio deles são as efemeridades;
gostam de movimentos — da carne, é claro.
Um dia desses, em um dos
aeroportos brasileiros, eu me pus a ler a Bíblia na sala de embarque — não é
sempre que faço isso em lugares como esse —, a espera da chamada de meu vôo. De
repente, um famoso super-pregador do reteté, de mãos vazias, se aproximou.
Sentando-se ao meu lado, ele disse, num tom que me pareceu zombeteiro ou um
tanto desdenhoso: "Pois é... quem ensina precisa mesmo ler a Bíblia".
Tentei inutilmente conversar
com ele sobre o que eu estava lendo nas Escrituras, mas o seu negócio era
contar vantagens. Apresentou-me, em cerca de dez minutos, toda a sua agenda...
Depois que nos despedimos, fiquei pensando que, para manipular os ingênuos
crentes do reteté, realmente não é preciso ler a Bíblia. Basta ter à mão um
arsenal de animação de auditório, suficiente para garantir o "mover de
Deus".
UNÇÃO DA GARGALHADA
No site YouTube
(www.youtube.com) há uma infinidade de vídeos para todos os gostos. Foi lá que
encontrei vários cultos do reteté e aberrações sobre os ministérios de
super-pregadores norte-americanos que muitos crentes idolatram. Alguns deles
são gurus da confissão positiva, modismo pernicioso que, há alguns anos, tem
levado muitos crentes a abandonarem o evangelho de Cristo.
Está no YouTube para todos
verem um "culto" em que um famoso pregador — cujas iniciais do nome
são K.H. —, pouco antes de morrer, precisando ser amparado por dois obreiros
para não cair, ministrava à platéia a "unção do riso". Simplesmente,
grotesco. Todos que vêem o vídeo confirmam: "Isso é uma aberração".
Alguns se convencem de que não se trata apenas de uma histeria coletiva — há
influência demoníaca mesmo.
No tal vídeo, uma mulher
uiva, como se fosse um lobo. Pessoas caem e lançam-se umas sobre as outras,
dando gargalhadas similares àquelas que só podem ser ouvidas em filmes de
terror. Um casal sentado, ao ser fitado por K.H., cai ao chão "em câmera
lenta", como se estivesse derretendo — o semblante deles é assustador.
Os vídeos de outro não menos
famoso super-pregador, cujas iniciais do nome são B.H., também impressionam.
Vestido como um astro e parecendo um super-herói, derruba a todos os que estão
à sua frente. Ele é um show-man. Pessoas se enfileiram para receber o golpe de
seu "paletó mágico". Mas, se realmente a unção de Deus está sobre
B.H., por que não forma uma fila de paralíticos, a fim de levantá-los?
Em outro vídeo, certo
pregador brasileiro — e o principal propagador do reteté —, demonstrando total
falta de bom senso, afirma que não queria apenas receber o sopro de B.H.:
"Se o sopro dele é tão poderoso, eu queria que cuspisse sobre mim". Como
se vê, essa "nova unção" para derrubar pessoas tem contribuído muito
mais para que os super-pregadores recebam glória dos homens do que para a
glorificação do nome do Senhor Jesus.
UNÇÃO DO LEÃO
No livro Evangelhos que Paulo
Jamais Pregaria, eu fiz menção da unção dos quatro seres, por meio da qual
"adoradores" caem ao chão, rugem como leões, batem os braços como
águias, imitam bezerros, etc. Certa cantora — que tem um grande poder de
influência sobre a juventude — foi um pouco mais além. Sob a "unção do
leão", engatinhou em um palco, levando milhares de fãs ao delírio.
Em seu blog, ela afirmou o
seguinte acerca do episódio:
Saímos para a ministração às
16h. Me vesti de acordo com o que o Espírito colocou em meu coração. Um vestido
de veludo azul que comprei há mais de 10 anos no Seminário em Dallas. Um cinto
preto largo com "cara" de autoridade. Botas pretas, assim como na
última viagem em Florianópolis, com essa mesma mensagem de força, poder,
autoridade, e conforto necessário para pular e pisar com força, profeticamente,
na cabeça do diabo (...) Meus brincos comprados em Israel, e o anel com a pedra
ametista que ganhei quando eu nasci. Olhei para mim mesma no espelho e vi uma
guerreira (...) Houve um momento em que fez um "clique". Uma mudança
na atmosfera. Depois da música "Manancial" comecei a receber palavras
proféticas... A música acompanhou... O poder de Deus era palpável, e as
palavras proféticas continuaram. Um cântico espontâneo sobre o Cordeiro e o
Leão marcou para sempre a minha vida. E a unção de autoridade foi ministrada
sobre nós (...)
De repente, começamos a
celebrar, mas foi diferente. Eu saltava e parecia que estava em um trampolim,
uma cama elástica. Se antes pulava para romper, agora eu me sentia voando,
pulando muito alto, minhas pernas esticadas iam alto, ao menos essa era a
sensação, mas depois outras pessoas confirmaram. O vento nos meus cabelos e a
sensação era de pulos muito altos. Eu sabia que algo diferente estava
acontecendo. Quando pulei uma última vez, senti que era para me assentar. Não
sabia se teria forças para me levantar outra vez. Foi quando senti o impulso,
me agachei e comecei a andar como o Leão.
Pensamentos vieram à minha
mente. Eu disse ao Senhor: "É... agora a minha reputação acabou. Agora vou
ver quem vai ficar comigo". Mas prossegui, consciente do que estava
acontecendo, e senti a direção até mesmo de onde eu deveria ir. Quando parei,
não sabia como ou que fazer ao me levantar. Ainda no chão, me ergui de meio
corpo e gritei: "Um brado de vitória ao Senhor" (sem saber se alguém
responderia), e o som foi poderoso.
A música terminou
grandiosamente. Era o Leão da Tribo de Judá.
Até que ponto os impulsos que
sentimos podem ser atribuídos ao Espírito de Deus? Dirigiria Ele alguém quanto
a efemeridades, como tipo de roupa e calçado, penteados, cinto e até os brincos
a serem usados para participar de um culto, ou melhor, show? Ou levaria Ele um
crente a andar como um quadrúpede? Não vou citar muitas passagens bíblicas para
refutar tal aberração e responder a essas perguntas. Basta lermos com meditação
1 Coríntios 14 para percebermos como essa talentosa cantora e compositora está
equivocada quanto à operação do Espírito Santo.
TRANSFERÊNCIA DE UNÇÃO
Encontrei no site de
relacionamentos Orkut, na Internet, o currículo de um super-pregador, que se
diz avivalista: "Prepare-se para receber uma transferência de unção! Deus
tem levantado uma geração de avivalistas extravagantes, pessoas como você e eu
que renderão seu espírito numa dimensão mais profunda ao Espírito Santo de
Deus, a fim de sermos agentes mobilizadores de avivamento em nossas
cidades".
Tratarei do chamado
avivamento extravagante em outro capítulo, mas o tal pregador citou algo que
tem ocorrido em algumas reuniões do reteté: transferência de unção. Pessoas se
abraçam fortemente; algumas ficam literalmente grudadas; outras encostam as
suas testas umas nas outras; e há aquelas que caem ao chão movimentando-se
violentamente.
Os defensores desse modismo
aberrante argumentam de modo equivocado que Moisés transferiu a sua unção para
setenta anciãos. Na verdade, Deus usou o seu servo como um canal para dar a
outros setenta homens a sua (de Deus) unção, por assim dizer, como se lê em
Números 11.16,17. Observe que a capacitação proveniente do Espírito, que é
imensurável, foi partilhada pelo próprio Deus com os servidores de Moisés.
E disse o SENHOR a Moisés:
Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, de quem saber que são anciãos
do povo e seus oficiais; e os trarás perante a tenda da congregação, e ali se
porão contigo. Então, eu descerei, e ali falarei contigo, e tirarei do Espírito
que está sobre ti, e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo,
para que tu sozinho o não leves.
Não há na Palavra do Senhor
apoio algum para a tal transferência de unção. Trata-se de um modismo perigoso.
Deus até nos confere poder do alto através da intercessão de seus verdadeiros
servos, obedientes à Palavra (2 Tm 1.6; At 5.12; 8.17-19), mas nunca por meio
de espetáculos de super-pregadores soberbos, antiéticos, amantes do dinheiro,
que agem segundo o que pensam e sentem, desprezando a vontade de Deus (Mt
7.21-23).
UNÇÃO DE MONTES E CIDADES
Muitos também — ignorando que
a Bíblia é a nossa regra de fé, de prática e de vida — querem agir por conta
própria quanto à unção com óleo, aplicando-a de modo indiscriminado.
Não obstante, somente o
ministério está autorizado a ungir os enfermos. Tiago, ao mencionar
presbíteros, referiu-se aos ministros chamados por Deus, vedando essa prática a
diáconos, cooperadores e membros (cf. Tg 5.14; Mc 6.13).
Certos pregadores têm
afirmado que é preciso ungir casas, carros e até cidades para que tenhamos a
bênção de Deus. Um deles conta que, ao ter chegado a uma cidade, como nenhuma
alma se entregava a Jesus, Deus lhe revelou uma nova estratégia de
evangelização — percorrer a cidade inteira de carro, derramando azeite por onde
passasse. Haja azeite! Se essa é a solução, como ungir uma cidade grande como o
Rio de Janeiro?! E se alguém resolver ungir todo o Brasil?!
Há algum tempo, seguidores de
um grupo "evangélico" resolveram, numa "atitude profética",
escalar e ungir o pico Dedo de Deus, na região serrana do Rio de Janeiro.
Outros enterram garrafas ou latas de azeite em montes, a fim de tornar o
produto da oliveira "poderoso". Depois, o empregam em suas campanhas
para ungir casas, carros, carteiras de trabalho, etc. Ungem até os enfermos no
local da enfermidade!
ESTRANHA UNÇÃO PARA OS ENFERMOS
Alguns pregadores têm
afirmado: "Eu fui chamado para pregar milagres". Na verdade, nenhum
servo de Deus foi chamado para pregar os efeitos do evangelho, e sim o próprio
evangelho (Mc 16.15). E os tais efeitos devem acontecer naturalmente, como
conseqüência da proclamação do evangelho (Mc 16.17-20), e não de maneira
induzida.
Jesus curou muitas pessoas
(Mt 8.16,17). Os apóstolos também, em nome do Senhor, fizeram obras
extraordinárias, até maiores do que algumas praticadas pelo Mestre (At 5.15,16;
19.11,12), como Ele prometera (Jo 14.12). Contudo, não há apoio bíblico para as
operações estranhas que vêm ocorrendo em nossos dias.
Certos milagreiros esfregam
óleo no local da enfermidade, para depois extrair objetos que supostamente
indicam a ocorrência de enfermidades ou "trabalhos malignos". Essas
"operações" têm gerado muita confusão no meio do povo de Deus, e não
são poucos os obreiros que fazem perguntas sobre o assunto.
Nos tempos bíblicos, o azeite
era empregado diretamente nas feridas, mas como remédio (Is 1.6; Lc 10.34).
Hoje, a unção para os doentes é apenas simbólica. Não deve ser aplicada no
local da enfermidade. E se esta for numa parte íntima? Ademais, extrair pedaços
de ossos, pedras, filetes com sangue ou algo parecido do corpo das pessoas — se
é que não se trata de fraude — tem muito mais semelhança com as chamadas
cirurgias mediúnicas do que com a manifestação de Deus.
Embora muitos milagreiros e
seus defensores recorram a versículos bíblicos isolados para se justificarem
perante o povo, não vemos na Bíblia apoio consistente às suas estranhas
práticas. Não devemos aceitar como sendo da parte de Deus qualquer operação prodigiosa,
pois a própria Palavra do Senhor nos manda testar, examinar, julgar, provar o
que ouvimos, vemos e sentimos (At 17.11; 1 Ts 5.21; 1 Co 14.29; 1 Jo 4.1).
Alguém argumentará:
"Jesus não untou os olhos de um cego com lodo feito com a sua saliva? Não
devemos restringir os métodos de curar". Oh, sim. Mas Jesus não fez
daquela prática um método para curar os enfermos. Além disso, aquele episódio
isolado não respalda toda e qualquer prática dos milagreiros da atualidade.
Quanto à cura, Jesus disse:
"... porão as mãos sobre os enfermos e os curarão" (Mc 16.18). E a
imposição de mãos, como vimos, pode incluir a unção com óleo. Esta, no entanto,
não é a condição primacial para a cura, que ocorre por meio da fé (Lc 8.48;
17.19).
Qual dos apóstolos precisou de
azeite para levantar os enfermos? Já pensou se Pedro tivesse dito ao coxo junto
à porta Formosa: "Jesus te cura depois; agora, estou sem azeite para
ungi-lo"?!
"E quanto aos dons de
curar?" — alguém perguntará. Ora, estes se referem às operações multiformes
do Espírito Santo, e não às invenções dos criativos milagreiros. Deus age como
quer.
Quando Ananias visitou a
Saulo, que estava cego, tão-somente impôs-lhe as mãos, e caíram dos olhos do
apóstolo algo semelhante a escamas (At 9.17-18). Houve um sinal visível da
cura, porém Ananias não precisou empregar um método exótico.
RETETÉ DE TORONTO
Infelizmente, pastores hoje
têm apostatado da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de
demônios (1 Tm 4.1). Mas há casos raros em que eles "desapostatam",
isto é, arrependem-se, reconhecem o seu erro. Não foi esse o conselho que Jesus
deu ao pastor da igreja em Éfeso? "Lembra-te, pois, de onde caíste, e
arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e
tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres" (Ap 2.5).
O pastor canadense Paul
Gowdy, que abraçara várias aberrações na Igreja Aeroporto de Toronto,
arrependeu-se e escreveu, há algum tempo, uma carta, pela qual discorre sobre o
seu retorno às verdades da Palavra de Deus. Ele menciona uma série de heresias,
modismos e manifestações — chamadas por ele mesmo de demoníacas—que,
infelizmente, muitas igrejas brasileiras estão experimentando. A diferença é a
designação. Aqui, elas são conhecidas como "reteté", "unção da
loucura", etc.
Mas, na tal carta, publicada
em vários sites e blogs norte-americanos — como www.revivalschool.com e
www.discernment-ministries.org —, o pastor Gowdy diz que não foi nada bom o que
ocorreu na Igreja Aeroporto de Toronto. Ele já começa dizendo que a experiência
de Toronto para ele foi uma mistura de maldição. Segundo a sua descrição, o
resultado de todo aquele "mover" (ou, como diríamos aqui no Brasil,
"reteté") foi que a igreja praticamente se auto-destruiu, esfacelando-se:
Devoramo-nos uns aos outros
com fofocas, falando mal pelas costas, com divisões, partidarismo, críticas
ferrenhas uns dos outros, etc. Depois de três anos "inundados" orando
por pessoas, sacudindo-nos, rolando no chão, rindo, rugindo, rosnando, latindo,
ministrando na igreja Internacional do Aeroporto de Toronto, fazendo parte de
sua equipe de oração, liderando o louvor e a adoração naquele local,
praticamente vivendo ali, tornamo-nos os mais carnais, imaturos, e os crentes
mais enganados que conheci.
As manifestações dos dons
espirituais na Igreja do Aeroporto, a partir de 1994, deram lugar à tal
"bênção de Toronto".
O povo que ia à igreja deixou
de ouvir a exposição da Palavra, receber libertação e graça vindas do Senhor,
para ouvir gritos de "fogo!" e sacudir o corpo de modo estranho.
Gowdy acredita que os líderes da igreja eram pessoas sérias, que amavam o
Senhor, até que caíram no laço do engano.
Ele diz o seguinte dos
líderes da Igreja do Aeroporto e de si mesmo:
Não amaram o Senhor o
suficiente para guardar os seus mandamentos. Fracassaram por não obedecer as
Escrituras, e se desviaram porque andavam algo maior e grandioso, mais
empolgante e dinâmico. Eu também cometi este pecado. Preguei sobre esta
renovação na Coréia, no Reino Unido, nos Estados Unidos e aqui no Canadá, e
estou profundamente arrependido ao escrever este relato, e peço-lhes que vocês,
a noiva e o corpo de Cristo me perdoem, especialmente os pentecostais e
carismáticos, pois todos fazem parte de minha família teológica.
Gowdy também pergunta, num
trecho da carta: "Como fiquei tão cego assim?" Ele diz isso, ao
descrever como pessoas imitavam cachorros, faziam de conta que urinavam nas
colunas da igreja, latiam, rugiam, cacarejavam, "voavam" e se
comportavam como bêbadas. Hoje, ele não tem dúvidas de que tudo aquilo era algo
irreverente e blasfemo ao Espírito Santo.
Ele diz que ficou perturbado
com uma profecia que veio através da esposa de um dos líderes. Dizendo ter sido
arrebatada à presença do Senhor Jesus, ela afirmou que o que experimentou foi
muito melhor que sexo! "Como alguém pode comparar o amor de Deus ao
sexo?", pensou o pastor Gowdy.
Mas o que mais impressiona em
sua narrativa é o fato de ele reconhecer que os demônios agiam livremente em
meio a todo aquele reteté, por assim dizer:
Quando começamos a suspeitar
de que os demônios estavam à vontade em nossos cultos, John Arnot ensinava que
devíamos nos perguntar se eles estavam chegando ou saindo. Se está saindo
deles, está bem! John defendia o caos afirmando que não devíamos ter medo de sermos
enganados, pois se havíamos pedido ao Espírito Santo para nos encher; como
Satanás poderia nos enganar? (...)
Tais palavras eram
convincentes, mas totalmente contrárias às Escrituras, pois Jesus, Paulo, Pedro
e João alertaram-nos sobre o poder dos espíritos enganadores, especialmente nos
últimos dias. Mesmo assim, não devotamos amor a Deus para lhe obedecer a
Palavra, e, Como conseqüência, abrimo-nos à ação de espíritos mentirosos (...)
...eu rolava pelo chão, certa
noite, "bêbado no Espírito", como costumávamos dizer, e ali, cantando
e rolando no chão, comecei a cantar uma canção de ninar: "Maria tinha um
cordeiro e seu pêlo era mais alvo que a neve". Cantei esta música infantil
de maneira debochada e imediatamente alguma coisa em meu coração sussurrou que
aquilo era um demônio...
Após essa triste experiência,
Gowdy se arrependeu. "Como um demônio entrou em mim? Eu não amava a Deus?
Não era zeloso pelas coisas de Deus? Não era totalmente apaixonado por
Jesus?", questiona. Mas hoje ele não tem dúvidas de que espíritos imundos
se manifestaram através de sua vida. E, por isso, se afastou da Igreja do
Aeroporto e resolveu, anos depois, denunciar as experiências que ali viveu.
Ele também conta que pessoas
de sua ex-igreja lhe perguntara m se já havia recebido a espada dourada do
Senhor. E então lhes perguntou de que se tratava, pensando ser uma palavra
profética relacionada com as Escrituras. Mas ouviu deles a seguinte resposta:
Não, não é a Bíblia; é uma
espada invisível que somente os verdadeiramente puros poderão receber. Se for
tomada de maneira errada, então será morto pelo Senhor. Mas, se você for santo
o suficiente para recebê-la, então poderá desembainhá-la, pois ela cura aids,
câncer, etc. e produz salvação. A pessoa deve fazer gestos de ataque, imaginando
ter em suas mãos esta espada invisível, avançando sobre as pessoas enquanto
está em oração!
"O que é isso, desenho
animado?", alguém poderá perguntar. De fato, a descrição de Gowdy seria
cômica se não fosse trágica. E, infelizmente, a realidade brasileira não é
diferente. Muitos crentes empunham espadas douradas em vez da espada do
Espírito (Ef 6.17); e calçam sapatos de fogo em vez dos calçados da preparação
do evangelho da paz (Ef 6.15).
Paul Gowdy menciona outras
manifestações e heresias — que abordarei em outros capítulos desta obra — e
conclui a carta, arrependido por ter ensinado "coisas que não são
bíblicas". Diz ele: "Eu não testei os espíritos quando a Palavra
ordena que assim seja feito. Todos os que estavam ali quando estas coisas
começaram a acontecer sabem que o que escrevo é a verdade".
Destaco agora algumas das
últimas palavras contidas na carta:
... temos muitas contas a
prestar; o Senhor lhes abrirá os olhos qualquer dia desses. Imagino que quando
esta carta for publicada serei bombardeado por cartas de ambos os lados... Bem,
o Senhor conhece meu coração e por sua graça haverá de me guiar a toda verdade,
pois quero conhecer a Jesus Cristo o crucificado (...)
Creio que somos como a igreja
de Laodicéia; pensamos que somos ricos, prósperos e sem necessidade alguma, e,
no entanto não percebemos que estamos cegos e nus. Precisamos levar a sério o
conselho de Jesus comprando ouro refinado no fogo (que fala do sofrimento e não
de espíritos enganadores), vestiduras brancas para cobrir nossa nudez e colírio
para os olhos para poder ver outra vez. O Senhor nos chama ao arrependimento, e
graças ao Senhor pelo que ele é, pois nos conduzirá e nos restaurará ao Pai.
Ora, o que adianta os crentes
rirem e rolarem pelo chão dentro dos templos, se as almas continuam perdidas do
lado de fora?
Diante do exposto, cito ainda
o que está escrito em 1 Coríntios 15.1,2: "Também vos notifico, irmãos, o
evangelho que já vos tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também
permaneceis; pelo qual também sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho
anunciado, se não é que crestes em vão".
DÚVIDAS SINCERAS SOBRE "NOVAS
UNÇÕES"
Pessoas sinceras e tementes a
Deus me perguntam sobre o "cair no Espírito", a "unção do
riso" e outros "moveres". São irmãos em Cristo, servos do
Senhor, que desejam aprender a cada dia a sã doutrina. Perguntam, não para
tentar me pôr em apuros, mas porque querem ter um posicionamento definido,
seguro, sobre o assunto.
O motivo da dúvida desses
irmãos é compreensível, pois, quando estudamos sobre o avivamento de Azusa
Street, em Los Angeles (1906), e acerca do início da Assembléia de Deus no
Brasil (1911), são comuns as menções a momentos em que irmãos caíam sob o poder
de Deus ou riam sem parar.
É claro que as experiências
relacionadas com o Movimento Pentecostal — ainda que envolvam santos como
William Seymour, Gunnar Vingren e Daniel Berg — não devem ser supervalorizadas,
a ponto de as equipararmos às incontestáveis verdades da Bíblia (Gl 1.6; 1 Co
4.6; 15.1,2). Respeito esses pioneiros do pentecostalismo clássico, mas a minha
fonte primária de autoridade continua sendo a Palavra de Deus.
Como disse Bryan Chapell,
"Sem uma autoridade suprema em defesa da verdade, toda luta humana não tem
valor fundamental, e a própria vida torna-se fútil. Tendências modernas de
pregação que negam a autoridade da Palavra, em nome da sofisticação
intelectual, conduzem a um subjetivismo desesperador em que as pessoas fazem o
que é direito a seus próprios olhos — situação cuja futilidade a Escritura já
anunciou claramente (Jz 21.21)" (Pregação Cristocêntrica, Editora Cultura
Cristã, p.23).
A Bíblia é um Livro de
princípios, e estes devem ser considerados antes de qualquer análise de
manifestações, independentemente das pessoas nelas envolvidas. E há vários
princípios relacionados com o culto genuinamente pentecostal em 1 Coríntios 14.
Citarei apenas alguns:
1) O propósito principal das
manifestações do Espírito em um culto é a edificação do povo de Deus
(vv.4,5,12). Os risos intermináveis e as quedas que temos visto hoje edificam?
2) A faculdade do intelecto
não pode ser desprezada no culto em que o Espírito Santo age (vv.15,20).
Ninguém de fato usado pelo Espírito perde os sentidos, deixa de raciocinar,
etc.
3) O culto a Deus não deve
levar os incrédulos a pensarem que os crentes estão loucos (v.23). O que pensam
os não-crentes que assistem a certos cultos do reteté, em que pessoas caem ao
chão, rindo sem parar e rolando umas sobre as outras?
4) Deve haver ordem e
decência no culto; tudo deve ocorrer a seu tempo: louvor, exposição da Palavra,
manifestações do Espírito (vv.26-28,40). Um culto que não tem ordem nem
decência é dirigido pelo Espírito?
5) No culto, deve haver
julgamento, a fim de se evitar falsificações (v.29).
6) Haja vista o espírito do
profeta estar sujeito ao próprio profeta, é inadmissível que aconteçam
manifestações consideradas do Espírito Santo em que pessoas fiquem fora de si
(v.32).
7) O Deus que se manifesta no
culto não é Deus de confusão, senão de paz (v.33).
8) Se alguém cuida ser
profeta ou espiritual, deve reconhecer os mandamentos do Senhor (v.37). O
leitor está disposto a submeter-se aos mandamentos do Senhor? Ou é um daqueles
que, irresponsavelmente, dizem: "Não podemos pôr Deus em uma
caixinha"?
GUNNAR VINGREN: "NÃO ME ENVOLVAM
NISSO"
Como explicar as experiências
da Rua Azusa? E os relatos contidos no Diário do Pioneiro de Gunnar Vingren,
editado pela CPAD? As informações contidas nesse livro — que, repito, não é a
Bíblia — têm como objetivo enfatizar que a glória de Deus era tão intensa,
naqueles dias, a ponto de ser impossível permanecer de pé, em alguns momentos.
E a alegria era tão grande, que irmãos riam continuamente, externando tal
alegria, mas permaneciam conscientes.
O que aconteceu no tempo dos
pioneiros não pode ser comparado aos atuais "moveres", verdadeiras
aberrações. Na Azusa e em Belém, as pessoas envolvidas nas manifestações
citadas estudavam a Bíblia, oravam, jejuavam, tinham um bom testemunho e se
submetiam inteiramente à vontade de Deus.
Não havia naquelas reuniões
super-pregadores, paletó mágico, sopro ungido, sapato de fogo, etc. E mais: o
nome de Jesus Cristo era glorificado!
Muitos pensam que Deus se
manifesta derrubando pessoas. Isso é um engodo! Lembremo-nos de que quem lança
pessoas ao chão à moda dos super-pregadores é o Diabo (Mc 9.17-27; Lc 4.35).
Jesus a ninguém derruba. Mas alguém pode cair por não suportar a glória da sua
presença, como aconteceu com o apóstolo João.
Reconheço que alguém, em um
culto pentecostal, possa até sentir a glória de Deus de modo tão intenso, a
ponto de não suportar ficar de pé. Isso já aconteceu com pessoas piedosas e
tementes a Deus. João, o apóstolo, em Apocalipse 1.17, afirmou, referindo-se ao
Senhor Jesus: "E, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre
mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; eu sou o Primeiro e o Último".
Da experiência vivida por
João (Ap 1) extraímos verdades importantes:
1) Ele não perdeu, em momento
algum, a consciência. Haja vista ouvir claramente a mensagem de Jesus. Não foi
um transe ou algo parecido.
2) Ele também não caiu ao
chão estrebuchando-se ou debatendo-se.
3) Ele caiu diante da
presença real de Jesus Cristo glorificado. Quem poderia, diante de tamanha
glória, permanecer sobre seus pés?
4) João caiu aos pés de
Cristo. Muitos não caem de joelhos, mas são derrubados, caindo para trás, de
costas.
Permaneçamos, pois, em pé
diante do Senhor e valorizemos a genuína manifestação do Espírito Santo,
baseada inteiramente na Palavra de Deus. Lembremo-nos de que nós temos a unção
do Santo e sabemos tudo (1 Jo 2.20).
Espero você no próximo
capítulo, a fim de apresentar-lhe análises de hinos estranhos...
Capítulo 3
MAIS HINOS ESTRANHOS
A palavra de Cristo habite em
vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns
aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com
graça em vosso coração. Colossenses 3.16
Tem sido um grande problema
em nossos cultos o chamado "período de louvor" — um verdadeiro
festival de cantoria e dança, em muitos lugares —, que ocupa praticamente o
tempo todo das reuniões.
Geralmente, o culto começa
com um momento de louvor. Depois, em alguns lugares, cânticos do hinário. Em
seguida, participação dos grupos musicais, dos cantores, avisos... Quanto tempo
é dedicado à exposição da Palavra? Bem, depois de todos cantarem, o tempo que
sobrar é para a pregação...
Mas não vou falar agora de
liturgia; há um capítulo específico sobre isso nesta obra. Falarei sobre
algumas letras de canções tidas como hinos de louvor a Deus — dando
continuidade no assunto desenvolvido em um dos capítulos do livro Erros que os
Pregadores Devem Evitar — e discorrerei sobre danças e coreografias, procurando
responder às perguntas que venho recebendo sobre esses assuntos.
Para quem é o nosso culto? A
quem devemos cantar louvores, bem como tocar bem e com júbilo? Quais são as
nossas motivações ao compor ou entoar hinos no templo, destinado ao culto ao
Senhor? Estamos mesmo louvando a Deus, ou as letras de nossas composições nada
têm de louvor a Jesus? Pretendo responder a essas perguntas à luz da Bíblia
neste capítulo.
Eu sei que, ao analisar
letras de "hinos", estarei mexendo num vespeiro, uma vez que as
canções de maior sucesso e apelo comercial são as que priorizam efemeridades, e
não o louvor a Deus. Além disso, boa parte dos cantores evangélicos segue ao
caminho dos "louvores" de auto-ajuda. Eles animam o público com
canções desprovidas de sólido fundamento bíblico, promovendo um outro
evangelho, que prioriza as preferências e necessidades das pessoas, e não a
vontade do Senhor.
ATENÇÃO, SONHADORES APAIXONADOS!
Atenção, atenção, geração de
"sonhadores apaixonados", vou logo avisando que esta análise da
conhecida canção "Sonhos de Deus" poderá deixá-los um tanto
irritados! Mas peço-lhes que sejam imparciais e valorizem o que a infalível
Palavra de Deus tem a dizer (1 Pe 1.24,25), a menos que não queiram mais andar
segundo a Bíblia.
Muitos cantam de cor:
"Se tentaram matar os teus sonhooos, sufocando o teu coraçããão; se
lançaram você numa covaaa; e ferido perdeu a visããão..." Nessa canção,
somos retratados como pessoas que pensam ser pobres em razão de desconhecerem o
potencial que têm dentro de si. Ela tem como objetivo apresentar uma mensagem
motivacional, de auto-ajuda, cuja característica principal é mostrar que o
crente, se pensar positivo e usar palavras convictas, torna-se forte, podendo
mudar todas as circunstâncias e trazer à existência o que não existe.
Ah, como as palavras dessa
canção nos animam e nos motivam! Percebemos, ao cantá-la, que não há limites
para um sonhador. Tudo lhe é possível... Sabe o que é isso? Humanismo!
Antropocentrismo puro! Essa canção realmente agrada uma boa parte dos crentes e
está de acordo com as mensagens da moda, que giram em torno de
"sonhos", isto é, projetos que estão em nosso coração.
A Palavra de Deus nos alerta
quanto ao perigo de confiarmos em nosso coração (Jr 17.9). Em nenhuma parte
dela somos estimulados a "sonhar os sonhos de Deus". É óbvio que
podemos ter projetos, aspirações, "sonhos". O perigo está em
acreditar que todas essas aspirações provêm do Senhor. É claro que Ele nos
revela algumas coisas mediante sonhos de verdade, quando dormimos (Gn 37.5,9;
Mt 2.12), mas isso nada tem que ver com "sonhos de Deus que jamais vão
morrer".
"E a promessa de sonhos
para os crentes de hoje, em decorrência do derramamento do Espírito
Santo?" — alguém perguntará. Ora, a promessa diz respeito a sonhos de
verdade (revelações de Deus), e não a "sonhos" no sentido de desejos
e aspirações (Jl 2.28,29).
CUIDADO COM OS SEUS "SONHOS"
Interessante como os
super-pregadores e os cantores-ídolos gostam de basear as suas mensagens
motivacionais na biografia de José. Eles só não atentam para o fato de que
aquele servo de Deus nunca foi um "sonhador"! Os seus irmãos o
chamaram de "sonhador-mor" (Gn 37.19), mas os seus sonhos foram
revelações de Deus, e não "sonhos", projetos (Gn 37.5-10). Muitos
pensam que ele ficava o tempo todo "sonhando" de olhos abertos:
"Ah, se eu fosse o governador do Egito!" Que engano!
Mas a canção em apreço também
diz: "Não desista; não pare de crer; os sonhos de Deus jamais vão
morrer". Essa invencionice de que os nossos projetos são "sonhos de
Deus" lamentavelmente tem desviado o povo do Senhor da verdade, que é uma
só para os nossos dias: qualquer pessoa que diz servir a Deus deve se humilhar,
e orar, e buscar a sua face, e se converter (2 Cr 7.14), ao invés de ficar
"sonhando os sonhos de Deus".
Se todos os
"sonhos" ou planos de Davi tivessem se concretizado, seguindo à
"profecia de auto-ajuda" de Natã (2 Sm 7.3), ele não teria cumprido a
vontade de Deus! E olha que o principal rei de Israel tinha um bom
"sonho": construir a Casa de Deus em Jerusalém. Felizmente, o Senhor
usou o próprio profeta Natã — que errara, ao dizer a Davi que devia fazer tudo
o que estava em seu coração — para desfazer a falaciosa "profecia
motivacional" (vv.3-17).
Todos nós temos aspirações ou
"sonhos", porém é preciso tomar muito cuidado com esse modismo de
atribuir todo e qualquer desejo do coração ao Senhor. A Bíblia diz: "Do
homem são as preparações do coração, mas do Senhor a resposta da boca. Todos os
caminhos do homem são limpos aos seus olhos, mas o Senhor pesa os
espíritos" (Pv 16.1,2).
DESISTA DE CANTAR ESSA CANÇÃO!
Muitos não conseguem — ou não
querem — enxergar que as verdades centrais da fé cristã estão perdendo espaço
para a supervalorização do ser humano. Somos tão importantes assim, a ponto de
um culto ser voltado todo para o nosso "eu"?
Ora, os cânticos que entoamos
devem ser em louvor a Deus (Sl 136.1-3; 138.1,2), e a nossa maior pregação deve
ser Jesus Cristo crucificado (1 Co 1.22,23; Fp 3.18). O que passar disso com
certeza faz parte do plano diabólico de, nos últimos dias, desviar os crentes
da sã doutrina (1 Tm 4.1; 2 Tm 4.1-5).
Mas prossegue a canção:
"Não desista; não pare de lutar; não pare de adorar". Oh, até que
enfim uma ênfase à adoração... Mesmo assim, sem nenhuma especificidade.
Simplesmente, "não pare de adorar". Adorar a quem? Adorar como?
Adorar com quê? Cantando essa "canção" de auto-ajuda, recheada de
humanismo? Que Deus nos ajude a tirar do nosso meio esse perigoso
antropocentrismo, que nos afasta cada vez mais da vontade do Senhor,
levando-nos a confiar em nossas "palavras mágicas" e em nossos
"sonhos".
Alguém pode pensar que estou
exagerando. Mas a composição em análise enfatiza o que qualquer palestrante ou
livros seculares de auto-ajuda dizem. Ela parece mesmo ter sido inspirada em
livros como Nunca Desista de seus Sonhos ou Você É Insubstituível. Não há
nenhuma menção à vontade de Deus e à sua grandeza; não se faz referência à obra
salvífica realizada na cruz por Jesus Cristo, tampouco à vida de santificação e
renúncia que o crente deve ter nesta vida, ante a iminente volta do Senhor (cf.
Lc 9.23; Hb 12.14; 1 Jo 3.1-3).
Quem não gosta de ouvir elogios
e palavras animadoras? Ah, como é bom ouvir uma mensagem que nos motiva a ser
felizes nesta vida, que nos estimula a usar toda a "nossa força" para
mudar este mundo! Contudo, não se anime tanto! Nada somos em nós mesmos! Temos
de nos humilhar debaixo da potente mão do Senhor (1 Pe 5.6; Sl 138.6; Ef 6.10).
Nada de auto-ajuda! Precisamos é da ajuda do alto!
VOCÊ É O "CARA"
Diz ainda a canção em
análise: "Levanta teus olhos e vê; Deus está restaurando os teus sonhos; e
a tua visão". Meu Deus! Não agüento mais tantas palavras de auto-ajuda!
Alguém argumentará: "Viu, irmão Ciro? A canção fala de Deus. Por que ser
tão crítico?"
Oh, sim, é verdade; há uma
referência a Deus! Mas não se anime tanto... Observe que Ele é mencionado
restaurando os "teus" sonhos, a "tua" visão. Afinal, o que
vale mesmo é o que "você" sente, o que "você" pensa, o que
"você" sonha... Você, você, você! "Você é o cara", como
diria um famoso jogador de futebol...
Que visão Deus estaria
restaurando? Visão de quê? A Palavra do Senhor nos manda olhar para Jesus,
autor e consumador de nossa fé (Hb 12.1,2). No entanto, depois de tanta ênfase
ao ser humano, a composição em apreço só pode estar incentivando o crente a
olhar para dentro de si mesmo e contemplar as suas potencialidades e a sua capacidade
de "sonhar" os "sonhos de Deus", e não olhar para o Senhor
Jesus, não é mesmo? Por falar em Jesus, o nome dEle não aparece nenhuma vez
nessa canção!
A última parte do
"hino" em análise diz: "Recebe a cura; recebe a unção; unção de
ousadia; unção de conquista; unção de multiplicação". Recebe, recebe,
recebe! Viva o humanismo!
Não é preciso mais adorar a
Deus em espírito e em verdade. Com o modismo que se instalou no meio do povo de
Deus, de todos acharem que podem profetizar na hora em que bem entendem, temo
que esta parte da composição fomente mais ainda essa prática descabida e
antibíblica. De acordo com a Palavra, nem todos são profetas; devem profetizar
dois ou três, enquanto os outros julgam (1 Co 12.29; 14.29).
Devido ao falacioso e também
pernicioso movimento da confissão positiva, muitos crentes acreditam que há
poder próprio em suas declarações de fé e acham que podem abrir e fechar portas
por meio de palavras de ordem; e pensam que têm o poder de determinar,
decretar, etc. Isso contraria a Palavra de Deus (Hb 4.12; Jo 14.13; Jr 33.3; Tg
5.17).
O crente deve pedir, suplicar
e rogar (Mt 7.7,8; Jr 23.19), e não determinar, decretar e profetizar quando
bem entende.
Ezequiel profetizou,
pronunciando a Palavra de Deus, conforme se lhe deu ordem, e não porque se
considerava "a boca de Deus na Terra" (Ez 37.1-10).
"Bendito serei no campo;
bendito serei; por onde eu passar; onde eu tocar abençoado será, quando eu
obedecer a sua voz". Boa conclusão! A obediência é de novo enfatizada,
como no começo. Além disso, assevera-se que o crente não deve ser apenas
abençoado, e sim uma bênção, um canal de bênçãos para os que estão à sua volta
(Gn 12.1-3). De fato, o crente fiel — que atentamente ouve o Espírito Santo —,
por onde quer que passe, influencia pessoas; negócios prosperam, igrejas são
abençoadas, etc.
PARA QUEM DEVEMOS CANTAR?
No livro de Salmos, principal
referencial das Escrituras sobre música e louvor, os salmistas, em suas
composições, seguem, grosso modo, a uma das premissas abaixo:
1) Dirigem palavras de louvor
ou oração diretamente a Deus (3.7; 6.1; 7.1; 9.1; 30.1, etc).
2) Falam de si mesmos, mas em
relação à grandeza do Senhor (18.2; 23.1; 42.1; 73.2,23; 103.1; 104.1, etc).
3) Mencionam a magnificência
do Criador (19.1; 24.1, etc).
4) Estimulam todos a louvarem
ao Senhor (95.1; 107.1; 112.1; 113.1, etc).
5) Mencionam as
bem-aventuranças que existem para o justo, em contraste com o ímpio (1.1,2;
36.1, etc).
As canções tidas como hinos
não cumprem nenhuma das proposições acima. Não exaltam a Deus de forma alguma.
São voltadas para o ser humano, com elogios e mensagens triunfalistas, do tipo
auto-ajuda barata. Outro problema é que algumas letras desses "hinos"
até mencionam o Senhor, porém o apresentam como um ser mitológico ou um
super-herói. Prova disso é uma canção muito entoada pelos jovens cuja letra nos
leva a pensar no Robocop: "Braço de ferro, punho de aço..."
São insuportáveis as canções
com mensagens mais ou menos assim: "Você é ungido, escolhido, ...ido,
...ido e ...ido".
Observe que é o ser humano
quem recebe todos os elogios e palavras de ânimo. Podemos chamar isso de louvor
a Deus? É claro que não. Mas, sabe o que está em voga no momento?
Compor para o Diabo...
NOVA MODA: COMPOR PARA SATANÁS
Lembro-me de que a minha
irmã, quando eu era menino, cantava um corinho que mudava de assunto
bruscamente, cujo refrão mencionava o Tentador: "Jerusalém, que bonita é;
ruas de ouro, mar de cristal... Vamos pisar, meus irmãos, vamos pisar na cabeça
do Diabo se Jesus nos conceder". Noutra parte, a cômica letra dizia:
"Jesus aumenta um pouquinho a minha fé e também me dá poder pra pisar em
Lúcifer".
Não é de hoje que o ingênuo
povo de Deus — não na sua totalidade, é claro — vibra com letras ofensivas ao
Inimigo e outras efemeridades, em vez de palavras de louvor ao Senhor.
Mas os compositores da
atualidade estão inovando. Agora, eles verberam diretamente contra o Diabo!
Certa vocalista e líder de um
grupo idolatrado por boa parte da juventude evangélica, ao falar sobre um
megashow que se realizaria na Praça da Apoteose (Rio de Janeiro), em julho de
2007, demonstrou o quanto está enganada sobre algumas de suas motivações para
compor os seus "hinos":
... em uma madrugada em que eu
estava irritada com tantas afrontas de satanás... Eu compuz (sic), pela primeira
vez, uma música para ele. Eu fiz questão de falar, zombar e declarar que se ele
pensa que eu vou parar, é melhor ele desistir. Maior é o que está em mim.
