A História do Avivamento
Azusa
Frank Bartleman
Editora D'Sena / Worship
Série: Achados
Digitalizador desconhecido
Formatado por SusanaCap
A história do
"Avivamento Azusa"
Este autêntico relato do
derramamento do Espírito Santo sobre Los
Angeles, em 1906, há de chocar o
movimento Pentecostal atual
por mostrar que
eles têm deixado seu primeiro
amor, quase na mesma
medida em que
os metodistas se apartaram do ardor flamejante de John Wesley.
Além disso, todo cristão
sério se maravilhará ao descobrir o que Deus realmente operou no início deste
século e como aquela tremenda obra do Espírito foi incompreendida e rejeitada.
Finalmente, este relato
comovente deverá desafiar
todo o povo
de Deus a buscá-lo para a consumação daqueles propósitos,
para o aperfeiçoamento da igreja de Cristo, que foram avançados de forma tão
poderosa naquela época.
Este livro foi compilado a
partir do diário e dos escritos de
Frank Bartleman, sendo publicado
originalmente por ele em 1925, com o título "Como o Pentecostes chegou em Los Angeles".
Muito mais do que um relato histórico, é
um chamado à Igreja para o arrependimento sob três
aspectos: DIVISÕES CARNAIS do
CORPO de CRISTO, LIDERANÇA e
PROGRAMAÇÃO HUMANAS em SUBSTITUIÇÃO
ao ESPÍRITO SANTO,
e EXALTAÇÃO de CREDOS em VEZ de CRISTO. Esta é
a hora para
o povo de
Deus, afligido pelos mesmos pecados hoje ouvir, mais uma vez, esta voz
de alerta que tem estado silenciosa por tanto tempo.
Ao autor,
talvez mais do que a
qualquer outra pessoa,
foi confiada a responsabilidade de orar pela profunda obra
que o Espírito Santo realizou. Para
louvor e glória de Deus, o Avivamento Azusa não trouxe honra para homem
algum.
Como testemunho disso o nome
de nenhuma pessoa está ligado à ele.
Entretanto, pode-se dizer com segurança que não houve testemunha mais
fiel do que ocorreu, que Frank Bartleman. Quem seria mais
qualificado para conhecer e
registrar o avivamento, senão
alguém que sofreu intensas dores de parto no
seu nascimento, zelou dele
ternamente, e defendeu-o corajosamente no início de sua vida?
Será notado neste relato, que
panfletos que contavam a visitação
do Espírito Santo no País de Gales, em
1904, foram a
centelha inicial para
o grande Avivamento de Los
Angeles em 1906. Durante
o ano de
1905, enquanto Frank Bartleman se correspondia com Evan
Roberts do País de Gales, e os dois se
uniam em oração, o Sr. Bartleman e outros, divulgavam em Los
Angeles, a mensagem
do Avivamento de Gales exortando o povo a orar. Ora, à medida que o povo
de Deus recebia a visão e
permanecia em oração, a pequena centelha
transformou-se numa grande chama,
a qual se espalhou, até se tornar
numa conflagração mundial:
o Avivamento Pentecostal na Igreja de Jesus Cristo.
Assim como o relato escrito
do Avivamento de Gales levou o povo a orar em
1905, que também a verdadeira história do Avivamento Azusa em 1906,
há muito tempo esquecida e incompreendida, atinja o
mesmo propósito hoje.
Povo Pentecostal, volte! Corações
famintos, fartem-se! Povo de Deus
em todo lugar,
ajoelhe-se!
Deus de Elias, MANDA FOGO!
John Walker, Los Angeles,
Califórnia, Janeiro de 1962
Capítulo 1 -
O COMEÇO DO AVIVAMENTO
A MINHA CHAMADA
O autor das páginas que se
seguem chegou à Los Angeles, na Califórnia, com sua esposa e duas filhas,
a mais velha de três anos e meio, no dia 22 de dezembro de 1904. Nossa
filha mais velha,
Ester, começou a ter
convulsões e foi ficar com o Senhor Jesus, às 4 horas da manhã,
do dia 7 de
janeiro. Nossa pequena "Rainha Ester" perecia ter nascido para
"tal tempo como este" (Ester 4:14). Ao lado daquele
pequeno caixão, com meu coração sangrando, dediquei minha vida novamente à
obra de Deus. Na presença da
morte, como se tornam reais os assuntos eternos! Eu
prometi que o resto da minha
vida seria dedicado
exclusivamente à Ele. E Ele fez uma nova aliança comigo. Supliquei-lhe, então,
que logo me abrisse uma nova porta de serviço, para que eu
não tivesse tempo de sofrer com o
que acontecera.
Apenas uma semana depois da
partida de Ester, comecei a pregar duas vezes
por dia na pequena
Missão Peniel, em Pasadena
(Califórnia). Muitas pessoas foram salvas durante o encontro que
durou um mês, mas a maior
vitória foi a descoberta de um grupo de
jovens que assistiam
ao encontro. Alguns
foram chamados pelo Senhor para futuros trabalhos.
No dia 8 de abril ouvi pregar
F. B. Mayer, de Londres. Ele
descreveu o grande avivamento que se desenrolava no
País de Gales,
onde acabara de
estar e conhecera Evan Roberts.
Minha alma se comoveu profundamente, pois pouco antes eu também havia lido a
respeito desse avivamento. Prometi ali mesmo a Deus dar-lhe direito total sobre a minha vida, se
fosse possível me usar. Distribuí
folhetos no prédio do correio, em bancos e edifícios públicos em
Los Angeles e
visitei muitos bares. Depois visitei mais de trinta bares em Los
Angeles. Os prostíbulos estavam abertos naquele tempo e distribuí muitos
folhetos ali também.
A morte da pequena Ester
havia quebrado meu coração e eu sentia que
só poderia viver enquanto
servisse ao Senhor. Ansiava conhecê-lo de uma forma mais real e
ver a obra de Deus avançar com poder. Um grande peso e desejo surgiram
no meu coração para que houvesse
grande avivamento. Ele estava me
preparando para um novo serviço Seu. Este, porém, só poderia
acontecer quando houvesse
em meu coração um anseio mais
profundo por Deus e uma verdadeira dor de parto na minha alma pela Sua obra. Isto Ele me deu.
Muitos estavam sendo preparados de
forma semelhante nesta época em diferentes lugares do mundo. Deus
estava prestes a visitar
e libertar seu
povo mais uma
vez. Eram precisos
intercessores.
"Maravilhou-se de que
não houvesse um intercessor" (Isaías
59:16). "Busquei entre eles
um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante
mim a favor desta terra, para
que eu não
a destruísse; mas
a ninguém achei."
(Ezequiel 22:30)
Por volta de primeiro de
maio, um poderoso avivamento irrompeu
no templo da igreja Metodista da Avenida Lake, em
Pasadena. Quase todos os jovens que
haviam sido tocados por Deus nas reuniões da Missão Peniel freqüentavam
esta igreja e estavam orando por um avivamento ali. Aliás
estávamos orando por um avivamento que varresse toda a cidade de
Pasadena. Deus estava respondendo nossas
orações.
Vi maravilhas feitas pelo
Espírito Santo na Avenida Lake. O altar estava repleto de pessoas buscando a
Deus, apesar de não haver ali nenhum grande
pregador. Em uma única noite
quase todos os presentes que não
estavam salvos tiveram
um encontro pessoal com Jesus Cristo. Foi uma vitória total para Deus.
Havia uma poderosa convicção de
pecados sobre todo o povo. Em
duas semanas duzentas pessoas ajoelharam-se no altar,
buscando ao Senhor. Os rapazes de Peniel estavam por trás de tudo, sendo
grandemente usados por Deus. Começamos então a orar por um derramamento do Espírito Santo em Los
Angeles e todo o sul da Califórnia.
Naquela época escrevi em meu
diário: "Algumas igrejas vão se surpreender quando Deus as deixar para trás e usar outros
canais que se renderam totalmente à Ele.
É preciso humilhar-nos para
que Ele venha. Estamos rogando 'Pasadena para Deus!'
Na sua grande maioria, os
cristãos estão muito satisfeitos consigo mesmos, e têm pouca fé e
pouco interesse pela
salvação dos outros.
Deus os humilhará deixando-os de lado. O
Espírito está orando
através de nós
por um grande derramamento do Espírito em toda parte.
Grandes coisas vão acontecer.
Estamos pedindo coisas tremendas para que o nosso gozo
seja completo. Deus
está se movendo. Estamos orando
pelas igrejas e seus pastores. O Senhor visitará aqueles que quiserem se render
totalmente à Ele."
O mesmo é verdade ainda hoje.
É preciso que sejamos humildes aos nossos próprios olhos, pois, o fracasso ou o
sucesso, em última análise, dependerá
disto. Caso nos consideremos
importantes, já estamos derrotados. A história sempre se repete neste
particular. Deus sempre procurou um povo humilde. Ele não pode usar outro tipo de pessoa. Martinho Lutero, o
grande reformador, escreveu: "Quando o Senhor Jesus diz 'ARREPENDA-SE',
Ele quer dizer que toda a vida do crente na terra deve ser um constante e
permanente arrependimento.
Arrependimento e dor,
isto é, verdadeiro arrependimento,
são constantes enquanto o homem não
está satisfeito consigo mesmo -
ou seja,
até que vá
para a eternidade.
O desejo de se
auto-justificar é a causa de todo o sofrimento do coração". Nosso coração
sempre precisa de muita preparação, em humildade e separação, antes que Deus
possa vir de forma persistente. "A
profundidade de qualquer avivamento será
determinada precisamente pela profundidade do espírito de arrependimento que
o produziu."
Aliás, esta é a chave de todo
verdadeiro avivamento nascido de Deus.
No dia 12 de maio, Deus me
disse que de uma vez
por todas eu
deixasse meu emprego secular e me
dedicasse exclusivamente à Ele. O Senhor
queria que eu confiasse a mim e a minha família
exclusivamente à Ele. Eu acabara de receber
o pequeno livro intitulado: "O grande avivamento em Gales",
escrito por S. B. Shaw e o estava lendo durante um pequeno passeio, antes do
café da manhã. Há anos que o Senhor insistia comigo para tomar esta decisão.
Agora fizemos um novo pacto, segundo o qual o resto de minha vida,
em sua totalidade, lhe
pertenceria. E, desde então,
jamais ousei quebrar este pacto. Minha esposa me aguardava com meu café, mas eu perdera a vontade de
alimentar-me. O Espírito
Santo através daquele pequeno
livro incendiara meu coração. Visitei e orei com três pregadores e outros
numerosos obreiros antes de voltar para casa, ao meio-dia. Eu recebera um novo comissionamento e
unção. E
ansiava profundamente por
um avivamento espiritual.
Depois disto passei muitos
dias visitando e orando com outros irmãos e distribuí o folheto da G. Campbell
Morgan "O Avivamento em Gales", que tocava as
pessoas profundamente. Cada vez sentia mais necessidade de orar e resolvi
ser fiel à visão celestial que tivera. A "questão
do pão de cada dia" há muitos
anos me preocupava, mas agora
orei a Deus para poder confiar nEle totalmente: "Nem só de pão viverá o
homem!" (Mateus 4:4)
Deus me abençoou além disso,
com o
poder de exortar
as igrejas quanto
ao avivamento e também com artigos que escrevi para a
Editora Holiness sobre
o mesmo tema. Uma noite acordei gritando louvores a Deus. O Senhor cada vez
mais se apossava de mim. Agora de dia, e mesmo durante a noite, eu
os exortava para terem fé em Deus por coisas grandiosas.
O peso pelo avivamento me consumia.
O dom de profecia também veio sobre mim
com poder. Parecia
haver recebido um especial "dom de fé" em favor do
avivamento. Era óbvio que estávamos
no início de dias maravilhosos e
eu profetizava continuamente sobre o grande
derramamento que haveria de acontecer.
Eu tinha um ministério muito
real junto com a imprensa religiosa e
comecei a freqüentar reuniões de
oração em diversas igrejas a fim de exortá-las. O pequeno folheto de G.
Campbell Morgan inflamava a todas as
igrejas maravilhosamente.
Também visitei muitos irmãos
e comecei a vender nas igrejas o
livro de S. B.
Shaw: "O Grande Avivamento em Gales" Deus utilizou-o grandemente para
incentivar a fé pelo avivamento. Meu trabalho de distribuir folhetos continuou
em bares
e em casas de negócios.
Em maio de 1905, escrevi num
artigo: "Minha alma fica incendiada
quando leio sobre o trabalho
glorioso da graça do Senhor no País de Gales. Os "sete mil" que
juntamente com os "que foram poupados" (Ezequiel
9), e estão
"suspirando e gemendo"
por causa das abominações e
desolações que há
na terra, e pela
decadência da verdadeira piedade no corpo de Cristo, podem
se regozijar numa hora como esta, em que se vê a
perspectiva de Deus mais uma vez
se mover na terra. O nosso lema neste momento deve ser
'Califórnia para Cristo!' Deus está buscando obreiros, canais, vermes do pó.
Lembre-se, Ele precisa desses simples vermes. Havia tanto peso na vida de
Jesus que FLUIA ORAÇÃO de todos Seus
poros.
Isto é alto demais para a
maioria das pessoas. Contudo, não seria esta a 'última chamada' do
Senhor?"
NA IGREJA DO IRMÃO
SMALE
No dia 17 de junho, fui a Los
Angeles para assistir a uma reunião da
Primeira Igreja Batista. Eles, também, esperavam em Deus por um
derramamento do Espírito ali. Seu
pastor, Joseph Smale, acabara de voltar do País de Gales onde estivera em contato com o avivamento e com
Evan Roberts, e estava na sua
própria igreja em Los Angeles.
Esse encontro parecia estar em perfeito
acordo com a
minha visão, tarefa e desejo, e passei duas horas na igreja orando,
antes da
reunião da noite. As reuniões estavam sendo realizadas ali dia e noite, diariamente,
e Deus estava presente.
Uma tarde comecei a
reunião em Los
Angeles, enquanto esperava
que Smale aparecesse. Eu os
exortei a não esperar pelos homens, mas
a esperar em
Deus.
Eles estavam esperando em
alguma grande figura humana; era o mesmo
espírito de idolatria que havia
sido uma praga para igreja e que impedira
a ação de
Deus através dos séculos. Como os filhos de Israel, o povo
precisava ter "um
outro Deus diante do Senhor." (Em algumas igrejas oficiais
na Europa, o
pastor é muitas vezes conhecido
como "o pequeno deus!") Começamos o culto da
noite nos degraus do templo, do
lado de fora, enquanto esperávamos que o Zelador chagasse com a chave. Tivemos um período de
oração em favor da
comunidade vizinha. A reunião foi uma marcha progressiva de
vitória.
Depois fui para o Parque
Lamanda, e após a pregação passei
a noite na
casa paroquial orando e dormindo alternadamente. Eu queria uma
revelação maior de Jesus PARA MIM MESMO. Como a lua cheia que fica
mais e mais
nítida e mais próxima à medida que a contemplamos
incessantemente, assim também
Jesus fica mais real às
nossas almas à
medida que o
contemplamos. Precisamos de um
relacionamento mais íntimo, vivo, e
pessoal com Deus,
e de conhecimento
e comunhão maior com Ele. Só o homem que vive em comunhão com a realidade
divina está habilitado a levar as pessoas à Deus.
Fui à igreja de Smale outra
vez e novamente encontrei as
pessoas sem ânimo, esperando o pregador aparecer. Muitas
pareciam nem ter idéia definida a respeito do que esperavam que acontecesse!
Comecei a orar em voz alta e a reunião
se iniciou com poder. Estava já com força total quando o irmão
Smale chegou. Deus queria que as pessoas olhassem apenas
para Ele e não para algum homem. Aqueles que não colocavam a
glória do Senhor
em primeiro lugar,
naturalmente se ressentiam disto.
Contudo este é o plano de Deus.
Verifiquei que a maioria dos
cristãos não queriam aumentar sua carga de
oração. Era difícil demais para a carne! Eu carregava agora uma
carga cada vez
mais volumosa, noite e dia. O ministério
era intenso. Era a "comunhão dos
seus sofrimentos" (Filipenses 3:10), a angústia de alma
"com gemidos inexprimíveis" (Romanos 8:26, 27).
Muitos crentes acham mais fácil criticar do que orar...
Um dia eu estava sobre uma
carga tremenda de oração. Fui à
casa de oração
do irmão Manley, caí no altar e ali aliviei minha alma. Um obreiro
entrou correndo e pediu que orasse por
ele. Naquela noite fui a uma reunião e encontrei um outro jovem, Edward
Boehmer, que havia sido tocado por Deus nas reuniões de Peniel, no outono, e
que tinha o mesmo fardo de oração sobre si. Ele estava destinado a ser meu
companheiro de oração no futuro. Fomos unidos no Espírito
daquele dia em diante de forma maravilhosa. Oramos juntos
na pequena Missão Peniel até às duas
horas da manhã. Deus encontrou-Se conosco e nos fortaleceu maravilhosamente enquanto lutávamos com Ele
por um derramamento do Espírito sobre o
povo. Minha vida então estava
totalmente consumida pela oração contínua. Estava orando dia e noite!
Escrevi mais artigos para a
imprensa religiosa, exortando os
santos a orar.
Novamente fui a igreja de
Smale em Los Angeles. Encontrei as pessoas esperando o pregador outra vez. Esta
situação me oprimia muito e tentei mostrar-lhes que só deviam
esperar pelo Senhor.
Algumas se ressentiram,
pois eram muito tradicionais, mas outras aceitaram.
Afinal, estávamos orando por um avivamento como houvera no País de Gales,
onde um dos pontos principais era
que somente esperavam em Deus. As
reuniões continuavam lá com ou sem pregador.
Eles vinham se encontrar com
Deus. E o Senhor vinha para estar com eles.
Eu havia escrito uma carta a
Evan Roberts, pedindo que em Gales orassem por
nós na Califórnia. Recebi resposta de que eles estavam orando, o que nos
ligava, então, ao avivamento de lá. A carta dizia: "Meu
querido irmão na
fé, muito agradecido por sua
carta gentil. Fiquei impressionado com
sua sinceridade e honestidade de propósitos. Reúna o povo que
está disposto a fazer uma
entrega total. Ore e espere. Creia nas promessas de Deus. Faça reuniões
diárias. Deus o abençoe, é a minha
oração." Sentimo-nos muito encorajados ao saber que
estavam orando por nós em Gales.
Escrevi mais artigos e o
que se segue
são extratos deles:
"Um trabalho maravilhoso do
Espírito irrompeu em Los Angeles,
Califórnia, precedido de um
profundo trabalho preparatório de oração e
expectativa. A convicção
está se espalhando entre o povo,
e as pessoas estão afluindo de
todas as partes
da cidade para as reuniões da igreja do Pr. Smale. Estas reuniões
realizaram-se por si mesmas. Pessoas estão sendo salvas por todo o auditório,
enquanto a reunião continua sem ser guiada por mãos
humanas. A maré está subindo rapidamente e
nós estamos antecipando coisas maravilhosas. A intercessão em angústia
de alma está se tornando em importante
aspecto do trabalho, e estamos
sendo transportados para além das
barreiras denominacionais. O temor do Senhor está vindo
sobre o povo, um verdadeiro
espírito de quebrantamento. A reunião que começou domingo à noite durou até a madrugada do dia
seguinte. O pastor Smale profetizou
coisas maravilhosas que irão acontecer. Ele profetizou que os
dons apostólicos logo voltarão à
igreja. Los Angeles é uma verdadeira Jerusalém.
Justamente o lugar certo para uma grande obra de Deus
começar. É exatamente
este tipo de demonstração de poder divino
que eu tenho esperado há algum tempo.
Tenho sentido que a qualquer momento ela surgirá. Sinto, também, que
virá onde menos se espera para que Deus receba toda a
glória. Ore por um Pentecostes!"
UM ENCONTRO COM
JESUS
Uma noite, 3 de julho, senti
fortemente que deveria ir
ao pequeno auditório Peniel em Pasadena para orar.
Encontrei ali o irmão Boehmer.
Ele havia sido guiado por Deus ao mesmo lugar. Oramos
por um avivamento em Pasadena até
que o fardo de oração se tornou
insuportável. Eu chorava como se
fosse uma mulher dando à luz. O Espírito intercedia
através de nós e finalmente o peso se
foi.
Depois de uma pequena espera
em silêncio, uma grande calma
nos sobreveio, e então, sem que o antecipássemos, o Senhor
Jesus se
nos revelou. Ele
parecia estar em pé entre nós, tão perto que poderíamos estender nossas
mãos e tocá-lo.
Não ousamos entretanto
mexer-nos. Eu não podia nem olhar. Na
realidade parecia que eu era
totalmente espírito. Sua presença foi mais real, se possível, do que se eu o pudesse ter visto e tocado
fisicamente. Esqueci-me que possuía
olhos e ouvidos. Meu espírito o
reconheceu. Um céu de amor divino me
encheu e excitou minha alma. Uma chama ardente
percorreu meu corpo. Aliás todo meu corpo
parecia derreter-se diante dEle, como cera diante do fogo. Perdi
toda consciência de tempo e espaço, ficando apenas consciente
de sua maravilhosa presença. Fiquei a
seus pés em adoração. Era um verdadeiro "Monte da Transfiguração". Perdi-me dentro do puro Espírito!
Por algum tempo Ele
permaneceu conosco. Depois devagar Ele
se retirou. Nós ainda estaríamos lá se Ele não tivesse
se retirado. Nunca
mais eu poderia duvidar da sua realidade após esta
experiência. O irmão Boehmer sentiu
quase o mesmo que eu. Havíamos perdido
totalmente a consciência da presença um do
outro enquanto Ele ficou conosco. Tínhamos quase medo de
falar ou respirar
quando voltamos ao ambiente que nos rodeava. O Senhor não dissera nada para
nós, mas havia arrebatado nosso
espírito pela sua
presença. Ele havia
vindo para fortalecer-nos e
encorajar-nos para o
Seu serviço. Sabíamos agora que
trabalhávamos com Ele e éramos companheiros de Seu sofrimento no ministério de intercessão com angústia de alma.
A verdadeira intercessão com angústia de
alma é tão nítida no espírito quanto as dores de um parto natural.
A semelhança é quase
perfeita. Nenhuma alma
jamais renasce sem
esse processo. Todos
os avivamentos de salvação vêm desta maneira.
Já alvorecia na manhã
seguinte quando deixamos o
auditório. Aquela noite
no entanto parecia-nos haver durado apenas meia hora. A presença de
Deus elimina toda sensação de
tempo. Com Ele tudo é eterno: É vida eterna. Deus não conhece o tempo, este elemento
se perde no céu. Este é o segredo do tempo
parecer passar tão depressa
durante uma noite de verdadeira oração.
O tempo é
colocado num ponto inferior.
O elemento eterno
está ali. Durante
dias aquela presença maravilhosa parecia andar ao meu
lado. O Senhor Jesus era tão real para mim
que eu mal podia conversar com as outras
pessoas de novo.
Isto me parecia
tão rudimentar e vazio. Os espíritos humanos pareciam tão rudes e o
companheirismo humano um tormento. Quão distante nós estamos atualmente
do espírito manso
de Jesus!
Passei o dia seguinte em
oração, indo de noite à igreja de Smale onde passei um tempo em intercessão. A
paz e a alegria do céu enchiam meu
coração. Jesus era tão real! Dúvidas e temores não podem
sobreviver na Sua presença.
O INTERESSE PELO
AVIVAMENTO SE ALASTRA
Escrevi vários artigos
descrevendo o que Deus estava operando em nosso
meio e exortando os santos em
todos os lugares a terem fé e orarem por um avivamento. O Senhor usou grandemente
estes artigos para despertar fé e
convicção em muitos locais. Logo comecei a receber grande
quantidade de correspondência de
muitos lugares. Escrevi no meu diário naquele tempo a seguinte
observação: "É possível nos
desligarmos de Deus por causa da nossa vaidade espiritual enquanto Ele leva os mais fracos ao arrependimento e, a
partir daí, à vitória. A operação de
Deus em nossos corações deve
ser mais profunda
do que jamais
experimentamos, suficientemente para destruir as barreiras
denominacionais, de partido, etc., em todos os lados. Deus pode aperfeiçoar
aqueles que escolher."
O espírito de avivamento que
havia na
igreja do irmão
Smale se alastrou, despertando logo os mais
espirituais em toda a cidade. Obreiros vinham de todas as partes, de diversas instituições,
unindo-se à nós em oração contínua para que houvesse o derramamento do Espírito
por toda a parte. O círculo de
interessados aumentou rapidamente. Estávamos agora orando
pela Califórnia, pela
nação e também por um avivamento
universal. As profecias começaram a aparecer
em larga escala a respeito de
grandes coisas que aconteceriam. Alguém me mandou cinco mil folhetos a respeito
do "Avivamento no País de Gales".
Distribuí-os entre as igrejas. Tiveram um efeito maravilhoso e vivificante.
Visitei outra vez a igreja de
Smale e iniciei a reunião, pois ele
ainda não havia chegado. As
reuniões agora eram
caracterizadas por uma
maravilhosa espontaneidade. Nosso pequeno grupo Gideão
estava marchando para
a Vitória certa, guiado pelo
Capitão da sua salvação, Jesus. Fui levado a orar nessa época especialmente por
fé, discernimento de espíritos , cura e
profecia. Senti que precisava de mais sabedoria e também de
amor. Parecia ter recebido o "dom de fé" pelo avivamento naquela
época e também o dom de profecia para
o mesmo fim, e
comecei a profetizar a respeito das grandes coisas que estavam para vir.
Quando começamos a orar na
primavera de 1905, ninguém parecia ter muita fé
por nada fora do habitual. O pessimismo entre os santos era total
com relação às condições então existentes. Mas tudo havia
mudado! Deus mesmo nos havia dado fé em
coisas melhores. Não havia nada á vista que nos estimulasse a ter fé. Veio do
nada. Não poderá Ele hoje fazer a mesma coisa?
Escrevi naquela época um
artigo para o jornal
"Daily News" de
Pasadena, descrevendo o que havia
na igreja do
irmão Smale. Foi
publicado e o administrador do
jornal pouco depois veio
ver por si mesmo o que estava
acontecendo. Ficou totalmente convencido e veio ao altar para buscar a
Deus com sinceridade. O artigo foi
reimpresso em muitos periódicos das igrejas "Holiness" através do
país. Era intitulado: "O
que vi numa
igreja em Los
Angeles".
Seguem-se abaixo alguns
trechos.
"Há diversas semanas têm
se realizado cultos
especiais na Primeira
Igreja Batista de Los Angeles. O Pastor Smale que voltou do País de
Gales, onde esteve em contato com Evan
Roberts e com o Avivamento, está convicto
que Los Angeles será em breve sacudida também pelo
grande poder do Senhor."
"A reunião que desejo
descrever começou de forma inesperada e espontânea algum tempo antes do pastor chegar. Um
pequeno grupo havia se reunido antes da hora, o que parecia ser suficiente para
o Espírito operar. A
reunião começou. Sua
expectativa estava em Deus. Deus estava lá, o povo
estava lá, e
quando o pastor chegou a reunião
se realizava com força total. O Pastor
Smale sentou-se no seu lugar, mas
ninguém parecia prestar atenção especial
a ele. Sua
mentes estavam ligadas a
Deus. Ninguém parecia
atrapalhar o vizinho,
embora a congregação
representasse muitas denominações. A harmonia
parecia perfeita. O Espírito guiava."
"O pastor se levantou e
leu um trecho das Escrituras; fez algumas observações cheias de esperança, e que
serviram de inspiração para
aquela ocasião, e a
reunião novamente tomou o seu próprio
rumo. O povo
continuou como antes.
Testemunhos, orações e louvor
se intercalavam durante a
reunião que parecia guiar-se por si mesma, sem orientação
humana. O pastor era igual a todo mundo.
Qualquer pessoa com a menos
sensibilidade espiritual possível sentia
logo no ambiente que algo maravilhoso
estava prestes a ocorrer. Um misterioso e poderoso transtorno no mundo
espiritual está às portas. A reunião dá a sensação de
"céu aqui na terra" com a certeza que o sobrenatural existe
e em
um sentido muito real."
DEPOIS DA
MISERICÓRDIA, O JUÍZO
Nessa mesma época escrevi um
artigo para o jornal "Wesleyan Methodist", do qual extraí o que se
segue: "A misericórdia rejeitada significa juízo, e
isto numa escala proporcional. Em
toda a história deste mundo de Deus houve
sempre uma oferta de
misericórdia, seguida de juízo divino. Primeiro vem Cristo num cavalo branco da misericórdia. Depois vêm
os cavalos vermelho,
preto e amarelo
da guerra, fome, e da morte. Os profetas não paravam de avisar Israel
noite e dia, mas suas lágrimas
e advertências, na
maioria, foram em
vão. A terrível destruição de Jerusalém
em 70 A.D.,
que resultou no extermínio de um
milhão de Judeus, e a prisão de multidão de outros, fora
precedida da oferta divina de misericórdia nas mãos do
próprio Filho de Deus.
"Em 1859, uma grande
onda de Avivamento visitou nosso país, levando um, milhão de pessoas a serem salvas.
Imediatamente após veio a
carnificina de 1861-1865 (Guerra de Secessão). E agora que
antecipamos o grande Avivamento que está
para chegar e já está assumindo proporções mundiais, pergunto se o juízo
não seguirá a misericórdia como das
outras vezes. E será o julgamento na mesma proporção da misericórdia oferecida! A presente
atitude belicosa e
a angústia de
tantas nações fazem-nos questionar se o juízo que se seguirá
não nos mergulhará
na grande tribulação." (Nota do Redator: E realmente
veio o juízo
esperado na Primeira Guerra
Mundial, 1914-1918.)
Para o jornal "O
Avivalista de Deus" eu escrevi: "A incredulidade sob todas as formas está vindo sobre nós como grande
inundação. Mas eis que
o nosso Deus também vem! Um estandarte se levanta
contra o inimigo. O Senhor está
escolhendo os Seus obreiros. É chegada a hora de perceber a visão da
obra a ser feita."
Fala o Poderoso, o Senhor
Deus, e convoca a terra desde o nascer do
sol até o seu ocaso. O nosso Deus vem, e não guarda
silêncio... Congregai os meus santos, os
que comigo fizeram aliança por meio de sacrifícios. (Salmos 50:1, 3, 5)
Naquele tempo eu costumava
declarar que eu preferia viver seis meses
em 1905, do que 50 anos noutra
época. Grandes coisas se iniciavam para o
grão de trigo que estava disposto "a cair
na terra
e morrer", Havia
promessa de grandes colheitas. Mas para
os insensatos espirituais,
tudo isso não
passava de bobagens.
Escrevi outra carta para Evan
Roberts, pedindo orações incessantes pela Califórnia. Assim
continuávamos ligados em
oração com Gales
por um Avivamento. Naquele tempo
a verdadeira oração ainda não era bem
compreendida. Era difícil achar um lugar quieto onde não se fosse
incomodado. Ter experiência de Getsêmani
com Jesus era raro entre os santos daqueles dias.
A INTERCESSÃO
CONTINUA
Um dia, na igreja de Smale,
eu estava gemendo em oração no altar. O espírito de intercessão estava sobre
mim, mas um irmão veio e me repreendeu severamente. Ele não compreendia o que
estava acontecendo. A carne naturalmente reluta diante de tão árduo sacrifício. Os gemidos não
são muito populares
em algumas igrejas assim como não são agradáveis os
brados de uma mulher dando à luz. A angústia na intercessão não é companhia
agradável para os que querem uma vida
egoísta no mundo. Mas as almas
não são ganhas sem esta
experiência. Dar à
luz não é considerado um exercício agradável hoje em
dia. O mesmo acontece num verdadeiro
avivamento que gera novas vidas nas igrejas. A sociedade não se
importa muito com uma mãe que
está para dar à luz. Prefere a alegria
superficial. O mesmo acontece nas igrejas com relação a
angústia da intercessão. Há pouca preocupação com os pecadores. Os homens fogem
dos gemidos de uma mulher que está para dar
à luz. E as igrejas não querem ouvir os gemidos da intercessão.
Estão muito mais preocupados em se divertirem.
Estávamos com problemas
financeiros, mas o Senhor supriu-nos. Jamais dissemos a alguém nossas
necessidades, a não ser para Deus; jamais
imploramos ou pedimos dinheiro emprestado, por maior que
fosse nossa necessidade. Acreditávamos
que, se
os santos, estivessem suficientemente próximos de Deus,
Ele mesmo falaria com eles.
Confiávamos inteiramente nEle e ficaríamos sem nada se Ele não enviasse ajuda.
Nesta época escrevi meu primeiro folheto. Intitulava-se "O Amor Nunca Falha". Foi este
o início do
meu ministério de
folhetos, que era sustentado pela fé. Eu precisava confiar
no Senhor par o suprimento financeiro.
E Ele nunca falhou.
Um amigo pagou nossas
despesas num acampamento em Arroyo
por alguns dias,
e assim fomos para lá armar nossa barraca. Apreciamos
a mudança e as férias.
Estávamos no meio do verão.
Passei quase todo o tempo prostrado orando
no meio da floresta. Durante as
noites de luar, derramei meu coração diante
de Deus e Ele veio estar comigo. Havia muito
"ruído de corações vazios" no acampamento. A maioria buscava bênçãos
egoístas; estavam ali
como grandes esponjas
para absorverem o maior número de bênçãos possível. Alguém precisava
pisar neles!
Encontrei-me clamando a Deus
muito além das aspirações do resto do
povo. Eu queria algo mais profundo
do que esta esfera puramente
emocional; queria algo mais substancial e duradouro que
colocasse um rochedo no meu coração. Eu
estava cansado de tanta espuma passageira, de tanta religião enfática
e bombástica. O Senhor não me deixou esperando por muito
tempo.
A comissão de organização
do acampamento me
repreendeu porque eu
estava distribuindo folhetos
no acampamento. Achavam
que eu estava
criticando o movimento a que
pertenciam. Eu estava apenas exortando-os
a um relacionamento mais profundo com Deus! Eles
precisavam de mais humildade e
amor. Meu folheto sobre as seitas, intitulado "Que
Todos Possam Ser Um"
comoveu a todos.
Sem dúvida os movimentos feitos por homens precisam ser sacudidos.
Deus tem
um só "corpo", um só
"movimento". Esta era a mensagem na Missão Azusa no início.
Recebi uma Segunda carta de
Evan Roberts que dizia: "País de Gales, 8 de julho de 1905. Querido irmão: Sou muito
grato a você
por sua gentileza.
Fiquei muitíssimo satisfeito com
as boas notícias
que vocês estão
começando a experimentar coisas
maravilhosas. Estou orando para que Deus continue a abençoar você; mais uma vez
agradeço os seus bons votos. Sinceramente seu no serviço
do Senhor, Evan Roberts."
O INÍCIO DA IGREJA
DO NOVO TESTAMENTO
"Eu fui à igreja de
Smale uma noite, e ele havia se demitido. As reuniões haviam prosseguido
diariamente na Primeira Igreja Batista por quinze semanas. Estávamos em
setembro. Os oficiais da igreja haviam se
cansado de inovações
e queriam retornar ao antiga estilo. Foi-lhe
dito que parasse
com o Avivamento,
ou deixasse a igreja. Sabiamente
ele escolheu a
segunda alternativa. Mas
que posição horrível para uma igreja assumir: colocar
Deus para fora!
Da mesma maneira, também puseram,
mais tarde, o Espírito do Senhor para fora das
igrejas do País de Gales! Cansaram-se de Sua presença, desejando
retornar aos velhos padrões frios e eclesiásticos. Como os
homens são cegos! É claro que os membros
mais espirituais seguiram o pastor Smale e ajuntaram-se ao núcleo de obreiros
de outras procedências que
haviam se unido
à ele durante
o avivamento.
Imediatamente estes
propuseram a formação de uma igreja do Novo
Testamento. Eu senti que o Senhor
estava liderando o irmão Smale
para usá-lo no
campo de evangelismo, para leva o
fogo à outros lugares. Mas ele não sentia o mesmo. Tive um encontro com ele com
este objetivo em mente,
e consegui que
ele pregasse na Igreja Metodista
da Avenida Lake em Pasadena, para o Pastor
Brink.
Este era o centro nevrálgico do Avivamento naquela
cidade.