Ela se referiu à canção
"Mais que Vencedor", por meio da qual dirige palavras e gestos
ofensivos diretamente ao Diabo.
Para ser honesto, a letra em
si não chega a ser tão ofensiva. Em compensação, a parte gestual, bem como as
danças e coreografias "proféticas" fazem-nos ter a impressão de que,
durante a apresentação do "louvor", está-se "malhando um Judas".
É correto estimular o povo de
Deus a verberar contra o Diabo? Que edificação uma letra com ofensas ou
desafios (ainda que indiretos) ao príncipe das trevas pode trazer ao povo de
Deus? É correto compor e cantar "hinos" para zombar dele?
Não devemos apenas exaltar o
nome do Senhor, além de cantar as suas misericórdias e os seus juízos?
MAIS QUE VENCEDOR? TENHO DÚVIDAS...
Sabemos que o Diabo já está
julgado (Jo 16.11). Mas ele só será esmagado debaixo de nossos pés no futuro
(Rm 16.20; Ap 20.1-3,10). Por isso, a nossa postura deve ser de resistência,
com as armas que recebemos de Deus (2 Co 10.4,5; Ef 6.10-18), e não de ofensa
ao príncipe das trevas (1 Pe 5.8,9). E essa oposição deve ocorrer por meio de
sujeição a Deus (Tg 4.7), e não mediante xingamentos ao Adversário.
Cantores-ídolos e animadores
de auditório gostam de frases de efeito como: "O Diabo está debaixo dos
meus pés. Se quiserem vê-lo, olhem para a sola do meu sapato". Dizem que
amarram Satanás e o esmagam, e propagam a idéia de que devemos achincalhá-lo,
referindo-se a ele como um ser fraco, incapaz, que nada pode fazer contra os
servos de Deus.
Entretanto, precisamos ser
realistas e equilibrados. Não podemos ignorar que o Inimigo tem permissão para
investir contra a vida dos salvos: "Eis que o diabo lançará alguns de vós
na prisão, para que sejais tentados..." (Ap 2.10). Em 2 Coríntios 2.11,
está escrito:"... não ignoramos os seus ardis". Além disso, o
apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, asseverou: "Pelo que bem
quisemos, uma e outra vez, ir ter convosco, pelo menos eu, Paulo, mas Satanás
no-lo impediu" (1 Ts 2.18).
Devemos andar como Jesus
andou (1 Jo 2.6). E Ele, ao ser tentado pelo Inimigo, valeu-se apenas da
Palavra de Deus, sem ofendê-lo ou chamá-lo para a briga. Tão somente disse
"Está escrito" e citou a Palavra (Mt 4.1-11). Da mesma forma, o
arcanjo Miguel, que talvez seja mais poderoso do que o próprio Satanás, não
ousou pronunciar juízo de maldição contra ele (Jd v.9). Quem somos nós para
fazer isso?
O grande problema dessa ilusória
canção é que ela leva até crentes com a vida em pecado a se sentirem vitoriosos
sobre o Inimigo! Contudo, se não se arrependerem, passando a andar segundo a
vontade de Deus, estarão perdendo tempo!
Seus gritos não serão
melhores do que os de torcedores de futebol! E o Adversário continuará rindo
deles! Lembra-se de Sansão? Pensou que venceria os inimigos como dantes,
ignorando os seus pecados contra Deus... Que decepção!
O DIABO AGRADECE A PREFERÊNCIA!
Confesso que consigo ver
poucas diferenças entre um show dito evangélico e um espetáculo mundano. Tanto
num quanto noutro há palco, parafernália musical, platéia animada e
irreverente, luzes coloridas, danças, além de vocalista e músicos se
comportando como astros. Onde estão as diferenças?
Hoje, é praticamente
impossível distinguir um culto (culto?) evangélico (evangélico?) de um show
(show?) mundano (mundano?). Quem estaria imitando quem?
Um dia desses, certo repórter
da televisão referiu-se a um "culto evangélico" da seguinte forma,
enquanto o cinegrafista mostrava jovens vestidos com roupas pretas, calçando
coturnos, bem como exibindo tatuagens e piercings: "Você pensa que essa
multidão veio assistir a um show dos Guns'n'Roses? Não, eles vão participar de
um culto evangélico!"
Deus rejeita esses shows
pretensamente evangélicos, ainda que sejam realizados por pessoas aparentemente
bem-intencionadas (Am 5.23; Jo 4.23,24; Is 29.13; 1 Jo 2.15-17; Rm 12.1,2).
Muitos pensam que Ele os aprova em razão da grande quantidade de pessoas que
deles participam. Que engano! A Palavra de Deus nos alerta quanto ao fato de
serem poucos os fiéis (Sl 12.1; 101.6; Mt 25.1-13) e menciona maiorias
perigosas (Mt 7.21-23; 24.12; Jo 6.60-69; 2 Co 2.17). Não nos esqueçamos de que
a porta para a vida é estreita, e o caminho também (Mt 7.13,14).
Não bastasse toda a
parafernália mencionada, no megashow realizado na Apoteose houve uma encenação
em que um rapaz se passou pelo Inimigo, enquanto a vocalista do grupo simulou
pisá-lo. Além disso, danças e coreografias também muito parecidas com as de
espetáculos mundanos animaram a grande festa evangélica. Evangélica? Tenho
dúvidas...
Milhares de pessoas vibraram
e dançaram ao som de ritmos eletrizantes, entoando a canção "Mais que
Vencedor" e outras. Mas, com toda a sinceridade, a despeito de a cantora e
seu grupo terem demonstrado que envergonharam as hostes das trevas em praça
pública, tenho certeza de que o Diabo gostou de muita coisa do que ali
aconteceu, haja vista ter sido ele o protagonista da festa!
Satanás ri dessas canções que
o tornam ainda mais popular no mundo do qual é príncipe (1 Jo 5.19; 2 Co 4.4).
Desprovidas de fundamento bíblico, só servem para confundir as pessoas.
São "hinos" que não
promovem o evangelho cristocêntrico, haja vista não darem a ele a merecida
ênfase. Ao priorizarem a ofensa ao Inimigo, levam o crente a pensar que
achincalhá-lo é melhor do que pronunciar palavras de louvor ao Senhor Jesus.
DESCOBRIRAM A AMÉRICA!
Não escrevi este livro — nem
os anteriores — para agradar ou atacar pessoas, e sim para expor a verdade à
luz da Bíblia. Quero falar agora sobre a dança. E o meu posicionamento acerca
disso já é conhecido, pois já o expus em minhas obras Evangelhos que Paulo
Jamais Pregaria e Perguntas Intrigantes que os Jovens Costumam Fazer, ambas
editadas pela CPAD, em artigos para periódicos desta editora e também em meu
weblog (cirozibordi.blogspot.com). Mas quero pontificar alguns argumentos,
acrescentando outros pormenores.
Ao longo da História, a dança
nunca esteve presente na liturgia das igrejas cristãs. No Brasil, também não
víamos isso há alguns anos. Uma ou outra pessoa falava em "dança no
Espírito", e outras cantavam, sem dançar, o famoso corinho "Se o
Espírito de Deus se move em mim, eu danço como Davi".
Todavia, esse assunto sempre
foi controvertido, e a liderança, de maneira geral, não aceitava a dança como
parte integrante do culto a Deus.
De uns tempos para cá, alguém
descobriu a América! Muita gente pensa ter encontrado uma "verdade
cristalina" na Bíblia: a dança faz parte do culto coletivo ao Senhor.
"Deus nos libertou da escravidão, e temos de adorá-lo também com a nossa
arte", dizem alguns defensores desse modismo. E por aí vai. Não há mais
limites! Onde vamos parar? Nos Estados Unidos, já ocorre até luta livre em
alguns "cultos". E o Brasil não está longe disso.
Algumas igrejas são mais
moderadas e têm apenas uma coreografia simples. Outras... meu Deus! A cada dia,
perde-se o temor. Ainda não vi, para ser sincero, porém não duvido de que já
haja "cultos" em que jovens dancem rebolando até ao chão, como
ocorrem em bailes funk. A bem da verdade, nas chamadas "baladas"
gospel isso já acontece...
Há poucos anos, os jovens
passavam a noite em vigília, orando, estudando a Palavra. Assim era no meu
tempo, e eu não sou velho (tenho apenas 37 anos). Hoje, a juventude vai para a
"balada". Tudo isso graças ao incentivo de líderes inescrupulosos,
sem compromisso com a Palavra de Deus, movidos por outros interesses, como
dinheiro e fama. É como se dissessem: "É melhor o jovem pecar aqui do que no
mundo". Ignoram que, para seguir a Cristo, é preciso negar-se a si mesmo
(Lc 9.23) e não se conformar com este mundo (Rm 12.1,2).
HAJA MINISTÉRIO!
Além das muitas unções, para
todos os gostos, há também diversos ministérios... De fato, a Palavra de Deus
diz que há diversidade de ministérios (1 Co 12.5), mas não nos esqueçamos de
que isso alude à maneira multiforme de o Espírito Santo atuar. Essa menção de
modo algum apóia todo e qualquer ministério inventado por pessoas que querem
fazer prevalecer as suas preferências pessoais.
Pessoas se entristecem e
outras se indignam contra mim pelo fato de eu me posicionar contra a dança.
Contudo, eu nada tenho contra pessoas e instituições, bem como respeito cada
sistema de culto. Por graça de Deus, tenho ministrado a Palavra de Deus em
algumas igrejas que me convidam. Por que eu seria indelicado a ponto de ir a
tais igrejas para criticá-las quanto a isso e àquilo? Eu só faço isso quando
recebo uma orientação do Espírito. Nesses casos, eu falo mesmo, pois, que
pregador ou profeta seria eu se só falasse o que o povo gosta de ouvir?!
Os defensores da dança citam
Miriã e Davi, mas as atitudes e ações destes, conquanto não tenham sido
reprovadas por Deus, deram-se fora do culto coletivo a Deus. Foram atos
patrióticos, isolados, pelos quais extravasaram a sua alegria. Daí o próprio
Davi, ao organizar o culto, juntamente com Asafe, não ter feito nenhuma menção
à dança, estabelecendo apenas cantores e músicos (1 Cr 25.1).
Reafirmo, pois, que não há
base bíblica para se introduzir danças e coreografias no culto, tampouco
chamá-las de ministério, como muitas igrejas estão fazendo. Reconheço que
existem exceções, como as coreografias infantis, feitas de maneira esporádica
ou em ocasiões especiais. Mas o problema é que, em muitos casos, as exceções
têm se transformado em regra, gerando modismos injustificáveis.
A DANÇA TEM APOIO BÍBLICO?
Do jeito que a dança é
propagada e defendida hoje, fica a impressão de que há várias passagens
bíblicas que a apoiam.
Porém, não existe sequer um
versículo nos mandando ou nos autorizando a dançar na casa de Deus! No Novo
Testamento não há nenhum incentivo à sua introdução no culto. Os dois únicos
textos que poderiam ser usados como incentivo à dança estão nos Salmos 149 e
150, no Antigo Testamento. Mas não são passagens que falam propriamente da
dança no culto da igreja do Senhor.
Alguns exagetas discutem se o
termo original traduzido em algumas versões em português para
"dança", nos textos acima, significa flauta ou harpa. Entretanto,
mesmo aceitando se que os Salmos 149 e 150 aludem à dança entre os hebreus — o
que não seria nenhuma novidade (Jz 11.34; Ec 3.4; Lm 5.15) —, eles nada têm que
ver, diretamente, com o culto do Novo Testamento. Lembre-se de que a mensagem
da Bíblia se dirige a três povos: judeus, gentios e igreja (1 Co 10.32). E nem
sempre um mandamento pode ser considerado "universal", isto é, para
todos.
Se aplicarmos a nós o que
dizem os tais Salmos, na íntegra, teremos de louvar a Deus com uma espada na
mão e tomar vingança das nações, literalmente! "Estejam na sua garganta os
altos louvores de Deus e espada de dois fios, nas suas mãos, para tomarem
vingança das nações e darem repreensões aos povos, para prenderem os seus reis
com cadeias e os seus nobres, com grilhões de ferro" (Sl 149.6-8).
Alguém dirá: "Ora, irmão
Ciro, não exagere. Tudo isso pode ser aplicado de maneira figurada". É
mesmo? Então por que a dança deve ser aplicada de modo literal? Por que
empunhar uma espada e tomar vingança das nações é figurado, e dançar não?! Por
que não consideramos, então, que devemos dançar espiritualmente, e não com o
corpo? Interessante como é fácil priorizar preferências pessoais, para depois
encontrar na Bíblia versículos isolados em apoio a invencionices!
MIRIÃ OU SALOMÉ?
Um dia desses, ouvi de uma
irmã algo que me fez refletir. Ao demonstrar preocupação quanto ao que vem
acontecendo em nossos cultos, ela verberou: "Irmão Ciro, o pessoal
justifica-se quanto a danças e coreografias citando a dança de Miriã. Mas o que
vemos nas igrejas hoje está muito mais para Salomé do que para Miriã" —
concluiu, referindo-se à sensual dança da filha de Herodias, que teve como
prêmio a cabeça de João Batista (Mt 14.6-10).
Muitos têm citado 1 Coríntios
6.20 como apoio à dança no culto. Dizem que devemos glorificar a Deus com o
corpo. Sabe 0 que é isso, em Hermenêutica?
Torcer a Palavra de Deus, fazendo-a dizer o que não diz. A simples leitura do
contexto da passagem é suficiente para demonstrar que ela nada fala acerca da
dança. Leiamos os versículos 18 a 20:
Fugi da prostituição. Todo o
pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o
seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito
Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?
Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo
e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.
O que é glorificar a Deus com
o corpo? Significa não pecar contra o Senhor por meio do corpo! Somos o templo
do Espírito, pertencemos a Ele, e nosso corpo nunca deve ser profanado por
qualquer impureza ou mal, proveniente da imoralidade, nos pensamentos, desejos,
atos, imagens, literaturas (2 Tm 2.22; 1 Jo 2.14-17; Sl 101.3). O texto em
apreço, pois, não é uma "carta branca" para "louvar" com a
dança e outras expressões corporais.
POR QUE DIZER "NÃO" À DANÇA?
Não há base bíblica para o
que chamam hoje de "adoração através da dança" ou "adoração
extravagante", etc. Sei que há igrejas mais moderadas e reverentes. Mas
tenho de ser franco: qualquer tipo de dança é prejudicial ao culto. Por quê?
Primeiro porque não tem apoio da Palavra de Deus. Segundo, porque ela sempre
foi uma manifestação para agradar uma platéia, e não a Deus. Lembra-se da filha
de Herodias? Ela dançou para o público e agradou Herodes. Deus é exaltado por
meio de cânticos, e não de danças (Sl 57.7).
Sei que me acusarão de
"quadrado"... Dirão que eu não conheço outras culturas, que nunca saí
do Brasil. Bem, Deus já me permitiu fazer algumas viagens, e eu também gosto de
estudar costumes e cultura dos povos. Gosto muito de missiologia e tenho plena
convicção de que é impossível fazer missões sem uma transculturação. No
entanto, até que ponto um servo de Deus deve submeter-se à cultura de um povo?
Ora, a Palavra de Deus deve
nos guiar (Sl 119.105), e é preciso renúncia para seguir ao Senhor Jesus (Lc
9.23). Nesse caso, o fato de a dança ao som dos tambores fazer parte da cultura
africana não obriga os crentes africanos a adotarem a dança em seu culto ao
Senhor. Da mesma maneira, não é por que o brasileiro gosta de samba, que os
nossos cultos necessitam desse elemento.
A dança no culto não é uma
questão cultural. Nas Escrituras não há — repito — nenhuma passagem que apóie a
dança no culto neotestamentário. "Ah, mas eu quero dançar, gosto de fazer
isso e tenho certeza de que Deus a receberá", alguém poderá argumentar.
Tudo bem. Dance! Assuma a responsabilidade diante de Deus. Mas não venha dizer
que o culto precisa de danças e coreografias para agradar ao Senhor. As nossas
reuniões sobreviveram sem esses elementos durante muito tempo.
Em várias igrejas, as danças
e coreografias só vêm sendo incorporadas ao culto porque lhes falta o
principal: salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação (1 Co 14.26). Um
culto não pode sobreviver sem a genuína manifestação do Espírito, a Palavra de
Deus e os verdadeiros louvores. Sem dança e coreografia, ele subsiste — sempre
subsistiu, ao longo da História — e fica até melhor, reverente, com mais tempo
para a exposição bíblica. O problema é que hoje os cultos são feitos para
agradar pessoas, e não a Deus. Os gostos pessoais prevalecem, infelizmente.
Se nos conscientizarmos de
que o culto é para Deus, e não para pessoas; e se nos convencermos de que a
maneira de Deus falar, no culto, não é pelas danças e coreografias, e sim pela
Palavra, tudo ficará mais fácil. Leia Apocalipse 19.1-7. Nesta passagem temos
um exemplo de como deve ser o culto a Deus, na presença dEle. Não há nenhuma
menção à dança. O culto deve ser reverente e com palavras de louvor.
Como seria bom se
compositores, cantores e pregadores entendessem que não devemos ir além do que
está escrito na Palavra de Deus (1 Co 4.6)! Mas você, caro leitor, pode ajudar
alguém a compreender isso, que, aliás, é o assunto do próximo capítulo. Afinal,
como aqueles que estão enganados poderão entender as Escrituras, se alguém lhas
não ensinar?
Capítulo 4
NÃO ULTRAPASSEIS O
QUE ESTÁ ESCRITO
Jesus, porém, respondendo,
disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Mateus
22.29
Neste capítulo, quero
denunciar uma postura que muitos crentes estão assumindo nos últimos dias, a de
se apegar cegamente a líderes, pregadores, escritores, grupos, denominações,
etc, esquecendo-se de que a nossa fonte de autoridade é a Palavra de Deus (Sl
119.105). Seguem ao que seus gurus dizem, mesmo que sejam heresias. E ainda
ficam irritados quando alguém combate a tais falácias.
É inadmissível ver pessoas
que se dizem cristãs desprezarem o que está escrito na Bíblia. Por isso, o
apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, afirmou: "... não
ultrapasseis o que está escrito (1 Co 4.6, ARA). Esta ênfase das Escrituras é
uma evidência de que não temos permissão para seguir a doutrinas ou movimentos
que não tenham o apoio da Palavra de Deus, que é — e sempre será — a nossa
regra de fé, de prática e de viver.
ESTÁ OU NÃO ESTÁ ESCRITO?
Muitos crentes que não têm
mais a Bíblia como a sua primacial fonte de autoridade, preferindo priorizar a
sua lógica e as suas argumentações filosóficas, podem estar pensando, precipitadamente:
"Se não devemos ultrapassar o que está escrito, podemos praticar
livremente o que não está registrado nas Escrituras".
Há "mestres" da
atualidade afirmando que, se a Bíblia não diz "não" explicitamente a
certas doutrinas, práticas e modismos duvidosos, então temos liberdade para
adotá-los sem nenhum peso na consciência, haja vista sermos livres. Segundo
eles, a Bíblia não diz "não" para dança, bailes, heavy metal, funk...
Por que não dançar? Por que
permitir — dizem — que o "espírito de religiosidade" tome conta de
nosso pensamento?
Bem, de acordo com essa
argumentação meramente filosófica, seguir ao cristianismo resume-se em abraçar
o relativismo ou o liberalismo. Afinal, quem quiser poderá usar drogas ou fumar
um cigarrinho à vontade, uma vez que a Palavra de Deus supostamente não condena
de modo explícito tais coisas. E mais: quem desejar, poderá dirigir a mais de
150 km/h numa auto-estrada sem nenhuma preocupação (a despeito das leis de
trânsito), posto que as Escrituras "não condenam" o excesso de
velocidade...
A BÍBLIA É UM LIVRO DE PRINCÍPIOS
Não há nas Escrituras
determinadas especificidades devido ao fato de os seus 66 livros terem sido
escritos primeiramente ao povo dos tempos vetero e neotestamentários. Se
fizermos uma análise histórico-cultural, entenderemos que naquela época ainda
não haviam sido descobertos o cigarro, a maconha, os times de futebol, os
bailes funk, etc. Mas há um outro aspecto, ainda mais importante, relacionado
com essa questão.
A maioria dos crentes hoje só
pensa em promessas. Isso se dá, em grande parte, devido à superficialidade das
pregações e sua ênfase humanista, que leva o povo de Deus a só pensar em
receber, receber e receber. A Bíblia não é apenas um Livro de promessas. Ela
também contém mandamentos e princípios (Lc 1.5,6; Gn 26.4).
Se atentarmos não só para os
mandamentos, mas para os princípios gerais da Palavra de Deus, assimilaremos
naturalmente o que agrada ou não ao Senhor, mesmo que não haja uma menção
expressa a isso ou àquilo. Quais são esses princípios? São muitos. E precisamos
nos debruçar sobre a Palavra, a fim de, a cada dia, sabermos como nos conduzir
diante de Deus e dos homens. Citarei apenas alguns.
Princípio da renúncia. O que
Jesus disse em Lucas 9.23? "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si
mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me". Negar-se a si mesmo é abrir
mão de, ou pôr em segundo plano (conforme o caso), tudo aquilo que pode depor
contra a nossa comunhão com Jesus (Mt 10.37-39).
E aqui, com certeza, estão
hábitos, vícios, costumes, amizades, etc, ainda que não condenados
explicitamente pela Bíblia.
Para seguir ao Senhor, não
temos que dar vazão às nossas vontades pecaminosas, e sim renunciá-las (Hb
12.4). Jesus não obriga ninguém a segui-lo, mas quem deseja fazer isso deve
estar pronto para renunciar a muitos prazeres da vida (2 Tm 2.22).
Princípio da santificação. A
Palavra de Deus diz que devemos seguir a paz com todos e a santificação, se
quisermos ver o Senhor (Hb 12.14). E santificar-se implica se separar de várias
coisas mundanas, inclusive as não mencionadas claramente no texto sagrado (2 Tm
2.20,21).
Princípio do inconformismo. O
crente que se preza segue ao princípio contido em Romanos 12.1,2. Em que
consiste esse preceito? Em não nos conformarmos com o mundo. Este — que não é o
planeta Terra nem seus habitantes, e sim uma influência, um sistema filosófico
comandado por Satanás (2 Co 4.4; 1 Jo 5.19) — é inimigo de Deus e de seu povo
(Tg 4.4).
Amar as coisas do mundo,
mesmo aquelas não mencionadas no Livro Santo, é pecado (1 Jo 2.15-17).
REGRA DE FÉ, DE PRÁTICA E DE VIVER
A Bíblia é um Livro muito
mais importante do que se imagina. Ela nos orienta quanto a tudo, pois é a
Palavra de Deus (Sl 119.105; 2 Tm 3.16,17). Muitos a têm apenas como regra de
fé, mas ela também deve regular as nossas práticas e controlar toda a nossa
vida. Se nos orientarmos por suas promessas, mandamentos e princípios, seremos
vitoriosos em todas as áreas da vida.
Mas há crentes que não querem
respeitar os mandamentos e preceitos das Escrituras. Preferem andar como bem
entendem. E estão enganados quanto às inovações que têm adotado. Pensam que
podem desfrutar de tudo o que há no mundo sem nenhum problema; alguns até usam
como álibi a palavrinha mágica "gospel".
Se tudo o que a Bíblia
aparentemente não condenasse de modo explícito ou textualmente fosse permitido,
não haveria limites para pecar! E teriam sentido as falaciosas pregações da
atualidade, como esta: "Quer dançar um funk? Dance! Desde que seja em um
baile freqüentado só por cristãos, não há problema! Aproveite! Divirta-se pra
valer na balada gospel. Rompa com toda religiosidade".
Mas...
QUEM DISSE QUE NÃO ESTÁ ESCRITO?
Considerando os princípios
acima, chegamos à conclusão de que aquilo que parece não estar na Bíblia, na
verdade pode estar, mas de outra maneira, indiretamente. Nas páginas sagradas
há grupos de coisas que, mesmo não sendo chamadas de pecado, de modo explícito,
levam o crente a errar o alvo.
São coisas inconvenientes,
dominadoras, embaraçosas, parecidas com pecados, não edificantes, semelhantes a
obras da carne mencionadas claramente, que não glorificam ao Senhor.
Coisas inconvenientes. A
Palavra de Deus diz que todas as coisas são lícitas, mas nem todas convém (1 Co
6.12a). Temos livre-arbítrio e, se quisermos, podemos pecar à vontade. Por que
não fazemos isso? Porque conhecemos os princípios que regem a vida cristã e
rejeitamos as coisas inconvenientes.
Coisas que dominam (1 Co
6.12b). Há muitas coisas que não estão registradas na Bíblia, mas que podem nos
dominar, levando-nos ao erro. Quer exemplos? Primeiro: futebol (já fui um
torcedor fanático em minha adolescência e sei que se trata de algo que domina).
Segundo: novelas e filmes. Terceiro: Internet e seu pacote (MSN, Orkut, blog,
YouTube, etc). Todas essas coisas, conquanto lícitas, podem se tornar
inconvenientes e dominadoras.
Coisas que embaraçam. Em
Hebreus 12.1 vemos que devemos deixar o pecado e os embaraços. Há inúmeras
coisas embaraçosas que não estão registradas claramente na Bíblia. Por isso,
Paulo disse a Timóteo: "Ninguém que milita se embaraça com o negócio desta
vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra" (2 Tm 2.4).
Coisas parecidas com pecados.
A Palavra afirma que devemos nos abster de toda aparência do mal (1 Ts 5.22).
Isso é subjetivo, porém fazer algo que deponha contra esse princípio denota ir
além do que está escrito. Quem freqüenta lugares destinados à prática de atos
pecaminosos, só pelo fato de estar lá, ainda que não esteja propriamente na
roda dos escarnecedores, aparenta estar. Lembre-se de que Isaías confessou
tanto o pecado de pronunciar palavras impuras como o de ouvi-las, passivamente
(Is 6.5).
Coisas que não edificam (1 Co
10.23). São geralmente as coisas feitas no tempo certo e de modo errado, ou de
maneira correta, mas fora de tempo (Ec 8.6). Se praticarmos essas coisas não
edificantes, também ultrapassaremos o que está escrito.
Coisas pecaminosas
semelhantes às registradas na Bíblia. Quando mencionou as obras da carne, Paulo
finalizou dizendo "... e coisas semelhantes a estas" (Gl 5.21). Há
pecados não mencionados na Palavra de Deus textualmente, mas condenados por
ela! Basta perguntarmos o que é semelhante a prostituição, impureza, lascívia,
etc.
Coisas que não glorificam a
Deus (1 Co 10.31). Há coisas que não glorificam a Deus, a despeito de não
estarem mencionadas de maneira direta na Bíblia. Um texto que nos ajuda a
compreender esse princípio é Filipenses 4.8. Leia este versículo e aplique-o à
sua vida antes de pensar em fazer uma tatuagem, ouvir rock e outros estilos
musicais, dançar, seguir a mensagens de auto-ajuda e a modismos, ao invés do
evangelho de Cristo...
ENSINAMENTOS QUE ULTRAPASSAM O QUE ESTÁ
ESCRITO
Há muitos ensinamentos que
ultrapassam o que está escrito, gerando excessos e exageros. Por exemplo, o
jejum é bíblico (Mt 17.21; At 14.23), mas tem sido mal compreendido, em nossos
dias. Já ouvi falar de pastores que estimulam os crentes a fazerem jejum de
certo refrigerante, chocolate, etc, com o objetivo de receberem bênçãos. Tomam
como base o exemplo de Daniel (10.3), não observando que o profeta teve uma
atitude de renúncia à contaminação idolátrica da Babilônia (Dn 1.8).
Outros dizem que a
participação da Ceia do Senhor não quebra um jejum, chamando o pão e o vinho de
alimentação espiritual. Isso é um exagero, uma espiritualização que não leva a
nada. No momento em que ingerimos o pedaço de pão — que, embora símbolo do
corpo de Jesus, é alimento —, quebramos sim o jejum. O que podemos manter,
nesse caso, é a consagração a Deus.
Falando de consagração e
jejum, há um livro em que certo autor relata os seus quarenta dias de jejum!
Ele apresenta fotos de cada dia, para provar o quanto sofreu — quase morreu! —
para realizar tal proeza. Mas, qual é o propósito disso? Jesus jejuou quarenta
dias e não disse nada a ninguém. Por quê? Porque a nossa consagração pessoal a
Deus deve ser realizada em segredo, e não para receber glória dos homens (Mt
6.16-18; Lc 18.12).
Os jejuns de Moisés e Elias
não devem servir de exemplo quanto à forma correta de jejuar, pois eles foram
sustentados por Deus, de modo sobrenatural (Êx 34.28; 1 Rs 19.8).
Fisiologicamente, um jejum que ultrapassa três dias é prejudicial à saúde. Deus
não exige tal sacrifício, e sim uma atitude de obediência, acompanhada de obras
de justiça (Ec 5.1; Is 58.3-6). Realizar sacrifícios exagerados também é
ultrapassar o que está escrito.
EXPERIÊNCIAS QUE ULTRAPASSAM O QUE ESTÁ
ESCRITO
Além de ensinamentos, há
experiências que ultrapassam o que está escrito na Palavra de Deus, depondo
contra ela. Tenho ouvido histórias impressionantes e analiso todas elas segundo
a Bíblia. Ouço irmãos dizendo que "receberam" mensagens proféticas de
aves ou de animais; que foram arrebatados ao Céu e ao Inferno e viram caixinhas
com as pontas dos cabelos das irmãs; que conversaram com Paulo, Maria e outros
heróis da fé...
No livro Evangelhos que Paulo
Jamais Pregaria trato dessa questão de maneira pormenorizada, salientando que
toda e qualquer experiência deve ser submetida à Palavra de Deus.
Não devemos ir além do que
está escrito. Embora a Bíblia mencione arrebatamentos em espírito (2 Co 12.1-4;
Ap 1), tudo o que ocorre hoje deve ser provado (1 Jo 4.1; 1 Ts 5.21). Mesmo as
experiências que envolvam anjos devem ser testadas pela Palavra (Gl 1.8).
Há super-pregadores que se
valem de João 14.12 para justificar todas as suas experiências exóticas. Fazer
isso também é ultrapassar o que está escrito, posto que a citação isolada dessa
passagem é feita com a intenção de combater à tese baseada na analogia geral da
própria Bíblia de que ela é a nossa regra de fé, de prática e de viver.
O fato de Jesus ter dito que
faríamos obras maiores refere-se à quantidade de obras, e não à qualidade
delas. Não se trata de um aval para fenômenos como óleo na mão, dentes de ouro,
ouro nos dentes, emagrecimento e crescimento de cabelo. Veja a explicação sobre
a frase "... aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as
fará maiores do que estas..." (Jo 14.12) no capítulo 8 desta obra.
Aliás, falando nisso, volto a
me reportar à "bênção de Toronto" e ao pastor Paul Gowdy, que, depois
de abandonar a Igreja Aeroporto de Toronto, escreveu uma carta (mencionada no
capítulo 2 desta obra) denunciando ensinamentos e fenômenos antibíblicos.
Quanto aos dentes de ouro,
Gowdy declarou:
Pessoas de nossa congregação
abriam a boca umas para as outras procurando os dentes de ouro que Deus
colocara ali, para provar o quanto nos amava. Durante os anos que ali fiquei só
ouvi uma vez uma mensagem de arrependimento pregada por um conferencista de
Hong Kong, Jack Pullinger. A mensagem passou alto, bem acima de nossas cabeças,
como um balão de gás; não estávamos ali para nos arrepender, e sim para fazer
"festa ao Senhor"!
Isso é uma grande verdade. Os
super-pregadores que "distribuem" dentes de ouro para o povo nunca
pregam sobre o arrependimento; eles não priorizam o evangelho cristocêntrico.
Vivem dizendo: "Eu fui
chamado para pregar milagres". Isso é ultrapassar o que está escrito, pois
não fomos chamados para pregar milagres, que são, na verdade, o efeito da
pregação do evangelho de Cristo (Mc 16.15-18).
Tenho ouvido testemunhos de
irmãos que participam dessas "cruzadas de milagres". Um depoimento me
chamou atenção. O irmão disse que achou estranha a liturgia do culto, pois um
conhecido milagreiro pronunciou vários impropérios contra um pastor, presente
no local, o qual demonstrara não concordar com as estranhas manifestações. O
irmão, um novo convertido, também disse que passou mais tempo olhando para a
boca da sua esposa procurando dentes do que cultuando a Deus...
Bem, no capítulo 7 voltaremos
a esse assunto, pois quero, inclusive, analisar um certo "avivamento
extravagante"...
AOS FÃS DO PAPAI H., COM CARINHO
Sempre recebo e-mails e
mensagens anônimas dos amantes, fãs, fanáticos e ardorosos defensores de um
famoso escritor, cujas iniciais do nome são K.H. Alguns comentários são
desafiadores, e outros, um tanto ameaçadores. Os remetentes me acusam de falar
mal do papai H., que, aliás, já partiu para eternidade.
Em primeiro lugar, peço
perdão aos seguidores de K.H. por eu amar a Jesus Cristo e sua Palavra,
considerando-a a fonte máxima de autoridade. Sinceramente, lamento que esses
irmãos valorizem tanto o que um homem mortal falou, em detrimento do que dizem
as Escrituras. Não são estas a Palavra de Deus? Ou têm os escritos do papai H.
mais valor que a Bíblia Sagrada?
Os seguidores de K.H. não
suportam ouvir críticas contra os seus escritos. Mas a Bíblia, que está acima
de qualquer ser da Terra ou do mundo espiritual (Gl 1.6-12), diz que não
podemos ultrapassar o que está escrito (1 Co 4.6, ARA). Nesse caso, proponho
aos que seguem aos ensinos de tal "mestre" que façam agora uma
comparação entre o que ele afirmou e o que as infalíveis Escrituras dizem.
Muitas razões me levam a não
concordar com as afirmações do senhor K.H. Porém, analisarei apenas nove
motivos pelos quais pontifico que a Palavra de Deus não apóia as idéias
triunfalistas do autor cujas iniciais do nome aqui são citadas.
Primeiro motivo. K.H.
afirmou: "Na realidade, eis o que é a vida eterna: Deus comunicando toda a
sua natureza, substância e ser aos nossos espíritos... Louvado seja Deus! Tenho
a vida e a natureza de Deus. Tenho dez vezes mais sabedoria e entendimento do
que o restante da classe" (Zoe: A Própria Vida de Deus, Graça Editorial,
pp. 10,29).
Jesus definiu assim a vida
eterna: "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus
verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3). Esse conhecimento
de Deus não implica receber toda a sua natureza. Caso contrário, seríamos
oniscientes, onipresentes, onipotentes e imutáveis! Segundo a Bíblia,
participamos, sim, da natureza divina quanto a seus atributos comunicáveis:
amor, bondade, fidelidade, etc. (2 Pe 1.4-9). Mas isso não eqüivale a ter
"toda a sua natureza".
Segundo motivo. O papai H.
também disse: "Deus nos fez tão semelhantes a si mesmo quanto lhe foi
possível. Fez-nos para pertencer à sua própria categoria... O Senhor fez o
homem como o seu substituto aqui na terra. Ele constituiu-o como rei para
governar tudo o que tinha vida. Vivia em termos de igualdade com o
Criador" (Zoe: A Própria Vida de Deus, Graça Editorial, pp.50,51).
Nunca vivemos em termos de
igualdade com o Criador!
Fomos feitos à imagem de
Deus, conforme a sua semelhança (Gn 1.26), porém isso não implica possuir os
atributos exclusivos da deidade. H., pois, corrobora a sua tese de que o crente
tem "toda a natureza divina", numa tentativa de convencer os seus
leitores a se comportarem como deuses na Terra. Pode, porventura, o vaso
assemelhar-se ao Oleiro? Haja presunção!
JESUS PROVOU A MORTE ESPIRITUAL?
Terceiro motivo. Eis outra
afirmação do senhor K.H.: "O Senhor é um Deus de fé. Tudo o que tinha a
fazer, fê-lo pela Sua Palavra" (Zoe: A Própria Vida de Deus, Graça
Editorial, p.51).
Que Deus comunica-nos a fé
não há dúvidas (Rm 10.17; At 16.14). Mas Ele não precisa de fé. Fé em quem? Fé
para quê, se é o Todo-Poderoso?
Deus criou todas as coisas
pelo poder da sua Palavra (Hb 11.3), mas o senhor H. tenta convencer os seus
leitores de que a Palavra do Senhor, na verdade, foi uma confissão positiva,
uma palavra rhema. Daí os seus seguidores costumarem citar, equivocadamente,
esse versículo de modo errado: "Pela fé, os mundos foram criados pela
palavra de Deus", ao invés de: "Pela fé, entendemos que os mundos,
pela palavra de Deus, foram criados". A fé, nesse caso, é nossa, para
entender, e não do Todo-Poderoso!
Quarto motivo. O papai H.
declarou: "Jesus se tornou como nós éramos: separado de Deus. Porque
provou a morte espiritual por todos os homens. Seu espírito, seu homem
interior, foi para o inferno em nosso lugar... A morte física não removeria os
nossos pecados. Provou a morte por todo homem — a morte espiritual" (O
Nome de Jesus, Graça Editorial, p.25).
De onde alguém pode ter
tirado tamanha inverdade! Teria Jesus se separado de Deus em razão de possuir
uma vida pecaminosa? Ora, morte espiritual implica afastar-se do Senhor em
decorrência do pecado (Is 59.2; Rm 3.23), e Jesus nunca pecou. Ele foi feito
pecado por nós (2 Co 5.21), e não pecador, e levou em seu corpo os nossos
pecados sobre o madeiro (1 Pe 2.24), recebendo em sua carne a punição que a nós
convinha (Is 53.4,5). Isso jamais pode ser equiparado à morte espiritual, haja
vista o Senhor nunca ter pecado (Hb 4.15).
Jesus não se tornou como nós
éramos, pois isso implicaria reconhecer que Ele se fez pecador, e não pecado.
Quando estudamos, sem preconceito, com calma e em oração, os textos de 2
Coríntios 5 e Filipenses 2.6-8, desaparecem as dúvidas quanto ao fato de o
Senhor ter-se feito pecado, levando sobre si todos os nossos pecados, e não
pecador, morrendo espiritualmente. Mas essa afirmação falaciosa de K.H. não foi
por acaso; ele tinha em mente outras heresias ainda maiores.
ONDE JESUS TRIUNFOU?
Quinto motivo. "Lá
embaixo na masmorra do sofrimento — lá nos fundos do próprio inferno — Jesus
satisfez as reivindicações da Justiça para todos nós, individualmente, porque
ele morreu como nosso substituto" (O Nome de Jesus, Graça Editorial, p.28)
— declarou o papai H. Infelizmente, há muitos super-pregadores e
cantores-ídolos, discípulos do papai H., afirmando que Jesus abriu as nossas
cadeias e nos resgatou no Inferno! Entretanto, como eu já disse em outros
livros — principalmente, Erros que os Pregadores Devem Evitar —, Jesus não foi
ao Inferno (nesse caso, o Hades) para sofrer em nosso lugar. Seu triunfo
ocorreu na cruz, no Gólgota, onde deu o brado da vitória (Jo 19.30). Ele foi ao
Hades como vencedor (1 Pe 3.19, gr.), e não para sofrer em nosso lugar e ser
torturado por demônios (Cl 2.14,15; Hb 2.14).
Sexto motivo. K.H. também
disse: "Nem o próprio Senhor Jesus tem uma posição melhor diante de Deus
do que você e eu temos. Talvez alguém suponha que eu esteja usurpando algo de
Cristo. Não! Ele continua a desfrutar da mesma glória junto ao Pai. Estou
apenas falando dos direitos que nós temos" (Zoe: A Própria Vida de Deus,
Graça Editorial, p.79).
Que direitos temos nós? Se
não fosse a graça de Deus, nada teríamos (Rm 6.23; Ef 2.8-10). E que negócio é
esse de que nem Jesus tem uma posição melhor do que a nossa?! Que Deus nos
guarde desse humanismo exacerbado; dessa ausência de humildade; e dessa falta
de reconhecimento de que o Senhor não dá a sua glória a outrem (Sl 138.6; Is
42.8). Humilhemo-nos debaixo da potente mão do Altíssimo (1 Pe 5.6; Tg 4.6).
QUE BLASFÊMIA!
Sétimo motivo. "O pecado
separa de Deus. A morte espiritual significa a separação de Deus. No momento em
que Adão pecou, ficou separado de Deus... A morte espiritual significa mais do
que a separação de Deus. A morte espiritual significa ter a natureza de
Satanás" — afirmou H, em sua famosa obra O Nome de Jesus (Graça Editorial,
p.26).
De fato, o pecado separa o
homem de Deus (Is 59.1,2), deixando-o à mercê do Inimigo (Hb 2.14). No entanto,
K.H., ao fazer a comparação acima, fê-la para, em seguida, afirmar, de modo
blasfemo, que o Senhor Jesus, ao morrer duas vezes — física e espiritualmente
—, assumiu na cruz a natureza de Satanás!
Oitavo motivo. K.H.
asseverou: "Jesus é a primeira pessoa que já nasceu de novo. Por que o seu
espírito precisava nascer de novo? Porque ficou alienado de Deus. Lembra-se
como ele exclamou na cruz: 'Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?'"
(O Nome de Jesus, Graça Editorial, p.25).
Como Jesus teria sido o
primeiro a nascer de novo, se Ele mesmo pregava o novo nascimento? Ele falou
dessa obra, operada pelo Espírito Santo (Tt 3.5), a Nicodemos: "O que é
nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te
maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo" (Jo 3.6,7).