Na noite anterior à pregação
do irmão Smale na igreja da Avenida Lake, dois de nós ficamos até meia-noite
em oração. O
irmão Smale pregou
duas vezes no Domingo. Foi ungido de forma grandiosa
pelo Senhor naquela ocasião.
Passamos o período entre os dois
cultos em oração.
Sua mensagem foi
a respeito do Avivamento no País de Gales. O povo ficou
muito comovido. O irmão
Smale logo depois organizou uma
igreja do Novo Testamento, e eu me tornei
membro porque senti que deveria
ficar com eles, apesar de não gostar muito da organização.
O irmão Smale alugou o
auditório Burbank para fazer reuniões ali, e eu consegui outro auditório até
que o primeiro estivesse
concluído. Deus me
deu outro folheto: intitulava-se
"Ore! Ore! Ore!" Mandei para o
impressor pela fé
e o Senhor me mandou o dinheiro a
tempo. Era uma forte exortação para que orássemos.
Como os profetas de
antigamente, precisamos orar por aqueles que não oram por si mesmos. Precisamos
confessar os pecados do povo no seu lugar.
MAIS INTERCESSÃO
Certa ocasião enquanto eu e o
irmão Boehmer orávamos,
o Espírito Santo
foi derramado de forma maravilhosa sobre diversas reuniões
pelas quais orávamos.
Sentimos que havíamos
alcançado a Deus em favor deles. Os acontecimentos que se seguiram provaram nossa convicção. As
orações mudam as coisas.
Há um grande poder no tipo certo de orações. Veja o
exemplo de Elias no Monte
Carmelo, um homem "sujeito
às mesmas paixões do justo" (Tiago 5:16). O arrependimento também se faz
necessário neste contexto
para que tudo
funcione. "Confessai, pois,
os vossos pecados uns aos outros."
Quase todos os dias
em Los Angeles
encontrava-me ocupado em
evangelismo pessoas, distribuição de folhetos, oração ou pregação em
alguma reunião. Estava escrevendo
artigos para a imprensa religiosa sem parar. Orei e jejuei antes
de ir, numa tarde, a uma reunião na lona em Pasadena.. O Senhor me
ungiu de
forma maravilhosa e vinte pessoas aceitaram a cristo. A essa
altura o espírito
de intercessão se apossara de mim de tal maneira que eu orava noite e
dia; jejuava tanto, que minha esposa de
vez em quando achava que eu iria morrer. As tristezas do meu Senhor estavam
sobre mim. Eu estava no jardim do Getsêmani
com Ele. "O penoso trabalho da sua alma"
também estava sobre mim. Comecei a temer, como
Ele temera, que não viveria para ver às respostas às minhas orações e
lágrimas pelo Avivamento. Ma ele me
consolava, mandando mais de um anjo para me
fortalecer e eu ficava
satisfeito. Senti que estava experimentando
um pouco do
que Paulo queria dizer quando
escreveu: "preencho o que resta das aflições de Cristo", por um mundo
perdido. Alguns temiam que eu estivesse ficando
desequilibrado. Não conseguiam
entender minha tremenda incumbência. Até hoje
muitos não conseguem compreender. "O homem carnal
não aceita as coisas do Espírito de Deus,
porque lhe são loucura". Os homens egoístas não podem entender tal
sacrifício. "Quem quiser
salvar a sua vida, perdê-la-á." "Se o grão de trigo caindo na
terra, não morrer...." Nosso Senhor
era um "Homem de dores".
Muitas vezes fui a Pasadena
confiando que Deus me daria a passagem para
voltar para casa. Numa ocasião o irmão Boehmer teve a impressão
que eu estava
para chegar. Ele foi à pequena Missão Peniel e me encontrou lá. Passamos
várias horas em oração. Depois ele pagou minha passagem para a volta à
casa. Muitas vezes passamos a noite inteira em oração.
Naquela ocasião parecia
um grande privilégio passar uma
noite inteira com o Senhor. Ele ficava tão perto de
nós.
Parecia-nos que nem nos
cansávamos nessas horas. Boehmer era jardineiro e jamais lhe pedi um centavo,
mas ele sempre me dava alguma coisa. Depois de certo tempo, Deus usou não
apenas seu dinheiro, mas sua própria vida em seu serviço. Boehmer foi um grande homem de oração. Deus
nos ensinou o que significa não conhecer
os outros na carne. Ele nos levou a um
relacionamento tão intenso
que o nosso companheirismo parecia ser só no
Espírito. Além disso nosso "eu"
parecia haver morrido com relação
um ao outro.
SINAIS DE PERIGO NA
IGREJA DO NOVO TESTAMENTO
Escrevi pela terceira vez a
Evan Roberts para que continuasse a orar
por nós.
Naquele tempo, depois que
acabava de pregar, eu geralmente chamava
os santos para ajoelharem-se e orávamos
durante muitas horas
antes de nos
podermos levantar. O Senhor me levou a escrever a muitos líderes em todo
o país para que orassem pelo Avivamento.
O espírito de oração crescia continuamente. A igreja do Novo Testamento parecia
perder seu espírito de oração à medida que aumentava sua organização. Agora
queria passar esse ministério para alguns de
nós. Eu sabia que Deus não se agradava disso e
fiquei muito preocupado
por eles. Tinham interesses secundários demais. Parecia
que Deus precisava arranjar outro corpo.
Eu tivera muita esperança com
relação a esse grupo de pessoas. O inimigo, porém, parecia os estar tirando do
caminho, desviando-os do que Deus
tinha de melhor para eles naquela época. É sempre mais
fácil escolher o que é secundário.
Uma vida de oração é muito mais importante do que os prédios e
organizações. Muitas vezes esses últimos
interesses parecem substituir a oração.
Mas as almas entram para o reino só através de
orações.
A igreja do Novo Testamento
parecia estar indo para o lado do
intelectualismo.
Fiquei muito preocupado.
Durante uma reunião gemi alto em oração.
Era horrível depois das reuniões
que tivéramos antes. Um dos anciãos da igreja me repreendeu severamente por isso. "Como
caíram os valentes...", eu parecia
ouvir a toda hora. Alguns dos mais espirituais
sentiram a mesma preocupação.
As orações começaram a
melhorar um pouco. Depois de algum
tempo tivemos uma grande reunião na igreja e cem
pessoas foram ao
altar numa única
noite de Domingo. Encontrei-me
outra vez com os rapazes da Missão Peniel e
sentimos que em breve o Senhor
realizaria uma grande obra. Na lona do irmão Brownley, em Los Angeles,
tivemos profundo espírito
de oração e
poderosas reuniões de intercessão. Prevíamos que em
breve Deus faria
algo de extraordinário. O espírito de oração vinha sobre nós cada vez
com mais poder. Em Pasadena, antes de mudar para Los Angeles, eu
ficava deitado de
dia, virando-me na
cama e gemendo sob o enorme peso.
À noite, eu mal podia
dormir de tanto
sentir a necessidade de orar.
Jejuava muito, pois sob esta carga não
sentia necessidade de alimento. Em
certa época fiquei em angustiosa intercessão por vinte e quatro horas seguidas sem interrupção. Fiquei
muito esgotado. As orações praticamente me consumiam. Comecei a gemer
até quando dormia.
As orações não eram formais
naquele tempo. Eram sopradas por Deus. Vinha
sobre nós e nos
dominavam inteiramente. Não
fazíamos força para
que se intensificassem. Éramos
possuídos por verdadeira angústia no
Espírito que não podia ser cortada. Assim como é
impossível uma mulher
em trabalho de
parto evitar suas dores, não se pode fugir da
angústia na intercessão sem
cometer grande violência ao
Espírito Santo. Era
verdadeira intercessão feita
pelo Espírito Santo.
NOTÍCIAS DO PAÍS DE
GALES
Durante alguns dias tive a
impressão de que
outra carta chegaria
de Evan Roberts. Logo chegou e
dizia o seguinte: "País de Gales, 14 de novembro de 1905.
Meu caro companheiro: O que
posso lhe dizer que o encoraje
nesta grande luta?
Vejo que é uma luta terrível:
o reino do mal está sendo atacado
de todos os lados. Oh! São milhares de orações - não
só orações formais - mas a própria alma chegando diretamente ao Trono Branco! O
povo de Gales tem aprendido a orar neste último ano. Que o Senhor os abençoe
com um grande derramamento. Em Gales
parece que o Senhor está sobre a congregação, esperando que os corações
dos seguidores de Cristo se abram.
Tivemos um grande derramamento do Espírito Santo na
última noite de sábado. Antes disto o conceito que o povo tinha do
verdadeiro louvor foi corrigido.
Vimos que devemos:
1. Dar a Deus, e não receber.
2. Agradar a Deus , e não a
nós mesmos.
Oramos, então, olhando para
Deus e não para o inimigo, nem
para o medo
dos homens, e o Espírito do Senhor se fez presente. Tenho pedido a Deus
em oração para manter você forte
na sua fé e para salvar a Califórnia. Permaneço seu irmão na luta - de Evan
Roberts." Era a terceira carta que recebíamos de Evan Roberts, de Gales, e
percebi que sua oração tivera muito a ver com a nossa vitória final na Califórnia.
Evan Roberts nos conta a
respeito de sua própria experiência
com Deus: "Uma Sexta-feira à noite, no último
outono, enquanto orava ao lado de
minha cama, antes de dormir, fui
elevado a uma grande expansão, fora do tempo ou espaço. Era comunhão com Deus!
Antes disso, eu conhecera um Deus distante. Fiquei apavorado naquela noite, mas depois disso
nunca mais. Tremia tanto que a cama chegava
a balançar e meu irmão que acordada me segurava, pensando que eu estava
enfermo."
Esta experiência se repetiu
todos os dias durante três meses, da uma
às cinco da madrugada . Ele
escreveu este recado ao mundo durante
aquele período: "O Avivamento no País de Gales não vem
dos homens, é
de Deus. Ele
está muito próximo de nós; não há
problemas de crenças ou
dogmas neste movimento.
Não estamos ensinando nenhuma doutrina sectária, só a maravilha e a
beleza do amor de Cristo. Perguntaram-me sobre meus
métodos, mas eu não os tenho. Nunca preparo o que vou dizer, mas deixo tudo
para Ele. Eu não sou a fonte deste Avivamento, mas apenas um agente entre
tantos outros que
estão se transformando
numa multidão. Não espero que as pessoas me sigam, mas quero o mundo
para Cristo. Eu creio que o mundo está
às portas de grande Avivamento espiritual e oro todos os dias para que eu possa
ajudar na sua
realização. Coisas maravilhosas
tem acontecido em Gales nestas últimas semanas, mas elas são apenas
o princípio. O mundo será varrido pelo Espírito Santo,
como por um vento
forte e poderoso.
Muitos que agora são
cristãos silenciosos liderarão
o movimento. Verão
uma grande luz e refletirão essa luz sobre milhares que estão nas trevas.
Milhares se levantarão e farão mais do que nós jamais conseguimos
realizar, à medida que Deus lhes der
poder." Que humildade maravilhosa! Este
é sempre o
segredo do poder.
Uma testemunha inglesa do
Avivamento em Gales escreveu:
"Tanta angústia na intercessão pelas almas dos não-salvos
nunca antes presenciei. Vi o jovem Evan Roberts transtornado pela dor, e
convidando o auditório a orar. "Não
cantem", ele suplicava, "é terrível demais para cantar!""
(A convicção do pecado muitas vezes é perdida pelo povo, quando se
canta demais.)
Outro escritor declarou que
não era a eloqüência de Evan Roberts que comovia o povo; eram suas lágrimas. Ele os
quebrantava, chorando amargamente para que Deus os dobrasse em tal agonia que
as lágrimas escorriam pelo seu rosto e todo o
seu corpo tremia. Homens fortes eram
quebrantados e choravam
como crianças. As mulheres gritavam de medo. O barulho do
choro e dos gritos enchia o ar. Quando sua agonia se tornava maior, Evan
Roberts Chegava a cair
diante do púlpito, enquanto muitos dentre o povo
chegavam a desmaiar.
OPOSIÇÃO
Dia e noite
eu ia a
Missões diferentes exortando
as pessoas a
orarem continuamente e a terem fé pelo
Avivamento. Passeia mais
uma noite inteira orando com o irmão Boehmer. Uma
noite, na Igreja do
Novo Testamento, quando sobre toda a congregação havia um
profundo espírito de oração,
de repente o Senhor veio tão próximo de nós, que
podíamos sentir a sua presença nos cercando, como se quisesse nos fechar ao
redor. Dois terços das pessoas presentes
ficaram tão alarmadas que ficaram de pé, e algumas saíram dali correndo,
esquecendo-se até dos seus chapéus, no seu grande apavoramento. Não houve
nada visível que causasse medo. Era a manifestação
sobrenatural da proximidade do
Senhor. Que será que fariam se
vissem o Senhor?
Comecei uma pequena reunião
num lar onde tínhamos mais liberdade
de orar e esperar no Senhor. O espírito de oração
estava sendo impedido nas reuniões.
Os mais
espirituais estavam famintos
por tal oportunidade.
Os líderes, porém, não
compreenderam e fizeram oposição a mim. Depois a dona da minha
casa alugada ficou possessa por Satanás e queria nos expulsar da casa,
pois ela
não andava com Deus. Nosso aluguel estava pago, mas o inimigo tentou
usá-la. A luta se iniciara. Começou a
haver oposição contra o meu ministério na Igreja do Novo Testamento. Uma irmã me tentou convencer
a parar as reuniões de oração que eu
começara. Pedi ao Senhor que me mostrasse qual era sua vontade
neste assunto.
Ele veio e encheu com uma
nuvem de glória a casa onde estávamos, a tal ponto que eu mal podia suportar a
sua presença. Para mim esta experiência
tirou qualquer dúvida.
"Antes importa obedecer a Deus do que aos homens." Sofri muitas
críticas naquela época; penso que estavam com medo que eu começaria outra
igreja. Eu, no entanto, não tinha tal pensamento naquela época. Só queria ter
liberdade para orar. Muitas
Missões e Igrejas têm acabado mal por se oporem a Deus.
A ESPERANÇA DO
PENTECOSTES
Escrevi mais artigos para a
imprensa religiosa, dos quais seguem-se alguns trechos:
"Devagar, mas cada vez
mais, há maior convicção entre os santos do
sul da Califórnia de que Deus vai derramar o Seu Espírito como o fez no
País de Gales. Temos fé em coisas que antes nem sonhávamos existir e que
ocorrerão no futuro próximo. Estamos
certos de que haverá nada menos do que um
"Pentecostes" para todo o país. Jamais haverá, entretanto,
resultados pentecostais sem o poder pentecostal. Isso significa manifestações
pentecostais. Poucos querem ver Deus face a face!"
"Carne e sangue não
podem herdar o reino de Deus."
Outra vez escrevi: "O
Avivamento atual está passando por nossa porta.
Havemos de lançar-nos no seu
poderoso seio a fim
de sermos transportados
à gloriosa vitória? Um ano de vida agora, com todas as maravilhosas oportunidades de servir a Deus, vale mais que
cem anos de vida habitual. "O Pentecostes" está batendo às nossas portas. O Avivamento
de nosso país não é
mais uma dúvida.
Devagar, mas visivelmente, a
maré está crescendo, até que em breve
teremos uma enchente de salvação
que tocará a todos que estão diante de nós. O País de Gales não ficará mais só
neste grande triunfo para o nosso
Cristo. O espírito
de Avivamento está vindo sobre nós, impulsionado pelo sopro de
Deus, o Espírito Santo. As nuvens estão chegando
rapidamente, carregadas de grande chuva
que em breve cairá."
"Heróis surgirão do pó
de circunstâncias escuras e odiosas, e seus nomes serão alardeados nas páginas da fama eterna
no céu.
O Espírito paira
sobre nossa pátria como no alvorecer
da criação, e a ordem de Deus é ouvida:
"Haja luz!"
"Irmãos e irmãs, se
todos cressem, o que poderia acontecer? Muitos
de nós aqui vivemos só para isso. Um grande volume
de orações dos que crêem está subindo ao
trono noite e dia. Los Angeles, o sul
da Califórnia, e
todo o continente encontrar-se-á dentro em breve num
poderoso Avivamento pelo
Espírito e pelo poder de Deus."
A bastante tempo oramos por
um Pentecostes, e ele parecia prestes a começar. É óbvio que não sabíamos o que era um
verdadeiro Pentecostes. O Espírito, porém, sabia e nos guiava adiante para pedir
o que era correto. Uma tarde, depois
de uma reunião na Igreja do Novo Testamento, sete de nós fomos dirigidos
a dar
as mãos e concordar em oração para o Senhor derramar logo
o seu Espírito,
"com sinais a o seguir" (Marcos 16:17, 20).
De onde tiramos
esta idéia naquele momento não sei. O Senhor mesmo deve
ter sugerido isto a nós. Não pensávamos
em falar em línguas. Nenhum de
nós jamais havia
ouvido falar em
tal coisa (estávamos em fevereiro
de 1906).
Enquanto permanecia de
joelhos numa reunião de oração, o Senhor disse-me que me levantasse e fosse à
lona do irmão Brownley. Deu-me uma mensagem para eles.
Eu estava com grande peso no espírito, mas depois de falar,
sentimo-nos totalmente quebrantados e
choramos muito diante do Senhor.
Depois, escrevi um
folheto comovedor, intitulado "A Angústia da Intercessão". O
Senhor também me revelava muito sobre o "sangue".
Passei mais uma noite orando com o Senhor Boehmer, e o
Senhor me deu um ministério muito abençoado em Pasadena em diferentes reuniões.
Numa reunião fiquei prostrado
duas horas sob a carga pelas almas perdidas.
A batalha ficava cada vez
mais renhida. No dia 26 de março fui a uma reunião na casa da Rua Bonnie Brae.
Tanto irmãos brancos quanto negros estavam
unidos ali em oração. Eu fora a
uma reunião de oração numa casa,
um pouco antes,
onde encontrei o irmão Seymour. Ele acabara de vir do Texas. Era um
negro simples, espiritual e
humilde, cego de um olho. Ele freqüentava as reuniões na Rua Bonnie Brae.
No final de março de 1906, o
Senhor me havia dado um outro
folheto intitulado "A Última
Chamada". Foi grandemente usado para despertar as pessoas.