Jesus é o próprio Salvador,
Justo e Santo, que morreu por injustos e pecadores. Mesmo antes de seu
sacrifício vicário, já oferecia a salvação, o novo nascimento, aos pecadores
(Jo 10.9; Mt 11.28-30). Ele podia perdoar pecados (Lc 5.23-26), bem como curar
enfermos e expulsar demônios, em cumprimento do que está escrito em Isaías 53
(Mt 8.14-17), promessa que só se cumpriu cabalmente na cruz (1 Pe 2.24; Cl
2.14).
Nono motivo. O papai H.
declarou: "Quando a pessoa nasce de novo, toma sobre si a natureza de Deus
— que é vida e paz. A natureza do diabo é ódio e mentiras... Jesus provou a
morte — a morte espiritual — por todos os homens... Jesus se fez pecado. Seu
espírito foi separado de Deus, e ele desceu para o inferno em nosso lugar"
(O Nome de Jesus, Graça Editorial, p.27).
Observem como H., de maneira
blasfema, afirma, com todas as letras, que Jesus, posto que teria morrido
espiritualmente, assumiu a natureza do Diabo. Somente por essa única declaração
todo crente que se preza deveria rejeitar qualquer escrito desse "mestre
da fé", fazendo-o constar de sua lista pessoal — eu tenho a minha! — de
falsos profetas e enganadores do povo de Deus. Afirmar que o Cordeiro imaculado
e incontaminado (1 Pe 1.18,19) assumiu a natureza do Maligno chega a ser
ultrajante.
Diante do exposto, como pode
haver pregadores em nosso tempo propagando as falácias do falecido Kenneth
Hagin? Ih, me desculpe! Não era para eu citar o nome do escritor...
AOS FÃS DE B.H., COM AMOR
Atualmente, não há no mundo
um evangelista (evangelista?) tão famoso quanto o palestino naturalizado
norte-americano cujas iniciais do nome são B.H. As suas "pregações",
no entanto, não costumam ter conteúdo evangelístico. Ele dificilmente menciona
o nome de Jesus, e o ponto alto de suas ministrações são algumas manifestações
estranhas, que ocorrem devido à "nova unção" que está sobre a sua
vida.
Ouço com freqüência irmãos
dizendo: "Eu já li os livros do pastor B.H. Mudaram a minha vida!" E
eu fico pensando: "Devem ter mudado a vida deles para pior". Por que
penso assim?
Porque conheço as heresias
que esse pregador-ídolo vem propagando em todo o mundo por meio de ministrações
ao vivo, DVDs e livros, todos eles best-sellers.
B.H., infelizmente, a
despeito de sua fama, tem virado as costas para a Bíblia. Sinceramente, não sei
se um dia ele amou esse Livro, pois ele até com mortos conversa. Haja vista
reconhecer que as falecidas Kathryn Kuhlman e Aimee Semple McPherson ainda
contribuem para o seu ministério, e que delas recebe unção! Muitos dos seus
desvios da Palavra de Deus estão documentados na primorosa obra Cristianismo em
Crise, de Hank Hanegraaff, editada pela CPAD.
Esse super-pregador diz que
anda "no mundo sobrenatural" e vê "coisas que nunca seremos
capazes de entender". Além disso, conversa normalmente com santos
falecidos. Ele admitiu, há alguns anos, em seu programa televisivo This is your
day, que Kuhlman apareceu a ele juntamente com o próprio Jesus e lhe revelou
acontecimentos futuros! Aliás, no Brasil também há "pastores"
embarcando nessa canoa furada...
B.H. chegou a admitir que,
num certo dia, um homem idoso de quase dois metros de altura apareceu diante
dele. Ao perguntar ao Senhor acerca desse misterioso homem, que tinha uma barba
brilhante, olhos azuis e roupa branca, ouviu supostamente dEle a surpreendente
resposta: "Este é o profeta Elias".
K.H. E B.H. ANDARAM DE MÃOS DADAS
Infelizmente, muitos crentes,
por não conhecerem toda a verdade acerca de B.H., consideram-no um verdadeiro
deus.
Por isso, menciono abaixo
nove motivos para convencer aqueles que cegamente têm seguido aos ensinamentos
desse superpregador a abandonarem os seus enganos.
Primeiro motivo. B.H.
declarou que Jesus "... assumiu a natureza de Satanás, para que todos
quantos tinham a natureza de Satanás pudessem participar da natureza de
Deus" — declaração citada no já mencionado excelente trabalho crítico de
Hank Hanegraaff (Cristianismo em Crise, CPAD, p.166). Como se vê, as suas
concepções sobre a obra de Cristo assemelham-se às do papai H.
Segundo motivo. Ele ensina
que o homem é um pequeno deus. E afirmou: "Eu sou 'um pequeno messias'
caminhando sobre a Terra" (idem, p.119). Mais uma vez fica evidente a
semelhança entre os discursos de B.H. e K.H. Seria coincidência?
Ou ambos beberam das mesmas
fontes escuras e turvas mencionadas em 1 Timóteo 4.1?
Terceiro motivo. B.H., em seu
livro Good Morning, Holy Spirit (p.56), afirma que, em uma de suas supostas
conversas com o Espírito Santo, o Consolador teria implorado para que ele
ficasse em sua presença: "... por favor, mais cinco minutos; apenas mais
cinco minutos". Davi, um homem segundo o coração de Deus, orou assim:
"Não me lances da tua presença e não retires de mim o teu Espírito
Santo" (Sl 51.11). Quem somos nós, para pensarmos que o Deus Espírito
implorará para ficarmos em sua presença?
Quarto motivo. Defendendo a
teologia da prosperidade, pela qual afirma que a pobreza é uma maldição, ele
disse que Jó era carnal e mau (Cristianismo em Crise, p.103), ignorando o
enfático testemunho de Deus acerca de seu servo: "Observaste tu a meu
servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero e reto,
temente a Deus, e desviando-se do mal" (Jó 1.8). Quem está com razão?
Quinto motivo. Propagador
também da falaciosa confissão positiva, B.H. declarou: "Nunca, jamais, em
tempo algum, vão ao Senhor e digam: 'Se for da tua vontade...' Não permitam que
essas palavras destruidoras da fé saiam da boca de vocês". (idem, p.295).
Ora, e o que Jesus ensinou em Mateus 6.9,10: "Portanto, vós orareis assim:
Pai nosso... Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu".
B.H. AMEAÇA OS INOCENTES
Sexto motivo. Ao ser
criticado, B.H. disse que gostaria de ter "uma arma do Espírito" para
explodir a cabeça de seus críticos.
Além disso, proferiu palavras
funestas contra aqueles que refutam as suas heresias. As ameaças abaixo,
extraídas do livro supracitado (p.376), foram dirigidas ao Instituto Cristão de
Pesquisas dos EUA:
Agora eu estou apontando meu
dedo para vocês com o tremendo poder de Deus sobre mim... Ouçam isto! Existem
homens e mulheres no sul da Califórnia me atacando. E sob a unção que lhes falo
agora.
Vocês colherão o que estão
semeando em suas próprias crianças se não pararem... E seus filhos e filhas
sofrerão (...)
Vocês estão me atacando no
rádio todas as noites — vocês pagarão e suas crianças também. Ouçam isto dos
lábios dum servo de Deus. Vocês estão em perigo. Arrependam-se! Ou o Deus
Altíssimo moverá a sua mão. Não toqueis nos meus ungidos...
AS TRIVIALIDADES DE B.H.
Sétimo motivo. O
super-pregador B.H. ensina que a Trindade é composta de nove pessoas, pois o
Pai, o Filho e o Espírito Santo possuem, cada um, espírito, alma e corpo
(citado em Cristianismo em Crise, p.375). Bem, os teólogos costumam divergir
quanto às teses do dicotomismo e do tricotomismo em relação ao ser humano, mas
B.H. foi muito além, criando o que podemos chamar de "triplotricotomismo
divino". Haja imaginação!
Oitavo motivo. Ele afirmou
que o Espírito Santo lhe revelou que as mulheres foram originalmente criadas
para dar à luz pelo lado. Todavia, por causa do pecado, passaram a dar à luz
pela parte mais baixa de seu corpo (idem, p.373). Sem comentários...
Nono motivo. B.H. também
asseverou que o homem, em princípio, voava da mesma forma que os pássaros.
Segundo ele, Adão podia voar até à lua pela sua própria vontade: "Adão era
um superser (...) costumava voar. Naturalmente, como poderia ter domínio sobre
as aves, sem ser capaz de fazer o que elas fazem?" (idem, p.128). Como se
vê, Benny Hinn é o rei das efemeridades! Ih, citei o nome do escritor de
novo...
QUAL É O SEGREDO DOS TRIUNFALISTAS?
Assisti, há algum tempo, ao
vídeo de auto-ajuda que deu origem ao livro O Segredo, de Ronda Byrne e sua
equipe de colaboradores. Também fiz uma análise do mencionado best-seller, pelo
qual Byrne afirma que os seres humanos estão evoluindo para se tornarem
pequenos deuses andando na terra. Além disso, enfatiza a cobiça material e a
responsabilidade das pessoas por todos os sucessos e tragédias da vida.
Qual é O Segredo? Para Byrne
e sua equipe, cada um de nós exerce um poder de atração sobre tudo o que
acontece em nossas vidas. Nada acontece por acaso, mas como produto de causa e
efeito. Isso significa que podemos ser responsabilizados pela felicidade em
nossas vidas. É interessante como a linguagem e os passos para se obter bens e
curas, apresentados em O Segredo assemelham-se às pregações de B.H., K.H. e
seus discípulos triunfalistas brasileiros: "Pense. Acredite. Receba".
Você já observou como os
telebispos e telepastores proponentes das falaciosas confissão positiva e
teologia da prosperidade dizem que todo mundo pode ser, fazer ou ter tudo o que
quiser? Afirmam eles: "Você pode ter saúde, dinheiro e felicidade...
Quanto você quer ganhar por mês? Você atrai para si todas as coisas. Em que
casa você quer morar? Com que tipo de pessoa quer casar? Sonhe. Acredite nos
seus sonhos. E receba a sua bênção. Tudo depende de você".
MAIOR EVANGELISTA DO SÉCULO?
"Pense, acredite e
receba" — diz O Segredo. Não são praticamente esses os passos ensinados
por um famoso telemissionário que lidera uma igreja que tem "graça"
no nome, mas despreza a graça de Deus ao pregar a fé na fé, triunfalista, e não
o evangelho de Cristo? Também não é isso que prega o super-bispo da igreja que,
conquanto tenha "Reino de Deus" na denominação, não busca o Reino de
Deus e sua justiça, construindo, antes, um império na Terra com o dinheiro dos
ingênuos fiéis?
O rico e o milionário, quer
dizer, o bispo e o missionário, que começaram juntos, se separaram e comandam
os seus próprios impérios. E agora — ainda que não admitam — disputam para
saber quem é o maior evangelista do século! Um já começou a assumir isso
publicamente. O outro é mais modesto ou menos imodesto. Mas eu tenho para mim
que nenhum dos dois deveria requerer tal título...
Primeiro, porque um homem de
Deus de verdade não busca títulos. Ele sabe que não é o título que faz a
pessoa; é esta, com as suas obras, que faz aquele. E, como dizem as Escrituras,
"Louve-te o estranho, e não a tua boca, o estrangeiro, e não os teus
lábios" (Pv 27.2).
Mas, quer saber qual é a
principal razão por que nenhum dos dois pode se considerar sequer um
evangelista? Nenhum deles tem pregado a Cristo! Reúnem multidões, porém são
incapazes de anunciar o verdadeiro evangelho. Por que não fazem como o grande
evangelista Pedro, cuja mensagem, no dia de Pentecostes, começou com "A
Jesus Nazareno" e terminou com "Deus o fez Senhor e Cristo" (At
2.22-36)? Por que não pregam como Estevão, que, em vez de falar em sua defesa,
preferiu falar do Justo (At 7.52)?
Os pretensos evangelistas
deste século buscam a própria glória. Um deles assume publicamente ser
favorável ao assassinato de inocentes. Ao ser perguntado sobre o porquê de a
rede de televisão do tal bispo ser pró-aborto, um de seus homens fortes
declarou: "Foi uma orientação direta do senhor..." — Ops! Quase citei
o nome de novo. — "... que nos pediu que conscientizássemos a sociedade da
importância de a mulher poder decidir sobre o seu próprio destino"
(revista Veja, edição 2.029, de 10 de outubro de 2007, pp.88,89).
Esse mesmo senhor, dono dessa
grande emissora, enquanto eu escrevo esta obra, está construindo uma mansão, um
verdadeiro paraíso na Terra, na cidade de Campos do Jordão, em São Paulo. É uma
casa com dois mil metros quadrados, avaliada em seis milhões de reais! Conforme
noticiaram revistas de circulação nacional, como a Veja, o imóvel possui 35
cômodos, distribuídos em quatro andares, dezoito suítes, todas equipadas com
banheiras de hidromassagem...
Por meio de uma escada, do
seu quarto o famoso bispo terá acesso a um mirante do qual se descortina uma
vista aprazível da cidade. A casa conta com adega (!), sala de cinema (!),
quadra de squash e elevador. Eis a "humilde" casa do que foi
considerado recentemente, num grande ajuntamento de pessoas, o maior o
evangelista do século! Não seria melhor chamar esse bispo de um dos maiores
enganadores de todos os tempos?!
Bem, para eu não perder a
inspiração, vou mudar de assunto... No próximo capítulo quero falar um pouco
sobre a necessidade da "hermelética" na vida do pregador. Você sabe o
que é isso?
Capítulo 5
O PREGADOR E A
HERMELÉTICA
E leram o livro, na Lei de
Deus, e declarando e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse.
Neemias 8.8
Não se assuste com a palavra
"hermelética". Criei-a, em 2005, para enfatizar a necessidade de os
pregadores se lançarem aos estudos da Hermenêutica e da Homilética,
considerando ambas as matérias imprescindíveis. É comum dizermos que é
obrigatório ao pregador conhecer a arte e a ciência de preparar e pregar
sermões. No entanto, igualmente compulsório deve ser o domínio das técnicas de
interpretação da Bíblia. Daí o neologismo "Hermelética".
Certo pregador me indagou:
"O irmão gosta muito de Hermenêutica, não é mesmo?" Respondi-lhe que
sim e aproveitei para lhe fazer outra pergunta: "E o irmão, também gosta
dessa matéria?" Ao que ele me disse, para minha surpresa: "Não, não
me interesso nem um pouco pela interpretação da Bíblia; o meu negócio é
pregar". Fiquei preocupado com essa afirmação, pois, se um mensageiro de
Deus não se interessa pela exegese bíblica, como poderá expor a verdade aos
seus ouvintes?
POR QUE A HERMENÊUTICA É NECESSÁRIA?
John F. MacArthur Jr.
afirmou: "Um recente best-seller evangélico alerta os leitores a se
colocarem de prontidão contra pregadores cuja ênfase está no interpretar as
Escrituras e não no aplicá-las. Espere um pouco. Isto é um conselho sábio? Não,
de modo algum. Não existe o perigo da doutrina ser irrelevante; a verdadeira
ameaça é a abordagem não-doutrinária em busca de relevância sem doutrina. O
cerne de tudo que é verdadeiramente prático encontra-se no ensino das
Escrituras" (Com Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, p.91).
Escrevi este capítulo com o
objetivo de enfatizar que existem quatro coisas imprescindíveis a todo
pregador, nesta ordem: fidelidade a Deus, que nos dá a mensagem (Jo 7.16; 1 Co
11.23); interpretação correta das Escrituras (2 Tm 2.15), levando-se em conta
os princípios da Hermenêutica; exposição bíblica de acordo com a Homilética (Is
50.4); e comportamento ético diante dos ouvintes (At 2.22a; 7.2a).
O que é Hermenêutica? Robert
H. Stein, em sua obra Guia Básico para Interpretação da Bíblia, editado pela
CPAD (p.19), definiu:
Normalmente, o termo
"hermenêutica" assusta as pessoas. Mas isso não deveria acontecer. A
palavra se origina do termo grego "hermeneuein", o qual significa
"explicar" ou "interpretar". Na Bíblia, é usado em João
1.42 e 9.7, Hebreus 7.2 e Lucas 24.27. Na versão Revista e Corrigida, o último
texto traz o seguinte: "E, começando por Moisés e por todos os profetas,
explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras... "A palavra
traduzida em uma versão por "explicar" e em outra por
"expor" é "[di]hermeneuein".
Como eu já disse no livro
Erros que os Pregadores Devem Evitar, editado pela CPAD, essa matéria é a arte
e a ciência de interpretar textos. O termo está associado à mitologia
greco-romana. Hermes (Mercúrio), filho de Zeus (Júpiter), era o deus do
comércio, das lutas, dos exercícios olímpicos e de tudo que demandasse
habilidade e destreza. Era também o intérprete da mensagem de Zeus. Daí
Hermenêutica.
Como matéria teológica, a
Hermenêutica serve à Exegese.
Juntas, formam a chamada
Teologia Exegética, que enfatiza o emprego das regras hermenêuticas, aliadas à
aplicação de matérias como Filologia Sagrada, Introdução Bíblica, Teologia
Histórica, Teologia Bíblica e Teologia Sistemática, na interpretação das
Escrituras.
PARA QUE SERVE A HOMILÉTICA?
Todo pregador deve saber que
há dois lados na exposição da Palavra de Deus: o divino e o humano (1 Co 11.23;
2 Tm 2.15). Uma parte não substitui a outra — ambas são necessárias —, mas a
divina é a mais importante (1 Co 2.1-5). Em Isaías 50.4, vemos esses dois
aspectos. O profeta disse que Deus lhe deu uma língua erudita, enfatizando o
lado divino. E também afirmou: "... para que eu saiba dizer, a seu tempo,
uma boa palavra ao que está cansado".
A Homilética é uma ciência
que ajuda os pregadores a conhecerem as regras essenciais à exposição da
Palavra do Senhor, principalmente no lado humano. É uma matéria definida como a
arte e a ciência de preparar e pregar sermões religiosos. Trata-se do estudo
das maneiras de se confeccionar esboços de mensagens cristãs e apresentá-las de
modo adequado aos ouvintes.
Por meio dessa matéria, o
pregador orienta-se quanto à postura ética diante do público e aprende a lidar
com os mais diversos tipos de ouvinte: indiferentes, egoístas, ignorantes,
eruditos, curiosos, sinceros, etc. No entanto, ainda que a platéia deva ser
respeitada pelo pregador, isso não é um impedimento para a transmissão da
verdade, pois a prioridade do pregador deve ser agradar aquEle que lhe deu a
mensagem (At 7.54-56; Ez 2.3-8).
O estudo da Homilética ajuda
o pregador a falar de forma elegante, precisa e fluente, de modo a convencer ou
comover o ouvinte. Porém, isso não deve invalidar o aspecto espiritual; é a
Palavra de Deus que atinge o coração dos ouvintes (Hb 4.12).
Da mesma forma, o fato de
essa matéria levar em conta aspectos como evolução da língua, ambiente cultural
e recursos tecnológicos não altera o conteúdo da mensagem (1 Pe 1.24,25).
HERMENÊUTICA + HOMILÉTICA = CASAMENTO
PERFEITO
Dominar as técnicas de
oratória e conhecer bem a Homilética não é o suficiente para ser um pregador
bem-sucedido. Todas essas ferramentas só têm eficácia quando postas em prática
por um pregador expositivo piedoso e fiel à fonte primacial de autoridade, a
Palavra do Senhor. Além disso, é necessário atentar com diligência para os
preceitos de interpretação constantes da Hermenêutica Bíblica.
O pregador expositivo precisa
conhecer e saber aplicar com perícia os tais princípios de interpretação das
Escrituras. Ele não deve escolher entre Homilética e Hermenêutica, como se
essas ciências fossem antagônicas ou opcionais. Não! Sem interpretação correta
das Escrituras não há pregação expositiva!
Ralph Pviggs, em seu Guia do
Pastor (Editora Vida, p.49), disse o seguinte sobre a "Hermelética":
A Hermenêutica é a ciência da
interpretação. Existem certas leis básicas e fundamentais que governam a
interpretação, e que se tornam evidentes por si mesmas. O conhecimento dessas
regras e o uso cuidadoso delas evitam ao estudante da Bíblia cair em
interpretações tolas e extravagantes da Palavra de Deus. Vale a pena, ao futuro
ministro, empregar tempo nesse estudo das leis da Hermenêutica Sagrada, até
dominá-las convenientemente (...)
Intimamente ligado ao estudo da
teologia pastoral é o estudo da Homilética. O pastor deve pregar, e a
Homilética lhe ensina como fazê-lo. Há vários tipos de sermões, assim como a
maneira correta e a errada de pregar. Essa é uma ciência indispensável ao
pregador.
UFA! QUASE ME TORNEI UM ANIMADOR DE PLATÉIA!
Quando comecei a pregar,
ainda em minha adolescência, preocupava-me em excesso com as reações do
público. Queria que houvesse manifestação positiva dos ouvintes durante a
preleção, e elogios depois dela. Eu estava certo de que a minha missão era
pregar a Palavra de Deus, mas, ao mesmo tempo, agia como se essa tarefa
consistisse em deixar o povo satisfeito. Por isso, debruçava-me sobre vários
livros de Homilética, a fim de saber como agradar o auditório.
Só percebi o meu desvio
quanto à motivação para pregar quando ingressei no seminário teológico. Apesar
disso, não foram as aulas que me fizeram ver a pregação com outros olhos, pois
os professores de Homilética também costumam priorizar o lado humano,
salientando a importância de o pregador saber falar bem e dentro do tempo,
respeitando os ouvintes. Dois fatores foram decisivos para a minha
"transformação": ter conhecido o pastor Valdir Bícego, de saudosa
memória, e, por providência divina, ter lido alguns livros de verdadeiros
homens de Deus.
Certo dia, quando eu
retornava do seminário, um colega de sala — infelizmente, não me lembro do seu
nome — me indicou a clássica obra O Guia do Pastor, de Ralph Riggs (citada
acima). Este foi um dos livros pelos quais o Senhor levou-me a uma mudança
radical de atitude quanto à pregação. Creio que foi nessa mesma época que li
também O Homem que Deus Usa, de Oswald Smith.
Mediante a leitura desses
livros e o contato quase semanal com o saudoso pastor Valdir Bícego,
despertei-me para o estudo de outra ciência igualmente necessária ao ministério
do pregador vocacionado por Deus: a Hermenêutica. Além disso, e principalmente,
convenci-me de que o compromisso do pregador da Palavra de Deus é, acima de
tudo, com o Deus da Palavra. E, desde então, conquanto eu respeite o povo do
Senhor e os ouvintes em geral, me empenho em ser fiel àquEle que dá a Palavra.
O QUE NÃO É PREGAÇÃO EXPOSITIVA?
É preciso ter em mente o que
é pregação expositiva, segundo o modelo bíblico. Mas, antes disso, discorrerei
sobre o que não é pregação expositiva. Afinal, quando conhecemos o lado
negativo das coisas, passamos a valorizar ainda mais o positivo.
Não é palestra motivacional.
Muitas falações tidas como pregações priorizam a motivação das pessoas. São
mensagens como "Você já nasceu vencedor" ou "Quando você
levantar da cama, olhe para o espelho e diga 'Eu sou vencedor' por três
vezes". Um dia desses ouvi certo pregador dizendo ao povo: "Entre
milhões de espermatozóides, somente um fecundou o óvulo de sua mãe. Você já
nasceu vencedor".
É claro que o fator
motivacional está embutido na pregação do evangelho, mas não devemos confundir
a exposição das verdades da fé cristã com a apresentação de conceitos que
melhoram a auto-estima. Será que a mensagem de Jesus ao pastor de Laodicéia, contida
em Apocalipse 3.17,18, visava à melhora de sua auto-estima, ou ao seu
arrependimento? O Senhor o motivou a abandonar o pecado.
Não é palestra de psicologia.
Torna-se comum, a cada dia, nas igrejas, a exposição de conceitos da psicologia
como se fossem verdades bíblicas. Ora, a psicologia estuda a alma, com as suas
faculdades. Mas o único livro que trata da parte mais profunda do ser humano, o
seu espírito, é a Bíblia. A despeito de a mencionada ciência ter a sua
importância, a tentativa de mesclar os seus conceitos aos princípios das
Escrituras gera um jugo desigual. A pregação expositiva, como veremos, consiste
mesmo em exposição da Palavra de Deus (1 Ts 2.13).
Não é exposição para promover
entretenimento. Tenho assistido com tristeza a espetáculos promovidos por
super-pregadores, cuja "pregação" resume-se a mandar o povo fazer
isso e aquilo. O arsenal de manipulação de auditórios de que eles dispõem é
impressionante. Um deles, depois de empregar todo o seu repertório de
olhe-para-o-seu-irmão-e-diga-isso-e-aquilo, disse à ingênua platéia:
"Encoste a sua testa na testa do seu irmão e olhe bem dentro dos olhos
dele e diga..."
Onde nós vamos parar? Imagine
o que aconteceria se um marido descrente chegasse a um "culto" e
visse a sua esposa com a testa encostada à testa de um irmão? O que pensaria
esse marido? E... como ele reagiria? Por isso, é melhor expor as Escrituras,
ainda que não haja reação imediata do público. Aliás, se a Palavra é a semente,
por que sempre queremos uma resposta rápida do auditório? Cabe aos pregadores
espalhar a semente, e ao Espírito Santo — conforme o tipo de terreno — fazê-la
prosperar (Mt 13.18-23; Jo 16.8-11).
Não é exposição de sabedoria
humana. Pregar não é uma demonstração de sabedoria ou conhecimento. Há
pregadores que, ao microfone, esquecem-se de que devem ministrar a Palavra de
Deus e discorrem sobre os seus conhecimentos de filosofia, cultura, arte,
cinema, etc. Todos ficam admirados... mas, qual foi a mensagem de Deus? Embora
Paulo tivesse um vasto cabedal, as suas palavras aos coríntios não foram
"... persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de
poder" (1 Co 2.4).
Há expoentes que falam de
tudo; menos da Palavra de Deus. Sabem de cor letras de canções, roteiros de
filmes... Ah, e já leram livros e mais livros! Nada tenho contra quem possui um
grande interesse cultural, mas o maior conhecimento do pregador deve ser
bíblico, a menos que faça parte do grupo mencionado em Jeremias 6.10: "A
quem falarei e testemunharei, para que ouça? Eis que os seus ouvidos estão
incircuncisos e não podem ouvir; eis que a palavra do SENHOR é para eles coisa
vergonhosa; não gostam dela".
E você, caro leitor, aprecia
a Palavra de Deus? Tem prazer em lê-la e nela meditar de dia e de noite? E as
suas pregações, são exposições das Escrituras ou de sabedoria humana? Que
façamos nossas as palavras de Paulo, em 1 Coríntios 1.17,18: "Porque
Cristo enviou-me... não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se
não faça vã. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para
nós, que somos salvos, é o poder de Deus".
Não é exposição impecável à
luz da Homilética. Certo pregador, que seguia à risca aos princípios
homiléticos, porém era incapaz de fazer uma prédica de improviso, passou por
grande dificuldade. Ele não teve o cuidado de fixar seu arcabouço à Bíblia, e o
vento gerado por um ventilador junto ao púlpito levou para longe a sua
"inspiração"... Felizmente, um atencioso irmão apanhou o papel e o
entregou discretamente ao mensageiro. Antes, curioso, deu uma olhadinha no
esboço e deparou-se com a frase: "Aqui, chorar".
Conquanto a Homilética seja
uma ferramenta imprescindível ao pregador, este não deve se tornar um escravo
dela. Pregadores há que a valorizam além da conta, esquecendo-se de depender do
Senhor. Em Atos 4.33, está escrito: "E os apóstolos davam, com grande
poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia
abundante graça".
A pregação pode ser
homileticamente impecável, com introdução, desenvolvimento e conclusão
humanamente perfeitos. Contudo, se não houver graça de Deus no pregador,
teremos apenas um belo discurso — sem graça —, como o de Herodes, o qual levou
o povo a exclamar: "Voz de Deus, e não de homem!" (At 12.22). A nossa
mensagem precisa ter graça e vida provenientes do Espírito Santo (Jo 1.14; 1 Co
2.1-5).
O QUE É PREGAÇÃO EXPOSITIVA?
Sei que as definições que
apresentarei não satisfarão aos super-pregadores, haja vista apreciarem os
itens negativos acima. Para eles, o que importa é agradar o povo e se tornarem
cada vez mais famosos e populares. Agem como se fossem humoristas, grandes
comunicadores e palestrantes de auto-ajuda. No entanto, as definições que
mencionarei agora são baseadas inteiramente na Palavra de Deus.
E exposição da Palavra de
Deus. Não deve haver rodeios ou quaisquer artifícios para agradar o público. O
pregador deve expor a Palavra, pois é isso que traz o conhecimento da vontade
do Senhor (Sl 119.130), gerando no coração dos ouvintes a fé (Rm 10.17; At
16.14). Infelizmente, expoentes há que ignoram o fato de a Palavra de Deus ser
proveitosa para ensinar, redargüir, corrigir e instruir em justiça (2 Tm
3.16,17).
Em 1 Pedro 4.11, está
escrito: "Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus..." Não
existe outra alternativa. É inadmissível um obreiro não pregar as Escrituras e
ainda desculpar-se, dizendo: "Cada um tem uma ferramenta. Eu não fui
chamado para pregar citando a Bíblia. Eu sou um contador de histórias, um
avivalista". Ora, como foram as pregações contidas no livro de Atos? Pedro
não explanou a Palavra, na primeira pregação pentecostal? Estêvão e Filipe não
expuseram o que está escrito? E Paulo, o que fez?
Não é o mensageiro que decide
sobre o que falar. A mensagem não é dele, e sim de Deus. Quanto a isso, o
Senhor Jesus afirmou: "A minha doutrina não é minha, mas daquele que me
enviou" (Jo 7.16). E, por isso, pôde dirigir-se ao Pai com estas palavras:
"porque lhes dei as palavras que me deste..." (Jo 17.8).
O Mestre não pregou nada além
do que recebeu do Pai celestial. E é isso que devem fazer os pregadores: não
expor nada além do que está escrito na Palavra da verdade (Mt 4.4; Jo 17.17).
É explanação cristocêntrica.
Pregar a Palavra de Deus não significa citar versículos sem correlação. Tudo o
que pregamos em relação à Bíblia deve estar atrelado ao seu Personagem central:
o Senhor Jesus Cristo: "Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam
sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os
judeus e loucura para os gregos" (1 Co 1.22,23).
John F. MacArthur Jr. afirmou:
"... pregar a Palavra nem sempre é fácil. A mensagem que somos convocados
a pregar é ofensiva. O próprio Cristo é uma pedra de tropeço e rocha de
escândalo (Rm 9.33; 1 Pe 2.8). A mensagem da cruz é uma pedra de tropeço para
alguns (1 Co 1.23; Gl 5.11) e loucura para outros (1 Co 1.23) (...)
Por que você acha que Paulo
escreveu 'não me envergonho do evangelho' (Rm 1.16)? Certamente porque há
muitos cristãos que estão envergonhados da própria mensagem que são ordenados a
proclamar" (Com Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, pp.28,29).
Muitas mensagens, em nossos
dias, aparentemente bíblicas, não são cristocêntricas. Há faladores — e não
pregadores — que citam passagens isoladas, porém não mencionam Cristo e sua
obra. Suas mensagens são humanistas, motivacionais, psicologizantes. Dizem-se
pentecostais, ignorando que a verdadeira pregação pentecostal é a que enfatiza
o nome de Jesus e sua obra (Mc 16.15-18; At 2.22-36; 8.30-37; 9.15; 17.18).
É exposição da verdade, ainda
que o povo não goste. Como vimos acima, há quem não goste da Palavra (Jr 6.10;
Rm 10.16), embora isso não a invalide nem enfraqueça a sua influência sobre
aqueles que lhe abrem o coração. Por isso, caro pregador, jamais abra mão da
Palavra da verdade (2 Tm 2.15-18; Jr 1.17). Deus não está nada satisfeito com
esses faladores que ocupam os púlpitos, em grandes festividades, para dizer
tudo o que o povo quer ouvir.
Leiamos Jeremias 14.13-15:
Então disse eu: Ah! Senhor
JEOVÁ, eis que os profetas lhes dizem: Não vereis espada e não tereis fome; antes,
vos darei paz verdadeira neste lugar. E disse-me o SENHOR: Os profetas
profetizam falsamente em meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem
lhes falei; visão falsa, e adivinhação, e vaidade, e o engano do seu coração
são o que eles profetizam. Portanto, assim diz o SENHOR acerca dos profetas que
profetizam em meu nome, sem que eu os tenha mandado, e dizem que nem espada,
nem fome haverá nesta terra: À espada e à fome serão consumidos esses profetas.
Não é isso que temos visto em
nossos dias também? Aliás, há até pregadores que se intitulam profetas!
Entregam os seus belos cartões, oferecendo-se para pregar, e dizem de modo
jocoso: "Profeta fulano ao seu dispor". A semelhança dos
"profetas" que viveram nos dias de Jeremias, falam falsamente em nome
do Senhor, pois nunca foram enviados por Ele. A visão deles é falsa. E,
conquanto o povo pense que Deus a eles revela isso ou aquilo, são adivinhos,
vaidosos, enganadores e candidatos ao Juízo Final (Mt 7.21-23; Ap 20.12).
COMEÇO, MEIO E FIM
Se por um lado a Homilética
pode ser prejudicial ao pregador, caso ele se torne escravo dela, por outro ela
é imprescindível. E o que mais se vê, hoje em dia, são pregadores que sequer
sabem a diferença entre as partes de uma pregação.
Alguns já iniciam como se estivessem
concluindo. Outros falam, falam, falam... E, quando pensamos que vão concluir,
dizem: "Bem, feitas essas considerações iniciais, vamos agora à
mensagem".
Qualquer pregação expositiva,
por mais simples que seja, deve possuir começo, meio e fim. Ou, em outras
palavras: introdução, desenvolvimento e conclusão. A leitura bíblica, o anúncio
do tema e uma rápida explicação dos objetivos da pregação fazem parte da
introdução. O desenvolvimento é a exposição da Palavra de maneira lógica e
seqüencial. E a conclusão é a aplicação de tudo o que foi falado, a qual pode
incluir o chamado apelo e uma oração.
Na introdução, o pregador
deve anunciar o tema, que é o pensamento central da mensagem, baseado no texto
lido. O tema está para uma pregação assim como um título está para um livro.
Uma obra literária pode ser muito boa, mas, e se o seu o título não chamar a
atenção? Da mesma forma, se o tema for criativo, o auditório se sentirá
motivado a ouvir a exposição.
Após a introdução, que é uma
exposição rápida e objetiva da mensagem, com o anúncio do seu tema, o
mensageiro começa a desenvolver o assunto. Ele deve fazer uma explanação
detalhada do assunto proposto, em tópicos e subtópicos, como veremos abaixo,
até chegar à conclusão, isto é, à aplicação prática aos corações dos ouvintes.
O pregador deve estar em sintonia com o Espírito Santo do começo ao fim da
exposição, pois Ele pode revelar-lhe necessidades específicas da platéia.
Lembro-me de que, há alguns
anos, no fim de uma pregação, veio ao meu coração o texto de Provérbios 29.1.
E, antes que eu terminasse de falar, disse: "Ainda tenho uma última
palavra" e citei o versículo. Eu não havia pensado em mencioná-lo; não
estava no meu roteiro. Mas, alguns dias depois, recebi uma ligação em que,
certa pessoa, com a voz embargada, me disse: "Eu estou desviado e, até
àquele culto, encontrava-me insensível, mas o último versículo citado não sai
da minha mente. Ore por mim. Estou incomodado. Sinto-me como se estivesse
próximo do Inferno".
A PREGAÇÃO EXPOSITIVA REQUER UM ESBOÇO
O mestre Antonio Gilberto
afirmou: "O construtor precisa de uma planta ou croqui para construir;
assim também o pregador, o preletor, o conferencista, o professor, etc. O
esboço é para esses comunicadores uma espécie de croqui para construírem o sermão,
o estudo bíblico, o devocional ou a aula da Escola Dominical" (Manual do
Obreiro, ano 26, número 27, CPAD, p.73).
Como preparar um esboço?
Primeiro, o que é um esboço e por que é importante? Trata-se de um roteiro bem
ordenado do que se pretende falar ao público. Nele, as informações devem ser
expostas em ordem descendente, respeitando-se a unidade relativa de pensamento
entre as divisões do assunto. Deve haver coerência e correlação entre essas
divisões e as suas subdivisões. Notas avulsas, soltas, por conseguinte, são
simples anotações, e não um esboço, podendo até dificultar a exposição bíblica.
O esboço é muito importante
para ajudar o pregador na sua exposição progressiva da mensagem. Deve-se
dedicar tempo na sua preparação. Não é algo para se fazer com pressa, como se
fosse um rascunho qualquer. Um esboço bem feito permite ao expoente pregar a
mesma mensagem várias vezes, além de possibilitar um bom arquivamento. Para
isso, é preciso que essa composição literária seja feita com profunda meditação
na Bíblia e oração.
Apesar de a sua substância
vir da Palavra de Deus e sua vida do Espírito Santo, a forma do esboço vem de
quem o produz. Apesar disso, não se deve desprezar as normas fixadas por
autoridades no assunto para o seu bom preparo. Há vários tipos de divisão ou
desdobramento para um esboço. Um bom exemplo é o empregado nas Lições Bíblicas
da CPAD, na qual empregam-se algarismos romanos para os tópicos (I, II, III,
etc), números para os subtópicos (1,2,3, etc.) e letras para o desdobramento
destes (a, b, c, etc).
ONDE ESTÃO OS PREGADORES EXPOSITIVOS?
Bryan Chapell disse:
"Nestas duas últimas gerações, o sermão expositivo tem sido estigmatizado
(nem sempre injustamente) como representante de um estilo de pregação que se
degenera em recitações estéreis de trivialidades bíblicas ou que indevidamente
faz defesas dogmáticas de características doutrinárias distantes da vida
comum" (Pregação Cristocêntrica, Editora Cultura Cristã, p.9).
Numa época em que os
animadores de auditório têm roubado a cena, por que alguém escreveria sobre a
pregação expositiva? Afinal, se para os super-pregadores da atualidade não se
aplica o princípio do começo-meio-e-fim, o que se dirá das pregações
expositivo-temático-textuais? Que sentido têm as três modalidades gerais de exposição
para quem, depois de ler uma passagem bíblica, faz uns gracejos, berra, conta
casos e testemunhos duvidosos, além de mandar as pessoas dizerem isso e aquilo?
Bem, mesmo sabendo que o meu
trabalho pode ser o de tirar água do oceano com uma canequinha, vou continuar
fazendo a minha parte. Não aceito os referenciais de pregadores e pregações que
ora prevalecem em nosso meio. Prefiro seguir aos exemplos das Escrituras.
Olhando para eles, ainda consigo ver uma luz no fim do túnel. Sim, ainda há e
haverá pregadores que expõem a Palavra de Deus. E, para esses, com certeza, é
útil o conhecimento dos tipos gerais de exposição da Palavra de Deus.
A PREGAÇÃO EXPOSITIVA HONRA AS ESCRITURAS
Pregação expositiva é aquela
que interpreta de maneira precisa o que as Escrituras dizem. Ela tem como fonte
e voz de autoridade a própria Bíblia, e não as filosofias ou argumentações
humanas. A figura central, nesse caso, não é o pregador e suas habilidades. Mas
os objetivos são alcançados por causa da Escritura proclamada (Is 55.10,11).
Bryan Chapell disse que, na
pregação expositiva, "Não estamos interessados em propagar nossas
opiniões, filosofias alheias ou reflexões especulativas. O interesse do
pregador expositivo deve ser a verdade de Deus proclamada de tal maneira que as
pessoas possam ver que os conceitos emanam da Escritura e aplicam-se à vida
pessoal de cada um. Tal pregação põe as pessoas em contato imediato com o poder
da Palavra" (Pregação Cristocêntrica, Editora Cultura Cristã, pp.22,23).
Na pregação expositiva, faz-se
a explanação de versículos de um capítulo, ou de um livro, ou ainda de várias
partes de toda a Bíblia. Ela possui um tema geral, mas o pregador não precisa
se reportar a ele a todo tempo. Um conhecido exemplo é a famosa pregação
"As 7 palavras da cruz". Cada tópico desta é uma mensagem à parte,
atrelada ao tema geral e à Pessoa central, isto é, Cristo.
I - Palavra de perdão (Lc
23.34);
II - Palavra de salvação (Lc
23.43,44);
III - Palavra de afeição (Jo
19.26,27);
IV - Palavra que expressa
solidão (Mt 27.46);
V - Palavra que expressa
sofrimento (Jo 19.28);
VI - Palavra de vitória (Jo
19.30);
VII - Palavra de
Contentamento (Lc 23.46).
Pregação expositivo-temático.
É a pregação expositiva que está ligada diretamente a um tema, extraído do
assunto oferecido pelo texto. Tomemos como base Isaías 9.6, passagem em que o
Senhor recebe quatro títulos compostos: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte,
Pai da Eternidade e Príncipe da Paz. A título de exemplo, extraiamos o tema da
primeira palavra do primeiro título mencionado. O tema seria "Jesus, o
Maravilhoso", e as divisões poderiam ser as seguintes:
I - Maravilhoso em seu
nascimento (Lc 2.8-18);
II - Maravilhoso em sua
infância (Lc 2.46,47);
III- Maravilhoso em seu
batismo (Mt 3.16,17);
IV - Maravilhoso em seus ensinamentos
(Mt 22.15-33);
V - Maravilhoso ao operar
milagres (Lc 5.17-26; 8.40-56);
VI - Maravilhoso ao expulsar
demônios (Lc 9.37-44).