Seguem-se alguns trechos:
"E agora mais uma vez no
final desta era, Deus
faz a última chamada; a chamada da meia-noite está
sobre nós, ressoando claramente em
nossos ouvidos. Deus dará mais uma oportunidade, a última chamada, um
Avivamento mundial. Depois virá o julgamento de todo o mundo.
Um acontecimento tremendo está para acontecer!"
Capítulo 2 -
O FOGO CAI EM AZUSA
O PRIMEIRO
APARECIMENTO DAS LÍNGUAS
Fui à Igreja do Novo
Testamento, no auditório Burbank, domingo de manhã, dia 15 de abril. Uma irmã
de cor falou em línguas. Isto produziu um grande impacto
no povo, que depois
se reuniu em
grupinhos na calçada,
perguntando o que significava isso. Pareciam sinais de um Pentecostes. Depois
soubemos que o Espírito se fizera presente algumas noites
antes, dia 9 de abril,
na pequena casa da Rua Bonnie
Brae. Há muito que buscavam ansiosamente por um
derramamento do Espírito. Um grupo
de irmãos negros
e brancos estavam
esperando ali diariamente para
que algo acontecesse. E agora era a época da Páscoa outra
vez (um ano depois que o clamor por Avivamento começou). Não sei qual o
motivo, mas não tive o privilégio de
estar ali naquela reunião em que
pela primeira vez diversas pessoas falaram em línguas.
À tarde, estive numa reunião
na Rua
Bonnie Brae e
senti que Deus
estava operando
poderosamente. Há muito
que orávamos por
uma vitória. E
agora Jesus estava novamente "se apresentando vivo" (Atos 1:3)
a muitas
pessoas. Os pioneiros haviam
preparado o caminho para que as
multidões pudessem agora entrar.
Era notável na reunião a
humildade que se manifestava nas pessoas. Todas estavam absorvidas pela
presença de Deus. Era evidente que afinal o Senhor encontrara o pequeno grupo através do qual podia atuar.
Não havia outra Missão no país onde a mesma ação pudesse ser realizada. Todas
eram controladas por homens, por isso o
Espírito não podia operar. Outras obras bem mais pretensiosas" haviam
falhado.
Tudo o que os homens estimam
havia sido rejeitado e o Espírito,
mais uma vez, nascia
numa humilde estrebaria,
fora dos pomposos
estabelecimentos eclesiásticos.
OS HUMILDES COMEÇOS
É indispensável que o
corpo seja preparado
através do arrependimento e da humildade para que haja o derramamento
do Espírito Santo.
As pregações da Reforma foram começadas por Martinho
Lutero num prédio em decadência no meio
da praça pública em Wittenburg. D'Aubigné o descreve desta maneira:
"No meio da praça de Wittenburg estava uma velha capela
de madeira, com
dez metros de comprimento e seis metros e meio de
largura, cujas paredes estaqueadas de
todos os lados estavam prestes a cair. Um velho púlpito feito de tábuas
de um metro de altura recebia o pregador. Foi neste lugar desprezível que a
pregação da Reforma começou. Foi da vontade de Deus que o
movimento que restauraria
Sua glória começasse num ambiente
o mais humilde possível. Foi aí neste lugar desditoso que Deus ordenou, de
forma figurada, que Seu Filho
amado nascesse pela segunda vez... Entre as milhares de
catedrais e paróquias que enchiam a
terra, não houve uma sequer naquela
época que Deus escolhesse para a pregação
gloriosa a respeito da vida
eterna." No Avivamento em Gales,
os grandes pregadores
da Inglaterra tiveram de vir e sentar-se aos pés de mineiros
trabalhadores e rudes para ver as obras
maravilhosas de Deus. Escrevi para o
jornal "Way of
Faith" naquela ocasião: "A coisa genuína está aparecendo entre
nós; o
Altíssimo mais uma vez lutará
contra os mágicos
de Faraó. Porém,
muitos o rejeitarão
e blasfemarão. Muitos não o reconhecerão, mesmo entre aqueles que se consideram seus seguidores. Temos orado e
crido num Pentecostes. Será que o
reconheceremos quando chegar?"
OS EXTREMOS E
MISTURAS NOS AVIVAMENTOS
A presente manifestação
Pentecostal não irrompeu num instante como se fosse um imenso incêndio de pradaria para pôr
fogo no mundo
inteiro. Na realidade, nenhuma obra divina aparece desta
maneira. É preciso tempo para a
preparação O produto final não é
reconhecido em seu período inicial. Os
homens indagarão de onde veio tudo
aquilo, pois não tomaram conhecimento da preparação; no entanto, esta preparação é sempre uma
condição essencial.
Cada movimento do
Espírito de Deus
também tem de
passar pelas poderosas investidas das forças de Satanás.
"O dragão se deteve em frente
da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe
devorar o filho quando nascesse" (Apocalipse 12:4). Foi assim também com o
princípio desta obra Pentecostal. O inimigo
fez muitas falsificações, mas Deus manteve a criancinha bem escondida
dos Herodes por uma estação, até
que pôde adquirir força e discernimento para resistir-lhes. A chama foi
preservada com ciúmes pela mão do Senhor
dos ventos das críticas, dos
ciúmes, da incredulidade, etc. Passou por
mais ou menos
as mesma experiências de todos os Avivamentos. Havia inimigos
dentro e fora
da obra. Tanto Lutero, quanto
Wesley, tiveram as
mesmas dificuldades nos seus tempos. Temos este tesouro em
"vasos de barro". Todo nascimento normal é cercado de circunstâncias
não totalmente agradáveis. O trabalho
perfeito de Deus é
realizado dentro da imperfeição humana. Somos
criaturas da "queda".
Por que esperar uma
manifestação perfeita neste caso? Estamos voltando para Deus.
John Wesley descreve assim o
Avivamento em sua época: "Assim que parti, dois ou três começaram a crer
que o que imaginavam eram
impressões vindas de
Deus.
Enquanto isso uma enxurrada
de críticas vinha de todas as partes. Não se
admire que Satanás semeio o joio
no meio do trigo de
Cristo. Foi sempre
assim, principalmente quando houve um grande derramamento do
Espírito, e sempre
será assim até o diabo ser preso por mil anos. Até então, ele tentará
imitar e se opor ao trabalho do Espírito de
Cristo."
D'Aubigné disse: "Um
movimento religioso quase sempre excede a justa
moderação.
A fim de que a natureza
humana possa dar um passo para
frente, seus pioneiros devem estar muitos passos na
vanguarda." Outro escritor disse:
"Lembrem-se que grandes
extravagâncias e fanatismos acompanharam a doutrina da justificação pela fé
quando foi trazida de volta por
Lutero. A maravilha
não foi que
Lutero tivesse a coragem de enfrentar o papa e os cardeais,
mas que ele
tivesse a coragem de suportar o
desprezo que sua própria doutrina trouxe
sobre ele pela maneira como foi interpretada e
alardeada por adeptos.
Lembrem-se do escândalo e
ofensas que se fizeram presentes com o ressurgimento da piedade e devoção sob a influência de Wesley. O que
nós consideramos hoje como errado pode ser a luz refratada de uma grande
verdade que ainda está abaixo do horizonte."
John Wesley mesmo orou assim
quando o Avivamento parecia estar
desfalecendo:
"Senhor, manda-nos o
antigo Avivamento sem
seus defeitos; mas
se não for possível, manda-o de volta
com todos os
seus defeitos. Precisamos
de um Avivamento!"
Adam Clark disse: "A
natureza (como também Satanás) sempre
se mescla tanto quanto possível com o verdadeiro
trabalho do Espírito de forma
a levá-lo ao descrédito e a destruí-lo. Assim, em todos
os grandes Avivamentos religiosos é quase impossível impedir que o fogo
estranho se misture com o verdadeiro fogo."
O Dr. Seiss disse: "Nunca
houve uma semeadura de Deus na terra
que não fosse super-semeada por Satanás; nem houve
crescimento vindo de Cristo
sem que as ervas do maligno se misturassem para impedir
o crescimento. Aquele que pretender achar uma igreja perfeita em que não haja
elementos indignos nem imperfeições, pretende tarefa
impossível."
Ainda outro escritor diz:
"Nas diversas crises que
ocorreram na história
da igreja, têm surgido
homens com um
destemor santo que
assombrava seus
companheiros. Quando Lutero
afixou suas teses
na porta da
catedral de Wittenburg, os
homens cautelosos se impressionaram com sua audácia. Quando John Wesley ignorou todas as restrições
eclesiásticas e normas religiosas e pregou no campo e pelas ruas, os homens consideraram
sua reputação arruinada. Em todas as
épocas tem sido assim. Quando as condições
religiosas de uma época exigiam a
chamada de homens que estavam dispostos a sacrificar tudo por Cristo, "a
demanda criou a oferta" e
sempre acharam-se alguns que
estavam dispostos a
serem considerados loucos pela causa
de Deus. Um
total desprezo com
relação às opiniões dos homens e
outras conseqüências é a única atitude
que pode vir de
encontro às exigências do tempo presente."
Deus achou seu Moisés na
pessoa do irmão Smale para nos guiar até
a travessia do Jordão. Escolheu,
entretanto, ao irmão Seymour para ser nosso Josué para nos levar ao outro lado.
Domingo, dia 15 de abril,
o Senhor me
chamou para dez
dias de orações especiais... Eu me sentia como se carregasse um grande
fardo, mas não sabia o que Ele estava pensando. Ele tinha algo para eu fazer e
queria que eu me preparasse para isto.
Quarta-feira, dia 18 de abril, o grande terremoto de
São Francisco ocorreu e devastou
a cidade e os arredores. Não menos do que quinhentas pessoas perderam a vida só em São Francisco.
Eu senti que o Senhor estava
respondendo nossas orações concernentes a um Avivamento à sua
própria maneira. "Quando
os teus juízos reinam na terra, os moradores do mundo
aprendem justiça" (Isaías 26:9). Um enorme fardo de oração veio
sobre mim; orei para que as pessoas
não fossem indiferentes à voz de Deus.
O INÍCIO DA MISSÃO
AZUSA
Quinta-feira, dia 19 de abril,
enquanto estávamos sentados
na reunião do meio-dia no auditório Peniel, Rua South
Main, 227, de repente o chão
começou a mexer-se. Uma sensação
horrorosa tomou conta de todos. Ficamos
sentados, muito espantados.
Muitas pessoas começaram
correr para o
meio da rua,
olhando ansiosamente para os edifícios com medo que caíssem. Foi uma
hora muito séria.
Eu fui para casa e depois de
um período de oração, o
Senhor me mostrou
que deveria voltar para reunião que havia sido transferida da Rua Bonnie
Brae para a Rua Azusa, 312. Haviam alugado uma velha casa de madeira
que fora antes
uma igreja metodista, no centro da cidade, e que durante muito tempo não
fora usada para reuniões. Tornara-se um
depósito de madeira velha e
cimento, mas agora limparam a sujeira e o entulho o
suficiente para colocar no meio umas tábuas, em cima de barris velhos. Desta
forma, dava lugar para cerca de trinta pessoas,
se é que me lembro corretamente. Sentavam-se formando um quadrado,
olhando uns para os outros.
Senti tremenda pressão
interior para ir à reunião daquela
noite. Era minha primeira visita a Missão Azusa.
Mamãe Wheaton, que
estava vivendo conosco naquela época, iria
junto. Ela andava
tão devagar que
eu mal conseguia esperá-la. Chegamos lá
finalmente e encontrei
cerca de doze
irmão, alguns brancos e alguns
negros. O Irmão Seymour estava lá dirigindo. A "arca do Senhor"
começou a se mover vagarosamente, mas com firmeza em Azusa.
No princípio era carregada nos ombros de sacerdotes
indicados por Ele mesmo. Não tínhamos nenhuma "carroça nova"
naqueles dias para
agradar as multidões
mistas e carnais.
Tínhamos de combater contra
Satanás, mas a "arca" não
era puxada por
bois (bestas ignorantes). Os sacerdotes estavam "vivos para
Deus", através de muita preparação e oração. O discernimento
não era perfeito, e o inimigo tirou algum proveito disto, e trouxe algumas críticas
ao trabalho, mas os irmãos
logo aprenderam a "apartar o precioso do vil".
Todas as forças do inferno
estavam combinadas contra nós no princípio. Nem tudo era benção. Na realidade,
a luta
foi tremenda. Satanás
procurava espíritos imperfeitos,
como sempre, para destruir a obra,
se possível. Mas
o fogo não podia
ser apagado. Irmãos fortes
haviam se reunido
com a ajuda
do Senhor. Aos poucos levantou-se uma onda de vitória. Mas tudo isto
veio de um pequeno começo, uma pequenina chama.
Preguei uma mensagem na minha
primeira reunião em Azusa. Dois irmãos falaram em línguas. Muitas benção
parecia acompanhar estas manifestações. Em
breve muitos já sabiam que o
Senhor estava operando na Rua Azusa
e pessoas de
todas as classes começaram a vir
às reuniões. Muitos
estavam apenas curiosos
e não acreditavam, mas outros
tinham fome da presença de Deus. Os jornais começaram a ridicularizar e a debochar das reuniões,
oferecendo-nos desta maneira
muita publicidade gratuita. Isto trouxe as multidões. O diabo
superou-se a si
mesmo outra vez. Perseguições externas
nunca fazem mal à obra.
Tínhamos de nos preocupar mais com os espíritos malignos
que trabalhavam dentro da
obra. Até espíritas e
hipnotizadores vieram investigar
o que fazíamos
e tentar nos influenciar. Apareceram então todos os
descontentes religiosos e charlatães
procurando um lugar para trabalhar. Estes
é que nos
causavam mais temor, porquanto constituem sempre perigo
para todos os
trabalhos que estão
sendo iniciados, e não encontram guarida em outros lugares. Esta
situação lançou tal medo sobre muitas pessoas que foi quase
insuperável e impediu muito a ação
do Espírito. Várias temiam buscar a Deus por pensar que o diabo poderia
pegá-las.
Descobrimos logo no início
que quando tentávamos segurar a "arca" (I Crônicas 13:9), o Senhor
parava de trabalhar. Não ousávamos chamar
muita a atenção
do povo para o que o maligno tentava realizar, pois medo
seria o resultado.
Só podíamos orar. Então Deus deu-nos a vitória. Havia a presença de Deus
conosco através da oração; nós podíamos
contar com ela. Os líderes tinham
uma experiência bastante limitada, e a grande maravilha
é que o
trabalho tenha sobrevivido contra seus poderosos adversários. Mas era de
Deus. E
era este o segredo.
Um certo escritor disse bem:
"No dia de Pentecostes, o cristianismo
enfrentou o mundo; era uma nova religião sem universidade, povo ou patrocinador.
Tudo o que era antigo e venerável
se levantou em oposição maciça contra ele, e ele não bajulou ou procurou conciliar-se com
nenhum deles. Foi de encontro a todos
os sistemas existentes e todos os maus costumes, queimando à
medida que passava todas as inumeráveis formas de
oposição. Isto realizou só com
sua língua de fogo."
Outro escritor disse: "A
apostasia da igreja primitiva veio porque os
cristãos queriam ver seu poder e governo se espalhar, mais do que a
transformação e vida de cada um dos seus
membros. No momento em que nos regozijamos com as multidões que se aderiram à nossa versão ou
conceito da verdade, em lugar
de buscar a transformação de vidas individuais de
acordo com o plano
divino, já estamos andando na estrada da apostasia que
leva à Roma e às sua filhas."
OS EFEITOS
ESPIRITUAIS DO TERREMOTO
Verifiquei que
o terremoto havia
aberto muitos corações.
Eu distribuía especialmente meu
último folheto, "A Última Chamada". Parecia muito
apropriado depois do terremoto. Domingo , dia 22 de abril, levei 10.000
destes à Igreja do Novo Testamento. Os obreiros os aceitaram alegremente e logo
os distribuíram por toda a cidade.
Quase todos os pregadores do
país estavam trabalhando a valer para
provar que Deus nada tinha a ver
com o terremoto e desta forma aliviar
o medo do
povo. O Espírito procurava
tocar os corações
com convicção através
deste julgamento. Sentia-me indignado que os pregadores fossem usados
por Satanás para abafar a voz do Senhor. Da mesma forma eles
foram usados depois,
durante a guerra. Até as
professoras nos colégios trabalhavam com afinco para convencer as crianças que
o terremoto não era obra de Deus. O
diabo fez muita
publicidade nesta área.
Depois do terremoto passei
muito tempo em oração e dormi
pouco. O Senhor
me mostrou definitivamente que Ele tinha
uma mensagem para
o povo. No
Sábado seguinte deu-me parte dela. Na segunda-feira, deu-me o resto.
Quando acabei de escrever era meia-noite e meia. Já estava
pronta para ser levada ao impressor.
Ajoelhei-me diante do senhor
e senti Sua presença de uma forma muito forte
como grande prova de que a mensagem era mesmo Sua. Devia mandar
imprimi-la na manhã seguinte. Daquela hora até às quatro da
manhã, fui maravilhosamente absorvido pela intercessão. Sentia a ira de
Deus contra o povo e lutei muito contra ela em oração. Ele me mostrou que
estava muito triste com a obstinação do povo mesmo em face do seu juízo sobre o
pecado. São Francisco era uma
cidade terrivelmente pervertida.
Mostrou-me o Senhor que todo
o inferno operava para, se
possível, abafar Sua voz através do terremoto. A mensagem que
Ele me deu era para contra atacar esta
influência. Os homens negavam Sua presença no
terremoto, mas agora
Ele iria falar. Era uma mensagem
terrível a que Ele me dera. Eu
não deveria discutir sobre ela com ninguém, simplesmente
entregá-la. Eles teriam de prestar contas ao Senhor. Senti todo o inferno
contra mim nesta situação,
o que depois
ficou comprovado. Fui dormir às quatro horas, levantei-me
às sete e
corri com a mensagem para o impressor.
A pergunta que havia em quase
todos os corações era: "Foi Deus que
fez isso?"
Instintivamente sabiam que
era assim. Até os ímpios estavam conscientes
deste fato. O folheto foi logo composto, no mesmo dia já estava sendo impresso
e na próxima tarde eu já tinha os
primeiros exemplares. Senti que deveria
levá-los logo ao povo o mais depressa possível. Lembrei-me que os dez
dias que o Senhor me chamara para orar terminavam no dia
em que recebi os
primeiros exemplares desta
folheto. Compreendia tudo agora claramente.