Pregação
expositivo-temático-textual. É a pregação expositiva cujas divisões — tópicos e
subtópicos — se derivam do próprio texto. Digamos que o tema, baseado em
Romanos 1.16, seja: "O poder do evangelho". As divisões contidas na
própria passagem seriam:
I - Não me envergonho do
evangelho de Cristo;
II - O evangelho é o poder de
Deus;
III - O evangelho é o poder
de Deus para salvação;
IV - A salvação é para todo
aquele que crê.
AGORA É A SUA VEZ!
No livro Erros que os
Pregadores Devem Evitar, editado pela CPAD, no capítulo 6, incluí a seção
"Agora é a sua vez!", pela qual fiz algumas perguntas aos leitores,
estimulando-os a encontrarem na própria Bíblia as respostas para elas. Confesso
que não esperava receber tantos e-mails sobre o assunto. O número foi tão
grande, a ponto de eu não ter como avaliar cada mensagem dos leitores. Bem,
incluí nesta obra um apêndice com as respostas.
Agora tenho novos desafios
para você, com o objetivo de fazer com que se interesse pela correta
interpretação das Escrituras. Mas lembre-se: a resposta está na própria Bíblia!
1) Gênesis 1.1,10 — Qual é o
sentido da palavra "terra" nesses dois versículos?
2) Gênesis 1 e 2 — Por que as
narrativas da criação são diferentes nesses dois capítulos?
3) Gênesis 2.17 — Qual foi o
fruto proibido comido por Adão e Eva?
4) Gênesis 6.19 e 7.2 — Como
harmonizar essas duas passagens?
5) Êxodo 24.9-11 — Os acompanhantes
de Moisés viram Deus entronizado?
6) Números 4.3; 8.24 e Esdras
3.8 — Com que idade os levitas começavam o serviço no Templo?
7) Josué 10.12-14 — Como
explicar o prolongado dia de Josué?
8) 1 Samuel 16.10,11 e 1
Crônicas 2.13-15 — Quantos filhos teve Jessé?
9) 1 Samuel 18.10 — O que
seria um espírito mau da parte do Senhor?
10) 2 Reis 6.19 — Por que
Eliseu não foi considerado culpado por ter mentido às tropas sírias?
11) Eclesiastes 3.21 — Os
animais também têm espírito?
12) Isaías 9.6 — Se Jesus é o Filho
de Deus, por que é chamado de Pai da Eternidade?
13) Isaías 14.12 — A quem se
refere essa passagem?
14) Mateus 8.22 e Lucas 9.60 —
O que significa deixar os mortos sepultarem os seus mortos?
15) Mateus 10.10 e Marcos 6.8
— Os discípulos deviam ou não levar um bordão?
16) Mateus 16.28 — Jesus
voltaria no tempo de vida dos apóstolos?
17) João 10.34 — Os homens são
deuses?
18) 1 Coríntios 10.8 e Êxodo
32.28 — É possível conciliar essas passagens?
19) 1 Coríntios 15.29 — O que
é o batismo pelos mortos?
20) Colossenses 1.20 — Todas
as pessoas serão salvas?
21) 1 Timóteo 2.12 — A
ordenação de mulheres é proibida?
22) Apocalipse 1.4 — Quem são
os sete espíritos diante do trono de Deus?
23) Apocalipse 7.3-8 e 14.1 —
Quem são os 144 mil?
Partilhe comigo o resultado
de seus estudos e interpretações bíblicas. E-mail: ciro.sanches@uol.com.br.
Endereço: Avenida Brasil, 34.401 — Bangu. Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21852-000.
Aguardo a sua
correspondência.
Capítulo 6
PROCURAM-SE
PREGADORES COMO ESTÊVÃO
E não podiam resistir à
sabedoria e ao Espírito com que falava. Atos 6.10
Já não se fazem mais
pregadores como antigamente... Como tenho saudade daquelas pregações
expositivas, baseadas inteiramente na Bíblia! Os super-pregadores de hoje não
querem seguir ao modelo das Escrituras: contam histórias, interagem com a
platéia, berram ao microfone... Você se lembra da última vez em que participou
de um congresso em que o orador, à semelhança do protagonista deste capítulo,
apenas expôs a Palavra de Deus, permitindo a ação do Espírito Santo?
Neste capítulo continuarei a
discorrer sobre o pregador e a pregação expositivos. E tomarei como base a
curta biografia do diácono Estêvão — que diácono! —, pois na sua vida vemos os
perfis do pregador e da pregação que agradam a Jesus.
ANTES DA PREGAÇÃO
Como foi a pregação de
Estêvão? Primeiro analisemos as circunstâncias em que ele pregou. Em Atos 6,
vemos que, após ter sido eleito um dos "sete varões de boa reputação,
cheios do Espírito Santo e de sabedoria" (v.3), ele começou a anunciar o
evangelho cheio de fé e de poder (v.8). Isso despertou a ira de uma sinagoga
chamada dos Libertos, dos cirineus, dos alexandrinos, bem como dos que eram da
Cilícia e da Ásia.
Todos esses debatiam com ele
sem sucesso, haja vista a graça divina sobre sua vida (vv.9,10).
Pesou então uma acusação
contra Estêvão. Certamente movidos por inveja, os mencionados inimigos
subornaram homens para que propagassem a calúnia de que o diácono-pregador
proferira palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus (v.11). E isso incitou
o povo em geral, os anciãos e os escribas, que o prenderam, levando-o ao
conselho (v.12). Valendo-se de falsas testemunhas, o acusaram de blasfemar
contra o Templo e a Lei (v.13).
É curiosa a similaridade
entre a vida de Jesus e a de Estêvão. Este, à semelhança daquEle, foi acusado
injusta e falsamente de dizer que destruiria o templo (Mc 14.55-58). E ele
então foi colocado diante das autoridades religiosas, a fim de fazer um
pronunciamento em sua defesa: "... todos os que estavam assentados no conselho,
fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo" (At
6.15).
PREPARAÇÃO PARA PREGAR
Quando pensamos em uma
pregação, algumas coisas vêm à nossa mente: preparação específica, esboço,
público receptivo... Bem, nenhum desses elementos faz parte da prédica de
Estêvão. Ele, de fato, mantinha-se preparado para qualquer situação, mas não
tinha um esboço, e a platéia não estava nem um pouco entusiasmada com o
preletor... É impressionante como a pregação desse homem de Deus vai de encontro
— e não ao encontro — dos conceitos que prevalecem hoje.
Ele sequer teve tempo de
preparar um arcabouço. Foi pego "no laço". E isso pode acontecer com
qualquer um de nós, não é mesmo? Não digo nas mesmas circunstâncias, mas
podemos estar em um culto, e o preletor convidado faltar, ter um mal súbito,
etc. Comigo isso já aconteceu diversas vezes. E a impressão que tive é de que,
nessas circunstâncias, Deus nos envolve com a sua graça especial, desde que
estejamos preparados, em comunhão com Ele, é claro.
Muito da minha formação como
obreiro se deve ao exemplo do saudoso pastor Valdir Nunes Bícego, que foi
"arrebatado" deste mundo no auge de sua carreira ministerial, à
semelhança de Estêvão. E uma das coisas que ele sempre dizia ficou gravada em
meu coração: "No dia em que eu não tiver uma mensagem de Deus para pregar,
não subo neste púlpito". Daí eu ter o hábito de estar sempre preparado, em
um culto. Oro a Deus, antes, busco uma mensagem da parte dEle, mesmo que eu não
esteja escalado para falar.
Mas é claro que há dois lados
nessa questão. Primeiro, é ponto pacífico o fato de que o pregador deve mesmo
estar sempre preparado (2 Tm 2.15; 1 Pe 3.15). Por outro lado, isso só é válido
em casos emergenciais, como foi o de Estêvão. Em circunstâncias normais, o pregador
deve ser avisado, a fim de que se prepare de maneira específica.
COMO SAUDAR A PLATÉIA?
Apesar da pressão que os
acusadores exerciam sobre Estêvão, ele começa a sua exposição com respeito e
ética: "Varões irmãos e pais, ouvi" (At 7.2). Confesso que fiquei
impressionado com tal atitude. Isso porque já fiquei irritado ao ser mal
recebido em certos lugares e indignado por não priorizarem a Palavra de Deus.
Em alguns casos, não tive a mesma serenidade de Estêvão...
Às vezes, pelo fato de termos
o microfone à mão, sentimo-nos poderosos e verberamos contra pessoas. Ainda que
tenhamos razão, se não fizermos isso segundo o Espírito, e sim transbordando de
ira, não agradaremos ao Senhor. Soube que certo pregador — indignado pelo fato
de inúmeras pessoas terem tido oportunidade antes dele, "empurrando"
a pregação para o fim do culto — esbravejou, em um grande congresso: "Já
falaram o prefeito da cidade, o deputado fulano, a vereadora sicrana... Eu
pensei que Jesus não falaria neste culto".
Bem, algumas coisas tenho a
dizer. Primeiro, eu considero um absurdo "empurrar" o momento da
pregação para o fim da reunião. Isso demonstra, no mínimo, imaturidade de quem
dirige o culto. Em muitos casos, é ausência de temor a Deus e falta de desejo
de ouvir a sua Palavra. Que negócio é esse de ouvir um sem-número de saudações?
O que é um culto, uma apresentação de pessoas? E, nesse caso, um local onde
políticos e candidatos fazem seus discursos? Isso está errado e tem de acabar
para o bem da obra de Deus.
Por outro lado, por mais
desorganizado que seja um culto, o pregador deve se conter, evitando verberar
contra a direção da igreja. Veja o caso de Estêvão. Diante de tamanha pressão,
teve a calma necessária para saudar a todos com ética e respeito.
Espera-se isso de um homem de
Deus. Contudo, se, durante a exposição, o Senhor lhe der alguma mensagem, caro
pregador, fale, ainda que tapem os ouvidos e queiram apedrejá-lo.
COMO CONQUISTAR O PÚBLICO?
Outro conceito hodierno que
está em total discordância com a pregação de Estêvão é o modismo de interagir
com o público. Os super-pregadores fazem discípulos e mais discípulos, que
aprendem direitinho a tratar os crentes como marionetes.
Um dia desses, um descuidado
animador mandou os irmãos darem as mãos, uns de frente para os outros, e dizerem:
"Satanás, você está derrotado". Mesmo estranhando, quase ninguém teve
coragem de não fazer o que foi pedido...
Concordo que um pouco de bom
humor, dosado, até seja importante na introdução e até no desenvolvimento de
uma exposição. Mas há "pregadores" que são verdadeiros humoristas.
Aliás, certa telepregadora
norte-americana segue a linha dos grandes humoristas: conta piadinhas, uma após
a outra, numa entusiasmante gradação, pela qual consegue entreter eficazmente a
platéia e conquistá-la. É essa a nossa missão?
Não fomos chamados para
conquistar platéias! Conquanto isso possa acontecer, naturalmente, não é essa a
nossa missão. Ainda que sejamos eloqüentes e dotados de talentos naturais, como
bom timbre de voz, boa aparência e capacidade incomum de se comunicar por meio
de gestos, não devemos nos valer disso para ganhar o auditório. Lembra-se de
Herodes? Ele preocupou-se em agradar o público e conseguiu. Mas não agradou a
Deus, morrendo comido de bichos por não ter dado glória ao Senhor (At 12.21-23).
Alguém poderá dizer: "Eu
não quero ser como Estêvão, pois ele foi apedrejado". Não há,
aparentemente, distinção entre Herodes e Estêvão, pois ambos foram mortos em
decorrência de suas pregações. No entanto, há sim uma grande diferença entre
ambos. Um foi morto porque não deu glória a Deus, sendo ferido por um anjo do
Senhor. O outro morreu por dar toda glória a Deus, sendo apedrejado por
inimigos do Senhor. E mais: a despeito de ter sido morto por homens cheios de
ódio, Estêvão, cheio do Espírito, viu o céu aberto e Jesus em pé, em sinal de
aprovação (At 7.55,56). Aleluia!
QUE PALAVRA!
Após a respeitosa saudação,
esperava-se de Estêvão uma defesa pessoal. Mas não foi o que aconteceu. Como se
não tivesse a sua vida por preciosa, contanto que anunciasse a Cristo, o homem
de Deus passa a citar a Bíblia de forma magistral.
Começando pela chamada de
Abraão, menciona vários personagens e passagens das Escrituras e faz uma
contundente aplicação no final (At 7.2-53).
Ele demonstra, durante a sua
prédica, um conhecimento bíblico que a todos surpreende, inclusive aos leitores
de primeira viagem. Lembro-me da minha surpresa quando deparei-me pela primeira
vez com tantas menções ao Antigo Testamento. A primeira delas, inclusive,
impressionou-me pelo fato de conter uma revelação inédita: a primeira chamada
de Abraão, que não está clara no livro de Gênesis.
O chamamento mencionado em
Gênesis é o segundo, quando Abraão estava em Harã (12.1-3). E a Estêvão foi
revelado o primeiro, que ocorreu ainda em Ur dos Caldeus: "O Deus da
glória apareceu a Abraão, nosso pai, estando na Mesopotâmia, antes de habitar
em Harã, e disse-lhe: Sai da tua terra e dentre a tua parentela e dirige-te à
terra que eu te mostrar. Então, saiu da terra dos caldeus e habitou em
Harã" (At 7.2-4).
Sob olhares arregalados e
corações cheios de ódio, de pessoas que só pensam em matá-lo, Estêvão prega a
Palavra! Já pensou se isso acontecesse com um dos animadores de auditório da
atualidade? Como ele se dirigiria a todos? O que pregaria? Teria ele coragem de
pregar a Palavra? Ou faria como muitos, que preferem "dançar conforme a
música"? Não têm coragem de manter uma postura firme, compromissada com
Deus. Para cada público exibem uma performance diferente.
Não fomos chamados para nos
apresentarmos ao povo ou a pastores. Nosso compromisso tem de ser com a
Palavra. É ela que dá entendimento aos símplices e gera fé nos corações (Sl
119.130; Rm 10.17). E também é ela que é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça (2 Tm
3.16,17). Daí Paulo ter aconselhado Timóteo a pregar, instar, redargüir,
exortar, repreender segundo a Palavra de Deus (2 Tm 4.1-4).
Pregue, pois, a Palavra!
O CONTEÚDO DA PREGAÇÃO
Sabe qual foi a primeira
pessoa que Estêvão mencionou em sua prédica, após a respeitosa saudação?
Abraão? Isaque? Jacó? José? Moisés? Josué? Davi? Salomão? Não! Ele próprio?
Não! Disse ele: "O Deus da glória" (At 7.2). E olha que ele fora
convocado para falar em sua defesa!
Ah, se fosse um
super-pregador em seu lugar! "Varões irmãos, acabei de chegar de uma
grande cruzada em Jerusalém, onde sinais e prodígios aconteceram... O reteté
foi bom demais! E eu quero lhes falar agora sobre os sonhos de Deus" —
diria ele. Mas o homem de Deus em apreço tinha compromisso com a Palavra de
Deus e com o Deus da Palavra.
Todas as pessoas e episódios
bíblicos foram mencionados por ele com um único fim: tornar cada vez mais
conhecida a obra realizada pelo Senhor Jesus Cristo em prol da humanidade. Veja
como foi a conclusão da sua pregação, registrada em Atos 7.51-53:
Homens de dura cerviz e
incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo;
assim, vós, sois como vossos pais. A qual dos profetas não perseguiram vossos
pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós
agora fostes traidores e homicidas; vós que recebestes a lei por ordenação dos
anjos e não a guardastes.
Em sua obra Com Vergonha do
Evangelho, John F. MacArthur Jr. disse: "No púlpito, sempre houve aqueles
que atraíam multidões por serem oradores talentosos, terem personalidades
dinâmicas, serem manipuladores de massas, interessantes contadores de
histórias, políticos populares ou por serem grandes eruditos. Este tipo de
pregação talvez seja popular, mas não é necessariamente poderosa. Ninguém pode
pregar com poder sobrenatural, se não pregar a Palavra de Deus" (Editora
Fiel, p.30).
A pregação de Estêvão foi
poderosa e cristocêntrica. Ele não falou de si mesmo — ainda que podia ter
feito isso, em sua defesa — nem de outro assunto que não estivesse relacionado
com Deus, o Senhor Jesus e sua obra redentora. Muitos não querem falar a
Palavra do Senhor, preferindo contar experiências e testemunhos falsos, além de
histórias pra lá de estranhas. Mas a mensagem do pregador do evangelho deve ser
bíblico-cristocêntrica.
MacArthur também afirmou:
"O evangelho é perturbador, chocante, transtornador, confrontador, produz
convicção de pecado e é ofensivo ao orgulho humano. Não há como 'fazer
marketing' do evangelho bíblico. Aqueles que procuram remover a ofensa, ao
torná-lo entretenedor, inevitavelmente corrompem e obscurecem os pontos
cruciais da mensagem. A igreja precisa reconhecer que sua missão nunca foi a de
relações públicas ou de vendas; fomos chamados a um viver santo, a declarar a
inadulterada verdade de Deus — de forma amorosa, mas sem comprometê-la — a um
mundo que não crê" (idem, p.79).
Pregue, portanto, a Palavra!
Fale de Jesus Cristo! Nada de sonhos; de auto-ajuda; e de mensagens do tipo
aqueles-que-tentaram-destruí-lo-serão-destruídos, que a cada dia se tornam mais
comuns nos grandes congressos. E nada de massagear egos também! Pregue sobre o
Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó! Fale do Justo! Não tenha medo de levar
pedrada nem de morrer por falar a verdade, "Porque eis que te ponho hoje
por cidade forte, e por coluna de ferro, e por muros de bronze, contra toda a
terra... E pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou
contigo, diz o SENHOR, para te livrar" (Jr 1.18,19).
QUEM AVALIA A PREGAÇÃO?
Outro conceito errado que
vigora hoje é o de que a pregação boa é a que termina com uma grande vibração
por parte do auditório. Que engano! Não é o público quem avalia o pregador e
sua prédica. E, por isso, não devemos pregar para agradar ao povo, e sim àquEle
que nos chamou para anunciar a sua Palavra.
Estêvão concluiu a pregação,
e a platéia não gostou, e ainda reagiu de maneira hostil, tapando os ouvidos e
lançando pedras contra ele. Ele não foi aplaudido de pé, como muitos
super-pregadores o são. No entanto, antes,"... ele, estando cheio do
Espírito Santo e fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que
estava à direita de Deus, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do
Homem, que está em pé à mão direita de Deus" (At 7.55,56).
O que não faltam hoje nas
igrejas são avaliadores de pregações. Não há nenhum mal nisso, desde que não se
torne uma obsessão. Digo isso porque conheço irmãos que, de tanto quererem
encontrar erros nos pregadores, são incapazes de disporem o seu coração para
receber a Palavra de Deus. Não falo quanto à avaliação e reprovação de
animadores de auditórios, e sim quanto aos pregadores de verdade, que procuram
expor as Escrituras.
Mas, sabia que quem avalia de
fato as pregações não somos nós? É o Senhor Jesus Cristo! Certo irmão até mudou
o seu comportamento depois de ter um sonho no qual o Senhor estava no primeiro
banco do templo ouvindo atentamente a sua pregação. Como você reagiria, caro
leitor? E quanto aos super-pregadores? Será que gritariam para Jesus: "Fale
em mistérios, fale, fale, faaaleee em mistééérios agoooraaa?"
Mandar o povo fazer isso e
aquilo é fácil, mas lembre-se: devemos pregar para Jesus ficar de pé. O que Ele
deve estar pensando de sua pregação? É com Ele que você tem de tratar: "E
não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas
e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar" (Hb 4.13). Muitos
"pregadores" que se contentam com avaliações humanas hão de se
decepcionar naquele grande Dia (Mt 7.21-23) !
A PRIMEIRA QUALIDADE DO PREGADOR
Sabe qual é a primeira
característica de Estêvão mencionada em Atos? Alguém poderá responder:
"Ele era cheio do Espírito Santo". Sim, sem dúvidas essa era uma de
suas principais qualidades. Contudo, sua primeira virtude, que muitos hoje
consideram secundária e até descartável, era ter boa reputação (At 6.3).
Para que serve o bom
testemunho, em nossos dias? Jesus disse que devemos ser a luz do mundo (Mt
5.14-16). A Palavra de Deus enfatiza que o bom testemunho que interessa é o que
vem de fora (1 Tm 3.7). Mas, sinceramente, que importância tem isso, numa época
em que o carisma é mais valorizado do que o caráter?
Em Provérbios 22.1, está
escrito: "Mais digno de ser escolhido é o bom nome do que as muitas
riquezas; e a graça é melhor do que a riqueza e o ouro". E em Romanos
2.21,22, lemos: "tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo?
Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve
adulterar, adúlteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes sacrilégio? Tu, que
te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Porque, como está
escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós".
Muitos pensam mesmo que os
dons e chamada de alguém encobrem os seus erros. Isso seria verdade se Deus não
existisse e sua Palavra não fosse verdadeira. Contudo, o Senhor existe, e é Ele
quem avalia as nossas vidas e obras. Como está a nossa biografia? Embora todos
erremos de alguma forma, permanecer errado, conscientemente, é iniqüidade. E
são os pregadores iníquos que ouvirão do Justo Juiz estas duras palavras:
"... apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade" (Mt 7.23).
Somos vasos nas mãos do
Oleiro e devemos estar purificados (2 Tm 2.20,21). Nenhum de nós, em sã
consciência, beberia água em um copo sujo. Nós temos a água purificadora do
evangelho, mas a nossa vida interfere no resultado (Rm 2.21,22).
Lutemos, pois, por uma boa
reputação, ainda que, no momento, ela esteja distante. O passado não volta
mais. Você ainda pode mudar a sua biografia, se atentar com mais diligência
para o que tem recebido do Senhor (Hb 2.1).
CHEIO, CHEIO, CHEIO E CHEIO...
"Quanto mais vazia a
lata, maior o barulho" — diz um ditado. E isso também se aplica ao
pregador. Quanto mais vazio for ele, tanto mais precisará gritar ao microfone.
O povo pode até não perceber que uma coisa não decorre da outra,
proporcionalmente, em razão de sua simplicidade, mas lembre-se de que o Senhor
Jesus, assim como acompanhou a pregação de Estêvão, assiste a todas as outras.
Estêvão era cheio do Espírito
Santo, de sabedoria, de fé e de poder. Cheio, cheio, cheio e cheio! O pregador
não pode ser oco. Lembra-se de Pedro? Ele disse ao homem coxo: "... o que
tenho, isso te dou" (At 3.6). O que você tem para oferecer? Gritos ensurdecedores?
Um arsenal de animação de auditórios? Piadas e gracejos? É disso de que você
está cheio? O Senhor Jesus disse: "... do que há em abundância no coração,
disso fala a boca" (Mt 12.34).
Cheio do Espírito Santo. Estêvão foi eleito diácono porque era cheio do
Espírito (At 6.5), mas ele continuou assim até ao momento em que foi
"arrebatado" da Terra (At 7.55). Que carreira maravilhosa! Mas, o que
significa ser cheio do Espírito? Denota ter toda a vida controlada por Ele. Uma
outra biografia que merece destaque quanto a esse quesito é a do
diácono-evangelista Filipe, que nada fazia sem a direção do alto (At 8.26-40).
Cheio de sabedoria. A sabedoria — do grego sophia, prudência, juízo, bom senso em todas as
ações; habilidade pela qual se aplica corretamente o conhecimento adquirido (Mt
21.23-27; 22.15-22; 1 Rs 3.16-28; Cl 4.5) — que enchia o coração de Estêvão era
a do alto (At 6.10). E há diferença entre esta e a terrena, que vem mediante
vivência, experiência, observação, pesquisas. A do alto provém do Senhor (Pv
2.6; Ec 4.13; Sl 119.99,100; 2 Pe 3.15; 1 Co 2.4,5,13; 12.8; 2 Co 1.12).
Você quer crescer em
sabedoria que do alto vem? Peça-a a Deus (Tg 1.5,6; 1 Rs 3.1-15; Lc 12.31);
seja temente ao Senhor (Sl 111.10; Pv 1.7); submeta-se a Ele (Lc 2.52; Sl
138.6; Is 5.21); busque-o com contrição (Sl 51.6; Jr 29.13); dê lugar ao
Espírito de Deus (1 Co 12.8; Jó 32.4-8); ande com os sábios (2 Tm 2.1,2; 3.14);
e dedique-se à Palavra de Deus (Jr 8.9; Sl 1.1-3; 119.130; Rm 10.17; Dt 6.6,7;
17.19; 2 Tm 2.15).
Cheio de fé.
A fé não é estática. Ela pode crescer ou diminuir. Prova disso é a afirmação de
Paulo em relação aos crentes de Tessalônica: "Sempre devemos, irmãos, dar
graças a Deus por vós, como é de razão, porque a vossa fé cresce
muitíssimo..." (2 Ts 1.3). Ademais, a Palavra de Deus menciona alguns
níveis de fé: "sem fé" (Hb 11.6), "pouca fé" (Mt 8.26),
"grande fé" (Mt 15.28) e "cheio de fé", no caso de Estêvão
(At 6.5).
Você quer ser cheio de fé?
Glorifique a Deus, de verdade, e não da boca para fora (Rm 4.20). Peça ao Senhor
que aumente a sua fé (Lc 17.5). Se for necessário, reconheça em oração a sua
incredulidade: "Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade" (Mc
9.24). Não se preocupe: isso não é fazer confissão negativa, como ensinam os
triunfalistas. E lembre-se de que a fé é gerada em nós sobretudo pela Palavra
de Deus (Rm 10.17; At 16.14).
Cheio de poder. Estêvão, cheio de poder, fazia prodígios e grandes sinais no meio do
povo (At 6.8). Que pregador era esse diácono da igreja primitiva! Pregava a
Palavra, com fé, sabedoria, cheio do Espírito, e ainda milagres aconteciam em
decorrência da exposição do evangelho! É disso que precisamos hoje, e não de
pregadores de milagres!
Não sei se fui claro.
Precisamos de pregadores que preguem a Palavra de Deus, para que, assim, os
verdadeiros sinais e prodígios ocorram naturalmente. Mas, o que vemos hoje? Um
sem-número de super-pregadores dizendo que foram chamados para pregar milagres.
Haja incoerência! Anunciam pretensos efeitos do evangelho, e nada falam do
protagonista do evangelho: Cristo. Como podemos crer em fenômenos estranhos,
realizados por homens que sequer falam do Senhor Jesus?
Sejamos, pois, cheios,
cheios, cheios e cheios!
QUE AUTORIDADE! QUE CERTEZA! QUE PERDÃO!
Outras características
marcantes de Estêvão foram a sua autoridade, a sua certeza e o seu espírito
perdoador. Sim, ele tinha autoridade. Caso contrário, teria sido uma falta de
bom senso e até um ato de loucura de sua parte ter-se dirigido às autoridades
religiosas da época desta forma: "Homens de dura cerviz e incircuncisos de
coração e ouvido..." (At 7.51). Mas não confunda essa capacitação divina
com autoritarismo, que engloba gritos, violência, dedos em riste, etc.
O que é autoridade? Em que
ela consiste? Trata-se de uma capacitação divina (Lc 10.19, ARA), relacionada
com: integridade moral (1 Tm 3.5-7); postura adequada (1 Tm 4.12); idoneidade
para ensinar (Tt 2.15); capacidade para dirigir (Sl 78.72); e ousadia no falar,
segundo orientação do Espírito Santo (At 4.31; 1 Rs 17.1; 2 Rs 2.10; Nm 16.6-11,24-35;
At 13.6-11; 8.19-24; 1 Sm 3.19; 9.6).
Estêvão não pronunciou
palavras enérgicas e contundentes porque era "durão". A maneira como
ele iniciou a pregação e a sua oração final ante o seu apedrejamento evidenciam
que se tratava de um homem manso. Mas era grande a sua convicção de que estava
agradando a Deus. Por isso, sabendo que morreria, fez uma oração que somente um
crente inteiramente certo de sua salvação pode fazer: "Senhor Jesus,
recebe o meu espírito" (At 7.59). Aliás, orou como Jesus, na cruz, ao dar
o último suspiro (Lc 23.46).
Houve tempo, ainda, para
Estêvão, mais uma vez à semelhança do Senhor Jesus, perdoar os seus inimigos:
"E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes
este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu" (At 7.60). "Preciosa é à
vista do Senhor a morte dos seus santos" (Sl 116.15).
Aleluia!
O PORQUÊ DA MORTE DE UM PREGADOR
A acusação contra Estêvão e
sua execução precipitaram uma grande perseguição contra a igreja em Jerusalém.
E os crentes, espalhados, pregaram o evangelho onde quer que fossem (At 8.1-4).
O sangue de Estêvão se tornou a semente do cristianismo gentio. Os cristãos
foram impulsionados a pregar o evangelho a todos: "E os que foram
dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à
Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra senão somente
aos judeus" (At 11.19).
Não há dúvidas de que a morte
de Estêvão foi um grande fator motivador na vida de Paulo, que, depois de se
converter, jamais esqueceu-se do exemplo do primeiro mártir cristão. Prova
disso foi a sua oração, em Atos 22.20: "E, quando o sangue de Estêvão, tua
testemunha, se derramava, também eu estava presente, e consentia na sua morte,
e guardava as vestes dos que o matavam". Deus tem os seus propósitos.
Aceitemo-los.
Há quase dez anos, Deus
chamou para a sua glória o conhecido pregador Valdir Nunes Bícego. Sofri com a
sua partida, pois foi ele quem me encaminhou ao ministério, segundo a vontade
do Senhor. Além disso, quatro meses antes de sua partida para a glória, vinha
eu auxiliando-o na Assembléia de Deus da Lapa, em São Paulo, a seu pedido.
Desde o dia em que o vi pregar, passei a me esforçar para não perder nenhuma de
suas mensagens, verdadeiramente recebidas do Senhor.
Em julho de 1993, na
Assembléia de Deus da Lapa, em São Paulo, ensinando acerca dos dons concedidos
aos crentes, ele apontou em minha direção, em meio à multidão, e disse:
"Irmão, você que recebeu o dom de Deus para escrever, mande um artigo para
o Mensageiro da Paz". No dia seguinte, ainda surpreso, enviei um texto,
que escrevera havia algum tempo, ao Setor de Jornalismo da CPAD. E, meses
depois, com a publicação do artigo, tive a confirmação de que Deus falara
comigo profeticamente (cf. Ez 33.33).
Jamais conheci uma pessoa que
reunisse tantas qualidades como Valdir Bícego. De alguma forma, ele era usado
com todos os dons ministeriais (Ef 4.11). Sim, ele era um mestre, um pastor, um
evangelista, um profeta e, sem dúvidas, um apóstolo do Senhor. Quem o conheceu
de perto como eu, pode, sem medo de cometer exageros, fazer tal afirmação.
Valdir Bícego era um homem
sério, discreto e simples. Não gostava de elogios, temendo receber a glória que
pertence só a Deus (Is 48.11). Com a modéstia que lhe era peculiar, enfatizava:
"Irmãos, eu sei pouco, mas aprendi certo". Para quem não sabe, ele
aprendeu aos pés de homens como Cícero Canuto de Lima e Eurico Bergstén, sempre
mencionados em suas preleções.
Seu pastorado foi marcado
pela humildade e pela fidelidade. Quando alguém o elogiava, em datas
comemorativas, ele fazia questão de ler Salmos 118.23: "Foi o Senhor que
fez isto, e é coisa maravilhosa aos nossos olhos". Seu ministério foi
semelhante ao de Samuel, cujas palavras não caíram por terra (1 Sm 3.19). Seu
amor à Palavra e à evangelização, sua sinceridade e, principalmente, sua
humildade sempre me inspirarão.
Comparo a passagem de Valdir
Bícego para a eternidade à de Estêvão. Deus o "arrebatou", por assim
dizer, com o objetivo de realizar uma obra ainda maior por meio de nós. A morte
desses dois servos do Senhor, no auge de seus ministérios, quando ainda tinham
muito a oferecer, não ocorreu por acaso.
E este livro é uma prova de
que o pastor Valdir não morreu em vão. Glória seja dada ao maravilhoso nome de
Jesus!
No próximo capítulo, quero
falar um pouco mais sobre o culto a Deus. Você sabe o que é um culto
genuinamente pentecostal?
Capítulo 7
QUE CULTO É ESTE
VOSSO?
Que fareis, pois, irmãos?
Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem
língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. 1 Coríntios 14.26
Li, há algum tempo, um belo
testemunho sobre três crentes de uma pequena congregação que, acompanhando o
seu pastor, subiram a um monte, a fim de participarem de um culto. Confesso que
não vejo com bons olhos reuniões em montes, devido a algumas razões que
omitirei por enquanto. Mas fiquei impressionado com a história que passarei a
narrar. Trata-se de um culto verdadeiramente pentecostal.
Ao chegarem ao monte, que era
muito alto, o pastor e os três irmãos mencionados se encontraram com mais dois
servos de Deus, com quem o pastor começou a conversar. A glória do Senhor se
manifestou naquele local, e o rosto do pastor passou a brilhar, literalmente e
de maneira muito intensa.
Quanto à sua roupa, ficou
toda branca, tão branca, que também brilhava... De fato, a glória de Deus
naquele lugar era imensa e incontestável.
Um tanto distantes dos outros
dois e do pastor, os três crentes que a este acompanhavam não viram gravetos
pegando fogo, objetos voadores, tampouco as suas mãos verteram óleo, como
afirmam certos freqüentadores de montes. Também não ocorreu nenhuma seção de
transferência de unção. Contudo, eles não tiveram dúvida de que Deus estava
presente. Um deles, inclusive, tentou, sem sucesso, dizer algo ao pastor...
Nesse momento, ecoou uma grande voz do Céu, fazendo com que eles se lançassem
sobre os seus rostos, com grande temor.
Vendo-os amedrontados, o
pastor lhes disse: "Fiquem de pé; não tenham medo". E eles se
levantaram, tendo a certeza de que Deus verdadeiramente se manifestara entre
eles. Que culto memorável! Além de terem sentido e visto a glória do Senhor,
ainda ouviram a sua voz! Isso que é culto no monte, não é mesmo?
Diante do exposto, o leitor
deve estar pensando: "Por que o irmão Ciro não cita nomes? Eu queria tanto
saber quem foram esses irmãos e esse pastor... Onde isso aconteceu?" De
fato, eu procuro não mencionar nomes, principalmente se estou tratando de
coisas negativas, porém não é esse o caso. Posso dizer, sem nenhum problema,
quem são os personagens envolvidos nesse belo testemunho...
Você quer saber mesmo maiores
detalhes desse culto? Bem, o nome do monte é Hermom, ao norte da Galiléia, e os
três irmãos que testemunharam esse culto foram os apóstolos Pedro, Tiago e
João. Sabe quem é o pastor? O Bom Pastor, Jesus Cristo. E os dois servos de
Deus que conversaram com Ele? Moisés e Elias. Mas, quem bradou do Céu? Deus, o
Pai.
Agora, me responda, com
sinceridade: Diante de tamanha manifestação da glória de Deus, ninguém foi
arremessado ao chão, cheio de poder? Ninguém recebeu a unção do riso? Nenhuma
pessoa bateu os braços, como se quisesse levantar vôo? Ninguém latiu? Nenhum
irmão caiu ao chão estrebuchando-se? Não houve nenhum "aviãozinho"?
Ninguém desceu do monte engatinhando? E o "reteté", não aconteceu?
Estou confuso... Afinal, eu
não imaginava que, num culto tão glorioso, com a presença real de Jesus Cristo
transfigurado e de convidados tão ilustres, não ocorressem tais manifestações
exóticas... Será que os super-pregadores norte-americanos e seus fiéis
super-seguidores brasileiros poderiam responder a essas perguntas?
PERIGOSOS EXTREMOS
Tenho sido questionado sobre
algumas aberrações que vêm ocorrendo em ajuntamentos que chamam de cultos a
Deus, em que pregadores e cantores vestidos como astros do mundo, diante de uma
platéia eufórica, fazem o que bem entendem, e ainda afirmam que tudo o que
realizam é para agradar a Deus, e com a permissão dEle. De uns tempos para cá
surgiram unções diversas, como já vimos nesta obra.
Quando em uma igreja se dá
pouca ou nenhuma ênfase à sã doutrina, a possibilidade de surgirem heresias e
manifestações estranhas é muito grande. Infelizmente, alguns líderes não
incentivam os crentes a freqüentar a Escola Bíblica Dominical e a tomar parte
nos cultos de ensino. Em decorrência disso, estão aparecendo expressões
esquisitas em nosso meio, como: "segura a bola de fogo",
"contempla o varão de branco com a espada na mão" e a já mencionada
"reteté de Jesus".
Como deve ser o nosso culto a
Deus? Em Romanos 12.1, está escrito que deve ser racional. Isso significa que,
apesar de haver liberdade para a multiforme operação do Espírito Santo na vida
dos salvos (1 Co 12.6,7), é inadmissível que haja em nossas reuniões exageros
ou modismos. Afinal, se deixarmos de fazer uso da razão, poderemos cair no erro
de inventar práticas e atribuí-las ao Espírito de Deus, mesmo que sejamos
crentes espirituais.
O salvo em Cristo deve evitar
dois extremos: o fanatismo e o formalismo. O primeiro consiste na adoção de
práticas exageradas e extrabíblicas, enquanto o segundo rejeita qualquer
manifestação, sob o pretexto de não correr riscos. Como evitar esses extremos?
A Palavra de Deus responde: "... crescei na graça e conhecimento de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2 Pe 3.18). Quem quiser crescer só na
graça, fatalmente se tornará um fanático. E, quem buscar só o conhecimento, não
terá como escapar da frieza espiritual.
Para crescer na graça, o
caminho é sempre o mesmo: oração, meditação na Palavra, jejum, consagração a
Deus, bem como uma vida de piedade e santificação. Mas, para crescer em
conhecimento, é preciso estudar com dedicação a Palavra de Deus e,
principalmente, obedecer aos seus ensinamentos.
Grandes avivamentos ocorridos
no século passado se desviaram da vontade de Deus ou acabaram por falta de
observância ao que o Santo Livro ensina sobre a autêntica operação do Espírito
Santo.
MENINOS? SÓ NA MALÍCIA
Vivemos em uma época de
muitos modismos. Fala-se em rir, rugir, cair, pular e dançar de poder. Em 1
Coríntios 14, encontramos conselhos importantes quanto ao comportamento do
cristão em um culto. No versículo 20, está escrito: "Irmãos, não sejais
meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no
entendimento". Menino, negativamente, é aquela pessoa que não tem
discernimento, que pode ser facilmente influenciada por doutrinas errôneas (Ef
4.14). Segundo o autor de Hebreus, somente pela observância à doutrina bíblica
poderemos passar para o estágio de adulto (Hb 5.11-14).
Outro conselho importante
está em 1 Coríntios 14.32: "E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos
profetas". Alguns crentes pensam que o Espírito Santo se incorpora no
profeta e suprime a sua personalidade no momento da profecia. Entretanto, no
Novo Testamento não encontramos nenhum servo de Deus profetizando fora de sua
razão. E, nos tempos do Antigo Testamento, os profetas empregavam a expressão
"Assim diz o Senhor", demonstrando que transmitiam conscientemente a
mensagem do Senhor.
Há pessoas que, para
profetizar, precisam marchar, correr pelos corredores do templo ou encostar a
sua testa na cabeça daquele que está recebendo a mensagem. Nada disso é
necessário. A Bíblia se limita a dizer: "E falem dois ou três profetas, e
os outros julguem" (1 Co 14.29). Atitudes no mínimo infantis, como cair ao
chão, andar como quadrúpedes e imitar sons de animais, devem ser rejeitadas por
aqueles que conhecem a sã doutrina.
Finalmente, Paulo ensina, no
versículo 40: "Faça-se tudo decentemente e com ordem". Se uma irmã
cai ao chão em uma posição desfavorável, isso é decente? E o que dizer de um
culto em que todos batem palmas, pulam, dançam, gritam, como se estivessem em
um show ou em um estádio de futebol? Não é pecado saltar em um momento de
extrema alegria (cf. At 3.8), mas transformar essa prática em regra é um
exagero, uma extravagância.
Paul Gowdy, na conclusão de
sua famosa carta, pela qual denuncia as aberrações da "bênção de
Toronto", lamenta:
Esta é minha história. Poderia
continuar apresentando farta documentação dos excessos, loucuras, extravagâncias
e pecados.
Cantamos sobre o exército de
Joel e o avivamento de bilhões como se fossem os dez mandamentos; e, como
sempre, parece que o avivamento já está chegando, dobrando a esquina. No
próximo mês, no próximo ano, etc. Jesus falou que, quando o Filho do homem
voltar, encontrará fé na terra? Esta é a mensagem dominador a que tem sido
ensinada em todo movimento profético, espiritual, especialmente do Vineyard.
Às vezes imagino que eles
pensam que vão dominar o mundo todo! Mas foi lá no Vineyard que aprendi uma
frase de Paulo de que não devemos ir além da palavra escrita.
Falando em excessos, loucuras
e extravagâncias...
AVIVAMENTO EXTRAVAGANTE?
Os modismos não param de
surgir, a cada dia. Combatê-los é quase como tirar água do oceano com um pequeno
balde ou uma caneca. Mesmo assim, continuarei fazendo a minha parte juntamente
com os "sete mil" que se esforçam para não ultrapassarem o que está
escrito.
Como se não bastasse a
chamada adoração extravagante — que, em geral, pouco tem de adoração e muito de
extravagância —, há agora um movimento, formado por pessoas de várias
denominações, levantando e tremulando, literalmente, a bandeira de um tal
avivamento extravagante. Isso mesmo.
Em suas reuniões, os seus
"ungidos" abanam o povo com uma bandeira ou um paletó, e muitos
começam a cair, rodopiar como se fossem porta-bandeiras de escolas de samba,
etc.
Os propagadores desse
"avivamento" dizem que ele existe para manifestar a glória do Senhor
entre as nações, mas, pelo que vi, assistindo a alguns vídeos, eles não têm
nenhum compromisso com a Palavra de Deus e o Deus da Palavra. Seguem a seus
impulsos. E todo pretenso avivamento dissociado da Bíblia é um campo fértil
para o surgimento de heresias. Que o diga o ex-participante da "bênção de
Toronto", o pastor Paul Gowdy, cujo testemunho — mencionado nesta obra —
serve de alerta para todos nós.
Eles afirmam que pessoas que
aprenderam a se render de espírito e alma ao Espírito Santo, e de maneira
extravagante, terão o privilégio de influenciarem uma geração. Dizem:
"...estamos comprometidos em dar liberdade para o Espírito extravazar em
nós e através de nós o seu poder" (note que sequer sabem escrever o verbo
"extravasar"). O que é isso? A Bíblia perdeu a sua eficácia? Não são
mais a oração e o jejum, a meditação na Palavra, a humilhação, a vida de
santificação, a renúncia e a pregação do evangelho que fazem a diferença?
O crente vitorioso, que
resplandece como astro em meio às trevas (Fp 2.15) é o extravagante? Devemos
arrancar da Bíblia 1 Coríntios 14, posto que não é mais necessário haver ordem
e decência na casa de Deus? Ou não seria melhor, numa atitude extravagante,
queimarmos todas as Bíblias e livros que defendam o evangelho de Cristo — já
tive alguns livros rasgados e queimados! — e pormos uma venda em nossos olhos,
seguindo, sem medo de sermos "felizes", a esse pseudo-avivamento
extravagante?
WESLEY E MOODY: "NADA TEMOS COM
VOCÊS"
Os extravagantes do nosso
tempo dizem que será quase impossível para os escritores descreverem o mover de
Deus na vida dos que se entregarem de corpo e alma aos seus impulsos. Creio que
será difícil mesmo relacionar todas as heresias que esse movimento tem
propagado, levando pessoas descrentes a seguirem a um falso evangelho e
desviando os servos de Deus do caminho da verdade.
Eles afirmam que avivamentos
são períodos nessa dispensação da graça em que o Espírito Santo manifesta os
poderes da era vindoura de modo intenso e extravagante, rompendo com paradigmas
religiosos e equívocos teológicos dentro das igrejas.
Vejam que falta de bom senso:
promovem desordem na casa de Deus, derrubando pessoas e agindo à margem da
Bíblia, e ainda dizem que estão rompendo com equívocos teológicos!
Uma prova de que não sabem do
que estão falando é o fato de, ao discorrerem sobre avivamentos, misturarem
nomes de homens de Deus com os de super-pregadores que desprezam a Bíblia.
Citam Lutero, João Bunyan, Wesley, Whitefield, Finney, Jorge Muller, Hudson
Taylor, Spurgeon, Moody... Mas depois mencionam gurus da confissão positiva,
como o já citado B.H. e seus discípulos triunfalistas.
Homens de Deus como Finney,
Moody e Wesley nada têm que ver com esse pseudo-avivamento extravagante! Eles
amavam as Escrituras e se submetiam à vontade do Senhor. No tempo em que
andaram na Terra não havia "encontros de avivamento extravagante" em
que os crentes aprendiam "princípios de transferência espiritual e como
gerar uma atmosfera de milagre, cura, libertação e adoração profética".
Não! Eles pregavam Jesus, Jesus, Jesus... É disso que precisamos!
JOÃO BATISTA: "NÃO ME ENVOLVAM
NISSO!"
Os propagadores desse falso
avivamento dizem ter base bíblica e admirar personagens como Isaías, Jeremias,
Davi, Asa, Josafá, Ezequias, Daniel, Josias, Zorobabel, Joel, Esdras, Neemias e
João Batista. Ora, esses homens não foram perfeitos em absoluto, porém andaram
segundo a vontade de Deus, obedecendo à sua Palavra. Querem os
"avivalistas" fazer o mesmo?
Afirmam em seu site que têm
viajado por todo mundo em busca de avivalistas descompromissados com todo e
qualquer limite, dispostos a extravasar... Bem, eles não devem ter dificuldade
para encontrá-los. Há muitos super-pregadores não chamados por Deus
oferecendo-se para pregar. E os tais não se preocupam em enganar o povo de Deus
e desobedecer à sua vontade, contanto que sejam bem pagos...
Nas reuniões extravagantes, a
impressão que se tem, à primeira vista, é que não há ventiladores nem ar
condicionado no ambiente de culto, sendo necessário alguém abanar o povo...
Mas essa prática descabida e
contrária ao culto do Novo Testamento é uma maneira de derrubar pessoas, quer
por sugestão, quer por influência do mal. Infelizmente, onde a Bíblia não é
pregada com verdade, os demônios têm liberdade de agir, como disse Paul Gowdy,
na carta citada neste livro.
Por tudo isso, é um absurdo
dizerem-se admiradores de homens de Deus como João Batista, um enviado de Deus
(Jo 1.6), que não fez sinal algum, mas tudo quanto disse do Senhor Jesus Cristo
era verdade (Jo 10.41). Estão esses extravagantes dispostos a perderem a cabeça
pela verdade? Creio que não, pois já "perderam a cabeça", em outro
sentido, ao rejeitarem o culto racional.
O MINISTÉRIO DO ESPÍRITO ADVERTE...
De acordo com 1 Timóteo 4.1,
o ministério do Espírito Santo adverte que nos últimos dias crentes apostatarão
da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios. E não é
isso que estão fazendo os extravagantes do nosso tempo?
Dizem eles que seguem a uma
teologia livre, e o crente que a abraça pode extravasar-se, "deixar
transbordar", sem nenhum limite. Justificam-se quanto à significação
pejorativa do termo "extravagante" — esquisito, excêntrico, estranho
—, afirmando que ele vem sendo mal interpretado por "religiosos",
como chamam aos servos de Deus que desejam andar segundo as Escrituras.
Aos que os criticam, à luz da
Palavra de Deus, "humildemente" respondem: "... chame-nos de
extravagantes, espontâneos, estrambólicos, estranhos ou esquisitos... todos
esses adjetivos estão valendo... o importante é render-se ao Espírito!"
Mas, será que o verdadeiro
Espírito Santo — haja vista existirem falsos espíritos que se passam pelo
Consolador (2 Co 11.4; 1 Jo 4.1) — apóia toda essa sublevação?
Valem-se eles, ainda, de um
quase desconhecido dicionário da língua portuguesa, em que a palavra
"extravagante" é definida como "fora do comum; singular;
estranho; diferente", para tentar associar esse sentido à vida de Jesus!
Afirmam que Ele também veio "extravasar" na Terra e quebrar inúmeros
paradigmas religiosos. Em seu site "teológico", apresentam o que
chamam de "a Teologia do Avivamento Extravagante", pela qual
asseveram que o Senhor e inúmeros personagens bíblicos foram extravagantes em
seu relacionamento com o Pai.
Assim comportam-se as pessoas
que abraçam a apostasia: primeiro viram as costas para a Palavra de Deus e
depois procuram desculpas e justificativas na própria Bíblia! O Justo Juiz os
espera naquele grande Dia para dizer-lhes abertamente: "Nunca vos conheci;
apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade" (Mt 7.23).
Por isso, jamais deixemos os
verdadeiros elementos de um culto ao Senhor: "... cada um de vós tem
salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo
para a edificação" (1 Co 14.26). Sejamos, pois, animados, vibrantes,
efusivos, porém não nos esqueçamos da ordem, da decência e do equilíbrio. A
Bíblia é nossa regra de fé, de prática e de vida.
ONDE ESTÁ O PENTECOSTALISMO BÍBLICO?
Sim, caro cessacionista, o
pentecostalismo bíblico existe, a despeito de todas as aberrações aqui
denunciadas! O pentecostalismo clássico tem desaparecido por falta de
compromisso com a Palavra de Deus. Por isso, muitos líderes — inclusive alguns
ditos pentecostais — vêm desprezando, ainda que de maneira velada, os dons
espirituais, ignorando os mandamentos contidos em 1 Tessalonicenses 5.19,20:
"Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias".
Outros há que não desprezam
os dons do Espírito, porém fazem mau uso dessas ferramentas espirituais,
acreditando que têm permissão para manipulá-las a bel-prazer. Pensam que podem
profetizar quando bem entendem e dizer a bel-prazer expressões como "Assim
diz o Senhor" e "Eu profetizo sobre a sua vida".
A transmissão de mensagens
proféticas em primeira pessoa pode ocorrer em um culto genuinamente
pentecostal. Se alguém de fato é portador de uma mensagem divina, pode dizer
como os profetas do Antigo Testamento: "Assim diz o Senhor". Eles
eram apenas canais ou meios pelos quais o Senhor falava. Na verdade, eram vasos
nas mãos do Oleiro. Por outro lado, considero o cumprimento da mensagem
profética mais importante do que a forma como o profeta a transmite (Ez 33.33;
Dt 18.21,22; Jr 28.9).
No Novo Testamento, vemos
que, na igreja de Antioquia, havia profetas, que serviam a Deus e jejuavam.
Quando lemos em Atos 13 que o Espírito Santo falou, isso ocorreu por meio
desses profetas, e a mensagem foi em primeira pessoa: "Apartai-me a
Barnabé e a Saulo para a obra que os tenho chamado" (v.2). O versículo 4
diz que eles foram enviados pelo Espírito Santo; na verdade, foi a igreja que
os enviou, mediante a orientação e a direção do Espírito. Assim é a profecia: o
Espírito fala por meio de pessoas.
Eu entendo o porquê de muitos
atacarem o pentecostalismo. Da maneira como os dons espirituais estão
banalizados hoje, qualquer falso profeta, nas igrejas, pode falar em primeira
pessoa, e o povo, por falta de conhecimento e discernimento, pode ser enganado.
Somente o ensino da Palavra de Deus e a postura firme de obreiros
verdadeiramente chamados pelo Senhor podem conter esses desvios e reverter esse
quadro.
COMO DEVE SER A PROFECIA?
Sabemos que o ministério
profético do Antigo Testamento terminou, e não a profecia como dom do Espírito
Santo. A Bíblia diz que os profetas profetizaram até João Batista (Mt 11.13).
Hoje, não se consulta mais profetas, como naquele tempo, mas Deus ainda fala
profeticamente, segundo a sua soberana vontade (1 Co 12.11).
Entretanto, nem todos são
profetas. Os responsáveis por essa maneira irresponsável de
"profetizar" gritando ao microfone: "Profetize para o seu
irmão" ou "Profetize para você mesmo isso e aquilo" são os
animadores de auditório e os cantores-ídolos, que dão de ombros para as
Escrituras. Esses não têm compromisso com a sã doutrina, pois a Palavra de Deus
afirma, claramente, que nem todos são profetas (1 Co 12.29-31).
É lamentável quando, num
culto, os crentes são estimulados a repetirem "palavras mágicas",
como se fossem profecias. A bem da verdade, o correto seria que apenas dois ou
três, num culto genuinamente pentecostal, profetizassem, para que os outros
pudessem julgar, isto é, discernir, analisar o que está sendo proferido (1 Co
14.29,30).
Reafirmo, entretanto, que há
sim profetas de Deus nos dias de hoje, e eles se dividem em dois grupos. Há os
que servem nas igrejas de Deus como ministros chamados por Ele, pois o Senhor
deu dons aos homens (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores)
para o aperfeiçoamento do ministério (Ef 4.8-12). E existem também profetas e
profetisas usados pelo Espírito, dentre o povo de Deus, durante o culto
coletivo, com o dom de profecia. A descrição completa do uso desse dom, em
detalhes, é apresentada em 1 Coríntios 14.
O segredo para agradarmos a
Deus e sermos beneficiados por essas maravilhosas ferramentas e armas
espirituais, que são os dons do Espírito Santo, é andar de acordo com a Bíblia,
e não segundo o que pensamos ou sentimos. Como diz a Palavra de Deus, "Se
alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo
são mandamentos do Senhor" (1 Co 14.37).
PROCURA-SE QUEM SAIBA DIRIGIR UM CULTO
Estão em extinção os obreiros
sábios, cuidadosos, amantes da Palavra de Deus, que não entregam o púlpito para
manipuladores de auditório nem deixam o chamado "louvorzão" suprimir
o tempo inegociável da exposição bíblica. Até quando vocês ficarão olhando a
banda passar? Até quando continuarão inertes, como estátuas? Até quando fugirão
da responsabilidade? Acordem, ministros do Senhor! Deus espera atitude de vocês
(Ap 2.20-22).
Vejo com muita preocupação o
fato de os nossos cultos estarem cada vez mais cheios de atrativos para o povo.
É como se houvesse a necessidade de agradar os dizimistas e ofertantes, a fim
de que eles não procurem outro lugar para se congregar.
Tudo isso é reflexo de uma
liderança sem compromisso com a Palavra, que abre mão da vontade de Deus para
satisfazer a sua própria vontade, a do povo e, num último estágio, a do Diabo.
Como já vimos, o culto a Deus
deve ter salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação (1 Co 14.26). Esses
são os elementos do genuíno culto pentecostal. Mas, o que ocorre hoje? Excesso
de salmo — se é que podemos chamar as cantorias intermináveis de salmo! — e
acréscimos injustificáveis: danças, números teatrais, etc. Quanto tempo sobra
para a exposição da Palavra?! A bem da verdade, em alguns lugares nem fazem
mais questão de ouvir uma explanação bíblica...
Um culto precisa de salmo,
isto é, de cânticos de louvor, mas na medida certa, pois para todo propósito
debaixo do Sol há tempo e modo (Ec 8.6). Se até mesmo os louvores fora do tempo
não glorificam a Deus, o que diremos das cantorias, com danças, que balançam o
corpo, e não o coração? Por que essa parte está cada vez mais demorada? É
porque os "hinos" são compostos para shows e lançamentos de CDs e
DVDs, onde não há exposição da Palavra e muito, muito, muito tempo para cantar
e dançar... Num culto, tudo deve ser dinâmico e objetivo.
"ESTOU CHEIO DO FUROR DO SENHOR"
Em Jeremias 6.10, o profeta
disse: "A quem falarei e testemunharei, para que ouça? Eis que os seus
ouvidos estão incircuncisos e não podem ouvir; eis que a palavra do SENHOR é
para eles coisa vergonhosa; não gostam dela". Quando o profeta disse isso,
estava cheio de furor em razão de o povo não gostar da Palavra de Deus.
"Pelo que estou cheio do furor do SENHOR" (v.11), completou Jeremias.
Já fui acusado por pessoas
que adotam uma postura de fã de estar cheio de ódio. Isso porque tenho
verberado contra heresias e modismos de seus super-pregadores e
cantores-ídolos. Mas, sabe de uma coisa? Eles até que estão certos! Afinal, se
o profeta Jeremias estava cheio de furor, isto é, de ira, fúria, da parte do
Senhor, em razão do descaso para com a Palavra de Deus, por que eu não posso
estar cheio de ódio pelo mesmo motivo?
Sim, eu também estou cheio de
fúria, ira, furor, ódio... Quer saber de quê?
Tenho ódio das cantorias
intermináveis, haja vista diminuírem ou suprimirem, nos cultos, o tempo
destinado à exposição da Palavra de Deus. Por graça de Deus, tenho sido
convidado para pregar desde os meus dezoito anos, e em alguns lugares fico com
a impressão de que, se pudessem, excluiriam a pregação do programa...
Entretanto, em seu ministério, Jesus pregou e ensinou muito mais do que cantou.
Ao denunciar a atitude de
líderes que não respeitam a Palavra de Deus, John F. MacArthur Jr. verberou:
"Eles estão consentindo que a dramatização, a música, a recreação, o
entretenimento, os programas de auto-ajuda e iniciativas semelhantes eclipsem o
culto e a comunhão dominical tradicionais. Aliás, na igreja contemporânea tudo
parece estar na moda, exceto a pregação bíblica. O novo pragmatismo encara a
pregação (particularmente, a pregação expositiva) como antiquada" (Com
Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, p.8).
Tenho ódio de shows e toda a
sua parafernália, que ajuntam milhares de pessoas, levam-nas ao delírio, mas
também as afastam da Palavra de Deus, da manifestação genuína dos dons
espirituais, da reverência, da verdadeira adoração em espírito e em verdade,
etc. "Ah, mas muitas pessoas vão à frente", alguém dirá. Oh, sim, é
verdade, porém não há base bíblica para justificar erros valendo-se de supostos
acertos. Já pensou se alguém passasse a noite toda com uma chamada mulher de
vida fácil, e depois dissesse: "O importante é que eu a evangelizei"?
John F. MacArthur Jr. também
afirmou: "A metodologia tradicional — especialmente a pregação — está
sendo descartada ou menosprezada em favor de novos métodos, tais como
dramatização, dança, comédia, variedades, grandiosas atrações, concertos
populares e outras formas de entretenimento.
Esses novos métodos são
supostamente, mais 'eficazes', ou seja, atraem grandes multidões. E, visto que,
para muitos, a quantidade de pessoas nos cultos tornou-se o principal critério
para se avaliar o sucesso de uma igreja, aquilo que mais atrair público é
aceito como bom, sem uma análise crítica. Isso é pragmatismo" (Com
Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, p.8).
Tenho ódio do novo estilo de
vida "cristão", seguido pela "geração de adoradores-fãs",
que citam letras de canções e chavões de animadores de auditório de cor e
salteado, porém desconhecem o ABC da Bíblia. Afirmam, quando alguém os questiona:
"Eu acho isso; eu acho aquilo". Nenhum deles se posiciona com base na
Palavra de Deus (1 Pe 3.15; 2 Tm 2.15).
Pergunte a esses
"fã-náticos" de plantão se eles sabem de fato o que é salvação,
graça, misericórdia, vida cristã, evangelização, fazer discípulos,
santificação, fruto do Espírito, dons espirituais, renúncia, culto racional,
reverência, etc. Pergunte a eles se sabem o que é o Arrebatamento da Igreja, e
o que acontecerá nesse grande Dia. Será que sabem diferençar o Tribunal de
Cristo do Trono Branco? Sabem o que será a Grande Tribulação? Lêem eles a
Bíblia Sagrada e oram diariamente? Freqüentam a Escola Bíblica Dominical?
Tenho ódio dessa
superfluidade que impera no meio evangélico, a qual tem levado muitos crentes a
valorizarem o que não tem valor, e desprezarem o que verdadeiramente é
precioso.
Em sua contundente obra, já
citada — Com Vergonha do Evangelho (pp.6,13,100) —, John F. MacArthur Jr.
também denunciou:
Tolera-se a má doutrina;
porém, um sermão mais longo, esse não.
O momento da impetração da
bênção é muito mais importante para o típico freqüentador de igreja do que o
conteúdo da mensagem. O almoço de domingo e o alimento físico são mais
importantes do que a escola dominical e a nutrição de nossas almas. Prolixidade
se tornou um pecado maior do que a heresia (...)
Nos últimos cinco anos,
algumas das maiores igrejas dos Estados Unidos têm utilizado de recursos
mundanos, tais como comédia "pastelão", peças cômicas entremeadas de
música, exibições de luta livre e até mesmo imitações de "strip-tease",
para tornar um pouco mais atrativas suas reuniões dominicais...
O conceito de que a igreja
precisa se tornar como o mundo afim de ganhar o mundo para Cristo alcançou o
evangelicalismo como uma tempestade súbita. Hoje, cada atração mundana contemporânea
tem sua imitação "cristã". Temos grupos de motociclistas cristãos,
equipes cristãs de musculação, clubes cristãos de dança, parques de diversão
cristãos, e já li sobre a existência de uma colônia de nudismo cristã.
Muitos jovens, que podiam passar
a noite orando e estudando a Palavra de Deus, divertem-se em bares
"evangélicos".
Isso graças ao relativismo e
às efemeridades que aprendem de seus cantores-ídolos e super-pregadores, que
não amam as Escrituras.
Tenho ódio de canções e
falações humanistas ou antropocêntricas, que levam o crente a supervalorizar o
poder de suas declarações de fé, esquecendo-se de depender inteiramente do
Senhor e submeter-se a Ele como servo. Essa geração de "sonhadores
apaixonados" não faz outra coisa a não ser profetizar isso e aquilo, na
hora em que bem entendem... "Somos boca de Deus na Terra", dizem. Mas
a verdadeira autoridade têm aqueles que valorizam a Palavra de Deus, e não as
suas palavras mágicas (Hb 4.12; Tg 5.17).
Mas não tenho ódio de nenhuma
pessoa. Não odeio nem o Diabo! Por quê? Ora, se eu odiá-lo, estarei me
igualando a ele! Eu aborreço, sim, as suas obras. Por isso, sigo a Cristo e me
sujeito a Ele (Tg 4.7), sendo fiel ao que a Palavra do Senhor diz em 1 João
3.8: "Quem comete pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o
princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do
diabo".
Não obstante, sei que é
praticamente impossível convencer os que estão no erro. É mais fácil passar um
camelo pelo fundo de uma agulha... É muito mais simples para eles me
considerarem um extremista, um extraterrestre, alguém que está na contramão ou
coisa parecida. Mesmo assim, insisto em dizer-lhes que é preciso voltar.
"Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é
o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas"
(Jr 6.16).
O assunto do próximo capítulo
é a necessidade de o crente saber discernir, em nossos dias, entre o bem e o
mal. Muitos não querem fazer isso, usando como desculpa o chavão: "Quem é
você para julgar?" Afinal, podemos ou não julgar? E, se podemos, como
fazer isso?
Capítulo 8
QUEM DISSE QUE NÃO
PODEMOS JULGAR?
Porque já é tempo que comece o
julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim
daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus? 1 Pedro 4.17
Quase todos os cristãos bem
informados admiram Martinho Lutero, considerando-o o protagonista da Reforma
Protestante. Não obstante, ninguém hoje quer que outra pessoa faça o que ele
fez... Onde estão os reformadores — pregadores, ensinadores, escritores,
articulistas, etc. —, homens e mulheres que tenham coragem de alertar o povo de
Deus?
Diante das contundentes
análises contidas nesta obra, pelas quais tenho abordado, com temor a Deus e à
luz da Bíblia, os desvios em relação ao verdadeiro evangelho, alguns leitores,
embora concordem no todo ou em parte com o que lêem, podem estar se
perguntando: "Cabe a nós julgar o que fazem os nossos irmãos? Quem somos
nós para julgar?"
Alguém também poderá dizer:
"Somos o único exército que mata os seus soldados". Este é um clichê
muito usado hoje em dia por super-pregadores e cantores-ídolos, com o objetivo
de incentivar os crentes a não submeterem a julgamento o que ouvem. Entretanto,
à luz da Palavra de Deus, podemos, sim, e devemos julgar tudo quanto vemos,
ouvimos e sentimos.
AS SETE "MARAVILHAS" DO MUNDO
"EVANGÉLICO"
Em julho de 2007, o Cristo
Redentor foi eleito uma das sete maravilhas do mundo! O símbolo do Rio de
Janeiro, que acolhe a chegada de turistas do mundo todo à chamada cidade
maravilhosa, assumiu seu lugar na nova lista de Maravilhas do Mundo ao lado de
seis outras obras: a Grande Muralha da China; a cidade helenística de Petra, na
Jordânia; a cidade inca de Machu Picchu, no Peru; a pirâmide de Chichen Itzá,
no México; o Coliseu, antiga arena de combates em Roma; e o túmulo do Taj
Mahal, na Índia.
Mas, você sabia que existem
também as sete "maravilhas" do mundo "evangélico", isto é,
as que mais fascinam boa parte das pessoas que dizem servir a Deus, na atualidade?
Quais são elas?
Prosperidade.
Esta, sem dúvida nenhuma, está em primeiro lugar, apesar de o Senhor Jesus ter
dito: "Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça..." (Lc
12.13-31). Dizem os super-pregadores e cantores-ídolos: "Muitos criticam
quem fala de prosperidade. Mas eu não falo sobre prosperidade; eu vivo
prosperidade. Eu não ando mais de fusquinha; tenho tudo do bom e do melhor. Se
você quiser ser como eu, passe a ofertar sempre com a maior nota que tiver em
sua carteira". Fazer o quê? O povo é manipulável, e muitos líderes não têm
coragem de combater esses que mercadejam a Palavra. Mas não se engane. Deus
haverá de julgá-los, a menos que se arrependam.
Ecumenismo.
O alvo hoje em dia não é pregar a verdade como ela é, e sim unir forças pelo
bem comum. A doutrina divide. Temos de nos unir. Por isso, a cada dia surgem
igrejas para todos os gostos... Já existem até igrejas "evangélicas"
lideradas por "pastores" que abdicaram do seu chamamento másculo!
Sabe qual é o lema deles? "O Senhor é o meu Pastor e me aceita como eu
sou". Que "ma-ra-vi-lha", não é mesmo?!
Teologicocentrismo. O negócio é não abrir mão das convicções teológicas, ainda que elas não
tenham apoio da Palavra de Deus! Se Calvino falou, está falado! Ainda que as
idéias de algum teólogo sejam contrárias à Palavra de Deus, não importa! Você
não acha isso "ma-ra-vi-lho-so"? A Bíblia fica em segundo plano. O
que vale é o que os nossos teólogos preferidos dizem!
Farisaísmo.
Esta "maravilha" também deve estar bem cotada por aqueles que se
dizem conservadores, mas são, na verdade, extremistas. Sabemos que ser
conservador à luz da Palavra de Deus é correto (Ap 3.11; 2 Tm 1.13; 1 Tm 6.20),
porém os pseudo-conservadores apreciam bastante a prática de "coar
mosquitos" e "engolir camelos" (Mt 23.24).
Antropocentrismo. Canções e falações — tidas como hinos e pregações — da moda colocam o
ser humano no centro de todas as coisas. "Determine a sua vitória",
"Você nasceu para ser um vencedor", "Profetize para você mesmo e
diga isso e aquilo". Estas são algumas das frases preferidas do mundo
"evangélico". Não tenho dúvidas de que o humanismo ou
antropocentrismo é uma das "maravilhas" daqueles "servos de
Deus" que vão aos cultos só para receber, receber, receber... O negócio
hoje é buscar a "restituição", invadir o terreno do Inimigo e pegar
de volta tudo o que ele roubou, além de quebrar maldições...
Extravagância. Não há dúvidas de que os shows, com muita dança, diversão, gritos
frenéticos, etc, façam parte desta lista de "maravilhas evangélicas".
E junto com eles as "baladas" gospel, as festas jesuínas, etc. Mas,
como nos dias dos profetas Isaías e Amós, Deus não recebe esse "som dos
adoradores extravagantes" (Is 29.13; Am 5.23). John F. MacArthur Jr.
disse, acertadamente: "As Escrituras dizem que os primeiros cristãos
viraram o mundo de cabeça para baixo (At 17.6). Em nossa geração, o mundo está
virando a igreja de cabeça para baixo" (Com Vergonha do Evangelho, Editora
Fiel, p.52).
Experiencialismo. Numa época em que super-pregadores visitam o "Céu" e falam
diretamente com "Deus Pai", "Jesus", "Paulo",
"Maria", anjos, etc, ninguém precisa mais ler um livro tão
"desatualizado" como a Bíblia, não é? Hoje muitos seguem aos seus
impulsos e recebem mensagens "proféticas" de galinhas ou ordem do
"Espírito" para andar como um leãozinho, marcam a vinda de Jesus para
um sábado de 2007, distribuem dentes de ouro, ministram a unção do riso e o
"cair no Espírito"... Que "maravilha"!
Alguém poderá perguntar:
"Em que lugar ficou o evangelho cristocêntrico? E a santificação? E a
renúncia? E o culto a Deus em verdadeira adoração, em espírito e em verdade? E
os genuínos dons espirituais? E a Escola Bíblica Dominical? E os bons costumes?
E a evangelização? E a oração? E o jejum? Será que, pelo menos, entraram na
lista?" Bem, como se vê, as "maravilhas" citadas têm um poder de
sedução muito maior sobre o mundo "evangélico", e as verdadeiras
maravilhas tendem a ser esquecidas...
Mas eu pergunto: Diante dessa
flagrante falta de interesse pela Palavra de Deus e da valorização do que não
agrada ao Senhor, devemos ficar calados? Devem os servos de Deus, capazes de
discernir entre o bem e o mal, ficar quietos? Não podemos julgar? Temos de
ficar olhando a banda passar?
COMO PAULO LIDAVA COM HERESIAS E MODISMOS
Vivemos numa época em que
prevalecem filosofias antibíblicas, como o pragmatismo, o relativismo, o
antropocentrismo e o utilitarismo mercantilista. A quantidade de pessoas que
seguem a um pregador ou a uma igreja é mais importante que o conteúdo de sua
mensagem. As igrejas-modelo são as que possuem megatemplos ou grandes
catedrais, e não as compromissadas com o evangelho de Cristo. Nesse contexto,
se um expoente pregar um falso evangelho, isso não importa, desde que ele reúna
multidões.
Qualquer pregador ou
escritor, nesses tempos pós-modernos, que combata ao erro não é visto com bons
olhos. No entanto, o apóstolo Paulo, asseverou, inspirado por Deus, que convém
imitá-lo, assim como imitava a Cristo (1 Co 11.1). Como o doutor dos gentios
lidava com os enganadores, suas doutrinas erradas e suas práticas descabidas? O
que ele pregava e ensinava?
Santa ironia. Para quem não
gosta das minhas ironias, lembre-se de que não sou eu quem comecei com isso.
Paulo foi irônico várias vezes ao refutar os enganadores. Veja como ele se
referiu aos falsos apóstolos de seu tempo: "Porque penso que em nada fui
inferior aos mais excelentes apóstolos" (2 Co 11.5). E não pense que esses
"falsos apóstolos" (v.13) ficaram felizes... Certamente, assim como
os hereges de nosso tempo e seus defensores, eles devem ter esbravejado contra
o apóstolo.
Mas ele se valia da ironia
para levar os enganadores e enganados a uma reflexão, ainda que, num primeiro
momento, se irritassem contra ele. Paulo não usava esse recurso apenas em
relação aos falsos obreiros; ele também fazia isso ao se dirigir aos irmãos
enganados: "Já estais fartos! Já estais ricos! Sem nós reinais! E prouvera
Deus reinásseis para que também nós reinemos convosco!" (1 Co 4.8). Alguns
crentes, naqueles dias, devem ter ficado muito irritados...
Firmeza.
Paulo era enérgico, quando necessário, e até usava expressões que muitos hoje
considerariam ofensivas. "Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou para não
obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já
representado como crucificado?" (Gl 3.1). Já pensou se Paulo vivesse em
nossos dias?!
Muitos já me acusaram de
desprezar o grupo tal, a cantora tal, o pregador tal... É bom que leiam a
Bíblia. Não sou obrigado a dizer "amém" para os famosos. E Paulo
faria o mesmo!
Ele também não disse
"amém" nem se impressionou com os famosos de seu tempo: "E,
quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro tempo,
não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que pareciam
ser alguma coisa, nada me comunicaram" (Gl 2.6).
Combate ao pecado. Engana-se
quem pensa que Paulo ficaria hoje em cima do muro e nada diria aos
super-pregadores e cantores-ídolos. Muitos líderes hoje ficam quietos ante as
más inovações advindas do mundo. Dizem, nos bastidores, que não aceitam isso e
aquilo entrando nas igrejas, mas não têm coragem de combater o pecado e as
inversões de valores. Há os que, inclusive, afirmam: "Isso é um sinal da
vinda de Jesus. Temos de aceitar a tudo isso em silêncio".
Paulo não pensava como muitos
mestres da pós-modernidade, que agem como se, em suas Bíblias, não houvesse
listas de pecados, como as registradas em 1 Coríntios 6.10, Gálatas 5.19-21 e 2
Timóteo 3.1-5. Pregar contra a avareza, o homossexualismo, a soberba e todas as
outras obras da carne é, para tais mestres da omissão, abraçar o que chamam de
legalismo.
DEVEMOS CITAR OS NOMES?
Alguns leitores me escrevem,
sugerindo que eu cite os nomes dos super-pregadores, cantores-ídolos, igrejas,
etc. Mas não faço isso porque não é minha intenção expor pessoas, e sim
combater ao erro. E, nesse caso, também estou imitando a Paulo. Ele fazia duras
acusações sem citar nomes: "Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos
disse e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo" (Fp
3.18). Leia também Romanos 1.22-32 e 1 Coríntios 6.10.
Como devem ter reagido as
pessoas do tempo do apóstolo envolvidas nos pecados mencionados por ele? Teriam
elas esbravejado? Ou preferiram reconhecer o erro, arrependendo-se diante do
Senhor? Ele não citava nomes, mas era possível saber, pelas dicas, de quem
estava falando: "Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e
enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca;
homens que transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém, por torpe
ganância. Um deles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são sempre
mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos" (Tt 1,10-12).
O doutor dos gentios não se
omitia quando via os crentes fazendo coisas erradas. Hoje, muitos dizem:
"Não devemos julgar. Deixemos com Deus". Mas veja como Paulo reagia:
"Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do
evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vive como os
gentios e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como
judeus?" (Gl 2.14).
Como se vê, quando
necessário, Paulo citava nomes. Vemos isso também em 2 Timóteo 4.10,14:
"Porque Demas me desamparou, amando o presente século... Alexandre, o
latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas
obras". Por que os fãs de super-pregadores e cantores-ídolos não criticam
o apóstolo Paulo pelo fato de ele expor pessoas?
Mas observe que ele evitava
fazer isso; só recorria a esse expediente em circunstâncias especiais.
JULGAR OU NÃO JULGAR?
Não há, pois, dúvidas de que
devemos julgar, provar, examinar, investigar, questionar, analisar, discernir,
principalmente nesses últimos dias, em que igrejas ditas evangélicas apresentam
vários desvios do evangelho de Cristo. Esse julgamento nada mais é que um exame
perspicaz de todas as coisas sobre o valor delas, realizado pelo crente
espiritual, temente a Deus e hábil nas Escrituras.
Segundo a Palavra de Deus,
não devemos desprezar pregações, ensinamentos, profecias, hinos de louvor a
Deus, bem como sinais e prodígios (At 17.11a; 2.13; l Ts 5.19,20). Porém, cabe
a nós provar, examinar se tudo provém do Senhor (At 17.11b; 1 Ts 5.21; Hb
13.9). Em 1 Coríntios 14.29 está escrito: "E falem dois ou três profetas,
e os outros julguem". E, em 1 João 4.1, lemos: "Amados, não creiais
em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos
falsos profetas se têm levantado no mundo".
Tudo deve ser julgado segundo
a reta justiça (Jo 7.24), e não pela aparência, por preconceito ou mágoa de alguém.
Jesus condenou o julgamento no sentido de caluniar, assumindo-se o papel de um
injusto juiz: "Não julgueis, para que não sejais julgados" (Mt 7.1).
Entretanto, no mesmo capítulo, Ele asseverou que temos de nos acautelar dos
falsos profetas e apresentou critérios pelos quais podemos julgá-los pelos seus
frutos, isto é, discernir as suas ações, prová-las, examiná-las (Mt 7.15-23).
O nosso julgamento se dá pela
Palavra de Deus (At 17.11; Hb 5.12-14), haja vista estar ela acima de mim, de
você, de qualquer instituição, de cantores-ídolos, de super-pregadores, de
anjos do céu (Gl 1.8), etc. Como já vimos nesta obra, ninguém está autorizado a
ir além do que está escrito na Bíblia (1 Co 4.6). A Palavra do Senhor foi
elevada em magnificência pelo próprio Deus, a fim de que ela seja a nossa fonte
máxima de autoridade (Sl 138.2).
PRECISAMOS DE DISCERNIMENTO
O que o apóstolo, inspirado
pelo Espírito, quis dizer em 1 Pedro 4.17: "... já é tempo que comece o
julgamento pela casa de Deus"? Ora, se alguém ainda pensa que não cabe a
nós julgar — e que o fato de reconhecermos os nossos erros e combatê-los
segundo a Bíblia é "matar soldados"—, é bom que reveja os seus
conceitos. Afinal, "... o que é espiritual discerne bem tudo..." (1
Co 2.15).
John F. MacArthur Jr. acertou,
ao discorrer sobre o episódio do julgamento de Ananias e Safira à luz 1 Pedro
4.17: "Com certeza, na Jerusalém do primeiro século havia outros pecadores
mais vis do que Ananias e Safira. Herodes, por exemplo. Por que Deus não o
fulminou? Na verdade, foi o que Deus fez posteriormente (At 12.18-23). Mas,
como escreveu Pedro, 'a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada'
(1 Pe 4.17). Deus julga seu próprio povo antes de voltar sua ira aos
pagãos" (Cora Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, p.66).
Alguém dirá: "É Deus
quem julga, e não nós". No caso de Ananias e Safira o julgamento divino
veio por meio do apóstolo Pedro. Isso denota que cabe a nós, sim, julgar, mas
de acordo com a sintonia que há entre o Corpo e a Cabeça (Ef 4.14,15; 1 Co
2.16; 1 Jo 2.20,27; Nm 9.15-22). As verdadeiras igrejas de Cristo são as que o
acompanham, o seguem, e não aquelas que seguem a seu próprio caminho. Em
Apocalipse 2 e 3 vemos exemplos de igrejas que agradavam a Jesus (a minoria) e
de outras, que não faziam a vontade dEle.
O julgamento deve ocorrer
também segundo o dom de discernir os espíritos dado às igrejas de Cristo (1 Co
12.10,11; At 13.6-11; 16.1-18). Mas a falta deste dom em algumas igrejas locais
faz com que os crentes se conformem com o erro e digam: "Quem sou eu para
julgar?", etc.
Precisamos julgar tudo com
discernimento vindo do alto e bom senso (1 Co 14.33; At 9.10,11). O crente não
deve se colocar no lugar de um promotor ou de um juiz. De fato, o Senhor é o
Justo Juiz. Entretanto, temos a Palavra de Deus, a ajuda do Espírito e ainda
sabedoria, prudência, bom senso, a fim de avaliarmos doutrinas, profecias,
manifestações, experiências, cânticos, estilos musicais, gestos, atitudes, etc.
JULGAMENTO SEGUNDO A BÍBLIA, MESMO!
Não devemos julgar de maneira
agressiva, ainda que sejamos contundentes, objetivos e francos ao apresentar os
nossos argumentos. Mas pessoas que reagem de maneira enérgica às críticas
baseadas na Palavra de Deus devem refletir se não estão fazendo isso por terem
um comportamento de fã. Afinal, fazer pouco caso da Bíblia para defender os
seus grupos, cantores ou pregadores preferidos não é uma postura de quem tem a
Bíblia como a sua fonte principal de autoridade. Vale a pena abrir mão das
Escrituras?
Quem prova se os espíritos
são de Deus deve saber lidar com a Bíblia (2 Tm 3.16,17; 1 Pe 3.15). Mas fazer
isso não implica apenas citar versículos isolados em apoio aos seus
pensamentos. Tenho recebido correspondências de pessoas que procuram contestar
o que digo, as quais se valem de referências bíblicas isoladas, pensando que os
seus argumentos estão fundamentados na Palavra. Que engano! Não basta fazer
citações bíblicas. É preciso saber citar versículos que estejam em harmonia com
o contexto. Faz-se necessário saber manejar bem a Palavra de Deus (2 Tm 2.15).
E manejar, nesta passagem, significa dividir, separar, sem misturar os
assuntos. Por exemplo, é comum os defensores de heresias e modismos citarem
Mateus 7.1, em razão da ênfase expressa de Jesus: "Não julgueis, para que
não sejais julgados".
Porém, o sentido de julgar,
aqui, como já vimos, é caluniar, como que assumindo o papel de um injusto juiz,
e não examinar, provar e refutar.
COMO JULGAR AS PROFECIAS?
No caso específico das
profecias, além dos fatores mencionados acima, devemos julgar de acordo com
cumprimento da predição. Em Ezequiel 33.33, está escrito: "Mas, quando
vier isto (eis que está para vir), então, saberão que houve no meio deles um
profeta". Por mais emoção que sintamos no momento em que recebemos uma
mensagem profética, só teremos a certeza de que ela de fato proveio do Senhor
no momento em que se cumprir (Dt 18.21,22; Jr 28.9).
Há alguns anos, certa
"apóstola" profetizou que Jesus voltaria num sábado de 2007. Neste
ano, correu a notícia de que a Segunda Vinda se daria em um dos sábados de
julho do mesmo ano. É claro que essa profecia não teve origem em Deus, pois Ele
não contrariaria a sua Palavra, segundo a qual "daquele dia e hora ninguém
sabe" (Mt 24.36; At 1.7; 1 Ts 5.1). Mesmo assim, alguns crentes — que crêem
mais em "profetas" do que na Palavra — esperaram o seu cumprimento
até o último sábado...
Existe uma exceção quanto ao
cumprimento. Algumas profecias, mesmo se cumprindo, não provêm de Deus. Há
milagreiros que prometem sinais e os realizam, mesmo não tendo compromisso
algum com a Palavra de Deus. Profetizam e fazem obras fenomenais, capazes de
deixar o público em êxtase, mas não amam ao Senhor nem fazem a sua vontade,
posto que não guardam a sua Palavra (Jo 14.23; Mt 7.21-23).
Acerca desses falsificadores
diz o Senhor, em Deuteronômio 13.1-3: "Quando o profeta ou sonhador de
sonhos se levantar no meio de ti e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal
sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses,
que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras daquele profeta ou
sonhador de sonhos, porquanto o SENHOR, VOSSO Deus, vos prova, para saber se
amais o SENHOR, vosso Deus, com todo o vosso coração e com toda a vossa
alma".
DEVEMOS JULGAR OS MILAGRES?