Distribuí a mensagem
rapidamente nas missões, igrejas,
bares, empresas e na
realidade em todos os lugares, tanto em Los
Angeles, como em
Pasadena. Além disso enviei pelo
correio alguns milhares a obreiros nas cidades
vizinhas para serem distribuídos.
Todo o processo foi uma obra de
fé. Comecei sem
nenhum dólar. Mas o Senhor me supriu com os recursos necessários.
Trabalhei muito todos os dias. O irmão e irmã Otterman os distribuíram em São
Diego. Era preciso muita coragem. Muitos clamavam contra a mensagem. Por causa
deste folheto passei toda espécie de
experiência em Los Angeles. Todo o inferno se acometia contra mim.
Deus enviou o irmão Boehmer
de Pasadena para me ajudar. Ele ficava do
lado de fora dos bares, orando
enquanto eu entregava e os distribuía. Em alguns lugares ficavam tão furiosos que queriam me
matar. As empresas estavam
todas paradas depois do que ocorrera
em São Francisco. O povo estava paralisado de medo. Este fator foi responsável por parte da
influência que o folheto surtiu. A
pressão contra mim foi tremenda. Todo o inferno se levantava para
impedir que a mensagem fosse distribuída.
Mas nunca vacilei. Senti sempre sobre mim a mão de
Deus. O povo ficava abismado quando soube o que Deus tinha para
falar a respeito
de terremotos. O Senhor mandou-me a diversas reuniões com uma exortação
solene para que todos se arrependessem e o buscassem. Na Missão Azusa
tivemos um tempo
de grande poder. Os irmão se humilhavam.
Uma irmão de
cor falava e
orava em línguas. A atmosfera
própria do céu estava ali.
Domingo, dia 11 de maio, eu
havia terminado a distribuição do
meu folheto "O Terremoto". O peso que sentira
desapareceu repentinamente. Meu
trabalho estava concluído.
Setenta e cinco mil folhetos haviam sido publicados e distribuídos em Los
Angeles e no sul da Califórnia em menos de três semanas. Em Oakland, o irmão
Manley, por sua própria vontade, havia impresso e distribuído mais cinqüenta
mil nas cidades em volta da Baía de São Francisco e arredores no
mesmo espaço de tempo.
O terremoto de São Francisco
fora verdadeiramente a voz de Deus para
seu povo na costa do Pacífico.
Foi usado de forma poderosa para convencer os incrédulos e preparar para a
graciosa visitação que viria depois.
Nos primeiros dias
da Missão Azusa, tanto o céu como o inferno pareciam
ter chegado à
cidade. Os homens estavam a ponto
de estourar e havia uma poderosa convicção sobre o povo
em geral. As pessoas pareciam cair
aos pedaços mesmo
na rua sem
nenhuma provocação. Havia como que uma
cerca em volta
da Missão Azusa
feita pelo Espírito. Quando o
povo a atravessava, a dois ou três quarteirões de distância, era tomado pela convicção dos seus
pecados.
EXPERIÊNCIAS COM O
ESPÍRITO EM AZUSA
A obra
era cada vez mais clara e forte
em Azusa. Deus operava poderosamente.
Parecia que todos tinham de
ir a Azusa. Havia missionários vindos
da África, Índia e ilhas oceânicas.
Pregadores e obreiros atravessavam
o continente, e vinham de ilhas distantes,
motivados por uma
tração irresistível por
Los Angeles. "Congregai os meus santos" (Salmos 50:1-7).
Haviam sido chamados para assistir o Pentecostes, embora não
soubessem. Era a chamada de Deus.
Reuniões independentes, em Lonas e Missões, começaram a fechar por falta
de gente. Seus membros estavam todos em Azusa. O irmão
e irmão Garr fecharam o auditório "Sarça Ardente" e vieram para Azusa
para serem batizados no Espírito, e logo foram para a Índia para espalhar a
chama. Até o irmão Smale veio para Azusa
procurar os membros de sua
igreja. Convidou-os a voltar
para casa, prometendo
dar-lhes liberdade no Espírito, e durante algum tempo Deus operou
poderosamente na Igreja do Novo Testamento também.
Houve muita perseguição,
principalmente por parte da imprensa. Escreviam coisas incríveis, mas isso
só fazia
com que mais
gente viesse. Muitos
deram ao movimento seis meses de
vida. Em pouco tempo havia reuniões noite
e dia sem interrupção. Todas as noites a casa
estava lotada. Todo o
prédio em cima e
embaixo havia sido esvaziado e estava sendo utilizado. Havia muito mais brancos do que pessoas de cor freqüentando as
reuniões. A segregação racial foi
apagada pelo sangue de Jesus. A. S. Worrel, tradutor do Novo Testamento,
declarou que o trabalho de Azusa havia
redescoberto o sangue de Jesus para a
igreja naquela época. Dava-se
grande ênfase ao sangue como elemento
purificador. Colocavam-se padrões
morais elevados para quem queria ter uma vida limpa. "Vindo
o inimigo como uma corrente de
águas, o Espírito do senhor arvorará
contra ele a sua
bandeira" (Isaías 59:19)
O amor divino se manifestava
maravilhosamente nestas reuniões. Não se permitia nem sequer uma palavra
indelicada contra os inimigos ou outras igrejas
. A mensagem era o amor de Deus.
Era como se o primeiro amor da
igreja primitiva houvesse
retornado. O batismo como recebíamos
no princípio não
permitia que pensássemos,
falássemos ou ouvíssemos o mal contra nenhuma criatura. O Espírito era muito sensível como uma pomba delicada.
A pomba não
tem fel. Sabíamos imediatamente quando magoávamos o
Espírito através de um pensamento
ou de uma palavra. Parecíamos viver num mar de puro
amor divino. O Senhor lutava por nós naqueles dias. Nós nos submetíamos ao seu
julgamento em todos os assunto, nunca
buscando defender nosso trabalho ou a nossa pessoa. Vivíamos em sua maravilhosa e atual presença. E nada
contrário ao seu puro Espírito era permitido.
O falso era separado do real
pelo Espírito de Deus. A própria Palavra de Deus
era que resolvia todos os assuntos. O coração do povo, tanto em
ação como em motivação, era descoberto até o cerne mais
profundo. Não era nenhuma brincadeira tornar-se parte do grupo. "Ninguém
ousava ajuntar-se a eles" (Atos 5:13)
a não ser que levasse as coisas a
sério, e quisesse ir até o fim. Naquele tempo,
para receber o batismo era necessário passar pela
"morte" e por
um processo de purificação. Tínhamos uma sala especial em
cima para aqueles que buscavam
com mais ardor o batismo embora muitos fossem batizados também
em plena reunião.
Muitas vezes eram batizados
enquanto estavam sentados.
Na parede da
sala especial estava escrito: "É proibido falar alto; sussurre
apenas". Não sabíamos nada a
respeito de "conquistar pelo barulho" naquela época!
O Espírito operava
profundamente. Uma pessoa inquieta ou que falasse sem pensar era logo
repreendida pelo Espírito. Estávamos em terra santa. Esta atmosfera era
insuportável para os carnais. Geralmente passavam bem longe daquela sala a não
ser que já houvesse sido subjugados e esvaziados pelo Espírito. Só iam para
lá os que verdadeiramente buscavam a Deus, os que estavam sérios com
Ele. Este não era um lugar para
manifestações emocionais nem para ter ataques ou dar vazão
a sentimentos negativos. Os homens não gritavam naquele tempo.
Eles buscavam a misericórdia do Senhor, diante do Seu
trono. Sua atitude era de quem
tirava os sapatos por estar em
terra santa. "Os tolos entram correndo,
onde anjos não ousam pisar..."
A AÇÃO DO ESPÍRITO
NA MÚSICA
Sexta-feira, 15 de junho, em
Azusa, o Espírito derramou o coro celestial dentro de minha alma. Encontrei-me
de repente, unindo-me aos
demais que já
haviam recebido este dom
sobrenatural. Era uma
manifestação espontânea e
de tal arrebatamento que
nenhuma língua humana
poderia descrever. No
início esta manifestação era
maravilhosa, pura e
poderosa. Temíamos reproduzi-la,
como também com as línguas estranhas. Hoje em dia, muitos
parecem não ter
nenhum constrangimento de imitar todos os dons. É por isso que
eles perderam grande parte do seu poder e influência.
Ninguém podia compreender esse dom de
cânticos espirituais além daqueles através dos quais se manifestava.
Era realmente um novo cântico no Espírito. Quando o
ouvi pela primeira
vez numa reunião,
um grande desejo entrou na minha alma de recebê-lo. Achava que
expressaria muito bem todos os
meus sentimentos reprimidos. Eu ainda não falara em línguas. A nova canção, no
entanto, me conquistou. Era um dom de Deus de alto nível e
apareceu entre nós logo que começou o trabalho em Azusa.
Ninguém havia pregado
sobre isso. O Senhor o havia derramado
soberanamente junto com
o derramamento do "restante do
azeite", o batismo
no Espírito da
chuva serôdia.
Manifestava-se à
medida que o Espírito
impulsionava as pessoas que tinham o Dom, individualmente ou em grupo. Às vezes
era sem
palavras, outra vezes
em línguas. O efeito sobre o povo era maravilhoso. Havia uma
atmosfera celestial como se os
anjos mesmos estivessem presentes
e houvessem se
unido a nós.
Provavelmente isto ocorria
mesmo. Parecia fazer
cessar toda a
crítica e oposição, e era difícil
até para os ímpios negá-los ou ridicularizá-los.
Alguns condenam estes
cânticos novos sem palavras. Mas não foi o som dado antes da linguagem? E não
há inteligência sem
linguagem? Quem compôs
a primeira música? Temos sempre
de seguir a composição de um algum homem que veio antes de nós? Somos adoradores demais da tradição.
O falar em línguas não está de acordo
com a sabedoria ou com o conhecimento humano. E por que não um dom de
cânticos espirituais? De fato, estes são um desafio aos
cânticos religiosos de
ritmo moderno que usamos
hoje. E provavelmente
foram dados com
este propósito.
Entretanto alguns dos velhos
hinos são muito bons de cantar também, e não
devem ser desprezados.
Alguém disse que
cada novo Avivamento
traz sua própria hinologia. E isto realmente aconteceu
conosco.
No princípio em Azusa, não
tínhamos instrumentos musicais. Na realidade,
não sentimos necessidade deles. Não havia lugar para eles no nosso
louvor. Tudo era espontâneo. Não
cantávamos nem com hinários. Todo os hinos antigos eram cantados de memória,
vivificados pelo Espírito
de Deus. "Veio
o Consolador" era provavelmente o mais cantado. Cantávamos
com corações cheios dessa experiência nova e poderosa. Oh, como o poder
de Deus nos enchia e nos comovia!
Os hinos sobre o
"sangue" também eram muito
populares. "A vida
está no sangue."
As experiências de Sinai,
Calvário e Pentecostes
todas tinham seus
lugares certos no trabalho de Azusa, Contudo as novas canções era
totalmente diferentes, pois não eram de composição humana, e não podiam ser
falsificadas com sucesso. O corvo não pode imitar a pomba.
Mais tarde começaram
a desprezar este
Dom quando o
espírito humano se reivindicou outra vez. Colocaram-no para
fora com o uso
do hinário e
hinos selecionados pelos líderes. Era como assassinar o Espírito e
isto entristecia muito a alguns
de nós; porém a corrente contrária era forte demais. Os hinários hoje em dia são em grande parte uma
produção comercial e não
perderíamos muito se não os tivéssemos.
Os velhos hinos são violados pelas
mudanças, e procuram produzir novos estilos todos os anos
para que haja mais lucro. Há muito
pouco espírito de adoração neles. Mexem com os pés,
mas não com
os corações dos homens! Os cânticos espirituais dados por
Deus, no início, eram semelhantes
a uma harpa eólica por sua espontaneidade e doçura. Na realidade, era
o próprio sopro de Deus tocando
nas cordas dos corações humanos
ou nas cordas
vocais humanas. As notas eram maravilhosamente doces tanto no volume
quanto na duração.
Eram às vezes impossíveis
humanamente. Era o cantar no Espírito.
A LIDERANÇA DAS
REUNIÕES EM AZUSA
O irmão Seymour foi
aceito como o
líder nominal. Mas
não havia papa
ou hierarquia. Éramos todos irmãos. Não tínhamos programas humanos. O
Senhor mesmo liderava. Não havia uma
classe sacerdotal, nem ações sacerdotais.
Estas coisas surgiram depois à
medida que o movimento apostatou. No
princípio não tínhamos nem plataforma, nem púlpito. Todos
estavam no mesmo nível. Os
ministros eram servos na
verdadeira concepção da palavra. Não
homenageavam os homens
pelo que possuíam a mais de recursos ou de instrução, mas pelos dons
que Deus lhe dera. Ele colocava os membros
no lugar certo
do Seu corpo.
Agora "coisa espantosa e
horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente e os
sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e
é o que
deseja meu povo.
Porém, que fareis quando
estas coisas chegarem ao seu
fim?" (Jeremias 5:30,31). E também: "Os opressores do
meu povo são crianças e mulheres estão à
testa do seu governo" (Isaías 3:12).
O irmão Seymour geralmente
ficava sentado atrás de duas caixas
vazias, uma em cima da outra. Usualmente mantinha a
cabeça dentro de uma delas,
durante o culto, em oração. Não
havia orgulho aqui. Os serviços religiosos eram quase que contínuos. Almas sequiosas podiam ser
encontradas sob o poder de Deus quase
a qualquer hora, de dia ou de noite. Nunca o local estava fechado ou
vazio. O povo vinha se encontrar com Deus. Ele estava ali. Por isso a reunião
era contínua e não carecia de liderança humana. A
presença de Deus
tornava-se mais e mais
maravilhosa. Naquele velho prédio de teto baixo e piso descoberto Deus
fazia em pedaços homens e mulheres
fortes e tornava a
juntá-los outra vez
para Sua glória. Era um tremendo
processo de desmontagem e revisão geral. O orgulho e a
auto-afirmação, a auto-importância e a auto-estima, não podiam sobreviver aqui.
O ego religioso pregava
rapidamente seu próprio sermão de enterro.
Nenhum assunto ou pregação
era anunciado de antemão e nenhum
pregador especial havia para essa
hora. Ninguém sabia o que iria acontecer e nem o que Deus faria.
Tudo era espontâneo,
comandado pelo Espírito. Queríamos ouvir
Deus através de quem Ele falasse. Não fazíamos acepção de
pessoas. Os ricos e cultos eram iguais aos pobres e ignorantes e
era muito mais
difícil para aqueles
morrerem.
Só reconhecíamos a Deus.
Todos eram iguais. Nenhuma carne podia
se gloriar na Sua presença, e Ele não podia usar quem
tivesse opiniões próprias. Era reuniões
do Espírito Santo, guiadas pelo
Senhor. O Avivamento
tinha de começar
num ambiente humilde para que o elemento egoísta e humano não entrasse. Todos caíam juntos aos seus pés, com humildade.
Todos se
assemelhavam e tinham
tudo em comum, neste sentido pelo
menos. O teto era baixo e por isso as pessoas
altas deviam dobrar-se. Ao
chegarem a Azusa
já tinham se
humilhado, e estavam preparadas para as bênçãos. A
forragem estava preparada para
ovelhas, não ara girafas.
Fomos libertos ali mesmo
das hierarquias eclesiásticas
e dos seus
abusos.
Queríamos Deus. Quando
chegávamos à reunião
evitávamos o máximo
possível cumprimentar e conversar uns com os outros. Queríamos
primeiro chegar a
Deus.
Colocávamos a cabeça em baixo
de algum banco em oração e entrávamos
em contato com os homens só no
Espírito; não os conhecíamos mais na
carne. As reuniões começam espontaneamente com
testemunhos, louvor e adoração. Os testemunhos nunca eram apressados pela
agitação do homem. Não tínhamos um programa preestabelecido que tinha de ser
empurrado de qualquer maneira. Nosso tempo
pertencia a Deus.
Tínhamos verdadeiros
testemunhos vindos diretamente de corações vibrantes com as experiências. Se
não for assim, quanto menores forem os
testemunhos melhor é.
Uma dúzia de pessoas às vezes
estavam de pé tremendo sob o poder
de Deus. Não precisávamos que um líder nos indicasse o que fazer,
mas também não
havia desordem. Estávamos absorvidos em Deus nas reuniões, através
da oração. Nossas mentes estavam voltadas exclusivamente
para Ele, e
todos Lhe obedeciam
com mansidão e humildade. Em honra nós preferíamos uns aos outros
(Romanos 12:10). O Senhor podia irromper através de
qualquer um. Orávamos
por isso continuamente. Alguém finalmente ficava de pé, ungido com
a mensagem. Todos reconheciam isso e permitiam que
acontecesse. Podia ser uma criança, um homem ou uma mulher. Podia ser do banco
de trás ou do da frente. Não
fazia diferença.
Regozijávamos na obra do
Senhor. Ninguém queria aparecer.
Só pensávamos em obedecer ao Senhor. Na verdade, havia uma
tal atmosfera divina que só um tolo se colocaria de pé sem verdadeira unção. E
mesmo assim , não
duraria muito. As reuniões
eram controladas pelo
Espírito diretamente do
trono da graça.
Verdadeiramente foram dias
maravilhosos. Eu muitas disse que preferia viver seis meses naquela época do
que cinqüenta anos de uma vida normal. Mas Deus ainda é o mesmo hoje. Só nós é
que mudamos.
Alguém podia estar
falando. Repentinamente, o
Espírito caía sobre
toda a congregação. Deus mesmo
fazia os apelos. Homens caíam por
toda a casa como
mortos numa batalha, ou corriam ao altar em massa buscando a Deus. A cena
muitas vezes parecia uma floresta cheia de árvores caídas. Uma cena assim não
podia ser imitada. Não me lembro de Ter visto um apelo sequer naqueles dias.
Deus mesmo os chamava. E o pregador sabia quando parar. Quando Deus falava
todos obedecíamos.
Parecia algo temerário
impedir a atuação do Espírito ou entristecê-lo.