O saudoso pastor e pregador
do evangelho Valdir Nunes Bícego, em sua última obra literária — Lições
Bíblicas da CPAD (1o. trimestre de 1998) —, afirmou: "Toda e qualquer
manifestação, seja através de palavras, faladas ou escritas, ou atos, precisa
ser examinada. A única coisa que dispensa qualquer comentário é a Palavra de
Deus, pois é perfeita (Sl 19.7), provada (Sl 18.30), refinada (2 Sm 22.31) e
muito pura (Sl 119.140; Pv 30.5)".
Deus cura e faz prodígios
hoje? É claro que sim, pois Ele não mudou (Hb 13.8). Aliás, somente Ele faz
milagres, de fato (Êx 3.20; 7.3,4; Jl 2.30; Hb 2.4). E estes, posto que
verdadeiros, ocorrem para autenticar, confirmar e comprovar a pregação do
evangelho (Mc 16.15-20; Dt 29.3; Hc 2.4), bem como manifestar a glória do
Senhor e levar o povo a crer mais e mais em Jesus (Jo 2.11), dando cumprimento
à Palavra profética (Mt 8.17). Eles também acontecem para desfazer as obras do
Diabo (1 Jo 3.8; Lc 13.16) e para honrar os verdadeiros servos de Deus (Nm
16.28-32).
Quais são os propósitos dos
sinais e manifestações estranhas de nossos dias? Resultam em maior glória a
Deus e vidas mais santas? Atraem os perdidos a Cristo? Não! Os fenômenos,
apresentados hoje como novidades, têm deixado os crentes cada vez mais
confusos, além de afastá-los do estudo das Escrituras. Ademais, esses
"milagres" são feitos para os homens se tornarem celebridades.
Nesses últimos dias, os
milagreiros continuarão se promovendo com os seus fenômenos. Quanto aos
milagres divinos, feitos para a glória do Senhor, não paira nenhuma dúvida
sobre eles. Até mesmo pessoas que não crêem em Jesus reconhecem a sua
veracidade (Êx 8.16-19; Jo 9.1-25; At 3.1-16; 9.36-43; 13.6-12; 14.8-13).
Aprendamos, pois, com o Senhor Jesus, que jamais fez propaganda dos autênticos
milagres que realizava.
EXISTEM FALSOS MILAGRES?
Os fenômenos realizados pelos
milagreiros causam muitas divergências no meio do povo de Deus. Não são obras
divinas como curas, ressurreições e batismos com o Espírito Santo. São
manifestações exóticas, como cair ao chão e rir sem parar "pelo Espírito",
supostos emagrecimentos, crescimentos de cabelo em cabeças calvas, surgimento
de dentes de ouro e de ouro nos dentes, além do aparecimento de dinheiro em
contas bancárias...
Nas Lições Bíblicas da CPAD
(1º. trimestre de 1998), o saudoso pastor Valdir Nunes Bícego também asseverou:
"É perigoso afirmar que Deus pode operar outros milagres sem que estejam
inseridos no contexto bíblico, porque isso abre portas estranhas à Palavra,
como estamos vendo nestes últimos dias. Quando perguntavam a Jesus alguma
coisa, Ele respondia: 'Que está escrito... Como lês?' (Lc 10.26). Todos os
milagres devem ser aferidos pela Bíblia".
Se os propagadores desses
fenômenos fossem pessoas santas, as dúvidas seriam ainda maiores, pois
pensaríamos: "Como pode um homem santo, que anda segundo a vontade de Deus
operar tais sinais?" Mas os milagreiros da atualidade são avarentos,
antiéticos, interesseiros e propagadores de heresias.
Além disso, verberam
desrespeitosamente contra pastores, em suas espalhafatosas performances, etc.
Uma das perguntas mais
freqüentes quanto aos falsos milagres é esta: "Como fulano pode realizar
sinais e prodígios com o péssimo testemunho que possui e as heresias que
propaga?" Isso é possível em razão de as manifestações não emanarem de uma
mesma fonte. Os milagres podem ter três origens: divina (Êx 7.3,4; Jó 9.10; Sl
96.3; At 10.38); humana, no caso de artes mágicas; e diabólico, mediante sinais
e prodígios de mentira (2 Ts 2.9-11; 1 Jo 2.18).
Há, por conseguinte, dois
tipos de falsos milagres: os que não acontecem de fato, posto que o milagreiro
se vale de engano ou ilusionismo; e os que ocorrem por ação maligna.
Ilusionismo e engano.
Enganadores é que não faltam, nesses últimos tempos. Há alguns anos, foi
desmascarado certo milagreiro que simulava retirar objetos das pessoas.
Descobriu-se que tudo não passava de um truque barato. Ele escondia os mais
variados objetos em uma maleta, a fim de usá-los convenientemente. Ao esfregar
óleo sobre o corpo dos enfermos, expunha os tais artefatos ao público como se
os tivesse extraído do corpo dos "agraciados".
Alguns pregadores milagreiros
contam com equipes para enganar o povo de Deus. Enquanto eles falam que os
paralíticos vão andar, integrantes dos seus grupos levantam uma pessoa da
cadeira de rodas, segurando-a pelos braços. Em seguida, enquanto ela é mantida
em pé, os milagreiros descem no meio do povo e levantam a cadeira de rodas
sobre os ombros, ao som de glórias a Deus e aleluias...
Em muitas cruzadas de
"milagres", os paralíticos falam, os surdos andam; os cegos ouvem; os
mudos enxergam... Ah, e os super-pregadores ficam mais famosos! Se fossem
verdadeiros todos os testemunhos quanto a curas de enfermos e extrações de
cânceres dos corpos das pessoas, com certeza a imprensa os publicaria.
Infelizmente, esses milagreiros têm causado prejuízo ao evangelho, pois, quando
se põe à prova os seus "milagres", verifica-se que houve fraude.
Ação diabólica. Além das
fraudes, alguns fenômenos vêm ocorrendo em nosso meio, nesses tempos
trabalhosos. Por mais forte e contundente que seja para alguns a afirmação de
que há liberdade para a ação do mal entre nós, isso vem acontecendo, como uma
amostra do que ocorrerá por ocasião da Grande Tribulação (2 Ts 2.9; Mt 24.24;
Ap 13.11-18). Não há dúvidas de que o Diabo pode realizar sinais de mentira
para enganar aqueles que carecem de discernimento espiritual (Mt 7.22; 2 Co
11.13-15; Êx 7.11,12; 8.18,19).
Muitos fenômenos propagados
por super-pregadores têm ocorrido também entre muçulmanos, hindus, espíritas de
várias ramificações e católicos romanos. De acordo com Deuteronômio 13.1-4 —
texto mencionado acima —, Deus tolera a ocorrência de falsos sinais no meio do
seu povo, a fim de provar o nosso amor para com Ele.
Fenômenos tidos como milagres
divinos não são a evidência de que o Senhor está aprovando a obra de alguém.
Pregadores que se valem erroneamente da pregação de milagres para buscar fama e
glória deviam atentar para o testemunho do Senhor Jesus quanto a João Batista
(Mt 11.11). Apesar de este não ter feito sinal algum, tudo quanto disse daquEle
era verdade (Jo 10.41).
PASSAGENS QUE NÃO APÓIAM SINAIS EXÓTICOS
Existe uma grande preocupação
dos milagreiros em justificar as suas práticas com passagens bíblicas, pois,
apesar de não andarem segundo a Palavra, sabem que ela depõe contra eles. E, a
fim de ficarem bem em relação à consciência, recorrem a textos isolados, que em
nada apóiam as suas invencionices. Apropriam-se, forçosamente, de passagens
para pregar falaciosos e inverossímeis fenômenos tidos como divinos.
Isaías 43.19. Com base nesta
referência, os milagreiros chamam os seus sinais de "coisa nova". Mas
a profecia contida no versículo é específica e revela qual é a coisa nova:
"Eis que farei uma coisa nova, e, agora, sairá à luz; porventura, não a
sabereis? Eis que porei um caminho no deserto e rios, no ermo".
João 14.12. Esta é a passagem
preferida dos pregadores milagreiros, devido à ênfase a obras maiores do que as
realizadas pelo Senhor Jesus: "Na verdade, na verdade vos digo que aquele
que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas,
porque eu vou para meu pai". Analisarei esta referência num tópico à
parte, neste capítulo.
Atos 13.40,41. Esta passagem
eles empregam com o objetivo de dizer que os seus sinais exóticos são uma
"obra tal que não crereis se alguém vo-la contar". No entanto,
trata-se de uma profecia relacionada com o reino de Judá, devastado pela
Babilônia, em 586 a.C. Isso fica claro, quando lemos Habacuque 1.5.
1 Coríntios 1.25. Já
expliquei o sentido desta referência no capítulo 2 desta obra. A expressão
"loucura de Deus" não se refere à loucura de Deus ou à que provenha
dEle. Ela é empregada, em conexão com outra expressão — "fraqueza de
Deus" — para enfatizar o quanto o Senhor é superior a cada um de nós, pois
as suas "loucura" e "fraqueza" são mais sábias e fortes que
a sabedoria e a força dos homens. É óbvio, ainda, que o termo
"loucura" refere-se ao que os homens consideram loucura (1 Co 1.18),
e não a uma qualidade pessoal de Deus.
1 Coríntios 2.9. Citam esta
referência com o intuito de dizer que o que fazem ninguém nunca ouviu, viu ou
sentiu, ignorando que "as coisas" mencionadas não são milagres, e sim
as glórias indizíveis do evangelho, desfrutadas em parte na terra (Rm 8.18; 1
Pe 5.1).
2 Coríntios 3.6. Dizem os
milagreiros em relação aos que os criticam à luz da Bíblia: "A letra
mata". Porém, a letra que mata não é a Palavra de Deus, viva e eficaz (Hb
4.12), e sim a lei mosaica (2 Co 3.7), haja vista sermos vivificados pela graça
de Deus. Como se vê, apesar de "poderosos", esses pregadores
(pregadores?) desconhecem verdades elementares do Santo Livro. Eles erram por
não conhecerem as Escrituras nem o verdadeiro poder de Deus (Mt 22.29).
UMA PALAVRA SOBRE JOÃO 14.12
Não há dúvidas de que os
milagres e sinais são parte do evangelho de Cristo (Mc 16.15-20). No entanto, a
ênfase a obras maiores não é uma espécie de brecha na lei que possibilita a
realização de qualquer manifestação exótica em nome do Senhor. As obras
maiores, na verdade, dizem respeito à quantidade, e não à qualidade delas.
Jesus fez grandes obras, e
seus seguidores, posto que ficarão muito mais tempo na Terra, trarão milhões de
obras para o Pai. A Igreja faria, segundo a promessa do Senhor, depois de sua
partida, maiores obras, não em seu valor intrínseco, ou em sua glória, mas no
objetivo. É até uma falta de temor a Deus e muita presunção querer fazer hoje
sinais que nem o Senhor realizou quando andou na Terra.
Em resumo, em João 14.12, o
Senhor não dá aval às práticas de milagreiros. Mas enfatiza que os seus
discípulos fariam as obras de Deus numa escala mais ampla, enquanto levam a
mensagem do evangelho ao mundo todo, tanto a gentios como a judeus. Essa
promessa refere-se, sobretudo, a milhões de almas salvas (Jo 10.16; 11.52;
12.32). É isso que é fazer obras maiores do que as de Jesus, e não fenômenos
que confundem o povo de Deus.
"FÉ DEMAIS NÃO CHEIRA BEM"
Quando eu era adolescente,
assisti ao filme "Fé Demais não Cheira Bem", estrelado pelo famoso
comediante norte-americano Steve Martin, que interpreta o super-pregador Jonas
Nightingale. Juntamente com uma assessora, Jane (Debra Winger), e sua
"equipe de milagres", ele viaja por diversas cidades dos Estados
Unidos, fazendo paradas e montando uma tenda onde realiza cerimônias religiosas
em forma de shows.
Ao chegarem a cada
localidade, os auxiliares de Jonas inspecionam os moradores, em especial os que
passam por problemas graves. E, na hora do show, por um ponto eletrônico, falam
ao pregador onde a pessoa está assentada e qual é sua doença. Ele então se dirige
a ela e, por meio de "revelação", discorre sobre os seus problemas. A
vítima, impressionada, se regozija, empolgando os participantes do
"culto". Inúmeros fiéis são enganados, e os falsários arrecadam muito
dinheiro. Mesmo assim, escapam ilesos de todas as circunstâncias embaraçosas.
Lembro-me de que fiquei
irritado com essa produção cinematográfica, em razão de o seu protagonista ser
um pregador charlatão e ilusionista, que tinha como objetivo enriquecer
enganando fiéis... Bem, eu já revi os meus conceitos. Lamentavelmente, apesar
dos exageros contidos no filme, há, em nossos dias, muitos obreiros
fraudulentos, enganando pessoas com falsos discursos. O Senhor Jesus foi claro
ao dizer que os enganadores são conhecidos pelos seus frutos (Mt 7.15-20).
"PELOS SEUS FRUTOS OS CONHECEREIS"
Se você deseja saber se
alguém que se diz homem de Deus de fato o é, analise o seu proceder e o seu
falar mediante as seguintes perguntas: Ele honra a Cristo em tudo, não
recebendo glória dos homens?
Não é muito difícil para quem
tem discernimento pela Palavra do Senhor descobrir se um pregador ou cantor
serve a Deus de verdade. Basta verificar se o tal honra ao Senhor ou prefere
receber glória dos homens. Pregadores há que se comportam como um show-man.
Todos os holofotes se voltam para ele, que, qual um neófito, ensoberbece-se e
cai na mesma condenação do Diabo (1 Tm 3.6). Ele repudia a avareza, ou ama
sordidamente o dinheiro? Homens de Deus não são amantes do dinheiro, pois sabem
que a avareza é idolatria (Ef 5.5; 1 Tm 6.10). Se um pregador ou cantor só fala
em dinheiro e mercadeja a Palavra do Senhor (2 Co 2.17), por que temos de
respeitá-lo como homem de Deus? Ele ama os pecadores e deseja vê-los salvos?
Preste atenção nas mensagens dos super-pregadores. Falam eles de Cristo? Quando
fazem o convite para os pecadores irem à frente, dizem claramente o que é
receber o Senhor Jesus? Ou iludem as pessoas, prometendo-lhes isso e aquilo?
Tenho presenciado, com tristeza, "apelos" mediante os quais o
pregador promete "mundos e fundos" e nada fala sobre a obra
redentora. Resultado: inúmeras pessoas vão à frente, e a maioria delas volta
para casa sem Jesus no coração...
Ele prega contra o pecado,
defende o evangelho de Cristo e conduz a igreja à santificação? Muitos se
escondem atrás de sua oratória, de suas performances humorísticas e de seus
fenômenos. Não pregam contra o pecado. Acham que, fazendo isso, fecharão
portas, e as igrejas não mais os convidarão. Servem a si mesmos, e não ao
Senhor! Também não se sentem indignados quando ouvem heresias; menosprezam o
evangelho. Quanto à santificação, isso nada representa para eles.
Ele detesta o mal e ama a
justiça? Os verdadeiros servos do Senhor, que cumprem a sua vontade,
posicionam-se claramente contra o pecado e as heresias. Eles não buscam meios
de tornar as verdades da Palavra de Deus relativas. Para eles, o que é mal é
mal, e o que é bem, bem. Sim é sim, e não é não. Seu posicionamento contra o
mal é claro.
Ele tem uma vida de oração e
devoção a Deus? Quem de fato pertence a Deus e anda de acordo com a sua Palavra
sente prazer em buscar ao Senhor e manter com Ele uma íntima comunhão. Os
super-pregadores valem-se de seus chavões e sua presença de palco. A Deus eles
não enganam. Ele sabe onde pisam os seus pés. Amenos que se prostrem diante do
Senhor e se humilhem, pedindo-lhe perdão por suas falcatruas, tais obreiros não
escaparão do juízo, naquele grande Dia.
Ele demonstra amar e seguir a
Palavra do Senhor? Os servos de Deus têm prazer na Lei do Senhor (Sl 1.1-3) e a
respeitam, considerando inegociáveis as suas verdades. Quando não entendem
alguma coisa, silenciam. Jamais se precipitam, dizendo que encontraram alguma
incongruência do texto sagrado.
Falando em respeitar a
Palavra de Deus, no próximo capítulo discorrerei sobre algumas coisas que os
super-pregadores pregam, os cantores-ídolos cantam, mas a Bíblia não diz...
Capítulo 9
COISAS QUE A BÍBLIA
NÃO DIZ
Ora, estes de Beréia eram mais
nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez,
examinando as Escrituras todos os dias para ver se as cousas eram, de fato,
assim. Atos 17.11, ARA
A Bíblia, para muitos que se
dizem cristãos, é um livro comum. Não a consideram infalível e inerrante,
tampouco a sua regra de fé, de prática e de vida. Tenho notado que esses crentes
são os que mais se sentem ofendidos com as críticas e refutações aos falsos
evangelhos da atualidade. Vivem do que ouviram falar; são hábeis para citar
letras de canções, mas incapazes de memorizarem um versículo bíblico sequer.
Neste capítulo, discorrerei
sobre algumas "verdades" tidas como parte integrante das Escrituras,
as quais são difundidas por animadores de auditório e cantores famosos,
preocupados mais com as suas carreiras de popstar do que com a propagação do
evangelho.
Afinal, o que a Palavra de
Deus não diz?
NÃO DIZ QUE... CRENTE QUE TEM PROMESSA NÃO
MORRE
Perguntaram-me, em um grande
simpósio, se crente que tem promessa não morre. E eu dirigi outra pergunta ao
auditório: "Quantos aqui têm promessas de Deus?" Todos levantaram as
mãos. Então, lhes disse: "Bem, nesse caso, nenhum de vocês morrerá. Se
Jesus demorar a voltar uns cem anos, ainda continuarão vivos, pois todos têm
promessas".
Esse chavão anda de mãos
dadas com outros clichês predestinalistas que não resistem a uma boa exegese. Afinal,
se o Arrebatamento da Igreja não acontecer logo, todos nós morreremos, quer de
uma forma, quer de outra. Basta lermos Hebreus 11 para sabermos que nem todas
as promessas que aqueles heróis da fé abraçaram se cumpriram em suas vidas. A
nossa maior promessa, aliás, é a de morar com Cristo, na glória (Fp 3.20,21; Tt
2.11-14).
Em Hebreus 11.39, menciona-se
o seguinte acerca dos heróis da fé, fiéis ao Senhor Jesus até à morte: "E
todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa". E
o versículo 13 também diz: "Todos estes morreram na fé, sem terem recebido
as promessas..." Pois é... aquele grande grupo de testemunhas, de
verdadeiros servos de Deus, morreu sem ter alcançado as promessas! Somos
melhores do que eles?
As promessas de Deus são
verdadeiras, mas temos de levar em conta a condicionalidade de muitas delas (2
Cr 7.14,15; Is 1.18-20; Dt 28.1,2). No dia de Pentecostes, a promessa do
derramamento do Espírito Santo se cumpriu para cerca de 120 crentes (Lc 24.49;
At 2). Se eles não tivessem ficado em oração, em Jerusalém, teriam recebido a
promessa? Não foram mais de quinhentos irmãos que viram ao Cristo ressurreto,
conforme 1 Coríntios 15.6? E os outros cerca de 380, não tinham a promessa?
Sim, mas não estavam lá.
Segundo a Palavra de Deus, é
possível sim morrer antes do tempo (Ec 7.17; Pv 10.27). Deus tira a vida de
quem peca (Gn 38.10; Pv 22.23; Ez 18.4). Essa história de que há um destino
para cada um — e que só morremos quando chegar a hora predeterminada — não tem
apoio bíblico. O fato de termos muitas promessas não garante que não morreremos
até que se cumpram todas elas (1 Pe 1.24,25).
Muitos têm deixado de pensar
nas coisas de cima (Cl 3.1,2), considerando que as promessas que recebemos por
meio de profecia devem ser abraçadas cegamente, como se fossem a garantia de
que jamais morreremos enquanto elas não se cumprirem. Que engano! Temos de
viver como se o Arrebatamento fosse acontecer a qualquer momento (1 Co
15.51,52).
A frase em análise, portanto,
é mais um "versículo novo". Ela não está registrada na Bíblia,
tampouco a tese contida nela tem o apoio das Escrituras. Afinal, para Deus
vivemos e para Ele também morreremos (Fp 1.21-23; Rm 8.38,39).
Fiquemos com a Palavra do
Senhor, que diz: "Eia, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos a tal
cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos. Digo-vos que não
sabeis o que acontecerá amanhã. Porque que é a vossa vida? É um vapor que
aparece por um pouco e depois se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o
Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo" (Tg 4.13-15).
NÃO DIZ QUE... UM SERVO DE CRISTO FICA
ENDEMONINHADO
Um famoso telemissionário
costuma dizer à sua platéia: "Meu irmão, agora eu vou orar por você. Ponha
a mão na sua cabeça". Em seguida, ele diz: "Demônio que está neste
corpo, pegue o que é seu e saia". Pode um crente, salvo em Jesus Cristo,
ficar endemoninhado? Têm os agentes do mal alguma influência sobre a vida dos
servos de Deus?
Segundo a Bíblia, o Diabo
pode agir na vida de uma pessoa por possessão ou por influência. Possessão é o
estado de quem está endemoninhado. Já a influência ou a opressão é o ato ou o
efeito de oprimir ou exercer pressão sobre alguém, a fim de induzi-lo a alguma
atitude contrária à vontade de Deus.
Só pode ficar possessa uma
pessoa que nunca teve ou perdeu o Espírito de Deus em sua vida. Para a ciência,
dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, o que também se
aplica espiritualmente: "E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e o
assombrava um espírito mau da parte do Senhor" (1 Sm 16.14). Note: quando
o Espírito saiu de Saul, um espírito maligno, com a permissão de Deus, passou a
agir imediatamente nele.
Não há como alguém estar
possuído pelo Espírito Santo e por espíritos malignos, ao mesmo tempo (Jo 8.49;
1 Jo 4.4). O que pode ocorrer é uma pessoa que tem o Espírito ser oprimida,
influenciada por demônios, induzida ao erro. Não foi o que aconteceu com Pedro?
Depois de ele ter feito uma importante declaração, o Diabo, por influência, o
induziu a dar a Jesus um conselho nada condizente com a vontade de Deus (Mt
16.16,22,23).
Um cristão autêntico, se não
vigiar, pode até sofrer opressão, influência, mas não ficar possesso por
demônios, a menos que se desvie do Senhor, tornando-se um ímpio, maldizente, desviado,
soberbo, desobediente à Palavra, etc. Em resumo, só podem ser possuídas por
demônios pessoas que ainda não foram salvas por Jesus Cristo ou os crentes que
apostatam da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de
demônios (1 Tm 4.1).
NÃO DIZ QUE... OS DESOBEDIENTES TÊM O
ESPÍRITO SANTO
Pode um crente de verdade não
ser possuído pelo Espírito Santo? Não! Todos os crentes sinceros são moradas do
Consolador (Ef 1.13; 1 Co 6.19,20). Nesse caso, o coração das pessoas
não-salvas sempre estará ocupado pelos representantes do mau (Lc 11.21,22).
"E quanto aos membros da
igreja da maioria? Eles não estão recebendo também o batismo no Espírito Santo?
Eles são até chamados de carismáticos!" — alguém argumentará. Mas, à luz
da Palavra de Deus, é impossível pessoas que não nasceram de novo nem obedecem
à Bíblia receberem essa dádiva do alto, haja vista terem ainda Maria como
mediadora, sendo que Jesus é o único Mediador entre Deus e os homens (1 Tm
2.5)!
O batismo no Espírito Santo,
na verdade, acompanha a salvação e é reservado aos verdadeiramente libertos.
Por isso, o Senhor Jesus disse: "O Espírito da verdade, que o mundo não
pode receber, porque não o vê nem o conhece (...) estará em vós" (Jo
14.17). E, em Atos 5.32, está escrito que o Espírito Santo é dado somente
àqueles que obedecem a Deus.
NÃO DIZ QUE... A SUNAMITA FEZ CONFISSÃO
POSITIVA
Para os seguidores do
movimento triunfalista denominado confissão positiva, a mulher de Suném, ao
declarar — diante de circunstâncias adversas — que tudo estava bem, teria usado
o poder de suas próprias palavras para obter uma grande vitória (2 Rs 4.26).
Afinal, se assim não ocorrera, segundo eles, teria sido da parte dela uma
insanidade responder que estava "tudo em paz" (hb. shalom) sabendo
que o próprio filho acabara de morrer (v.20).
Entretanto, ao ler todo o
capítulo da passagem em apreço, constatamos que a sunamita era uma mulher de
fé, haja vista ter dito ao seu marido: "Manda-me já um dos moços e uma das
jumentas, para que eu corra ao homem de Deus e volte... Tudo vai bem"
(vv.22,23). Sua atitude assemelha-se à de Abraão, momentos antes do
quase-sacrifício de seu filho: "Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o
moço iremos até ali; e, havendo adorado, tornaremos a vós" (Gn 22.5).
Ter uma inabalável fé em Deus
não é o mesmo que abraçar o triunfalismo. Confiar no Senhor é saber que Ele
pode realizar grandes obras. Vemos isso no episódio envolvendo Ananias, Misael
e Azarias (Dn 3). Ao serem ameaçados por Nabucodonosor, aqueles jovens
disseram: "Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode
livrar; ele nos livrará do forno de fogo ardente e da tua mão, ó rei"
(v.17). A fé, por conseguinte, faz-nos orar ou falar com ousadia, porém isso
não é confissão positiva (At 4.29-31).
NÃO DIZ QUE... DEVEMOS FAZER CONFISSÃO
POSITIVA
O que é confissão positiva? É
a crença errônea de que as nossas próprias palavras podem abrir e fechar
portas. E, para defender esse modismo, os triunfalistas recorrem a Marcos
11.23, a despeito de Jesus, nesta passagem, não ter intentado estimular os seus
discípulos a removerem montes! Imagine se cada crente tivesse o poder de olhar
para uma montanha e revolvê-la? Onde estariam hoje o Corcovado e o Pão de
Açúcar?
Jesus, na verdade, empregou
uma figura de linguagem, a hipérbole, da qual se valeu também ao afirmar que é
mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no
Reino de Deus (Mc 10.25). Afinal, camelos não passam por orifícios de agulhas,
literalmente. Isso foi apenas uma maneira de mostrar o quanto é difícil para
quem confia em suas riquezas entrar no Reino dos Céus (Mt 6.19-21).
Da mesma forma, nenhum crente
consegue tirar um monte do lugar, literalmente; mas pode, por meio de sua
pequena fé, superar obstáculos e alcançar vitórias memoráveis (Hb 11.1).
Caso o leitor conheça alguém
que parou diante de uma montanha e declarou: "Monte, vá agora mesmo para o
mar" — e isso tenha acontecido —, gostaria de conhecê-lo...
Na verdade, os propagadores
da confissão positiva não se cansam de "dar de ombros" para a Palavra
de Deus. Apegando-se à suposição ou à crendice de que tudo o que falamos tem de
ocorrer, afirmam que há um poder sobrenatural nas palavras humanas. E que, por
isso, devemos fazer declarações (ou confissões) positivas, do tipo: "Eu
sou vencedor", "Nasci para vencer", "Sou da geração de
Samuel", além do desgastado clichê "O Brasil é do Senhor Jesus".
NÃO DIZ QUE... O NOME DA PESSOA TEM
INFLUÊNCIA SOBRE SUA VIDA
Até o nome de uma pessoa é
considerado uma espécie de confissão pelos triunfalistas de plantão. Se alguém
tiver um nome de batismo com significado negativo (segundo um famoso pregador e
escritor brasileiro), precisa adotar uma alcunha, a menos que não queira
livrar-se dessa maldição! Em um de seus livros, tal pregador conta até o caso
de uma irmã que só teve vitória depois de começar a apresentar-se como Maria de
Jesus, renunciando ao nome de registro: Maria das Dores.
Não há nenhum apoio bíblico à
confissão positiva, a menos que torçamos a Palavra de Deus, interpretando
textos a bel-prazer, extraindo-os de seus contextos, como muitos têm feito (2
Co 2.17; 4.1-2). E, se fizermos isso, encontraremos passagens isoladas para
corroborar não apenas essa doutrina triunfalista, mas para justificar todas e
quaisquer heresias! Até o Diabo usou versículos bíblicos para tentar Jesus!
Portanto, não confundamos a legítima oração da fé com a falaciosa confissão
positiva, que transfere para o homem o poder da viva e eficaz Palavra de Deus
(Hb 4.12). E quanto aos nomes e seus significados, um pouco de bom senso ajuda...
NÃO DIZ QUE... DEUS NÃO USOU UMA JUMENTA
Muitos têm afirmado que Deus
não usou uma jumenta. Ele teria apenas aberto a sua boca... É claro que o
Senhor usou a jumenta! Mas não como se ela fosse um profeta de Deus, que diz
"Assim diz o Senhor". Sabemos que animais não falam, a não ser por
uma ação sobrenatural. Eles não raciocinam nem foram dotados da mesma
capacidade humana para falar. Como teria a jumenta raciocinado, repreendendo o
profeta, que a espancava?
Deus abriu a boca da jumenta
para dizer algo relacionado com o que estava acontecendo. E foi depois de
Balaão ter reconhecido o seu erro, ao ouvir as palavras do animal, que Deus
abriu os seus olhos! "Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes?
(...) Porventura, não sou a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo que eu
fui tua até hoje? Costumei eu alguma vez fazer assim contigo? E ele respondeu:
Não. Então, o Senhor abriu os olhos a Balaão..." (Nm 22.28-31). O profeta
só viu o anjo depois de ter ouvido a repreensão da jumenta! É, pois, um
equívoco pensar que Deus apenas abriu a boca do animal, que, por conta própria,
raciocinou, articulou bem as sílabas e impediu a loucura do profeta! Deus abriu
a boca da jumenta e lhe deu palavras inteligíveis, como se fosse uma pessoa
falando, a fim de repreender Balaão (2 Pe 2.16). Isso foi um milagre, uma ação
divina sobrenatural.
NÃO DIZ QUE... DEUS VISITA HOJE A MALDADE
DOS PAIS NOS FILHOS
Existe uma crença
extrabíblica de que, além das doenças decorrentes de uma predisposição
genética, males espirituais são transmitidos de avô para neto, de pai para
filho, etc. O evangelho de Cristo é simples: basta crer em Jesus, confessá-lo
como Senhor (Rm 10.9-10), permanecer nEle (Mt 24.13; 1 Co 15.1-2) e viver em
santificação (Hb 12.14), a fim de ser salvo e participar das bênçãos que
acompanham a salvação (Hb 6.9).
No entanto, há enganadores
querendo complicar a simplicidade do evangelho (2 Co 11.3,4). É como se
dissessem: "Se podemos complicar, por que simplificar?"
Somente Cristo, por meio de
sua graça, liberta o ser humano. Não são necessárias fórmulas e receitas para
alguém se libertar de supostas maldições hereditárias. Mas alguém poderá
argumentar: "Há passagens bíblicas, como Êxodo 20.5, que não deixam
dúvidas quanto à existência da maldição hereditária". É mesmo? Não se
apresse! Cada passagem da Bíblia deve ser analisada com base no contexto. Você
sabe o que é isso, não sabe?
Bem, se acreditarmos que
Êxodo 20.5 aplica-se a nós, teremos de admitir que fomos tirados do Egito,
literalmente, nos dias de Moisés! Constate isso lendo agora os versículos 1 e
2.
Esse mandamento e as punições
extensivas às gerações dos seus infratores foram endereçados aos israelitas, e
não a nós! Os mandamentos da Bíblia se dirigem a três povos (1 Co 10.32), e não
devemos interpretá-los a bel-prazer. É a Palavra de Deus que deve nos guiar (Sl
119.105).
Mas, sabe de uma coisa? Ainda
que a passagem citada se aplicasse a nós, ela não apoiaria a maldição
hereditária, posto que alude ao fato de os pecados dos pais levarem os filhos ao
sofrimento, ao adotarem os seus hábitos e atitudes más. Apesar de Deus
respeitar a individualidade (Ez 18.4; Tg 1.14), o exemplo dos pais é
preponderante na formação de uma pessoa (Êx 34.7; Pv 22.6).
NÃO DIZ QUE... EXISTE MALDIÇÃO HEREDITÁRIA
Os propagadores da maldição
hereditária costumam mesclar conceitos e métodos psicoterápicos com a Bíblia.
No entanto, embora a psicologia tenha o seu valor como ciência, a chamada
"psicoterapia cristã" é um jugo desigual (2 Co 6.14).
Quem cura o nosso íntimo,
libertando-nos do passado, é o Senhor Jesus (Jo 8.32,36; Lc 4.18). A psicologia
é até útil, desde que não queiramos associá-la à obra do Espírito Santo.
Se precisamos quebrar
maldições de antepassados, para que serve a nossa santificação diária (Hb
12.14)? E os erros que cometemos, eles se devem a fatores hereditários? Por que
a Bíblia diz: "Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do
velho homem com os seus feitos" (Cl 3.9)? Que culpa tenho eu se meu avô
foi um mentiroso inveterado? Ora, tenho de lutar é contra a minha própria
natureza (Hb 12.4; Gl 5.17)!
Portanto, que tal seguir à
Bíblia? Ela diz: "... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo
Jesus..." (Rm 8.1). E: "...se alguém está em Cristo, nova criatura é:
as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2 Co 5.17).
NÃO DIZ QUE... NOÉ LEVOU O URSO POLAR À ARCA
Alguns evolucionistas admitem
que houve um dilúvio, mas rejeitam o relato do livro de Gênesis, afirmando que
tal acontecimento se deu há milhões e milhões de anos. Segundo eles, é fácil
contestar a descrição bíblica do dilúvio.
Dizem que a arca, nas
dimensões apresentadas em Gênesis (130m de comprimento, 35m de largura e 15m de
altura, aproximadamente), só poderia ser construída nos dias de hoje, pois
seria necessária a ajuda da engenharia moderna e de centenas de pessoas. E
afirmam que Noé e sua família não conseguiriam percorrer todos os continentes
em busca das espécies de animais. Como teria chegado, por exemplo, o urso polar
à arca? Asseveram que seria impossível manter os animais na arca sem as
técnicas zoológicas modernas. Os animais estavam fora de seu habitat. Como
sobreviveriam? Como alimentar todas as espécies? Como a biologia considera
extintas as espécies que possuem algumas centenas de exemplares, questionam: De
que maneira um casal de cada espécie garantiria a subsistência das criaturas?
Finalmente, argumentam que o ciclo hidrológico de evaporação que provoca a
chuva é incapaz de prover uma quantidade de água que inundasse toda a extensão
da Terra.
Bem, as questões apresentadas
pelos evolucionistas concentram-se no campo racional. Eles (por mais irracional
que seja o evolucionismo de Darwin) analisam tudo pela razão, sem levar em
conta a existência de um Deus Todo-poderoso no controle de todas as coisas,
capaz de fazer acontecer tudo o que lhe apraz. Somente o fato de que Ele estava
no controle de tudo refutaria essas teses meramente racionais. Entretanto,
consideraremos essas questões à luz das Escrituras.
No que diz respeito à
construção do barco, Deus deu a planta a Noé, com todas as medidas. Além disso,
capacitou-o com sabedoria e lhe concedeu todas as condições necessárias para
construir a embarcação (Gn 6.13-22). Considerando que não havia a atual divisão
continental, as espécies estavam concentradas em grande proporção na região da
Mesopotâmia. Nesse caso, o trabalho de Noé no encaminhamento dos animais à arca
não teria sido tão difícil.
Segundo o relato bíblico, o
Senhor ensinou a Noé como preservaria as espécies dentro do barco (Gn 6.16-20).
E a sabedoria de Deus é infinitamente superior às técnicas zoológicas da
atualidade. Tanto é verdade que, das espécies mais frágeis, como as aves, Ele
ordenou a Noé que se apanhassem sete casais, o que garantiria, de qualquer
forma, a continuidade dessas criaturas sobre a terra após o devastador dilúvio
(Gn 7.2-8).
O poder de Deus é ilimitado;
não se restringe a leis ditas científicas (1 Tm 6.20). Se fôssemos analisar o
Livro de Deus pela razão apenas, e não pela fé, não só o dilúvio seria
impossível. Teríamos de negar todos os milagres registrados nas páginas
sagradas. Mas, graças a Deus, o crente espiritual discerne bem tudo (1 Co
2.14-16).
Como controlador da natureza,
o Deus Todo-poderoso certamente guiou os animais até à arca. Quanto ao urso
polar, os próprios evolucionistas sabem que resultou da mistura de algumas
espécies, sendo desnecessário explicar como ele chegou à arca, não é mesmo?
NÃO DIZ QUE... A IGREJA PASSARÁ PELA GRANDE
TRIBULAÇÃO
É comum recorrer-se à
simbologia com o intuito de afirmar que a Igreja não enfrentará a Grande
Tribulação. Afirmase que Enoque foi arrebatado antes do dilúvio; que as águas
do Mar Vermelho só caíram sobre os egípcios depois que Israel passou; que Elias
subiu num redemoinho antes do cativeiro; que a Igreja é a luz do mundo, e, quando
for tirada, se instalará um período de trevas; que ela é também coluna e
firmeza da verdade, e, ao ser arrebatada, o mundo virá abaixo, etc. No entanto,
tais exemplos apenas ilustram e reforçam uma verdade que está revelada
claramente nas páginas sagradas.
Os teólogos
pós-tribulacionistas e mesotribulacionistas têm as suas razões pessoais para
não crer no rapto dos salvos antes da Grande Tribulação. Contudo, é bom não
irmos além do que está escrito (1 Co 4.6) nem nos movermos facilmente de nossas
convicções quanto ao nosso livramento da ira futura, por ocasião da vinda de
Jesus (2 Ts 2.2-9). Os primeiros afirmam que Jesus virá após a Grande
Tribulação; e os mídi-tribulacionistas (ou mesotribulacionistas) asseveram que
o advento de Cristo se dará no meio desse tempo de angústia.
A escola de interpretação que
honra as Escrituras é o prétribulacionismo, pois não há dúvidas de que a Igreja
será arrebatada antes desse período de trevas. A Palavra de Deus nos exorta a
"esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber,
Jesus, que nos livra da ira futura" (1 Ts 1.10). E Jesus disse:
"Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas
estas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do homem"
(Lc 21.36, ARA).
Note: escapar, e não
participar, atravessar, etc.
Em Apocalipse 3.10, Jesus fez
uma promessa à igreja de Filadélfia: "Como guardaste a palavra da minha
paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo
o mundo, para tentar os que habitam na terra". Contudo, essa mensagem não
é apenas para uma igreja local, haja vista o que está escrito nos versículos 13
e 22 do mesmo capítulo: "Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às
igrejas".
Conquanto Filadélfia
estivesse passando por tribulações, naqueles dias, os salvos daquela igreja não
passaram pela "hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo" —
todos os mortos em Cristo têm a garantia de que não passarão pela Grande
Tribulação, uma vez que ressuscitarão e serão tirados da Terra antes dela.
Todas as mensagens de Jesus
registradas em Apocalipse às igrejas da Ásia possuem mandamentos e exemplos
para nós, hoje, quanto: à manutenção do amor e da fidelidade (2.4,10), às
falsas profecias (2.20-22), ao perigo de Jesus estar do lado de fora (3.20),
etc. Nesse caso, a promessa de livramento da hora da tentação em apreço é
extensiva a todos os salvos — "há de vir sobre todo o mundo" —, assim
como o que está registrado no versículo 11: "Eis que venho sem demora;
guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa".
Antes de o Cordeiro de Deus
desatar o primeiro selo, dando início a uma série de juízos contra a Terra (Ap
6), João viu os 24 anciãos diante de Deus, no Céu (Ap 4-5). E estes representam
a totalidade da Igreja: as doze tribos de Israel e os doze apóstolos de Cristo.
Isso prova que, desde o início da Grande Tribulação na Terra, os salvos estarão
no Céu. Glória ao Cordeiro, pois estaremos com Ele nesse período de trevas e
aflições.
Em Apocalipse 13.15, está
escrito que serão mortos todos os que não adorarem a imagem do Anticristo. Se
este fará guerra aos santos, a fim de vencê-los (v. 4), quantos destes seriam
arrebatados durante ou depois do período tribulacionista? Como vimos acima,
tais santos mortos pela Besta são os mártires da Grande Tribulação, e não a
Igreja, que já terá sido arrebatada.
A Palavra de Deus diz que a
Noiva de Cristo estará no Céu durante esse período, e que voltará com Ele para
pôr termo ao império do mal: "vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua
esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e
resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos. (...) E
seguiam-no os exércitos que há no céu em cavalos brancos e vestidos de linho
fino, branco e puro" (Ap 19.7-14).
Em suas cartas aos
tessalonicenses, a ênfase de Paulo é o Arrebatamento. Ao mencionar este
glorioso evento pela primeira vez, ele deixou claro que Jesus nos livrará da
ira vindoura (1 Ts 1.10). E isso é confirmado ainda na primeira epístola:
"quando disserem: Há paz e segurança, então, lhes sobrevirá repentina
destruição (...) e de modo nenhum escaparão. Mas vós, irmãos, já não estais em
trevas, para que aquele Dia vos surpreenda como um ladrão" (5.3,4).
Observe, no texto acima: são
os que estão em trevas que não escaparão da destruição. Os filhos da luz (5.5)
já terão sido arrebatados (4.16-18). Por isso, mais adiante, Paulo reafirma o
que dissera no primeiro capítulo (v. 10): "Porque Deus não nos destinou
para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus
Cristo" (5.9).