O local todo estava cheio de
orações. Deus estava no Seu santo
templo. À humanidade cabia ficar em silêncio. A glória
do Shekinah[i] estava ali.
Aliás alguns diziam ter visto a glória
do senhor envolvendo o prédio durante a noite. Eu não duvido.
Mais de uma vez parei quando
se aproximava deste local e orei
pedindo forças antes de ousar
continuar. A presença do Senhor era muito real.
DEUS TRATA COM A
CARNE PELO BATISMO
Homens presunçosos às vezes
apareciam no nosso meio.
Especialmente pregadores que
tentavam espalhar suas próprias idéias e se
auto-promover. Seus esforços, porém, duravam pouco. Ficavam sem
fôlego. Suas mentes
vagavam seus cérebros pareciam girar. Tudo ficava escuro
diante de seus olhos. Não podiam continuar.
Nunca vi alguém que tivesse
tido sucesso naqueles dias; estavam lutando contra o próprio Deus. Ninguém precisava
interrompê-los. Simplesmente orávamos
e o Espírito Santo fazia o resto.
Queríamos que o Espírito controlasse tudo. Ele
os confundia logo. Eram
carregados para fora
mortos, espiritualmente falando.
Geralmente se humilhavam até
o pó, passando pelo mesmo processo que
passáramos.
Em outras palavras, eram
esvaziados de si mesmos; depois se viam com todas suas fraquezas, e com humildade de criança
confessavam tudo; Deus os pegava então e transformava-os poderosamente através do
batismo no Espírito. "O
velho homem morria" com todo
seu orgulho, arrogância e boas obras. No meu
caso, passeia a não me suportar. Supliquei que Deus colocasse
uma cortina entre
mim e meu passado de tal forma que apagasse
até mesmo as
minhas derradeiras ações.
O Senhor me disse que esquecesse cada boa ação como se
nunca tivesse ocorrido, assim que fosse realizada; e que
prosseguisse adiante como
se nunca tivesse feito nada para Ele , para que minhas
boas obras não se tornassem numa armadilha voltada contra mim mesmo.
Víamos coisas maravilhosas
naqueles dias. Mesmo homens muito bons
vieram a se desprezar quando se viam na luz mais clara de Deus. Os pregadores é que
custavam a se entregar. Tinham muito para entregar à morte. Tanta fama e boas obras! Quando, entretanto, Deus
finalizava sua obra neles, com
alegria viravam uma nova página e
começavam outro capítulo. Portanto, havia uma razão para eles lutarem tanto. A morte não é uma experiência
agradável, e os
homens fortes custam a morrer!
O irmão Ansel Post, um
pregador batista, estava sentado numa cadeira no meio da sala numa reunião à
noite. De repente veio sobre ele o Espírito. Deu um salto e começou a louvar a Deus em línguas e a
correr de um lado para o outro, abraçando todos os irmãos possível. Estava
cheio do amor de Deus. Mais tarde
foi para o Egito como missionário. Vejamos seu próprio
testemunho a respeito do ocorrido:
"Subitamente, como no
dia de Pentecostes, enquanto eu estava sentado a uns quatro metros do pregador,
o Espírito Santo veio sobre mim e
literalmente me encheu. Parecia
que eu fora suspenso, pois no
mesmo instante estava
de pé gritando "louvado seja
Deus". Imediatamente comecei a falar
noutra língua. Eu não teria ficado mais surpreso se no mesmo
momento alguém tivesse me
dado um milhão de dólares."
Depois que o irmão Smale
convidou sua congregação de volta e prometeu-lhes liberdade no Espírito,
escrevi o seguinte no "Way of Faith": "A Igreja do
Novo Testamento recebeu seu "Pentecostes" ontem. Foi maravilhoso.
Homens e
mulheres ficaram prostrados diante da
quantidade de poder
que havia no
local. Uma atmosfera celestial
invadiu todo o ambiente.
Eu nunca antes
ouvira cantar daquela maneira.
Era uma melodia que parecia vir direto do trono de Deus."
No "Christian
Harvester", escrevi na mesma data: "Na Igreja do Novo Testamento, uma
jovem muito requintada
ficou durante horas prostrada no chão. De vez
em quando, os mais belos cantos celestiais saíam de sua boca. Subiam até o
trono de Deus e depois morriam numa melodia que não era
terrena. Cantava: "Louvado seja Deus! Louvado seja
Deus!" Na casa inteira homens e
mulheres choravam. Um pregador estava deitado com o rosto no
chão, "morrendo". O
Pentecostes havia chegado."
Tivemos diversas noites de
orações na Igreja do Novo Testamento. Mas o pastor Smale nunca recebeu o
batismo com o Dom de falar em
línguas. Era uma
posição difícil para ele. Tudo era novo. Então o diabo fez
o máximo para
difamar e destruir a obra. Mandou
espíritos malignos para assustar o pastor
e levá-lo a rejeitar a obra.
Mas o irmão Smale era o
Moisés de Deus para levar o povo até o
Jordão, apesar dele mesmo
nunca ter atravessado.
O irmão Seymour
foi quem os
levou na travessia. No entanto,
por estranho que pareça, Seymour também
não falou em línguas até depois da Missão Azusa Ter
sido aberta já havia algum tempo. Muitos
irmãos entraram antes dele. Todos
quantos recebiam este
batismo falavam em línguas.
CARACTERÍSTICAS DO
AVIVAMENTO: IMPERFEIÇÃO, OPOSIÇÃO E DOMÍNIO DO ESPÍRITO
Muitos se atrapalharam no
princípio de Azusa
por causa da
natureza dos instrumentos que
Deus usava. Escrevi no "Way of Faith" como se
segue: "Alguém disse que não
é quem pode preparar a maior fogueira,
mas quem pode
acendê-la primeiro que vai iluminar todo o país. Deus nunca pode esperar
um instrumento perfeito surgir.
Neste caso, estaria esperando até agora. Lutero mesmo declarou que era um rude lenhador com o
papel de
cortar árvores. Os
pioneiros são homens assim. Deus também tem homens
refinados como Melancthon,
que virão depois para cortar e arrumar
a madeira de forma simétrica. Uma carga de dinamite não produz o produto final.
Mas ajuda a soltar
as pedras que
depois serão transformadas em
monumentos pelas mãos talentosas do
escultor. Muitos altos dignitários da Igreja Católica Romana
no tempo de Lutero estavam convencidos
de que seriam necessária uma reforma e
consideravam que ele
estava no caminho certo. Mas declararam em resumo
não poderem aceitar
que essa nova
doutrina viesse de origem tão insignificante. "Que fosse um monge,
um simples monge, que presumiu nos
reformar a todos", disseram eles, "é o que não
podemos tolerar!"
"De Nazaré pode sair
alguma coisa boa?"
"mesmo na melhor
forma possível, a
humanidade caída é
algo extremamente peculiar,
despedaçado e imperfeito. "Temos este tesouro em vasos de barro."
Na fase embrionária de todas as novas experiências temos de admitir muitas
falhas humanas. Há sempre muitos espíritos rudes, impulsivos e mal equilibrados
entre os primeiros a serem atingidos por um Avivamento. Além disso nossa
compreensão do Espírito de Deus nesta fase é tão limitada que
ficamos propensos a
errar ocasionalmente por não reconhecermos tudo que realmente veio de
Deus. Só podemos compreender tudo à medida
que nós mesmos
somos possuídos pelo
Espírito.
Julgamentos precipitados são
sempre perigosos. "nada julgueis antes do tempo" (I Coríntios 4:5). O
grupo usado na Missão Azusa para quebrar a cerca foi o "bando de Gideão" que abriu o
caminho da vitória para os que vieram depois."
Escrevo ainda em "Way of
Faith" , em primeiro de agosto de 1906: "O Pentecostes chegou a Los
Angeles, a Jerusalém americano.
Toda seita, credo
e doutrina debaixo do céu é encontrado
em Los Angeles, assim como
todas as nações
são representadas aqui. Muitas
vezes fui tentado
a duvidar que
minhas forças resistissem até o
final. O peso de oração tem sido muito
grande. Mas desde
a primavera de 1905, quando tive a primeira visão e recebi o fardo para sustentar em oração, nunca tive dúvida quanto
ao resultado final. Os homens em todos
os lugares estão com suas almas perturbadas e
o avivamento com seus fenômenos sobrenaturais é o assunto do dia.
Grande oposição também
se manifesta. Os jornais são muito venenosos, injustos e
inverídicos nos seus pronunciamentos. Os pseudo-sistemas religiosos também estão
lutando fortemente, mas
"a saraiva varrerá o refúgio
da mentira" (Isaías 28:17). Seus
esconderijos estão sendo descobertos. Um riacho purificador está
passando pelo meio da cidade. A Palavra
de Deus prevalece.
"A perseguição está
forte. A polícia chegou a ser chamada para
acabar com as reuniões. E obra foi
atacada também pelos
espíritos fanáticos, facilmente encontrados nesta cidade. Deus e
Satanás se encontram num tremendo embate. Pouco podemos fazer além de orar e
observar. O Espírito Santo mesmo está
tomando a liderança, deixando
toda liderança humana de lado. Ai dos homens
que ficam no caminho, procurando egoisticamente mandar
ou controlar. O Espírito não
aceita interferências deste tipo. Os instrumentos humanos se perdem de
vista na sua maioria. Nossas mentes e corações estão
voltados para Deus. As reuniões
estão repletas. Há grande excitação entre aqueles que não são
espirituais ou que não são salvos.
"Todas as falsas
religiões debaixo do céu encontram-se
representadas aqui. A não ser a Velha Jerusalém, não há nada
igual no mundo. (Fica do lado
oposto do mundo com
condições naturais muito
semelhantes.) Todas as
nações são representadas como
em Jerusalém. Milhares vindo de toda parte
do país e de muitos lugares do
mundo, mandados por Deus para estar no Pentecostes, levarão o fogo ao redor do mundo. O zelo
missionário está atingindo
sua temperatura máxima. Os dons
do Espírito estão
sendo derramados, a armadura da
igreja restaurada. Verdadeiramente estamos nos dias da restauração, os
"últimos dias"; são dias
maravilhosos, dias gloriosos, mas dias horríveis para os que continuam resistindo. São dias de privilégio,
responsabilidade e perigo.
"Os demônios estão sendo
expulsos, os doentes curados,
muitos abençoados com salvação, restaurados e batizados com o
Espírito Santo e poder.
Heróis estão sendo desenvolvidos,
os fracos se fortalecendo no Senhor.
Os corações humanos estão sendo revistos como por uma
vela acesa. É uma época de grande peneiração não só de ações, como de motivos
interiores secretos. Nada
pode escapar dos olhos do Senhor que a tudo perscrutam.
Jesus está sendo levantado, o
"sangue" magnificado, e o Espírito Santo homenageado mais
uma vez. Muito
poder para prostrar as pessoas se
manifesta. É esta a principal causa
de resistência por parte daqueles que se recusam a obedecer.
A obra é para valer. Deus está conosco com grande autenticidade. Não ousamos
pensar em ninharias. Homens fortes ficam durante horas prostrados sob o poder de
Deus, cortados como grama. O Avivamento
será mundial sem dúvida."
Capítulo 3 -
AINDA MAIS PROFUNDO
O INÍCIO DA OBRA NA
RUA EIGHTH COM A MAPLE
Oito de agosto de 1906,
aluguei o auditório de uma igreja na esquina
das Ruas Eighth e Maple para
instalar uma Missão Pentecostal. Fui guiado por Deus a esta igreja em fevereiro. Era então ocupada
pelo povo do "Pilar de
Fogo" liderado pela Sra.
Alma White, de Denver. Senti que devia orar
por um local
para nos reunirmos depois que
verifiquei que a Igreja do Novo Testamento não estava indo bem. Eu, no entanto, nem sabia da
existência daquele prédio até
que, sem eu esperar, o Senhor um dia o mostrou. Estava
passando por lá e o vi pela primeira
vez. Verifiquei que não estava sendo usado regularmente. Fora uma igreja alemã.
Por curiosidade abri a porta,
que não estava trancada, e entrei. Verifiquei
que pertencia ao grupo "Pilar de Fogo". Ajoelhei-me em frente
ao altar para orar um pouco: o Senhor
falou comigo, e senti então a presença
do Espírito. No
mesmo instante eu estava andando entre
os bancos, tomando
posse de tudo
para o "Pentecostes".
Em cima da porta estava escrito
"Gott ist die Liebe"
(Deus é Amor). dois meses antes
de começar o trabalho na Rua Azusa.
Não procurei mais por nenhum
prédio, sabendo que Deus já falara, e aguardei com paciência Sua hora. Uma
noite, seis meses depois, quando passava
por ali ao voltar para casa de uma
reunião, vi no
edifício uma tabuleta
anunciando: "Aluga-se". O prédio estava vazio, e o Senhor me
falou: "Esta é a sua igreja". O "Pilar de Fogo" havia
virado fumaça, incapaz de pagar o
aluguel. Seus membros haviam sido os opositores mais
ferrenhos do trabalho na Rua
Azusa. O Senhor esvaziara o local para nós. No
dia seguinte, fui
levado a falar
com nosso senhorio, irmão Fred
Shepard, a respeito do que
acontecera. Não pedi
que me ajudasse, mas foi Deus que
me enviara à ele. Perguntou-me quanto era o
aluguel, foi à sala próxima e voltou rapidamente com um cheque de cinqüenta
dólares para o primeiro aluguel. Aluguei
imediatamente o local.
A verdade deve ser dita; a
Missão Azusa começou a falhar com relação ao Senhor desde o princípio de sua
história. Deus me mostrou um dia que
eles iam se organizar, apesar de não ter ouvido nenhuma
palavra a este respeito. O Espírito
revelou-me isto, e fez-me levantar e avisá-los contra o "espírito
partidário" no trabalho Pentecostal. Os santos "batizados"
deviam formar um único corpo,
pois para isso foram chamados, e deviam ser livres como é livre o
Espírito do Senhor para "não se
submeterem de novo a jugo de escravidão (eclesiástico)". Os santos da Igreja do Novo Testamento já haviam
tolhido seu progresso desta mesma forma.
Deus queria um grupo
renovado, um canal através do qual Ele pudesse
evangelizar o mundo, abençoando a todos os povos e a todos os crentes. É
óbvio que não podia alcançar isso através de um partido sectário. Essa atitude
tem sido a praga que causou a morte de
todos os grupos avivados, mais cedo ou mais tarde. A história se repete nesse aspecto.
Logo no dia seguinte ao que
dei este aviso na reunião,
encontrei do lado
de fora de "Azusa", um cartaz onde se lia "Missão
Fé Apostólica". O
Senhor me falou: "Isto foi o
que Eu lhe disse". Haviam
enveredado por esse
caminho. É claro que uma atitude
partidária não pode ser Pentecostal.
Não pode haver divisões num
verdadeiro Pentecostes. Formar
um corpo separado
é fazer publicidade de que
falhamos como povo de Deus, provando
ao mundo que somos
incapazes de viver juntos, em vez de levar os
povos a crer
na salvação que anunciamos. "...a fim de que todos,
sejam um, para que o mundo creia que
tu me enviaste" (João
17:21). A partir daí começaram os problemas e as divisões.
Não era mais um Espírito livre para todos, como fora antes. A obra se
transformara em mais um partido e corpo rival, como as outras igrejas e
seita da cidade. Não é de admirar que
oposição feita pelas outras igrejas fosse
crescendo. Havíamos sido chamados
para abençoar todo
o "corpo de
Cristo", onde quer
que se encontrasse. Cristo é um
só, e Seu corpo só pode ser um. Dividi-lo é destruí-lo, como ocorre com um
corpo natural. "Pois, em um só espírito,
todos nós fomos batizados em um corpo" (I Coríntios
12:13). A igreja é um organismo,
não uma organização humana.
Domingo, dia 12 de agosto,
começou o trabalho na Rua Eighth com
a Maple. O Espírito se manifestou grandemente desde a
primeira reunião, pois foi-lhe dado controle total. O ambiente era
terrível para os
pecadores e desviados.
Uma pessoa tinha de acertar totalmente a
sua vida para
conseguir permanecer. O tremor realmente "se apoderou dos
ímpios" (Isaías 33:14). Por alguns dias
pouco fizemos além de nos prostrarmos em oração diante do Senhor.
O ambiente era santo e
sagrado demais para que alguém
tentasse ministrar.
Como os sacerdotes no antigo
tabernáculo, a glória era tamanha que não se
podia ministrar. Tivemos grandes batalhas com pretendentes carnais
e com
impostores.
Mas Deus dava-nos a vitória.
O Espírito ficava
muito entristecido com os
espíritos contestadores. Por
algum tempo a
atmosfera aqui era
de maior espiritualidade do que
em Azusa. Deus estava conosco de forma tão
maravilhosa que a própria atmosfera do céu parecia nos envolver. O peso
da glória era
tal que só podíamos ficar prostrados com o rosto em
terra. Por muito
tempo nem podíamos ficar
sentados. Todos ficavam com o rosto no
chão, alguns durante
o culto inteiro. Eu raramente conseguia sair desta posição, prostrado
inteiramente com o rosto no chão. Havia
no salão uma
pequena plataforma de
uns trinta centímetros de altura
quando alugamos a igreja. Eu costumava ficar prostrado ali enquanto Deus
comandava as reuniões. E as reuniões eram dEle. Todas as noites o poder de Deus se manifestava com força
total. Era tão glorioso;
o Senhor se tornava quase visível
de tão real
que era. Tínhamos
muito trabalho com pregadores estranhos que queriam pregar.
De todos, parecia que eram eles os que
tinham menos juízo. Não sabiam o bastante para ficarem quietos na
presença de Deus. Gostavam de
ouvir a si mesmos. Mas muitos pregadores
pareciam "morrer"
nessas reuniões. A cidade estava cheia deles com é até hoje. Faziam um
barulho vazio, como o pisar sobre vagens do ano passado. Ajuntamos um
verdadeiro quintal de "ossos secos". Sempre reconhecemos Azusa como a
matriz, e nunca houve atrito ou ciúme
entre nós. Visitávamos uns aos outros. O irmão Seymour muitas vezes se reunia conosco.
Escrevi no "Christian
Harvester" naquela época o seguinte: "As reuniões
estão maravilhosas. Ontem foi a melhor que eu já assisti. O poder de Deus
dominou ambiente durante o dia inteiro. A
igreja estava cheia.