A passagem de 2
Tessalonicenses 2.6-8 é de difícil interpretação, e não convém fazer
especulações sobre o que não está revelado claramente. Mas vemos nela a
reiteração de que a Igreja não estará sob o domínio do Anticristo: "E, agora,
vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque
já o mistério da injustiça opera; somente há um que, agora, resiste até que do
meio seja tirado; e, então, será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará
pelo assopro da sua boca e aniquilará pelo esplendor da sua vinda".
Se o mistério da injustiça
opera, por que o Iníquo ainda não se manifestou? O que o detém? Quem o resiste?
Quem será tirado da Terra, para que ele tenha total liberdade até à
esplendorosa vinda de Cristo? A única revelação que temos, retratada pelo
próprio apóstolo Paulo, é que o povo de Deus será tirado da Terra, no
aparecimento de Jesus Cristo (Tt 2.13,14; 1 Ts 4.17). E, se é depois disso que
será revelado o Anticristo, então estamos diante de mais uma prova de que a
Igreja não passará pela Grande Tribulação!
NÃO DIZ QUE... UMA VEZ SALVO, SALVO PARA
SEMPRE
Os teólogos predestinalistas
insistem em afirmar que Deus elegeu uns para a perdição e outros para a
salvação, além de propagar a graça irresistível e a segurança absoluta da
salvação. Isso fez com que o clichê "Uma vez salvo, salvo para
sempre" ganhasse status de versículo bíblico. Contudo, a Bíblia não diz
isso.
A respeito de Judas, a
Palavra de Deus diz: "E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor do
coração de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para que tome parte
neste ministério e apostolado, de que Judas se desviou, para ir para o seu
próprio lugar" (At 1.24,25). Quem pensa, portanto, que Judas era uma
"figurinha carimbada" está redondamente equivocado. Havia a profecia
acerca de "um traidor", e não de Judas (Sl 41.9; Jo 13.18; 17.12).
Deus, na sua presciência, sabia que ele se desviaria. No entanto, presciência
divina é uma coisa, e predestinação é outra. O Senhor sabe o fim antes do
começo, mas não se vale disso ao chamar pessoas à salvação e ao ministério,
haja vista respeitar o livre-arbítrio. Prova disso é a própria chamada de
Judas. Temos visto isso acontecer em nossos dias com grandes pregadores,
verdadeiramente chamados pelo Senhor, os quais apostataram da fé, tornando-se
enganadores (1 Tm 4.1; 2 Pe 2).
NÃO DIZ QUE... É ERRADO OFERTAR SEM SEGUNDAS
INTENÇÕES
Virou moda hoje em dia
incentivar os crentes a darem oferta ou dízimo esperando receber recompensas.
Há pregadores que dizem até que ofertar sem segundas intenções é coisa de
"bobo" ou de "trouxa". Em primeiro lugar, esse tipo de
linguagem chula não combina com um homem de Deus. E mais: oferta é um ato
espontâneo, voluntário, e não uma forma de barganha. O texto de 2 Coríntios 9
não apóia o discurso dos telepregadores, pelo qual asseveram que quanto mais
alta a contribuição financeira tanto mais bênçãos materiais e espirituais (!)
serão derramadas sobre o tele-ofertante. É claro que essa interpretação forçada
tem como objetivo sensibilizar os telespectadores a mandarem dinheiro para os
telenganadores de plantão. Se a oferta é a semente para recebermos bênçãos
espirituais, ela então substitui a oração, a meditação, a renúncia e a
santificação?
Não é errado contribuir
pensando em receber uma retribuição da parte de Deus, pois, de fato a passagem
acima e outras igualmente claras, como Malaquias 3.8-10, asseveram que o Senhor
abençoa quem é fiel em suas contribuições. Entretanto, transformar os dízimos e
ofertas em um meio de negociação, barganha, chantagem, como que, se Deus
estivesse obrigado a nos abençoar, só porque contribuímos, além de atrelar o
tamanho da bênção à quantia ofertada, cheira engodo.
Desde os tempos do Antigo
Testamento, as ofertas e os dízimos são voluntários. Ninguém era obrigado a
contribuir nem fazia isso para receber o dobro ou o triplo da quantia entregue
na casa do tesouro. Por ocasião da construção do Tabernáculo, tudo o que se
coletou foi voluntariamente. Não houve barganha. Isso está claro em passagens como
Êxodo 25.2; 35.5,21,29.
Portanto, ofertemos com
confiança e humildade na presença do Senhor, pensando no bem e no progresso de
sua obra, e não em nossos bem-estar e prosperidade. Rejeitemos esse falacioso
evangelho materialista, antropocêntrico, que faz do ser humano o centro das
atenções, como se a vida cristã tivesse como principal objetivo conquistar
bênçãos na Terra. Pensemos nas coisas que são de cima (Cl 3.1,2).
NÃO DIZ QUE... O DÍZIMO É COISA DO ANTIGO
TESTAMENTO
Nesses últimos dias, muitas
verdades da Palavra de Deus vêm sendo abandonadas, enquanto outras, conquanto
extrabíblicas, apresentadas como verdadeiras. É o caso do pensamento, que a
cada dia ganha novos adeptos, de que o dízimo é coisa do passado.
Não é só o Antigo Testamento
que apresenta o dízimo como uma obrigação do crente, conquanto este não
contribua por obrigação, e sim espontaneamente (Ml 3.8-10). Jesus referiu-se ao
dízimo, quando disse aos fariseus: "Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e
desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis,
porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas" (Mt 23.23).
Alguém argumentará: "De
acordo com a Hermenêutica, um único versículo não pode servir de base para uma
doutrina". Bem, procura-se quem inventou essa falácia! Com certeza, não
foi um professor de Hermenêutica temente a Deus quem fez essa equivocada
afirmação. Afinal, o que o Senhor disse é verdade. É ponto final. Se Ele disse
que é dever valorizar o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia, a fé e
o dízimo, cabe a nós atentar para isso, e não para os que não querem andar
segundo as Escrituras.
NÃO DIZ QUE... A TRINDADE NÃO EXISTE
O termo "trindade"
não aparece nas Escrituras, e os chamados teólogos unicistas se apegam a isso
para afirmar que a doutrina da Trindade também é antibíblica. Alguns mais
ousados enumeram passagens e mais passagens para convencer os seus parceiros
neófitos de que esse pensamento é verdadeiro. Paradoxalmente, uma igreja e seu
grupo que têm "verdade" no nome propagam essa heresia de que a
Santíssima Trindade não existe.
Para esses que pensam ter a
"voz da verdade", Jesus é o Pai, o Filho e o Espírito Santo, ao mesmo
tempo. No entanto, a Trindade, conquanto seja uma doutrina humanamente
incompreensível, trata-se de uma verdade fundamental da Palavra de Deus. São
tantos os textos que, comprovadamente, aludem ao Deus triúno, que cabe ao
leitor estudá-los, sem preconceito, para chegar à conclusão de que o
Todo-Poderoso é único, mas formado por três Pessoas (Gn 1.1,26; Is 6.1-8; Dt
6.4; Mt 28.19; Jo 14.17; Rm 5.1-5; 2 Co 13.13; etc).
Deixo aqui um desafio aos
unicistas de plantão. Se vocês, de fato, amam a Palavra de Deus e andam segundo
a vontade dEle, respondam-me: A quem Jesus orou, pedindo outro Consolador, em
João 14.16? Se Ele, o Pai e o outro Consolador são a mesma Pessoa, o que o
Senhor quis dizer com estas palavras: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará
outro Consolador, para que fique convosco para sempre"?
NÃO DIZ QUE... HÁ PASTORAS E
"BISPAS"
Por favor, minhas amadas
leitoras, peço-lhes que não fiquem bravas comigo. Afinal, não sou eu o autor da
Bíblia. E ela até menciona uma pastora, sabiam? O nome dela é Raquel, uma
pastora de ovelhas (Gn 29.9). Quanto à palavra "bispa", sequer
existe... Foi uma certa "episcopisa" que, ao lado de seu marido
"apóstolo", criou esse neologismo. Mas, sabe de uma coisa? Esse
assunto não é brincadeira e merece uma profunda análise bíblica.
É bom que os homens
reconsiderem a sua opinião acerca das mulheres, que, ao longo dos séculos, vêm
sendo discriminadas, principalmente no meio religioso. Vejo que a atitude
inconveniente de alguns homens tem como resposta uma postura hostil por parte
das mulheres, gerando a chamada "guerra dos sexos". Por que muitas
mulheres cristãs estremecem diante do ensinamento bíblico da submissão? Porque
muitos maridos são autoritários e se consideram superiores a elas, não
respeitando a sua sensibilidade.
No cristianismo genuíno, não
há espaço para machismo e feminismo, movimentos extremados que não reconhecem a
verdadeira posição do homem e da mulher na sociedade. O primeiro considera a
mulher inferior, enquanto o outro trata o homem como um demônio. No Corpo de
Cristo, há lugar para ambos os sexos, desde que reconheçam, à luz das
Escrituras, a sua posição.
Abrindo aqui um parêntese
para falar da relação homem-mulher, vemos, à luz da Bíblia, que ela deve ser,
antes de tudo, uma relação de respeito mútuo (1 Co 7.3-5). Deus formou Eva a
partir de uma das costelas de Adão (Gn 2.18-22) para demonstrar que a mulher
não deve estar nem à frente nem atrás, mas ao lado do homem. A Palavra de Deus
não diz que a mulher é inferior ao homem. Ela é o "vaso mais fraco"
(1 Pe 3.7). Quer dizer, mais frágil, mais sensível e, por isso, deve ser amada
e honrada pelo marido (Ef 5.25-29).
Paulo compara a submissão da
mulher ao homem à sujeição de Jesus a Deus (1 Co 11.3). Tanto o Filho quanto o
Pai pertencem à Trindade e são iguais em poder (Mt 28.19; Jo 10.30).
Todavia, Cristo, por amor ao
Pai, submete-se voluntariamente a Ele, recebendo dEle toda a honra (Fp 2.5-11).
Além disso, Paulo ensina:"... assim como a igreja está sujeita a Cristo,
assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos" (Ef 5.24).
E Cristo não obriga ninguém a obedecê-lo (Lc 9.23; Tg 4.8).
Deus não faz acepção de
pessoas (At 10.34). Por que, então, alguns homens se consideram superiores?
Deus fez a mulher diferente do homem para que ambos se completem, no lar, na
sociedade e no serviço do Senhor. Nesse caso, existem tarefas que o homem
desempenha melhor, enquanto há atividades em que o talento feminino se
sobressai. E isso também deve acontecer nas igrejas.
Não estariam os homens
impedindo as mulheres de exercer o ministério pastoral? Essa questão é
polêmica. O pastor Paul Gowdy, que abandonou a Igreja do Aeroporto de Toronto,
após participar de todas as aberrações que ali aconteciam como parte da chamada
"bênção de Toronto", discorreu, numa carta — citada ao longo desta
obra —, sobre a ordenação de mulheres, que também estava acontecendo naquela
igreja, e de forma banal:
... não comentei a
controvertida questão da ordenação de mulheres. Pessoalmente acredito, pelas
Escrituras, que as mulheres não devem ser pastoras ou presbíteras numa
assembléia local. Eu poderia estar errado quanto a isto e existe muito debate
na igreja a este respeito, e esta era minha convicção, mas as igrejas Vineyard
estavam ordenando todas as esposas de pastores para serem co-pastoras com eles.
Sou a favor de mulheres no ministério, mas creio que o papel do
ancião/presbítero/pastor local foi reservado aos homens. Não fui eu quem
escrevi a Bíblia, mas pela graça de Deus quero obedecê-la daqui em diante.
Apesar de toda a polêmica em
torno desse assunto, a Bíblia é clara. Embora as mulheres tenham importante
papel ao longo das páginas do Novo Testamento, aparecendo na linhagem e no
ministério de Cristo (Mt 1.3,5,6,16; Lc 8.1-3), Deus conferiu aos homens, em
regra geral, o exercício da liderança eclesiástica (Ef 4.8-11).
Priscila tem sido mencionada
por alguns como apóstola, com base em conjecturas, sem nenhum fundamento.
Fala-se muito de Júnia, que era um homem! O certo, contudo, é que, na igreja
primitiva, as mulheres se ocupavam da oração (At 1.14) e do serviço
assistencial (At 9.36-42; Rm 16.1,2). E algumas se notabilizaram como fiéis
cooperadoras do apóstolo Paulo, como Febe, Priscila, Trifena, Trifosa, etc. (Rm
16), além de Lídia, a vendedora de púrpura (At 16.14). Não há referência a
mulheres exercendo atividades pastorais.
Jesus escolheu doze homens
para compor o ministério da igreja nascente (Mt 10.2-4). E Ele não tinha nenhum
vínculo com fariseus, saduceus, escribas ou quaisquer grupos machistas de sua
época. Na escolha dos primeiros diáconos, que poderiam vir a ser ministros,
caso tivessem chamada de Deus para tal e servissem bem ao ministério (Hb 5.4; 1
Tm 3.13), os apóstolos disseram: "Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete
varões..." (At 6.3). No primeiro concilio, em 52 d.C, os rumos da igreja
foram traçados por homens (At 15). E, em Apocalipse 2 e 3, são mencionados os
pastores das igrejas da Ásia.
As mulheres podem e devem
pregar o evangelho, orar pelos enfermos e desempenhar todas as tarefas de um
seguidor de Jesus (Mc 16.15-18), pois também são cooperadoras de Deus (1 Co
3.9). O que lhes é vedado é o desempenho de funções reservadas aos ministros,
como ungir enfermos (Tg 5.14). Muitos obreiros as impedem de testemunhar,
valendo-se erroneamente do texto de 1 Coríntios 14.34, em que Paulo se opõe ao
falatório na casa do Senhor, e não à pregação (v.35).
Diante do exposto, não há, com
todo respeito às mulheres, nenhuma base bíblica para a ordenação ou consagração
de pastoras ou "bispas" ao santo ministério. Isso é uma inovação
extrabíblica.
Sabemos que há exceções, mas
estas não devem ser transformadas em regras. Quando fazemos valer o que
pensamos ou sentimos, e não o que a Palavra de Deus diz, o perigo jaz à porta.
A BÍBLIA NÃO DIZ AS EFEMERIDADES QUE ALGUNS
DIZEM
São tantas coisas que a
Bíblia não diz... O assunto deste capítulo daria um novo livro. Mas vou
analisar de maneira sucinta mais algumas frases tidas como bíblicas.
Um ao outro ajudou. Muitos
têm citado o versículo bíblico "Um ao outro ajudou e ao seu companheiro
disse: Esforça-te" (Is 41.6). Mas é uma pena que isso esteja relacionado
com os inimigos do povo de Deus! Você sabia disso? Leia o contexto...
Restitui. Quero de volta o
que é meu. O pensamento contido na letra de uma canção "evangélica"
pela qual se afirma que devemos buscar restituição junto a Deus é bíblico? Bem,
alguém já chamou esse "hino" de "melô do imposto de
renda"... Mas, quem somos nós para exigirmos alguma coisa? Quem somos nós
para fazer uma exigência desse tipo? Uma coisa é certa: em Cristo, somos mais
que vencedores (Rm 8.37), e as coisas velhas já passaram; tudo se fez novo (2
Co 5.17).
Não diga a Deus qual é o
tamanho do seu problema. Eis outra frase de efeito: "Não diga a Deus qual
é o tamanho do seu problema, mas ao problema qual é o tamanho do seu
Deus". Tudo bem, tudo bem... O Senhor é maior do que todas as coisas.
Contudo, esse chavão desestimula o crente a orar. É claro que precisamos dizer
a Deus que as nossas necessidades são grandes ou pequenas. Isso se chama
oração.
Agora tudo é profético. Hoje
em dia, tudo é profético: "intercessão profética", "mover
profético", "adoração profética"... Certa cantora, como já
vimos, vestiu uma bota para pisar "profeticamente" na cabeça do
Diabo. Um grupo escalou e ungiu o pico Dedo de Deus (no Rio de Janeiro),
"profeticamente"... Ah, também existe escola de capacitação
profética! Meu Deus! Que banalização é essa? Tudo agora é profético? É claro
que a Bíblia não apóia nada disso. Trata-se de mais um modismo...
Bem, são muitas as coisas que
a Bíblia não diz... Vou parar por aqui. Este capítulo já está bem maior do que
os demais. No próximo, vou falar um pouco mais sobre o pregador, seu porte e
sua postura. Afinal, os pregadores não devem evitar apenas os erros cometidos
por meio de palavras, não é mesmo?
Capítulo 10
PORTE E POSTURA
Portai-vos de modo que não
deis escândalo... portai-vos varonilmente... Somente deveis portar-vos
dignamente conforme o evangelho de Cristo... 1 Coríntios 10.32; 16.13 e
Filipenses 1.27
Apesar de meu pai ser
alfaiate e minha mãe gostar de costurar, nunca me animei com corte e costura. Confesso
que eu tinha tudo para aprender esse ofício. Mas Deus, que me chamou ao santo
ministério, fez com que — substituindo a letra "c" por "p"
— me preocupasse com o porte e a postura.
Ao longo desta obra, tenho
enfatizado a necessidade de o expoente da Palavra de Deus ter compromisso com o
Deus da Palavra, a fim de pregar com fervor e sentimento uma mensagem
bíblico-cristocêntrica. Outra tônica tem sido a necessidade de o pregador
valorizar a Hermenêutica e interpretar os textos sagrados corretamente, não
sendo como um papagaio, que apenas repete o que ouve.
Entretanto, de acordo com a
retórica clássica, a pregação eficaz e persuasiva deve possuir três elementos,
representados por três palavras gregas — logos: o conteúdo verbal da mensagem,
incluindo-se arte e lógica na sua exposição; pathos: o fervor, a paixão, o
sentimento e a eloqüência do pregador; e ethos: o caráter percebido do orador.
Vemos esses três elementos em
1 Tessalonicenses 1.5: "porque o nosso evangelho não chegou até vós
tão-somente em palavra [logos], mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e
em plena convicção [pathos], assim como sabeis ter sido o nosso procedimento
[ethos] entre vós e por amor de vós" (1 Ts 1.5, ARA). Este último será a
ênfase deste capítulo. Além disso, discorrerei sobre a necessidade de os
pregadores de hoje não se esquecerem da simplicidade e acerca das práticas que
devem ser evitadas no púlpito, antes, durante e depois da pregação.
SER MODERNO SEM SER MUNDANO?
Alguns irmãos me pediram que
eu desse um parecer sobre um artigo que circula na Internet, pelo qual certo
pregador discorre sobre o seu novo visual e procura distinguir os termos
"mundano" e "moderno". Farei uma breve análise do texto,
omitindo o nome do seu autor, haja vista eu não ter como objetivo expor
pessoas, e sim esclarecer o povo de Deus, combatendo heresias e modismos
contrários ao evangelho de Cristo.
Examinei, pois, o artigo,
intitulado "Ser moderno sem ser mundano", e exponho aqui um sucinto
parecer. Antes, porém, para ser honesto, e como profissional da área editorial,
reconheço que o texto que li, no site do tal pregador, é relativamente fluente
e bem escrito. Parabenizo, pois, o seu autor pela clareza de sua exposição,
mas... Causou-me estranheza o fato de, ao longo de sua explanação, o tal pregador
falar pouco do Senhor Jesus Cristo. A bem da verdade, há apenas uma referência
direta a Cristo no artigo, além de outra anexa à sua assinatura. Apesar disso,
ele faz questão de afirmar que é pentecostal! Por que eu estranhei? Porque o
apóstolo Pedro, na primeira pregação pentecostal, pregou a Cristo (At 2.22,36).
Filipe, em Samaria, pregou a Cristo (At 8.5). Paulo pregou a Cristo (1 Co
1.22,23). Um pregador verdadeiramente pentecostal prega a Jesus Cristo, e não
se preocupa em falar tanto de si mesmo.
DAVID BECKHAM?
Não entendi o porquê de o tal
pregador fazer questão de justificar-se quanto a pequenos caprichos, como
aparar as unhas, pintar os lábios (?), mudar a cor do cabelo... Sinceramente,
ao ler essa parte do artigo, pensei: "Estou mesmo lendo uma palavra de um
pastor pentecostal, ou um texto de um metrossexual, como o jogador inglês David
Beckham?"
Admirei-me desta afirmação:
"As pessoas que têm me assistido ultimamente, quer pela TV ou em
pregações, devem ter notado que a unção, a glória de Deus e a presença do
Espírito Santo continuam sobre o ministério que o Senhor me confiou. Os sinais,
a salvação das almas continuam, se não iguais, maiores do que antes". Por
que eu estranhei? Porque o homem de Deus que, de fato, é ungido por Ele não
precisa de auto-afirmação. É Deus quem dele dá testemunho (Mt 3.17). Todos
constataram que o rosto de Moisés brilhava, mas ele mesmo não sabia disso!
Também estranhei a razão da
defesa que o tal pregador faz da idéia de que, como a vida na Terra é
extremamente curta, devemos aproveitá-la ao máximo. Isso pode ser válido para
uma pessoa que não teme a Deus e apega-se a bens materiais. Para nós, que
servimos a Jesus Cristo, a nossa Cidade está nos Céus (Fp 3.20,21). Somos
peregrinos e forasteiros neste mundo (1 Pe 2.11). Podemos partir para a
eternidade a qualquer momento. Daí a Palavra de Deus dizer: "Louco, esta
noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado, para quem será?" (Lc
12.20).
COSTUMES MUNDANOS 3 X 0 COSTUMES
ASSEMBLEIANOS
Admirei-me do fato de o tal
pregador considerar exagerada a atitude de um pastor de certa cidade, o qual
pediu-lhe para não pregar de calça jeans. Ele considerou tal procedimento antagônico
em relação ao de outro pastor, que o chamou para tomar um banho de mar usando
um short.
É óbvio que a Assembléia de
Deus, como todas as denominações históricas, possui as suas tradições ou usos e
costumes. E a etiqueta, nesse caso, pede que um pregador convidado se apresente
de terno e gravata. Isso não é um mal dessa denominação. Afinal, como nos
apresentamos perante um juiz? E numa audiência com o Presidente da República?
Como se vê, incoerente seria dar um mergulho de terno e pregar de short dentro
de um templo, não é mesmo?
Incomodei-me com o fato de o
tal pregador criticar os costumes de sua denominação, assumindo, ao mesmo
tempo, os costumes que prevalecem no mundo! Afinal, se é costumeiro na
Assembléia de Deus os obreiros vestirem terno e gravata, o que dizer de
caprichos como passar gel nos longos cabelos, usar cavanhaque e vestir calça jeans
surrada e camiseta de grife, além de usar lente de contato que muda a cor dos
olhos? Ora, isso é um tipo de "visual" costumeiramente adotado por
cantores e atores do mundo!
De acordo com a Palavra de
Deus, ainda que a aparência não seja mais importante do que o nosso "homem
interior" (1 Sm 16.7; Mt 23.25-28; 2 Co 4.16), o Senhor se preocupa, sim,
com ela (1 Tm 2.9; Sl 103.1,2; 1 Ts 5.23). Daí o apóstolo Paulo, inspirado pelo
Espírito Santo, ter afirmado que os servos devem se sujeitar aos seus senhores,
"não defraudando; antes, mostrando toda a boa lealdade, para que, em tudo,
sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Senhor" (Tt 2.10). Eis a razão
de nos preocuparmos com porte e postura: somos "ornamento da doutrina de
Deus".
A GRIFE DE JOÃO BATISTA
Se o pregador João Batista
vivesse hoje, como seria o seu "visual"? Tudo bem, tudo bem... Eu sei
que não vestiria pêlo de camelo. Quanto ao cinto de couro, creio que esse
acessório ele até usaria. E sua alimentação? É claro que não comeria gafanhotos
e mel silvestre. No entanto, tenho certeza de que ele procuraria coisas
compatíveis. Não seria extravagante quanto ao traje e à alimentação.
Aliás, tenho tido o desprazer
de conhecer alguns obreiros que apreciam, além da carne (churrasco), a obra da
carne chamada glutonaria. Comem, comem, comem... E, parecendo insaciáveis,
comem mais, e mais, e mais, e mais um pouco... Não precisamos comer mel
silvestre e gafanhotos, mas também não temos a necessidade de exagerar, não é
mesmo?
Voltando ao artigo,
estranhei, finalmente, a afirmação do tal pregador de que ele é moderno, e não
mundano, haja vista ter demonstrado desconhecer princípios elementares da
Palavra de Deus. Afinal, há coisas que, a despeito de não serem pecados,
propriamente, prejudicam a nossa comunhão com Deus, sendo embaraços na vida do
obreiro (Hb 12.1).
CUIDADO COM OS EMBARAÇOS DESTA VIDA
Como já vimos, nas Escrituras
há pelo menos sete grupos de coisas que, conquanto não sejam necessariamente
pecaminosas, atrapalham a nossa comunhão, principalmente no caso de um
pregador.
Coisas inconvenientes (1 Co
6.12a). Tudo nos é lícito, mas certas coisas não convém, principalmente a um
obreiro. É conveniente um pregador adotar um "visual" excessivamente
moderno, a ponto de levar ele próprio a se justificar por isso?
Coisas que dominam (1 Co
6.12b). Há atitudes e procedimentos que, em princípio, não aparentam ser
pecaminosos, mas tornam-se dominadores, como é o caso do cuidado excessivo com
a aparência. O que levaria um pregador do evangelho — que se diz pentecostal —
a preocupar-se tanto com uma questão considerada secundária pelo Senhor Jesus
(Lc 12.22-31)?
Coisas que não edificam (1 Co
10.23). Concordo que pode não ser pecado adotar um "visual"
moderninho. Porém, isso edifica? E, se não é edificante, até que ponto não é
pecado? Não quero complicar as coisas, porém tudo o que um obreiro faz,
publicamente, deve visar à salvação de almas e a edificação do povo de Deus.
Coisas que não passam no
crivo de Filipenses 4.8. Tudo o que fazemos deve ser submetido a esse crivo.
Devemos perguntar se o que fazemos é verdadeiro, honesto, justo, puro, amável,
de boa fama, etc. Todos os pregadores devem se colocar diante do espelho, que é
a Palavra de Deus (Tg 1.22-24).
Coisas que parecem pecado (1
Ts 5.22). Usar certos trajes pode não ser pecado. Contudo, a nossa comunhão com
Deus e o nosso testemunho diante dos homens são tão importantes quanto a nossa
pregação, a ponto de a Palavra de Deus mencionar a aparência do mal. Se algo
que praticamos parece pecado, o sinal amarelo acabou acender. Cuidado!
Coisas que embaraçam (Hb
12.1; 2 Tm 2.4). O obreiro do Senhor não pode se deixar embaraçar com as coisas
desta vida. E não há dúvidas de que o assunto do artigo em questão envolve
certas circunstâncias um tanto embaraçosas, não é mesmo?
Coisas semelhantes às
mencionadas em Gálatas 5.19-21. Não nos esqueçamos de que, além das obras
citadas diretamente como sendo da carne, há outras, não mencionadas ali
expressamente, porém igualmente perigosas e pecaminosas, chamadas de
"coisas semelhantes a estas" (v.21). Não estaria o cuidado exagerado
com a aparência associado a uma delas?
A SIMPLICIDADE DO PREGADOR
Quem prega a Palavra de Deus
precisa ter em mente que apartar-se da prudência e da simplicidade que há em
Cristo é uma escolha errada (Ef 5.15; 2 Co 11.3). Lembremo-nos do que Jesus
disse aos seus mensageiros: "Eis que vos envio como ovelhas ao meio de
lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as
pombas" (Mt 10.16).
Há obreiros que, em vez de
agir com simplicidade, sem extravagâncias, recorrem à excentricidade dramática!
Preferem o ritualismo, o formalismo e o artificialismo; são verdadeiros atores.
É claro que não precisamos adotar uma imobilidade sepulcral, porém devemos nos
portar com sabedoria diante das igrejas de Deus (1 Co 10.32), a fim de que
sejamos exemplo em tudo (1 Tm 4.12).
Como deve ser a nossa postura
no púlpito, ao pregar o evangelho? O Mestre Jesus — nosso maior exemplo (Jo
13.15) — simplesmente expunha a Palavra de Deus: "E, abrindo a sua boca,
os ensinava, dizendo: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o
reino dos céus" (Mt 5.2,3).
CONTADORES DE HISTÓRIAS...
Há animadores que dizem, com
a boca cheia: "Eu não sou pregador. Sou um contador de histórias. Eu falo
do jardim, e o público sente o cheiro das flores. Falo do Céu, e todos ficam
desejosos de morar lá..." Que modéstia, hein?! Teatralizam ao extremo.
Sentam-se ou se deitam no púlpito; usam as pessoas como coadjuvantes; e fazem
gracejos ou brincadeiras de mau gosto. Esquecem-se de que a sua missão é apenas
expor a Palavra de Deus, e não chamar a atenção para si (Jo 1.22,23; 3.30).
Por que não expor a Palavra
do Senhor com naturalidade, sem gesticulação excessiva e uso abusivo de
recursos do tipo olhe-para-o-seu-irmão-e-diga-isso-ou-aquilo? Não quero, com
isso, incentivar você, caro pregador, a ser uma estátua. Não! Há expoentes que,
ao transmitir a mensagem, não empregam nenhum recurso homilético: apenas movem
a boca, fixando o olhar em uma única direção. Isso também é ruim! Para ser simples,
não é necessário abrir mão da personalidade e da ousadia no falar (At 9.29).
Seja autêntico.
A linguagem do obreiro também
deve ser simples, não rebuscada. Não é preciso empregar palavras bonitas,
difíceis e raras (1 Co 2.4,5). O pregador deve falar de tal modo que seja
entendido até pelas crianças (Mc 10.13-16). Você pode até empregar uma palavra
que não seja usual, porém explique o seu significado. Caso contrário, embora
todos admirem o seu belo português, ficarão sem entender o que quis dizer.
O OBREIRO E A LINGUAGEM
Outro erro que os pregadores
devem evitar é empregar expressões chulas, mesmo com a boa intenção de querer
falar a linguagem do povo. Um dia desses ouvi um pregador dizendo:
"Irmãos, Jesus nunca deu uma mancada. Nós sempre damos mancada, mas Ele
nunca deu mancada". Ora, isso é linguagem de um pregador do evangelho? Não
podemos confundir simplicidade com falta de zelo com as coisas sagradas.
Evite linguagem de baixo
nível, não digna de uma tribuna santa (Tt 2.8). Gírias e expressões populares,
salvo exceções, devem ser descartadas. Por que "salvo exceções"?
Porque, às vezes, valer-se de uma ou outra expressão popular pode facilitar na
comunicação ou exemplificação de uma verdade. Mas isso é uma exceção. Em geral,
o emprego de linguagem excessivamente coloquial não é bom.
Infelizmente, muitos crentes
— inclusive obreiros — não se preocupam com a linguagem. Não lêem nem se
aperfeiçoam no vernáculo; acham que basta orar e jejuar. É claro que essas
ferramentas, no campo espiritual, são insubstituíveis, todavia conhecer bem a
língua materna e estar bem preparado na arte de falar são elementos
indispensáveis ao pregador (2 Tm 2.15;l Tm 4.13).
"NÃO GOSTO DE CULTO"
Um certo pregador, ao ser
convidado para um grande congresso, pediu para ficar no hotel até momentos
antes da pregação. Mas o pastor não gostou dessa solicitação e mandou o
motorista buscá-lo bem antes do horário combinado. Completamente à vontade, o
pregador também não gostou e disse ao irmão encarregado de levá-lo que não
iria. Quando este lhe perguntou por que não queria ir antes, ouviu dele a
surpreendente resposta: "Não me leve a mal, meu irmão. Eu não gosto de
culto. Meu negócio é pregar".
Os pregadores —
principalmente os mais famosos — deveriam ser os melhores crentes, posto que são
referenciais para o povo. Deveriam orar, cantar os hinos congregacionais,
prestar atenção quando alguém está testemunhando, etc. No entanto, tem
acontecido exatamente o contrário. Eles chegam em cima da hora para pregar,
como se fossem astros; não cultuam a Deus; só comparecem para apresentar o seu
show. É um péssimo costume chegar quase na hora da pregação... Chegue cedo para
o culto. Pregador também — e principalmente — é crente!
É claro que, por outro lado,
há "cultos" em que é melhor não participar mesmo! Eu, como pregador,
sofro muito, pois gosto de chegar no início da reunião... Ah, como é difícil
suportar as intermináveis cantorias! Um dia desses, fiquei tão irritado, que
desabafei ao microfone: "Caros irmãos, precisamos ter desejo de ouvir a
Palavra de Deus. Cheguei aqui no início da reunião. E, depois de mais de duas
horas de cânticos, o dirigente ainda diz que chegou a hora mais importante do
culto?" Por incrível que pareça, a tal igreja me convidou de novo! Ah, e o
dirigente me passou o microfone no horário nobre!
OUTROS ERROS QUE OS PREGADORES DEVEM EVITAR
Como o púlpito é um lugar de
reverência, consideremos algumas atitudes que devem ser evitadas antes de o
pregador assumir o microfone. Haja vista não pregarmos apenas com palavras.
Conversar com os
companheiros. Sabemos que existem exceções; porém, há obreiros que conversam à
vontade no púlpito; brincam, riem, fazem gestos... Será que não percebem que há
várias pessoas olhando para eles? O povo observa os que estão em lugar de
destaque. Por isso, Paulo alertou: "Em tudo te dá por exemplo de boas
obras..." (Tt 2.7).
Assentar-se deselegantemente.
É preciso ter cuidado com isso. A cadeira do púlpito não é o sofá da nossa
sala! Não é um lugar para relaxar. Aliás, o pregador, embora sentado, deve estar
atento, pronto, preparado, sabendo que poderá entrar em ação a qualquer
momento. Não é hora de descansar, e sim de vigilância e sintonia com o Espírito
Santo.
Apresentar-se com o colarinho
e a gravata desajeitados. Lembro-me de que certa vez um obreiro chegou à
congregação com a gravata por cima do colarinho. Tentei ajudá-lo, para que não
passasse por uma situação constrangedora; ele, curiosamente, disse que gostava
de usar a gravata daquela forma! Bem, há gosto para tudo, mas o obreiro não
pode se dar ao luxo de fazer tamanha extravagância. É claro que todos riram
dele... Também não era para menos, não é mesmo? Como um pregador assim terá
influência positiva sobre aqueles que o "ouvem"?
Coçar-se como se estivesse em
casa. Imagine a cena: um obreiro coçando-se à vontade... Alguém diria:
"Que papelão!" Tomemos cuidado para não nos tornarmos motivo de riso,
prejudicando, assim, a nossa boa conduta diante da congregação.
Tamborilar na cadeira em que
está assentado. Você já notou como alguns companheiros se portam no púlpito?
Ficam tamborilando na cadeira... Isso não é um bom exemplo para o rebanho de
Deus (1 Pe 5.2,3).
Falar ao celular. Entendo que
o telefone celular hoje tornou-se uma coisa comum, acessível a quase todas as
pessoas. Entretanto, atendê-lo em público, mesmo em uma emergência, é um
péssimo exemplo. Tenho visto obreiros atenderem aos seus celulares no púlpito
com a maior tranqüilidade... E ainda falam alto, riem, discutem, etc. O que
fazer? Ora, se não for possível desligar o aparelho, use a opção
"vibrar", disponível em quase todos os aparelhos.
Um dia desses, se eu não
tivesse adotado tal procedimento, teria passado por um grande vexame. Durante a
pregação, meu telefone — que estava no bolso do paletó — "tocou" sete
vezes!
EVITE ERROS AO MICROFONE
Contar testemunhos ou
experiências em vez de pregar a Palavra. Há pregadores que pensam que pregar a
Palavra é ficar contando testemunhos. Isso não é pregação! A exposição tem de
ser bíblico-cristocêntrica. Um ou outro testemunho pode até ser empregado para
reforçar uma verdade das Escrituras; apenas isso. Nesse sentido, qual foi o
conselho de Paulo a Timóteo? "Conjuro-te pois diante de Deus e do Senhor
Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu
reino, que pregues a palavra (...) Porque virá tempo em que não sofrerão a sã
doutrina..." (2 Tm 4.1-3). O apóstolo incentivou o jovem pregador a contar
experiências? Não! Mandou-o pregar a Palavra!
Confundir a pregação com
palestras motivacionais. Infelizmente, muitos expoentes ignoram o que é
pregação (1 Co 1.23; 2.1-5). Não pregam sobre o sangue de Jesus, a
ressurreição, a Segunda Vinda de Cristo e a santificação do crente. Seus temas
favoritos são: "Seja um vencedor usando o pensamento positivo",
"Você é aquilo que pensa", "Suas palavras têm muito poder",
etc. Não faça isso! Fale de Jesus Cristo, pois é no nome dEle que há poder (Mc
16.15-18).
Citar episódios, expressões
ou pessoas da Bíblia desconhecidos dos ouvintes. Um pregador foi convidado para
pregar na China para pessoas não-crentes. Ao saudar a todos com rápidas
palavras, ouviu quase meia hora de interpretação! Ele dissera aos chineses, que
nada conheciam da Bíblia: "Eu venho a vós em nome do Deus de Abraão, de
Isaque e de Jacó", obrigando o intérprete a explicar quem era cada uma das
personagens citadas!
Contar piadas ou dizer
gracejos ao auditório. Já vimos que isso não é bom. É claro que uma e outra
ilustração divertida não prejudicam a exposição da Palavra. O problema está no
uso abusivo desse recurso. Aliás, os fatos engraçados só deveriam ser
empregados quando houvesse uma aplicação séria por trás deles. Caso contrário,
o pregador torna-se um humorista, um mero animador de auditórios.
Animar o auditório. Há
pregadores que, sinceramente, abriram mão do seu ministério de expor as
verdades de Deus, para agradar o povo. Mesmo antes de ler a Bíblia — alguns nem
isso fazem mais — pedem para as pessoas se cumprimentarem, se abraçarem,
profetizarem isso ou aquilo... Ora, precisamos dar um basta nisso! Pregação é
exposição da Palavra (Sl 119.130; Tt 2.1), e não interação com o público!
Entendo até que, em uma palestra, isso seja viável, porém estamos falando de
pregação expositiva.
Pregar com as mãos no bolso
ou ajustar e suspender a calça enquanto fala. Às vezes, fazemos algumas coisas
por mania ou cacoete. Não me tenha mal; a minha intenção ao escrever sobre isso
é orientar. No entanto, pregar com as mãos no bolso ou ficar suspendendo a
calça não fica bem para um obreiro.
"EU NÃO SOU UM SHOW-MAN"
Falar "atropelando"
as palavras. Alguns pregadores, querendo parecer pentecostais, tropeçam nas
palavras. Não queira "acender o fogo" por conta própria. Isso é obra
do Espírito Santo! Apenas fale a Palavra com clareza, como fizeram Pedro,
Estêvão e Paulo (At 2.22-36; 7.2-56; 17.22-31). Tenha cuidado, para que todos
ouçam a sua voz. A pregação deve ser ouvida claramente por todo o auditório.
Mas, para isso, é preciso ter boa dicção, pronunciar com clareza as palavras e
articular bem as sílabas. O que adianta o aparelho de som estar bem regulado,
se você não pronuncia as palavras com clareza?
Gritar. Não é preciso fazer
isso! Basta falar com a clareza e a entonação necessárias. O que é entonação? É
a elevação e a diminuição da voz, com ênfase nas expressões e palavras-chave.
Digamos que você cite a passagem de João 14.6. Quando disser que o caminho, a
verdade e a vida é Jesus, faça isso de modo convicto, com expressividade.
Atacar pessoas presentes, de
modo "indireto". O povo vibra quando os pregadores voltam-se para os
obreiros assentados na tribuna e verberam contra eles. Num culto de que
participei, certo animador de auditórios demonstrou estar tão irritado pelo
fato de eu nada sentir durante a sua performance, que chegou ao ponto de lançar
o próprio paletó ao chão e berrar ao microfone: "Pare de me olhar com cara
de delegado! Eu não sou show-man". Imagine se fosse...
Falar sem expressividade. As
idéias e sentimentos são comunicados pela voz. O tom baixo expressa coisas
graves, tristes, enquanto o alto, prazer, alegria, entusiasmo. A gesticulação
também tem importante papel, compreendendo a posição, o movimento, a expressão
fisionômica e o uso dos olhos. É preciso ter cuidado para não se adotar o que
chamo de imobilidade sepulcral. Não há necessidade de o pregador ficar olhando
para cada pessoa. No entanto, olhar para o teto ou para o chão o tempo todo é
uma grande barreira da comunicação. Tenha cuidado com isso. Ao pregar, olhe
para a frente; fixe o olhar no auditório. Quando for preciso dirigir-se a um
grupo em específico — por exemplo, o coral ou a mocidade —, olhe para eles.
Veja como Jesus tinha esse cuidado: "E, levantando ele os olhos para os
seus discípulos, dizia: Bem-aventurados..." (Lc 6.20).
PÚLPITO NÃO É PALCO!
Diante do exposto, quero
enfatizar que o púlpito — embora muitos hoje o estejam transformando em palco —
é um lugar sagrado. Dele se ministra a Palavra do Senhor: "E Esdras, o
escriba, estava sobre um púlpito de madeira, que fizeram para aquele fim; (...)
E Esdras abriu o livro perante os olhos de todo o povo..." (Ne 8.4,5). Que
não subamos nele, se não estivermos preparados.
Valorizemos, pois, o
privilégio que temos de ser mensageiros do Senhor, pregando a Palavra — e
somente a Palavra — com temor e tremor. Afinal, não são todos que receberam
esta chamada específica. Num sentido, todos devem ser pregadores (Mc 16.15),
mas eu me refiro ao ministério (Ef 6.11).
Assim, que, à semelhança de
Paulo, você reconheça esse dom de Deus (2 Tm 1.11). Em resumo, "... cumpre
o teu ministério" (2 Tm 4.5).