Total convicção tomou conta do
povo. O Espírito dirigiu a reunião do princípio ao fim. Não havia programa, e
quase não houve oportunidade para fazer os avisos necessários.
Não houve nem sequer uma alternativa para pregar. Algumas mensagens
foram dadas pelo Espírito. Todos estavam livres para obedecer a Deus. O altar
estava cheio de almas sequiosas o dia inteiro. A
esposa de um
pastor Metodista Independente recebeu poderoso batismo e falou
numa língua que parecia chinês.
Todos os que eram batizados falavam em línguas. Havia
pelo menos seis pastores
"Holiness", alguns de cabelos brancos, que buscavam o batismo
com intensidade. Eram homens respeitáveis que inspiravam confiança
por causa dos seus muitos anos de serviços frutíferos. Simplesmente levantavam
suas mãos diante dessa revelação do Senhor e buscavam seu Pentecostes. O
presidente da igreja "Holiness" do sul da Califórnia foi um dos
primeiros a chegar ao altar buscando com toda a sinceridade."
De outra feita, escrevi n0
mesmo jornal: "O Espírito não permite
interferência humana nas reuniões; às vezes passa por cima dos erros
como se não os visse
e outras vezes tira os erros,
Ele mesmo, do
caminho. Coisas que
normalmente pensamos em corrigir são deixadas de lado, evitando
assim calamidades maiores.
Chamar a atenção sobre certos
erros apavora os irmãos, que param de
buscar o Senhor, e assim o Espírito
fica impedido de operar. Por isso,
Ele simplesmente tira os erros do
caminho, pois há questões mais importantes para serem cuidadas no momento. Tentamos não valorizar o
poder de Satanás. Estamos, em vez
disto, pregando a respeito de um grande Cristo. Deus
está usando os
pequeninos. O inimigo está
fazendo tudo para quebrar nossa
união através de
divergências doutrinárias; temos de preservar a união do Espírito de
qualquer forma. Algumas coisas podem ser
ajustadas depois. São menos importantes.
Deus nunca colocará esta obra nas mãos de homens. Se um
dia ficar sob o controle de homens, estará liquidado. Muitos se uniriam a nós se
não tivessem de se humilhar, e abandonar a exaltação da mente natural."
MINHA EXPERIÊNCIA
COM LÍNGUAS
No dia 16 de agosto à
tarde, o
Espírito se manifestou
através de mim em
línguas. Estávamos em sete naquela ocasião. Era um dia de semana;
depois de alguns testemunhos e
louvor, tudo ficou quieto, e eu andava
silenciosamente de um lado para o
outro louvando ao Senhor no meu espírito.
De repente, pensei ouvir na minha alma (não com meus
ouvidos naturais), uma voz forte falando
numa língua que eu não conhecia. Mais tarde, ouvi sobre uma experiência
semelhante na Índia. Parecia arrebatar-me e totalmente satisfazer toda a
tendência ao louvor que estava presa dentro de mim. Em
poucos instantes encontrei-me, como algo
que independesse da minha vontade própria, enunciando com minhas cordas
vocais os mesmos sons que antes
ouvira dentro de mim. Era a continuação exata
do que eu ouvira em minha alma há alguns minutos.
Parecia uma língua perfeita e senti-me como espectador. Entreguei-me
inteiramente à Deus e fui
com simplicidade carregado por
sua vontade, como por um riacho divino. Eu poderia ter me
calado se quisesse, mas não o faria por nada deste mundo. Uma
sensação de consciência celestial se seguiu. É impossível
descrever a experiência com precisão. Deve ser experimentada para ser
apreciada. Não houve esforço da minha parte para falar, e nem a menor luta
contra este fluir espontâneo. A experiência
era sagrada; o Espírito Santo tocava nas minhas cordas vocais
como uma harpa eólica. Tudo o que foi dito foi completa surpresa para mim, pois
nunca me esforçara para falar em línguas. Pelo contrário, porque eu não
podia compreendê-las com
minha mente natural, tinha
até medo da experiência.
Não tive nenhum desejo
naquela época de entender o que eu
dizia. Parecia uma expressão pura da alma, fora dos limites
da mente
natural ou da
compreensão humana. Parecia que estava sendo selado na minha fronte e
que cessavam todas as obras da minha
mente humana. Publiquei sobre minha experiência
o seguinte: "O Espírito havia me preparado
gradualmente para este ponto'
culminante da minha experiência através de rações feitas
por mim mesmo e por outros.
Aproximei-me portanto de Deus, com um espírito muito submisso, pois
eu havia
chegado a um ponto de total abandono de minha vontade
própria, e de
plena consciência de minha incapacidade. Fora um processo
cumulativo de purificação de toda atividade do homem natural. A presença no meu
interior do Espírito tinha sido tão sensível como a água no medidor de uma
turbina a vapor. Minha mente, a
última fortaleza do homem a ceder
a Deus, fora possuída pelo
Espírito. As águas
que haviam vagarosamente se
acumulado passaram por sobre minha cabeça. Fiquei inteiramente mergulhado nEle. Os sons em
línguas eram completamente
destituídos de toque humano, "segundo o Espírito me
concedia que falasse" (Atos 2:4)."
Oh! Que sensação maravilhosa
de estar totalmente dominado por Deus! Minha mente sempre fora muito ativa. Sua
atividade carnal causava todos
os problemas de minha experiência cristã.
"Levando cativo todo
pensamento..." (II Coríntios
10:5). Nada impede tanto a fé e a operação do Espírito como a
auto-suficiência da mente humana. Isto precisa ser crucificado e aí começa
a luta. Precisamos ficar totalmente
desfeitos, insuficientes, incapazes
em nossa própria consciência, totalmente
humilhados, antes de
podermos ser possuídos
pelo Espírito Santo. Queremos possuir o Espírito Santo, mas a verdade é
que Ele
nos quer possuir primeiro. Com a experiência de falar em línguas,
cheguei a entrega total. Foi aberto
então em
mim canal para
novo ministério de
serviço no Espírito. A partir
daí, o Espírito passou a fluir através de
mim de uma
nova maneira. Mensagens vinham com
uma unção que
eu nunca tivera
antes, com inspiração e
iluminação espontâneas, e com verdadeiro poder
de convicção. Era realmente maravilhoso. O batismo
Pentecostal significa entrega total, a posse de todo ser pelo Espírito Santo,
e uma
disposição de obedecer
prontamente. Eu conhecia a muitos
anos o poder de Deus para o ministério, mas
agora notava em mim uma sensibilidade nova com
relação ao Espírito
e uma entrega
maior. O resultado era que Deus
me podia possuir e trabalhar de maneira nova
através de novos canais com resultados
muito mais diretos
e poderosos. Recebi
novas revelações de sua soberania,
tanto em propósito
como em ação,
como nunca conhecera antes.
Descobri que muitas vezes acusei Deus de falta de interesse ou de ter demorado a agir, quando eu deveria
ter me entregue a Ele pela fé;
para que Ele pudesse fazer operar através de mim a Sua poderosa e soberana
vontade.
Humilhei-me a Seus pés com
esta revelação de minha própria ignorância, e de Seu cuidado e desejo soberanos. Verifiquei
que meu pouco desej0
de servi-lo era apenas o que Ele conseguira transmitir a
mim de Sua grande vontade, interesse e propósito.
Sua palavra declara isso. Tudo o
que havia de
bom em mim,
em pensamentos ou ações, vinha dEle. Como Hudson Taylor, eu agora sentia
que Ele simplesmente me pedia
para acompanhá-lo e ajudar naquilo que só Ele tem proposto e desejado.
Sentia-me muito pequeno diante desta revelação e da
minha maneira errada de
compreendê-lo anteriormente. Ele existia
e cumpria Seus
propósitos esternos muito antes que alguém soubesse da
minha existência, e
continuaria muito depois que eu tivesse ido embora.
Não havia distorções ou
contorções. Não fiz nenhum
esforço para tentar receber o batismo. Comigo foi só uma
questão de ceder.
Na realidade, foi o
oposto da luta. Minha garganta não inchou, não foi preciso fazer nenhum esforço
no meu aparelho vocal. Não tive a menor dificuldade para falar em
línguas. No entanto, posso compreender que alguns tenham dificuldades.
Não se submeteram completamente a Deus. Comigo a
luta tinha sido prolongada por muito tempo. Eu já estava exausto e
completamente submisso. Deus não lida com
dois indivíduos da mesma forma. Eu nem estava buscando o
batismo quando o recebi. Aliás
nunca o buscara como experiência
definitiva. Eu queria me submeter inteiramente a Deus.
Eu só queria uma coisa:
receber mais dele.
Não havia ninguém gritando ao
meu redor para
me confundir ou
me excitar.
Ninguém me sugeria
"línguas" naquela hora por argumentação ou imitação. Graças a Deus
que Ele é capaz de realizar sua obra sem esse tipo de auxílio, e aliás
de maneira muito melhor. Eu não acredito que seja necessário usar
"fórceps" para dar à
luz espiritualmente. Creio em orações equilibradas e sinceras para ajudar no Espírito. Contudo, muitas almas são
tiradas a força do ventre da convicção, e têm que ficar na incubadora para
sempre. Como ocorre na natureza, assim também é na vida espiritual. É melhor
dispensar o máximo possível os médicos e as
velhas parteiras. A criança, às vezes, quase morre por causa da
violência desnatural da interferência humana. Um bando de chacais lutando por
um apresa talvez não fosse mais feroz do que aquilo que vimos em certas
ocasiões. Num parto
normal, o melhor é deixar a mãe
em paz enquanto for
possível. Podemos ficar
ao lado encorajando, mas não
forçando o trabalho do parto. Os
partos naturais são os
melhores.
Antes disto, Deus me limitou principalmente ao
ministério e intercessão e profecia, até que eu chegasse a este estado de total
entrega ao Espírito. Agora chegou
a hora de sair novamente num ministério ativo. Meu dia de Pentecostes se cumprira,
o canal foi desentupido e as águas vivas
jorraram. As portas ao meu
ministério abriram-se de par em par com apenas
um toque da mão
soberana de Deus. O Espírito começou a operar em mim de forma poderosa e
nova.
Era diferente, um novo
clímax, uma experiência inédita para mim.
Era para isto que Deus havia
separado todo o grupo que estava conosco. No mundo inteiro os escolhidos de
Deus estavam sendo preparados. Os resultados
disso já fazem parte da história.
Na realidade isso se tornou um marco na
história da igreja tão definido e
diferente como a ação do espírito Santo no tempo de Lutero e Wesley, e com
muito maior portento. E ainda não
vimos a história
completa.
Pouco tempo tivemos até agora
para entender ou apreciar estes
acontecimentos.
Galgamos mais
um passo para a restauração
da igreja primitiva.
Estamos completando o círculo. Jesus voltará para uma igreja perfeita,
"sem mácula, nem ruga". Ele
está voltando para "um corpo", não para uma dúzia de corpos. Ele
é o cabeça, e como tal não é uma
monstruosidade com mais de cem corpos.
"A fim de que todos seja um... para que o mundo
creia" Afinal de contas esse é
o maior sinal para o mundo.
"Ainda que falemos as línguas dos homens e dos anjos, se não tivermos amor,
nada seremos" (I
Coríntios 13). Eu
senti que depois
da experiência de falar em línguas, outras línguas viriam com
facilidade. E tem sido assim. Também aprendi a cantar no
Espírito, embora eu não seja cantor e não conheça música.
ENTREGA TOTAL: CONDIÇÃO
PARA O BATISMO
Nunca procurei falar em
línguas. Minha mente natural fazia resistência a tal idéia. Este
fenômeno necessariamente viola
a razão humana.
Significa abandono desta faculdade por algum tempo. Isto
é "loucura" e uma pedra
de tropeço para a razão humana. É sobrenatural. Não precisamos
esperar que alguém que chegou que não chegou a esta
profundidade do abandono
no seu espírito humano, e a esta morte a sua própria
razão, aceite-o ou compreenda-o. A
razão carnal tem que ceder nesta questão. Há um abismo para ser atravessado
entre a razão e a revelação. Mas
a experiência deste princípio é exatamente que leva ao batismo "Pentecostal", como em
Atos 2:4. É o
princípio mais fundamental
do batismo. E é por isto que as pessoas simples entram primeiro,
embora não sejam sempre bem equilibradas ou capazes em
outros sentidos. São como meninos que vão
nadar, para usar uma ilustração simples. Entram antes porque
têm pouca roupa para
tirar. Todos precisam
"despir-se"
espiritualmente para Ter esta experiência. O egoísmo tem de morrer.
Esta era a atmosfera normal
na igreja primitiva. Eis a razão de sua submissão à operação do Espírito, seus
dons sobrenaturais, seu poder. Nossos intelectuais de hoje não podem alcançar
isto. Oh, que nos tornássemos tolos que nãos soubéssemos nada de nós mesmos a
fim de recebermos em plenitude a mente de cristo, e que só o Espírito Santo nos ensinasse e nos
guiasse a todo o momento. Não estou dizendo que devemos falar em línguas continuamente.
O batismo não é só falar em línguas.
Pode-se viver neste lugar de
submissão e iluminação e só falar a
nossa própria língua. A Bíblia
não foi
escrita em línguas.
Podemos certamente viver
no Espírito em todo o tempo, mas poucos o conseguem.
Oh, que profundidade há numa
entrega total, quando todo o egoísmo se
foi! Ter consciência de não saber
nada, de não ter nada, a não ser o que
o Espírito nos ensina
e inspira. Este
é o verdadeiro
centro do poder, do
poder de Deus, no
ministério de um
homem. É quando não sobra nada além da vida pura do Espírito. Toda esperança ou sensação
de capacidade natural desapareceu.
Vivemos pelo Seu sopro
apenas. O "som como de um
vento impetuoso" do dia de "Pentecostes" era como o sopro
de Deus (Atos 2:2). Que mais poderemos
dizer? É preciso ser vivido para
ser compreendido. Não pode ser
explicado. Já tínhamos certamente uma porção do Espírito
antes desta experiência. A história
testifica este fato. A igreja tem vivido em estado
anormal desde sua
queda. Mas não podemos ter o batismo
"Pentecostal" sem a experiência
que a igreja
primitiva possuía. Os apóstolos a receberam de repente e em plenitude.
Só a fé simples e a entrega total podem recebê-la. A razão humana encontra todo
tipo de defeitos e tolices aparentes como desculpa para
rejeitá-la.
Falei em línguas
possivelmente por quinze minutos na primeira ocasião. Depois a inspiração
imediata passou e desapareceu por algum tempo. Já falei outras vezes desde então. Mas nunca tentei
reproduzi-las. Esse ato deve estar sob a soberania de Deus. Seria tolice e
sacrilégio tentar imitá-las. A experiência deixou em mim a consciência de um
estado de total entrega ao Senhor, uma sensação de descanso perfeito dos meus trabalhos e
atividade mental. Deixou-me uma
consciência do controle total de Deus
sobre mim e
da Sua presença
em mim numa
medida equivalente. Foi uma experiência muito profunda e temerosa.
Algumas pessoas têm menosprezado totalmente
esse princípio e
essa possessão do
Espírito.
Recusaram-se a permanecer no
Espírito, e levaram muitos a tropeçarem.
Isto tem trazido grande mal. Mas
a experiência persiste como fato tanto na história como na realidade atual. Desde que a igreja
primitiva perdeu o Espírito, grande parte do conhecimento dos cristãos a
respeito de Deus
tem sido um
conhecimento intelectual. Seu conhecimento da palavra de
Deus e dos
Seus princípios, é intelectual, na maior parte, fruto da
razão e da compreensão humana. Há
pouca revelação, iluminação ou inspiração vindas diretamente
do Espírito Santo
de Deus.
Citarei trechos de autores
bastante conhecidos sobre o falar em línguas. O
Dr. Philip Schaff, no seu livro "História da Igreja Cristã",
volume 1, página 116, diz: "Falar em línguas é um salmo
involuntário, como uma oração ou um canto, dito em estado de elevação
espiritual, num língua
peculiar inspirada pelo Espírito Santo. A alma fica quase
passiva, como instrumento no qual o Espírito Santo toca suas melodias
celestiais."
Os comentaristas Conybeare e
Howson escrevem: "Este Dom (falar em línguas) é o resultado de repentino influxo do
sobrenatural nos crentes. Sob sua influência o exercício da razão é suspenso,
enquanto o Espírito é envolvido num
estado de êxtase pela comunicação
direta do Espírito de Deus. Neste estado
de união com Deus o crente é impelido
por uma força
irresistível a dar
vazão a seus sentimentos de louvor em palavras que
lhe não são próprias. Geralmente ele nem
sabe qual o significado destas palavras."
Stalker, no seu livro "A
Vida de Paulo", página 102, diz
o seguinte: "(O falar em língua) parece ter sido uma
espécie de seqüência de
sons em que a
pessoa dá vazão a uma rapsódia apaixonada, através da qual expressa e exalta
a sua fé. Alguns não são capazes de dizer aos outros o significado
do que
dizem, enquanto outros recebem este poder adicional; e há outros ainda
que não falam em línguas mas são capazes de interpretar os que
os locutores inspirados
estão dizendo. Em todos os casos parece haver uma espécie de
inspiração imediata, de forma que não fazem nada premeditado ou
preparado, mas tudo é resultado de forte impulso do
momento. Estes fenômenos
são tão incríveis,
que se fossem narrados na história, desafiariam
fortemente a nossa capacidade de
acreditar.
Mostram com que grande poder
o cristianismo que primeiro surgiu no mundo
tomava conta dos espíritos que tocava.
Porém, os próprios
dons do Espírito
foram transformados em instrumentos de pecado, pois aqueles que possuíam
os dons mais visíveis (como o de milagres
ou de línguas)
gostavam de exibi-los,
e os transformavam em motivos
de envaidecimento." Há sempre perigos,
grandes ou pequenos, ligados aos
privilégios. Crianças
frequentemente se cortam
com as facas afiadas. Mas sem
dúvida é mais perigoso ficar estagnado, onde estamos, do que se prosseguirmos confiando em Deus.