Bem, no próximo capítulo
vamos aprender um pouco com o Senhor Jesus Cristo, o Pregador-modelo. Como Ele
pregava? Qual era o conteúdo de suas pregações? E, quanto ao seu porte e à sua
postura? Vale a pena conferir.
Capitulo 11
JESUS, O MAIOR
PREGADOR QUE JÁ EXISTIU
Tomai sobre vós o meu jugo, e
aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso
para a vossa alma. Mateus 11.29
Billy Graham é chamado, com
justiça, de "o maior evangelista do século XX". Outros, como D.L.
Moody e C.H. Spurgeon — o príncipe dos pregadores —, foram considerados, em seu
tempo, grandes propagadores do evangelho de Cristo. E no presente século? Quem
tem sido o grande evangelista de nosso tempo? Aquele que sopra sobre as pessoas
ou as golpeia com seu paletó "mágico", a fim de derrubá-las? Não,
não.
Quem, então, pode ser chamado
hoje de "o maior evangelista deste século"? Aqueles famosos telebispo
e telemissionário brasileiros, que viajam o mundo todo, promovendo campanhas
que reúnem milhares de pessoas? Não, não. Eles não pregam o evangelho de
Cristo. O negócio deles é confissão positiva e teologia da prosperidade, pois
isso lhes traz um bom retorno financeiro...
Procuram-se evangelistas —
evangelistas, mesmo! — que preguem o evangelho de Cristo. Oremos, para que, não
apenas um, mas vários homens e mulheres propaguem as boas novas de salvação,
não imitando os super-pregadores, que, abandonando ao modelo bíblico,
esqueceram-se da cruz de Cristo.
UM RECADO AOS "EVANGELISTAS" DESTE
SÉCULO
Em nossos dias, a modéstia
passa longe de líderes e pregadores inescrupulosos, cujo objetivo maior é
enriquecer valendo-se de estratégias que nada têm que ver com a evangelização.
Não obstante, pelo fato de viajarem pelo mundo à custa da oferta dos fiéis ou
de altos cachês, eles se autodenominam "os maiores evangelistas deste
século".
Parem com isso, por favor!
Vocês sequer falam de Jesus! Aprendam com o Pregador-modelo, o Mestre Jesus
Cristo, que dizia: "A minha doutrina não é minha, mas de meu Pai que me
enviou" (Jo 7.16). Mas, o que têm feito vocês, "pregadores
cotonetes" (2 Tm 4.3), propagadores de "agradáveis" mensagens
que "coçam" os ouvidos? Tomem uma posição enquanto há tempo, pois as
suas desculpas naquele Dia não os livrarão do fogo do Inferno (Mt 7.21-23).
Desafio, neste último
capítulo, a todos os pregadores, iniciantes e experientes, a submeterem o seu
ministério ao crivo da Palavra de Deus. E, para fazer isso, nada melhor do que
olhar para a vida de Cristo. Afinal, está escrito: "Todo aquele que diz
que está nele também deve andar como ele andou" (1 Jo 2.6). Você deseja
andar como o Mestre andou? Ou prefere, a cada dia, inventar novas maneiras de
conquistar o público? Com quem é o seu compromisso, com o povo, com o seu
sentimento, com a sua conta bancária, ou com o Senhor Jesus Cristo?
JESUS, O MAIOR PREGADOR DE TODOS OS TEMPOS
Quem é o maior referencial
para os pregadores de hoje? Não são os grandes homens de Deus dos tempos do
Antigo Testamento, como Moisés, Samuel, Davi e Elias, apesar de suas notáveis
biografias (Hb 1.1,8,9; 11.1 a 12.2). Não é João Batista, o precursor de
Cristo, cheio do Espírito desde o ventre materno e considerado o maior profeta
entre os nascidos de mulher (Lc 1.15; Mt 11.11).
Também não é Paulo —
principal apóstolo e doutor dos gentios, arrebatado ao Paraíso, no terceiro
céu, onde ouviu coisas inefáveis, e autor de treze epístolas (2 Co 12.12; 2 Tm
1.11; 2 Co 12.1-4) — o maior pregador de todos os tempos. Não são, ainda, os
apóstolos Pedro e João, apesar de seus bem-sucedidos ministérios (At 3.1;
8.14). Um foi o primeiro grande pregador pentecostal e autor de duas epístolas,
e o outro, autor do Evangelho que apresenta Jesus como Deus, de três epístolas
e do Apocalipse.
Os maiores referenciais para
os pregadores de hoje também não são o mártir Estêvão ou o diácono-evangelista
Filipe, homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria (At 6-8).
Não são, ainda, os valorosos obreiros que deixaram as suas marcas nas páginas
da História da Igreja, como Crisóstomo — a "boca de ouro" —,
Agostinho, Lutero, Moody, Spurgeon, Finney, Gunnar Vingren, N.L. Olson, Eurico
Bergstén, Samuel Nystrõm, Valdir Nunes Bícego, etc.
Nas páginas da Bíblia Sagrada
e da História Eclesiástica há muitos obreiros cujas vidas devem ser imitadas. O
autor de Hebreus até disse, apropriadamente: "Lembrai-vos dos vossos
pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando
para a sua maneira de viver" (13.7). No entanto, de acordo com a Palavra
do Senhor, o nosso maior exemplo é o Senhor Jesus Cristo, em tudo (Jo 13.15; Mt
11.29; At 1.1).
JESUS, O PREGADOR-MODELO
O nome de Jesus, na
atualidade, tem sido alvo de exploração mercadológica. A cada dia, novos
autores tentam alçar vôo com títulos do tipo
"Jesus-o-maior-isso-e-aquilo-que-já-existiu". Não pense que este
capítulo acompanha essa "onda". Não!
O Senhor Jesus, de fato, foi
o mais importante pregador que já existiu, o principal expoente que já andou na
terra, o maior evangelista de todos os tempos.
Jesus é o maior exemplo para
todos nós; e os principais obreiros do Novo Testamento reconheceram isso. João
Batista não se achou digno de desatar as correias de suas sandálias (Mt 3.11;
Jo 3.30). Paulo reconheceu que imitava o Senhor e incentiva-nos a termos o
mesmo sentimento que houve nEle (1 Co 11.1; Fp 2.5-11). Pedro o chamou de Sumo
Pastor e afirmou que todos devem seguir às suas pisadas (1 Pe 5.4; 2 Pe
2.20,21). E o que dizer do evangelista João? Ele afirmou que todos devemos
andar como o Mestre andou (1 Jo 2.6).
Sim, Jesus é o maior exemplo
a ser seguido, tanto pelos experientes pregadores, que se consideram paradigmas
desta geração, quanto pelos iniciantes, que desesperadamente buscam
referenciais. Alguns destes, infelizmente — por não encontrarem nenhum
pregador-modelo que de fato mereça a honra de ser imitado —, decepcionaram-se
com o ministério da Palavra. Mas não desanimemos! Jesus Cristo, o
Pregador-modelo deixou-nos o exemplo, e é para Ele que devemos olhar!
JESUS COMO SERVO DE DEUS
O Senhor Jesus é-nos o
paradigma em todos os dons ministeriais. Ele é o Apóstolo da nossa confissão
(Hb 3.1), o maior Profeta (Hb 1.1; Mt 13.57; 23.37; Lc 13.33), o Evangelista
(Lc 4.18), o Sumo Pastor (Jo 10.11; Hb 13.20; 1 Pe 2.25) e o Doutor (Jo 3.2;
13.13; Mt 23.10). E, sendo o maior em tudo, tornou-se Servo. Por quê? Para
dar-nos o exemplo (Jo 13.1-15). Ele veio ao mundo como Servo (Is 42.1; Jo
1.1-5,14; Fp 2.5-11; Mc 10.43-45).
Isso que é exemplo! E é Ele a
quem devemos imitar, se de fato desejamos ser pregadores do evangelho, honrando
à chamada que dEle recebemos. Para sermos bem-sucedidos, temos de nos revestir
do Senhor Jesus Cristo (Rm 13.11). O que é isso? É recebê-lo e considerá-lo
como Senhor, Jesus (Salvador) e Cristo. Muitos o têm apenas como Salvador. Que
cada pregador não se considere apenas amigo do Mestre (Jo 15.14,15; 12.26), mas
servo, obedecendo àquEle que o chamou (Mt 10.24,25).
Nenhum de nós será julgado ou
receberá galardão por títulos que temos neste mundo, como "conferencista
internacional" ou "maior evangelista do século". Não, não.
Seremos julgados como servos, no Tribunal de Cristo (Mt 25.14-30; 2 Co 5.10). E
que tipo de servo tem sido você? Bom ou mau? Útil ou inútil? Fiel ou infiel?
O apóstolo Paulo aconselhou o
jovem pregador Timóteo a viver e pregar a Palavra à luz do julgamento iminente:
"Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de
julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino, que pregues a
palavra..." (2 Tm 4.1,2). Ou seja, Timóteo precisava se lembrar de que
era, antes de tudo, um servo de Deus, que devia se preocupar com o que o Senhor,
o Justo Juiz, pensava a respeito de seu ministério, e não com os homens.
JESUS E A SUA HUMILDADE
Você sabia que o Senhor Jesus
era famoso? Em Mateus 4.24, está escrito: "E a sua fama correu por toda a
Síria; e traziam-lhe todos os que padeciam acometidos de várias enfermidades e
tormentos, os endemoninhados, os lunáticos e os paralíticos, e ele os
curava". Sim, a fama do Mestre era grande, mas não porque Ele a buscava
(Lc 4.37; Mt 8.4; 9.31; Mc 6.14). Ele fazia a vontade do Pai e sempre o glorificava
(Mt 11.25; Jo 11.41,42; 17.4,5).
A falta de humildade
prejudica a comunhão com Deus, pois Ele não divide a sua glória com ninguém (Is
41.24; Pv 22.4; 25.27; 27.2; Fp 2.3). Repudie, pregador, a soberba (1 Tm 3.6;
Tt 1.7; Pv 16.18). Vença-a, em nome de Jesus (Lc 9.23; Is 14.12-15; Gl 2.20; Jo
3.30; Dn 4.30; At 12.21-23). Lembre-se do galardão da humildade (Pv 22.4; Mt
5.19).
Por mais extraordinárias que
sejam as obras dos super-pregadores, eles estão longe do Senhor (Sl 138.6; Mt
7.23). Jesus jamais fez propaganda de milagres. Enquanto muitos afirmam:
"Eu fui chamado para pregar milagres", o Mestre e os apóstolos
pregavam o evangelho, e os sinais os seguiam (Mc 16.15-20). Além disso, toda a
glória era dada a Deus (At 4.5-12; 14.9-18). E mais: não há registro de
extração de sapos, cobras, ossos, pedras, etc. do corpo das pessoas. Isso é uma
das muitas manifestações estranhas desse período que antecede o Arrebatamento
da Igreja (Mt 24.24), as quais se intensificarão na Grande Tribulação (Ap 13).
Sigamos ao exemplo do
Pregador-modelo; reconheçamos que toda a glória pertence ao Senhor, haja o que
houver (Mt 23.8-12; At 4.1-10; 14.8-18; 1 Co 1.26-28; Mt 21.26). Lembremo-nos
de que Deus só usa, de fato, os humildes (1 Pe 5.5,6; Sl 138.6; Mt 20.25-28; Ef
4.2; Cl 3.12; Mt 18.4; Tg 4.6,7; Sl 147.6; 2 Cr 7.14). Não se iluda com os
espalhafatosos super-pregadores, que pensam estar sendo usados pelo Senhor.
Naquele Dia, caso não se arrependam, grande será a sua decepção!
A UNÇÃO DA HUMILDADE
É curioso como esses
super-pregadores se valem de supostas operações divinas para se vangloriarem.
Fazem questão de terem todos holofotes voltados para si. E os anúncios de suas
reuniões são mais ou menos assim: "Grande noite de milagres com o pastor
Fulano de Tal. A cidade será abalada pela unção desse homem de Deus". Uma
unção que, se existisse, deveria ser derramada com abundância sobre todos os
pregadores e cantores é a da humildade! Ah, se ela existisse! Mas, mesmo que
ela não seja mencionada no texto sagrado, os verdadeiros ungidos devem se
humilhar debaixo da potente mão do Senhor (1 Pe 5.6). Não há sinal, prodígio ou
maravilha que encubram a soberba — um dos mais repulsivos pecados contra Deus.
Por isso, a Palavra do Senhor nos alerta, a fim de que não caiamos no mesmo
erro de Satanás: "não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e
incorra na condenação do diabo" (1 Tm 3.6, ARA).
Há muitas novidades nessa
última hora, porém Jesus disse: "Acautelai-vos..." (Mt 7.15). Se você
acha que estou exagerando, leia o contexto dessa passagem e observe que o
Senhor mencionou "profetas", "homens com autoridade sobre
demônios" e "operadores de muitas maravilhas" que não entrarão
no Reino dos Céus (v.22)!
Não devemos ser incrédulos,
porém cautelosos (Gl 1.8; 2 Co 11.3,4). Deus prevê em sua Palavra que os falsos
profetas milagreiros agiriam no meio do seu povo (Dt 13.1). No contexto desta
passagem, o Senhor diz que não devemos dar ouvidos aos enganadores — mesmo que
eles façam sinais e prodígios —, como prova de que o amamos (vv. 2-4). Quem ama
ao Senhor de verdade guarda a sua Palavra, haja o que houver (Jo 14.23).
Aprendamos a fugir dos
extremos. Não sejamos incrédulos quanto às operações divinas. Deus cura e faz
milagres em nossos dias, sim! Creiamos nisso de todo o nosso coração. Entretanto,
é tolice revoltar-se contra os homens de Deus que Ele tem levantado para
combater os modismos, tachando-os de incrédulos ou "caçadores de
heresias".
O Espírito Santo é dado
àqueles que obedecem a Deus (At 5.32), e não àqueles que agem por conta própria,
desrespeitando a decência e a ordem, características marcantes de um culto
genuinamente pentecostal (1 Co 14.40). Sinais e prodígios acontecem, mas para a
glória de Deus, de acordo com a sua Palavra e em decorrência da pregação do
evangelho (Mc 16.20; At 14.3).
João Batista é um exemplo
para todos nós como pregador do evangelho. Manteve-se humilde em todo o tempo
em que desempenhou o seu ministério (Jo 3.30). Jesus, inclusive, o considerou o
maior profeta entre os nascidos de mulher (Mt 11.11).
No entanto, quantos sinais
ele realizou? Eis a resposta: "Na verdade, João não fez sinal algum, mas
tudo quanto João disse deste era verdade" (Jo 10.41).
JESUS E A SUA COMUNHÃO COM O PAI
Por favor, pregadores, olhem
para Jesus! Ele é o Pregador-modelo! Sim, é Cristo quem pode salvar o seu
ministério. Parem de assistir a esses DVDs de animadores de auditório!
Abandonem essa prática reprovável de decorar os chavões usados por esses
super-pregadores, que não querem proclamar o evangelho de Cristo, preferindo
discorrer sobre assuntos que balançam o corpo, mas não atingem ao coração!
Você quer ser um pregador de
verdade? Siga ao exemplo de Jesus. Ele falava secretamente com o Pai (Lc
21.37;22.39;Mt 14.13,23). Temos feito isso? Colocamo-nos na presença dEle?
Consultamos ao Senhor, a fim de saber se a nossa pregação o agrada? Ou
ministramos tão-somente visando a resultados como: fama, dinheiro, elogios,
etc? Lembremo-nos, ainda, de que Ele priorizava a vontade do Pai (Jo 4.31-35;
Mt 12.46-50). Queremos nós fazer isso?
O Senhor, quando andou na
terra, era obediente ao Pai em tudo (Rm 5.19; Hb 5.8,9). E Ele nos ensina, em
sua Palavra, que a comunhão com Deus exige exclusividade (Mt 4.10; 6.24; Lc
10.27). Se quisermos seguir ao seu exemplo, não podemos continuar a nos
relacionar com os inimigos de Deus: a carne (Rm 8.7,8), o mundo (Tg 4.4; 2 Tm
4.10) e o Diabo (Ef 4.27; Tg 4.7).
Você é um seguidor do Mestre?
Então, viva em oração e priorize a vontade dEle, sendo-lhe obediente em tudo
(Ef 6.18; Rm 12.2; 1 Tm 4.16). Lembre-se de que o Senhor Jesus respeitava e
honrava os seus pais, mas priorizava os "negócios do Pai" (Lc
2.49-52; Jo 2.4). Quais têm sido as suas prioridades como pregador do
evangelho?
JESUS, AS PROVAÇÕES E AS TENTAÇÕES
Charles Haddon Spurgeon
afirmou: "Haveria Jesus de ascender ao trono por meio da cruz, enquanto
nós esperamos ser conduzidos para lá nos ombros das multidões, em meio a
aplausos? Não seja tão fútil em sua imaginação. Avalie o preço; e, se você não
estiver disposto a carregar a cruz de Cristo, volte à sua fazenda ou ao seu
negócio e tire deles o máximo que puder, mas permita-me sussurrar em seus
ouvidos: 'Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua
alma?'" (The Metropolitan Tabernacle Pulpit, vol. 34).
Pensem nisso,
super-pregadores. Vocês dizem que antes tinham um fusquinha velho, mas agora os
carros sequer cabem em suas garagens! E pregam: "Muitos são contrários à
teologia da prosperidade, porém eu não prego prosperidade. Eu vivo a
prosperidade!" Oh, como isso parece triunfal! Mas não se esqueçam de que o
triunfo de Cristo foi na cruz (Cl 2.14; Hb 2.14). Se o ministério de vocês
excluiu a cruz, essa festejada prosperidade não os ajudará em nada naquele
grande Dia!
Ao olharmos para a vida do
Pregador-modelo, vemos que, quanto mais próximos do Senhor, tanto mais seremos
atribulados e tentados. Não estou dizendo que a nossa vida será de dor
continuamente. Porém, temos de nos conscientizar de que o Senhor Jesus foi
provado como Homem e suportou (Mc 14.33,34; Hb 2.14,15; 12.1,2). Ademais, Ele foi
tentado em tudo e venceu pela Palavra de Deus (Hb 4.15; Mt 4.1-11). Temos nós
vencido?
Quanto ao Diabo, seguindo ao
exemplo do Pregador-modelo, não devemos adotar uma postura de provocação (Tg
4.7,8; 1 Pe 5.8,9). Não cabe a nós, como já vimos nesta obra, chamá-lo para a
briga (Ez 28.14; Jo 16.8-11; Rm 16.20; Jd v.9; 1 Sm 17.45; 24.6; Ef 4.27). Para
ter vitória contra as astutas ciladas do Inimigo, não devemos subestimar ou
superestimar a força dele. Antes, revistamo-nos de toda armadura de Deus (2 Co 2.11;
Lc 10.19; 10.4,5; Ef 6.8-10).
O que o pregador que segue ao
exemplo de Jesus deve saber sobre provações e tentações? Primeiro, que essas
duas coisas ocorrem com freqüência na vida de quem está agradando a Deus. Se
não acontecerem, algo está errado (At 20.19; 9.15,16; 1 Pe 5.8,9; 2 Tm 2.3-5).
Todos os verdadeiros seguidores de Cristo passam por momentos de angústia, mas
o Senhor está com eles (Sl 18.6; 20.1; 46.1; 91.15; 1 Pe 2.20,21; Is 41.10;
43.2). Não me refiro ao sofrimento culposo, e sim ao probatório (1 Pe 2.18-21).
Lembre-se de que, ao contrário do que se prega, a tribulação nem sempre deve
ser considerada sinônimo de derrota ou resultante de um pecado (Jo 16.33; At
14.22; Rm 5.1-5; 8.18; 2 Co 4.16,17; 8.1,2; 2 Tm 3.12). Por isso, diante das
provações, o obreiro deve ter fé em Jesus e convicção de que a sua chamada
provém dEle (Hb 11; Jo 15.16), não sendo negativista, covarde ou desanimado (2
Co 6.10; Rm 8.35-39; Pv 24.10; Hb 13.5,6; Sl 27.14; 1 Rs 19). Não deixe de ler
e meditar em cada uma dessas referências.
JESUS COMO PREGADOR E ENSINADOR
A mensagem que o Senhor Jesus
pregava era recebida do Pai. E Ele apenas expunha a Palavra de Deus (Jo 17.3-8;
Mt 5.1-12), falando com autoridade (Mt 7.29). O Senhor priorizava a verdade, e
não o que agradava os ouvintes (Mt 7.3-5,13,14; Jo 6.60-69; Mt 23). Ele também
pregava com poder (Jo 1.14; Lc 4.18), pois era cheio do Espírito Santo (Lc 4.1;
Mt 4.1), e tinha discernimento (Mt 16.21-23) e sabedoria do alto (Mt 22.15-22;
21.23-27). Não leia este parágrafo de maneira desatenta ou desapercebida, por
favor. Confira as passagens bíblicas. Ou você não deseja aprender com o
Pregador-modelo?
Se desejarmos agradar a Deus
como pregadores, não temos outra alternativa, a não ser imitar ao Senhor Jesus,
como Paulo recomendou, em 1 Coríntios 11.1. E fazer isso implica: Pregar sempre
a mensagem recebida de Deus. E não a que achamos mais conveniente (1 Co 11.23).
O que você tem pregado?
Se tem compromisso com
Cristo, abandone essas mensagens de auto-ajuda!
Falar com autoridade. Você
sabe o que é autoridade? Não, não é gritar nem apontar o dedo, tampouco bater
na mesa. Isso é autoritarismo. Confira nas seguintes referências o que é
autoridade (Tt 2.15; 1 Tm 3.7; Rm 2.21,22; At 4.31; 1 Rs 17.1; 22.28).
Priorizar a verdade. Mesmo
que esta não agrade os ouvintes (Dt 18.20; Tt 2.1; Ez 2; 33.8). Se você ainda
não entendeu o que significa falar a verdade, haja o que houver, leia de novo o
capítulo Procuram-se Pregadores como Estêvão. O expoente que segue ao
Pregador-modelo não tem para onde correr. Fale a verdade, gostem ou não gostem
de ouvi-la (2 Tm 4.1-5; Êx 32.19-24; Jo 3.1-5). Pregue-a, contudo, à semelhança
do Mestre e dos apóstolos, com poder (At 4.33; Mc 3.13-15; 1 Co 2.1,2).
Ser cheio do Espírito Santo.
O que é ser cheio do Espírito Santo? É ser possuído (Ef 5.18), além de
controlado, guiado (At 8.26-40; 16.5-9) e impulsionado por Ele (Jz 6.34; 15.14;
Lc 1.41,42; At 6.5-8).
Ter discernimento pela
Palavra. O que será de um pregador que não possui discernimento? Mas, para
isso, temos de ser espirituais (1 Co 2.14-16) e amantes da Palavra de Deus (Hb
5.12-14).
Agir com sabedoria vinda de
Deus. Os pregadores que seguem ao Senhor Jesus não podem abrir mão da sabedoria
do alto, pois são muitas as circunstâncias em que dela necessitarão.
Busquemo-la, pois, em oração
e meditação na Palavra (Tg 1.5,6; Jr 8.9).
JESUS COMO PASTOR E EVANGELISTA
Todo pregador deve seguir ao
exemplo de Jesus como Pastor e Evangelista, a fim de encontrar o ponto de
equilíbrio no exercício de seu dom ministerial. Isso faz com que o expoente não
seja um mero proclamador de verdades, e sim um amante de almas, que prega com
paixão, desejoso de ver pecadores salvos e crentes edificados.
O Pregador-modelo ama tanto
as suas ovelhas, que deu a sua vida por elas (Jo 10.11,17,18; 15.12; Rm 5.8; 1
Pe 1.18,19). Isso nos ensina que, na obra de Deus, é o pastor quem deve
"dar a vida" pelo rebanho, e não o inverso (Ez 34.1-6; 2 Co 12.15).
Ah, se os super-pregadores — que fazem questão de serem chamados de pastores —
atentassem para isso! O que eles querem, no entanto, é explorar, tirar das
pobres ovelhinhas tudo o que elas podem lhes oferecer...
Jesus, como o Bom Pastor,
conhece as suas ovelhas e é conhecido por elas (Jo 10.14; Ez 34.15,16). O
pregador ou pastor que o segue deve conhecer o estado de suas ovelhas e ser uma
"carta aberta" perante o rebanho (Pv 27.23; 2 Co 3.2,3). E esse ideal
está muito distante do padrão vigente em nossos dias. Mas não há outro caminho,
caro pregador. Seja você um pastor ou não, o segredo do sucesso, que garantirá
inclusive a sua salvação, é andar como Ele andou, tendo cuidado de si mesmo e
da doutrina (1 Jo 2.6; 1 Tm 4.16).
O Pregador-modelo como Pastor
protege as suas ovelhas (Jo 10.27,28). Temos protegido o rebanho que Deus nos
confiou dos lobos e dos cães, como lemos em Atos 20.27-30 e Filipenses 3.1,2?
Alguém poderá dizer: "Eu
não sou pastor. O meu negócio é pregar". Mas é exatamente sobre isso que
estou falando. Enquanto pregador, ainda que não seja um pastor, de fato, você
tem considerado os seus ouvintes como ovelhas que necessitam de uma boa
alimentação para permanecerem seguindo ao Sumo Pastor?
Outra característica do
Pregador-modelo como Pastor é que Ele vai adiante de suas ovelhas (Jo 10.4; Sl
85.13; Lc 9.23). Ele também as alimenta 0o 10.9,16). Os pastores que seguem ao
Bom Pastor, pois, são responsáveis pelo rebanho e devem guiá-lo segundo a
Palavra de Deus (Hb 13.7,17). Têm os super-pregadores feito isso com as
milhares de pessoas que os seguem? Preocupam-se eles com o destino delas? Ou
guiam-nas à perdição, posto que não pregam o evangelho de Cristo? Não se
esqueçam de que vocês estão na frente delas e chegarão primeiro ao Inferno!
Além de falar a verdade com
autoridade, o Pregador-modelo era um Evangelista e tinha as suas palavras confirmadas
por curas, libertações de demônios e outros milagres, embora não fizesse deles
a prioridade de seu ministério (Mt 4.23; 9.35; At 2.22; 10.38; Lc 5.17-26; Jo
6; 20.27-31). A sua missão principal foi morrer na cruz para salvar os
pecadores, porém não abriu mão da evangelização, pois via as pessoas como
ovelhas sem pastor e movia-se de íntima compaixão por elas (1 Co 15.3; 1 Tm
1.15; Mt 9.36; 14.14; Mc 6.34).
Conquanto o pregador tenha
uma chamada ministerial específica de proclamar o evangelho, não deve se
esquecer do seu chamamento universal para a evangelização (Mc 16.15,16; At 1.8;
1 Co 9.16; Jd v.23). E, se ele compreender plenamente essas duas chamadas, o
seu ministério como expoente da Palavra terá muito mais sentido. Imagine a
diferença entre um pregador que prega apenas para atingir o objetivo de expor a
Palavra que recebeu de Deus e um que, além de fazer isso, está com o coração
cheio de paixão pelas almas!
O PREGADOR-MODELO E OS SUPER-PREGADORES
Olhemos, pois, para o
Pregador-modelo! Como Ele pregaria em nossos dias? Seria Ele um pregador cheio
de trejeitos, espalhafatoso? Faria Ele gracejos para o povo? Gritaria a ponto
de esgoelar? Pediria ao Pai, para impressionar o público, querubins ao seu lado
e ordenaria que os demônios ficassem distantes dEle centenas de quilômetros?
O Pregador-modelo, hoje,
contaria vantagens, mencionando os lugares por onde tem pregado o evangelho?
Vestir-se-ia como um astro? Rodaria a sua túnica sobre a cabeça ou a lançaria
sobre os ouvintes? Jogaria uma peça de sua roupa violentamente ao chão?
Divertiria o povo "orando" mais ou menos assim: "Pai, se houver
aqui algum demônio maluco, porque só pode ser maluco para estar neste lugar,
que seja queimado agoooooooraaaaa"? Ele mandaria o povo repetir frases de
efeito? Jogaria água sobre o povo?
Muitas dessas perguntas
receberiam "sim" como resposta se estivéssemos nos referindo aos
chamados "pregadores de massa" da atualidade... Mas as fizemos tendo
em mente o pregador Jesus! E eu pergunto ao leitor: Você quer seguir ao exemplo
do Pregador-modelo? Ou prefere ser popular, fazer sucesso, sendo um grande
animador ou humorista?
Sei que alguns desses
animadores de auditório terão acesso a esta obra, e, sem nenhuma reflexão,
verberarão contra este autor. Mas quero que saibam que não é comigo com quem
têm de tratar. Não devem vocês se indignarem contra mim, pois não fui eu quem
escrevi a Bíblia. E, se vocês não querem andar como Jesus andou nem seguir às
Escrituras — repito mais uma vez —, preparem-se para aquele grande Dia, mencionado
em Mateus 7.21-23!
Glória seja dada ao
maravilhoso nome de Jesus!
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AGORA É A MINHA VEZ!
Incluí no livro Erros que os
Pregadores Devem Evitar, editado pela CPAD em 2005 — no capítulo 6 —, a seção
"Agora é a sua vez!", pela qual fiz alguns desafios exegéticos.
Muitos leitores me escreveram pedindo uma explicação para cada problema.
Resolvi, pois, incluir as tão esperadas respostas neste apêndice...
GÊNESIS 4.16,17. QUEM ERA A MULHER DE CAIM?
Muitos vêem dificuldade em
responder essa pergunta em razão da frase "E conheceu Caim a sua
mulher", como se ele a tivesse visto pela primeira vez. Contudo, o verbo
"conhecer", aqui, denota "coabitar", "manter
relacionamento íntimo". Nesse caso, ele já a conhecia, pois ela fazia
parte da grande família de Adão e era uma parenta do próprio Caim, haja vista o
primeiro casal ter gerado "filhos e filhas" (Gn 5.4).
GÊNESIS 6.2 E JÓ 2.1,2. QUEM SÃO os
"FILHOS DE DEUS" EM CADA UMA DESSAS PASSAGENS?
Os contextos de ambas as
passagens não deixam dúvidas de que são dois grupos distintos. O segundo texto
se refere, à luz do contexto imediato, a anjos. Basta uma leitura de todo o
capítulo 2 de Jó para se chegar a essa conclusão. Já no primeiro caso, as
menções a homens de Deus, em Gênesis 5, são uma prova de que os "filhos de
Deus" do capítulo seguinte não são anjos, e sim piedosos servos do Senhor
da linhagem de Sete.
Alguns teólogos insistem em
afirmar que os "filhos de Deus", em Gênesis 6.2, são anjos, mas isso
não tem base no contexto imediato da passagem, além de não estar de acordo com
a comparação entre Mateus 22.30 e 24.38. Jesus disse que no Céu seremos como
anjos, que nem se casam nem se dão em casamento, mas nos dias de Noé era
exatamente isso que acontecia. Houve, pois, casamentos mistos de "filhos
de Deus" (justos) com as "filhas dos homens" (ímpias).
1 SAMUEL 28.11,12. QUEM APARECEU A SAUL?
Depois de perder a comunhão
com Deus, o rei Saul se aventurou no campo da comunicação com os mortos,
pensando que conversaria com o falecido profeta Samuel. Os seguidores do
kardecismo usam esse episódio para dar fundamentação bíblica a essa falaciosa
doutrina. No entanto, como Samuel, numa sessão espírita, teria voltado para
falar com Saul, a quem o Senhor rejeitara (1 Sm 28.6)?
Há muitas provas de que quem
falou com Saul não foi o profeta morto. Primeiro, a Bíblia não diz que foi
Samuel quem lhe apareceu, mas que Saul entendeu que era ele (1 Sm 28.14).
Aquele suposto Samuel mentiu,
ao dizer que, no dia seguinte, o rei e todos os seus filhos seriam mortos (1 Sm
28.19). Quando em vida, o profeta Samuel foi um homem íntegro (1 Sm 3.19).
Mentiria depois de morto? Mas a maior evidência de que aquele que falou com
Saul não passava de um agente de Satanás é que uma das razões pela qual o rei
de Israel morreu foi a sua decisão de consultar uma feiticeira: "...
morreu Saul (...) também porque buscou a adivinhadora para a consultar" (1
Cr 10.13).
1 REIS 8.12 E1 JOÃO 1.5. ONDE DEUS HABITA,
NAS TREVAS OU NA LUZ?
Sendo Deus onipresente e
onisciente, pode habitar em lugares escuros e impenetráveis: "Nem ainda as
trevas me escondem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz
são para ti a mesma coisa" (Sl 139.12). Mas o sentido da primeira passagem
é de "nuvem espessa", isto é, a nuvem da glória de Deus, mencionada
em Números 16.2: "... eu apareço na nuvem sobre o propiciatório". No
segundo caso, o sentido da expressão "treva nenhuma" é de trevas
espirituais e morais (cf. 1 Jo 2.8).
ECLESIASTES 9.5. AS PESSOAS FICAM
CONSCIENTES APÓS A MORTE?
Para responder a essa
pergunta faz-se necessário recorrer aos contextos imediato e remoto. Pelo
primeiro, verificamos que o propósito do livro de Eclesiastes é mostrar o que
há "debaixo do sol" (1.3; 8.15; 9.3) ou "debaixo do céu"
(3.1). E, nesse caso, devemos entender que "os corpos dos mortos não sabem
coisa nenhuma". Pelo contexto remoto, comprovamos que a alma fica
consciente após a morte (Lc 16.19-31; Ap 6.9).
ECLESIASTES 12.7. TODOS OS ESPÍRITOS VOLTAM
PARA DEUS?
Essa passagem é útil para
corroborar o que foi dito acima, pois no próprio livro de O Pregador existe a
ênfase de que o corpo fica na sepultura, inerte, sem vida, enquanto o espírito
volta para Deus. No entanto, esse "voltar para Deus" denota apenas
ficar aos cuidados de Deus, pois é Ele quem cuida do destino de cada alma (Mt
10.28; Hb 9.27; Ap 20.11-15).
MATEUS 10.34 E JOÃO 14.27. CRISTO VEIO OU
NÃO TRAZER PAZ?
A paz interna, relacionada
com a salvação, é comunicada por Jesus Cristo, o Príncipe da Paz (Is 9.6). É
nesse sentido que Ele disse: "Deixo-vos a paz". No entanto, em Mateus
10.34, o Senhor mencionou a possibilidade de uma pessoa, ao resolver segui-lo,
sofrer oposição de seus familiares, tornando-se inimigo dos da sua própria casa
(vv.34-37).
MATEUS 13.19,38. QUAL É A BOA SEMENTE?
Esses dois versículos fazem
parte de um capítulo que apresenta duas parábolas que mencionam a palavra
"semente" com sentidos diferentes. Na parábola do semeador, a semente
é a Palavra de Deus, semeada em quatro tipos de terreno (Mt 13.18-23). Quanto à
parábola do trigo e do joio, está escrito: "... a boa semente são os
filhos do Reino..." (v.38).
LUCAS 23.43. ONDE ERA O PARAÍSO QUE JESUS
PROMETEU AO INFRATOR CRUCIFICADO?
O Senhor disse ao infrator
que, naquele mesmo dia, ele estaria no Paraíso. E este lugar já existia antes
de Jesus ter sido crucificado. Prova disso é a história do homem chamado
Lázaro, que morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão (Lc 16.22),
um lugar de consolo separado do Hades por um abismo (vv.25,26). Se já havia um
lugar de gozo para os mortos salvos, antes da crucificação, o ladrão certamente
foi para lá. No entanto, quando examinamos com cuidado Mateus 16.18; Efésios
4.8,9; 1 Pedro 3.19; 2 Coríntios 12.1-4; e Apocalipse 6.9,10, chegamos à
conclusão de que o Paraíso foi transportado para o Terceiro Céu. Nesse caso, o
infrator teria ficado pouco tempo no Paraíso localizado junto ao Hades.
JOÃO 9.3. O CEGO DE NASCENÇA NUNCA PECOU?
Os discípulos perguntaram ao
Mestre se o homem era cego em decorrência de uma punição divina a algum pecado
seu ou de seus familiares (vv.1,2). Nesse caso, a resposta do Senhor nada tem
que ver com o pecado original, herdado de Adão (Rm 5.12). Quanto a este, não há
nenhuma dúvida: "... todos pecaram e destituídos estão da glória de
Deus" (Rm 3.23).
JOÃO 14.28. JESUS É INFERIOR AO PAI?
Na Terra, como Homem, Jesus
sempre fez questão de exaltar ao Pai e dar-lhe glória (Mt 11.25; Jo 17.4), mas
isso não significa que Ele era inferior, haja vista as três Pessoas da Trindade
serem iguais em poder. O próprio Senhor disse que era o Todo-Poderoso (Ap 1.8).
Nesse caso, ao fazer a declaração contida em João 14.28, o Senhor estava em um
estado de aniquilamento para cumprir a sua missão como Homem (Jo 17.5; Is 53;
Fp 2.6-11).
1 CORÍNTIOS 14.18. QUE LÍNGUAS PAULO FALAVA?
A interpretação de que essas
línguas eram idiomas aprendidos, como hebraico ou grego, não está de acordo com
o contexto. No versículo 2, está escrito: "Porque o que fala língua
estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em
espírito fala de mistérios". Se as tais línguas são aprendidas, por que
ninguém as entende? Ademais, é preciso orar para interpretá-las (v.13). Os dons
espirituais são descritos com muita clareza pelo apóstolo Paulo em 1 Coríntios
12 e 14. Mesmo assim, os teólogos cessacionistas insistem em dizer que as
línguas e a profecia cessaram, uma vez que Paulo afirmou: "... havendo
profecias, serão aniquiladas; havendo línguas cessarão..." (1 Co 13.8).
Mas ele disse isso depois de enfatizar que nada teria valor sem amor: as línguas,
as profecias, a ciência e a fé (vv. 1,2). E por que somente as línguas e as
profecias teriam cessado?
EFÉSIOS 2.8-10 E TIAGO 2.17,18. A SALVAÇÃO É
PELA FÉ OU PELAS OBRAS?
Paulo e Tiago, como ocorre
com toda a Bíblia, estão em perfeita harmonia quanto à salvação pela graça de
Deus. No entanto, ambos enfatizam que, uma vez salva, a pessoa deve demonstrar
sua fé por meio de boas obras. Fomos criados em Cristo Jesus para as boas
obras, assevera Paulo. E Tiago diz que a fé sem as obras é morta. Não há, pois,
nenhuma contradição entre ambos.
1 PEDRO 3.19. COM QUE FINALIDADE JESUS
PREGOU AOS ESPÍRITOS EM PRISÃO?
Após a sua morte, o Senhor
tornou conhecida, anunciou a sua vitória aos espíritos em prisão. As passagens
paralelas de 2 Pedro e Judas indicam que esses "espíritos em prisão"
eram anjos caídos e espíritos de pessoas ímpias, que "... foram rebeldes,
quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava
a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água" (1 Pe
3.20). Mediante a comparação de passagens correlatas, chegamos à conclusão de
que Jesus visitou as regiões do Tártaro e do Hades, a fim de proclamar a sua
vitória tanto a anjos caídos quanto a espíritos de pessoas rebeldes. O texto de
2 Pedro 2.4,5 cita "anjos que pecaram" e "o mundo dos
ímpios". E Judas w.6,7 menciona "anjos que não guardaram o seu
principado" e "Sodoma, e Gomorra, e cidades circunvizinhas" que
se corromperam.
1 JOÃO 2.15 E JOÃO 3.16. DEVEMOS AMAR OU NÃO
O MUNDO?
Na primeira passagem, o contexto
mostra que se trata de um sistema que se opõe a Deus (cf. Tg 4.4), um sistema
que passa, com a sua concupiscência (1 Jo 2.16). É o mundo que tem Satanás como
príncipe (Jo 16.11; 2 Co 4.4). Já o mundo mencionado no texto áureo da Bíblia é
a humanidade.
1 JOÃO 3.9. QUEM É NASCIDO DE DEUS, NÃO
PECA?
Existe a possibilidade de o
crente pecar; e por isso temos um Advogado (1 Jo 2.1,2). Nesse caso, a frase
"não comete pecado" diz respeito, à luz do contexto, a uma vida não
compromissada com a prática do pecado.
Se o leitor desejar receber
explicações adicionais, escreva-me: ciro.sanches@uol.com.br.
CONTRACAPA
Nesta continuação de Erros
que os Pregadores Devem Evitar, são examinados outros erros que pastores,
professores, cantores, crentes em geral e principalmente pregadores não podem
cometer:
- "Crente que tem
promessa não morre".
- "Eu fui chamado para
pregar milagres".
- "Olhe para dentro de
você".
- "A sua voz é a voz de
Deus".
- "Libere uma palavra
rhema".
- "Receeeebaaa..."
- "Não cabe ao crente
julgar".
- "Crente que não faz
barulho tem defeito de fabricação".
- "Não desista dos seus
sonhos".
- "Quem veio buscar uma
bênção?"
- "Tem fogo aí,
irmão?"
- "Uma vez salvo, salvo
para sempre".
Com a mesma abordagem
irônica, contundente e, em alguns momentos, divertida, mas acima de tudo
bíblica, o autor critica e analisa chavões e heresias contidas em
"pregações" e "hinos", além de discorrer sobre os modismos
de nosso tempo, como:
- Reteté de Jesus.
- Transferência de unção.
- Compor "hinos"
para Satanás.
Mais Erros que os Pregadores
Devem evitar não apenas complementa a obra citada acima. Trata-se de mais um
alerta a todos os pregadores do nosso tempo.

* * *
Ciro Sanches Zibordi é
pregador do evangelho, pastor na Assembléia de Deus em Cordovil-RJ, editor de
obras nacionais da CPAD, articulista, comentador de Lições Bíblicas para
juvenis/adolescentes e autor dos livros Erros que os Pregadores Devem Evitar,
Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria, Adolescentes S/A e Perguntas Intrigantes
que os Jovens Costumam Fazer, todos editados pela CPAD.