Descrevi da seguinte forma
algumas das minhas
experiências anteriores ao batismo no "Christian Harvester"
. "Meu próprio coração foi tocado por Deus
até ao ponto em que chorei, devido à luz adicional: "Deus, tira a
minha preocupação religiosa comigo
mesmo". Dificilmente sofri tanta humilhação, vergonha e culpa, como agora quando vi o meu melhor do
ponto de vista de Deus.
Minha formosura religiosa se
transformou em corrupção. Senti que não suportaria ouvir falar, nem mesmo
pensar nisso de novo. Ficaria feliz em esquecer até o meu próprio nome e
identidade. Destruí com grande satisfação os registros do que eu realizara
antes para Deus, cuja leitura antes me proporcionava muito prazer. Eu agora
os odiava como tentação do diabo para
exaltar meu "eu". As cartas
de apreciação sobre serviços religiosos realizados,
trabalhos literários que me pareciam de valor, e sermões que me pareciam
maravilhosos por sua profundidade e apresentação, agora me davam enjôo por detectar neles
sinais de vaidade.
Senti que
confiava neles para receber
preferência e recompensas divinas. "Só o sangue de Jesus" eu tinha,
pelo menos em
parte, deixado de
lado. Dependia de
outras coisas para recomendar-me a Deus.
Isto é uma
fonte de grande
perigo. Destruí estes documentos muito
estimados, estas falsas
evidências, como destruiria
um escorpião para que não tornassem
a me tentar
e a me
afastar da eficácia exclusiva dos méritos do Senhor. Mas
para isto foi preciso passar por
grandes lutas em meu coração.
"Trabalhos realizados no
passado se apagaram da
minha memória, com
grande alívio de minha parte. Comecei nova vida
para Deus como
se nunca houvesse realizado nada. Senti que estava de
mãos vazias diante dEle. A prova
de fogo parecia Ter acabado com
todas as minhas obras religiosas. Deus
não queria que repousasse sobre isso. No futuro deveria
esquecer tudo o que fizesse para Deus, assim
que fosse realizado, para que
não servisse de
tropeço para mim, e
continuar como se nunca houvesse feito
nada para Deus.
Seria esta a
minha segurança." Sem dúvida até a menor satisfação que
dermos ao nosso
"eu" com relação a obra
religiosa se constitui no maior impedimento às benção e ao favor de Deus. Isso deve ser evitado como se
evita uma serpente.
COMO DEUS TRATAVA
COM INTERFERÊNCIAS
Continuávamos a ter reuniões
maravilhas na Rua Eighth com a
Maple. Deus me mostrou que queria uma obra mais profunda
ainda do que havíamos alcançado
até então. Ele não estava satisfeito com o trabalho da Rua Azusa, apesar
de ser uma obra bem profunda. Ainda
havia muita religiosidade e manifestações do nosso "eu" entre nós.
isto implicava, naturalmente, em guerra aberta e implacável da parte do inimigo. Esta obra teria a função de
um hospital militar improvisado onde se
trataria com os problemas de ações
carnais, manifestações falsas
e o ego religioso
em geral. Estávamos
buscando uma experiência
que fosse real, permanente e bem fundamentada, que produzisse o caráter de
Deus, e que
não sofresse contínuas recaídas.
Eu estava sendo provado
financeiramente, de novo. Um dia tive de andar vinte e cinco quarteirões até o
centro, pois não tinha dinheiro para
a passagem. Um irmão quase tão pobre quanto eu me deu
a passagem de
volta. Ao mesmo
tempo tínhamos reuniões maravilhosas. Muitos ficavam prostrados sob o
poder. Um dia o diabo enviou dois
indivíduos muito fortes para
desviar a obra.
Uma mulher espírita colocou-se
diante da congregação,
como se fosse
tambor-mor, para liderar os
cânticos. Orei até que saiu da igreja. O outro, um pregador fanático com uma voz que quase sacudia as
janelas, tive de rebatê-lo abertamente, pois se apropriara de toda a reunião. A
presunção estava estampada
nele. O Espírito ficou terrivelmente triste. Deus não
podia trabalhar. Eu havia sofrido
demais pela obra para entregá-la com tanta facilidade ao diabo.
Além do
mais eu era responsável pelas almas e pelo aluguel.
Tive de mandá-lo sair.
Tivemos lutas ferozes com
esses espíritos. Teriam estragado tudo. O
diabo não tem consciência e a
"carne" não tem juízo. Logo no primeiro dia quando
abri a igreja para as reuniões,
achei nos degraus sentado, me esperando, um dos
piores e mais fanáticos crápulas religiosos. Era um pregador que queria
mandar em tudo.
Expulsei-o dali, como Neemias
fizera com o filho de
Joiada (Neemias 13:28); nunca imaginei que houvesse tanto do
diabo em tanta gente.
A cidade parecia cheia deles. Isso tentava os santos a
brigar e impediu a ação do Espírito. Esses charlatães e trapaceiros eram os
primeiros a chegar nas reuniões.
Tivemos de fazer muita limpeza,
principalmente no caso dos velhos
crentes. Havia muito charlatanismo profissional e religioso,
e o juízo deveria começar pela casa do Senhor. Lutero no seu tempo
sofreu muito com
os teimosos fanáticos religiosos. De Wartburg, onde
estava se escondendo naquele tempo, ele
enviou a Melancthon em
Wittenberg, um teste para estes
fanáticos: "Pergunta a
esses profetas se já sentiram as tormentas espirituais que vêm de Deus;
se conhecem o inferno e a morte que acompanham
a verdadeira santificação". Quando
Lutero voltou a Wittenberg, tentaram usar suas magias contra ele, mas
ele respondeu com essas palavras rudes: "Eu esmurro o seu espírito no
focinho!" Pareciam demônios quando
desafiados dessa maneira, mas foi
quebrado o poder
maligno que os dominava.
Tivemos de ser firmes com
os casos
extremos, mas na
maioria dos casos
o Espírito passava por cima e retirava o que havia de irregular
sem fazer mais propagandas deles. Muitos dizem que hoje
não se pode deixar as reuniões abertas a
todos. Então não podemos deixar Deus entrar também. Ele não pode ser privado; custe o que custar, precisamos
sobretudo da presença de Deus numa dimensão maior para dirigir as reuniões. Os
irmãos em geral estão contaminados por
revolta ou confusão. Mas através
de oração e humilhação de si mesmo,
Deus intervirá no controle da reunião. Nosso segredo no
princípio era união através da oração
e amor; nenhum poder podia quebrar isto. O "eu" tinha
de ser queimado,
e uma atmosfera espiritual tinha
de ser criada através da humildade e da oração
aonde Satanás não pudesse habitar. O controle das reuniões tinha de
vir do
trono da graça. Isto vimos desde
o princípio. Era o oposto do zelo carnal, e
da ambição religiosa. Não
sabíamos nada dos métodos animadores e
apressados de hoje. Todo este sistema é um produto bastardo no
que se refere ao Pentecostes. Leva tempo para sermos santos. O mundo está com
pressa, mas isto não nos leva a
Deus. Uma das razões
da obra em
Azusa ter sido
tão profunda é
que os obreiros não
eram iniciantes. Foram
chamados e preparados
durante anos nas organizações "Holiness", e na
obra missionária, etc.
Suas vidas tinha
sido queimadas, provadas, e preparadas. Eram na maior parte veteranos
experimentados.
Andavam com Deus e aprenderam
profundas verdades sobre
Seu Espírito. Eram pioneiros, "tropas de choque",
como os trezentos de Gideão,
para espalhar a chama pelo mundo, assim como os discípulos
foram preparados por Cristo.
Agora temos uma multidão mista.
As sementes da
apostasia já tiveram
tempo de trabalhar. "O
primeiro amor" já se perdeu, o cão "já voltou ao seu vômito" em muitos casos, à doutrina e à prática
babilônicas. Uma mãe enfraquecida não
pode dar à luz filhos fortes.
No princípio, o Espírito
operava tão profundamente e o povo
era tão faminto, que o espírito humano e carnal que
tentasse se levantar nas reuniões raramente conseguia atrapalhar a operação do
Espírito Santo. Era
como se um
estranho entrasse num grupo muito fechado e selecionado; sua presença se
tornava e fora
do contexto. Os homens buscavam a Deus. Ele estava no Seu
santo templo, e o
mundo (a humanidade) tinha que ficar em silêncio diante dEle.
Nossas reuniões para buscar a
Deus em oração hoje são simples imitações do que havia no passado; muitas vezes
servem apenas para dar vazão aos excessos de entusiasmo ou para se ficar intoxicado mentalmente;
supostamente tudo isso
tendo como origem
o Espírito de Deus. Não devia ser assim. Havia também muito fanatismo no
movimento "Holiness".
Nos primeiros tempos uma sala separada para oração mais intensa era a
primeira preocupação de uma Missão
Pentecostal. Era considerada
sagrada, "terra santa". Havia
também consideração mútua.
As pessoas tentavam
ficar quietas, deixando em paz suas
mentes e espíritos
excessivamente ativos,
escapando do mundo por algum tempo e
ficando a sós
com Deus. Não
havia manifestações barulhentas emotivas ou incontroláveis ali, isto
podia ser feito em noutros lugares. As reclamações e a
confusão de um mundo exigente
ali não entravam. Era uma espécie
de refúgio, um lugar de descanso onde se podia ouvir a voz de Deus a falar
dentro da alma. As
pessoas passavam oras
em silêncio, sondando seus
corações e querendo saber qual era a mente do Senhor com
relação às ações futuras. Esta espécie de atitude parece praticamente
impossível hoje em dia devido a falta de ambiente. O nosso "eu"
morre através de
entrar na Sua presença. Para isso
é preciso muita
quietude de espírito.
Precisamos do santíssimo lugar.
Os judeus de antigamente ousariam agir
como agimos hoje
em nosso templos? Não, porque tal coisa significaria a morte para
eles. Mas agora todos estão cheios de tolices e de uma
auto-afirmação fanática. Os
católicos, embora formais, são muito mais reverentes do que nós.
O PASTOR PENDLETON
ASSUME A LIDERANÇA
Domingo, 26 de agosto, o
Pastor Pendleton com mais ou menos quarenta pessoas de sua congregação entraram
na Missão da rua
Eighth com a
Maple para adorar conosco. Haviam recebido o batismo e
falavam em línguas na sua própria igreja, e a "Igreja Holiness" os
havia expulsado por causa deste crime imperdoável. Quando soube que a igreja
julgá-los por heresia, convidei-os para se unirem a nós,
se fossem expulsos. Dois dias depois foram expulsos e aceitaram meu
convite. Vieram todos. O irmão Pendleton
declarou que depois
desta experiência nunca
mais colocaria outro telhado de doutrinas sobre sua
cabeça. Estava determinado
a prosseguir com Deus. Milhares estão presos em sistemas eclesiásticos,
dentro de barreiras sectárias, enquanto
a grande pastagem de Deus está
aberta para todos, cercada apenas pela Palavra de Deus. "Então
haverá um rebanho
e um pastor" (João 10:16). A
teologia tradicional, as verdades e revelações parciais, logo se transformam em
leis. A consciência é totalmente amarrada
como faziam antigamente com os
pés das meninas na China, e fechada contra qualquer progresso futuro.
Domingo, nove de setembro,
foi um dia maravilhoso. Diversas pessoas
ficaram prostradas durante horas sob o poder de Deus. O altar estava
repleto o dia todo, sem praticamente interrupção alguma
entre as reuniões.
Vários receberam o batismo. Naqueles dias pregávamos muito
pouco. As pessoas ficavam arrebatadas em Deus. O irmão Pendleton e eu geralmente
podíamos ser encontrados
totalmente prostrados na pequena elevação na frente, de rostos no chão
em oração, durante as reuniões. Era quase impossível
sair dessa posição naqueles dias. A presença do Senhor era tão real. Esta
condição durou por longo tempo. Nós pouco
fazíamos para dirigir as
reuniões. Todos estavam
olhando somente para
Deus. Quase sentíamos necessidade
de pedir desculpas quando chamávamos
a atenção do
povo para fazer os anúncios. Era uma marcha crescente de vitória. Deus conseguira
a atenção do povo.
A congregação às
vezes ficava convulsionada pelo arrependimento. Deus tratava
profundamente com o pecado naqueles dias. O
pecado não podia permanecer no arraial.
Logo depois deixei a Missão
da Rua Eighth com a Maple para o irmão Pendleton, pois estava cansado demais para
continuar trabalhando ininterruptamente nas reuniões. Eu estava desgastado pela
oração e pelas reuniões, e
precisava muito de uma mudança e
um período de descanso.
O ESPÍRITO EXALTA A
JESUS
No início do trabalho
Pentecostal meu espírito foi muito
exercitado para que Jesus não fosse deixado de lado,
"perdido no tempo", por
exaltarmos demais ao Espírito Santo ou algum dos dons do
Espírito. Parecia haver muito perigo de se perder de vista o fato de que Jesus é tudo
em todos. Procurei mantê-lo como tema e figura central diante do povo. Jesus
deve ser o centro da nossa pregação. Tudo vem através dEle. O Espírito Santo é
dado para mostrar "o que é de Cristo" (João 16:14, 15). A obra do Calvário
e a expiação pelos nossos pecados devem
ser o centro de nossas
considerações. O Espírito Santo nunca
desvia a atenção
de Cristo para si mesmo, mas revela Cristo de maneira mais
completa. Corremos o mesmo perigo hoje. Não há nada mais
profundo ou mais alto do
que conhecer a Cristo. Deus nos dá tudo para este fim. O
"único Espírito" (Efésios 4:4) é
dado para este fim. Cristo é a
nossa salvação, nosso
tudo, "a fim
de poderdes conhecer... qual seja
a largura, e o comprimento, e a altura,
e a profundidade, e conhecer o amor de
Cristo que excede todo o
entendimento..."
(Efésios 3:18,19), tendo "o
espírito de sabedoria e de revelação no pleno
conhecimento dEle" (Efésios
1:17). Era para conhecer a Cristo (Filipenses
3:10), que Paulo
se esforçava.
Certa noite fui levado de
repente a apresentar Cristo para a congregação da Rua Eighth com a Maple.
Estávamos nos esquecendo dEle através da exaltação excessiva do Espírito Santo
e dos dons. Agora submeti Cristo à sua
consideração. Ficaram surpresos e
se sentiram culpados imediatamente. Deus me levou a fazer
isto. O povo viu seu erro e o
perigo de tudo isso. Uma noite
nesta época quando
eu estava pregando sobre Cristo, colocando-o diante do povo no seu
devido lugar, o Espírito testificou de
tal forma o seu agrado que fui tomado pela sua presença e caí inerte
no chão sob uma poderosa revelação
de Jesus na minha alma. Caí a seus pés como João na ilha de Patmos.
Escrevi um folheto nesta
ocasião, do qual se seguem os seguintes trechos: "Não podemos Ter uma doutrina, nem
buscar uma experiência, a não ser
em Cristo.
Muitos querem buscar poder de
qualquer fonte disponível, de
maneira a fazer milagres, atrair a atenção e a adoração
do povo para si, tirando de Cristo toda
a glória, e ostentando-se na carne. A maior necessidade religiosa de nossos
dias é de verdadeiros seguidores do manso e humilde Jesus.
O entusiasmo religioso acaba logo. O espírito humano é tão
predominante e este espírito
religioso que quer se mostrar.
Mas precisamos nos apegar ao nosso texto que é Cristo. Só Ele
Salva. A atenção do povo deve estar, antes de mais nada e sempre, ligada a Ele.
Um verdadeiro Pentecostes
produz poderosa convicção do pecado e uma
volta para Deus. As manifestações
falsas produzem apenas excitação e
admiração. Pecado e egoísmo não sofrerão nenhum perigo
substancial deste tipo
de manifestação.
Devemos receber o que a nossa
convicção nos impõe. Acredite no que lhe disser
a fome do seu coração e prossiga com Deus. Não permita que Satanás lhe
roube o seu verdadeiro "Pentecostes". Qualquer trabalho que exalte
mais ao Espírito Santo e aos dons do que
a Jesus, acabará em fanatismo. Tudo o que nos leva a exaltar
e amar a Jesus é bom e seguro. O inverso estragará tudo. O Espírito Santo
é uma grande luz que só focaliza
em Jesus
a fim de
que Ele seja
revelado.
RELATÓRIO DE
TESTEMUNHAS DE FORA
A. S. Worrel, tradutor do
Novo Testamento, era um ardente amigo do "Pentecostes", e buscava o
batismo. Escreveu o seguinte no
"Way of Faith":
O sangue de Jesus
é exaltado nestas reuniões
como raramente tenho
visto em outros lugares. Há
grande poder manifestado no testemunho de Jesus, com
grande amor pelas almas perdidas. Há também derramamento
dos dons do
Espírito. As reuniões são na Rua
Azusa, na Igreja do Novo Testamento onde Joseph
Smale é o pastor; algumas pessoas desta igreja foram
as primeiras a falar em línguas, mas
muitos se retiram pois sentiam-se tolhidos em sua igreja, e também na Rua Eighth
com a Maple, onde os pastores Bartleman e Pendleton são os principais
líderes."
Em setembro de 1906, a
seguinte carta apareceu no "Way of Faith" escrita
pelo Dr. W. C. Dumble, de Toronto, Canadá, que estava visitando Los Angeles
naquela época: "Talvez alguns dos seus leitores se interessem pelas
impressões de um estranho em Los Angeles. Uma obra graciosa
do Espírito, similar a que houve em Gales, está se processando aqui. enquanto
aquela se processou principalmente nas igrejas, esta se processa fora delas. As
igrejas não a querem, ou até o presente momento mantiveram-se distantes,
críticas e com espírito condenatório. Tal
como a obra em Gales, este é um Avivamento feito por leigos
guiados pelo Espírito Santo, e realizado em auditórios, prédios
velhos e semi-destruídos, ou em
qualquer lugar que consigam para realizar a obra.
"É um
movimento extraordinário que
pode ser considerado
singular pelo aparecimento do
Dom de falar em línguas. Há três missões diferentes onde se pode ouvir
"línguas estranhas". Tive o raro prazer e
passar ontem na
reunião do Pastor Bartleman, ou
para ser mais exato, onde ele e o Pastor Pendleton são os
líderes nominais, mas onde o Espírito dirige tudo. Jesus é proclamado o cabeça, e o Espírito Santo seu executivo. Não
há pregação, coral, órgão ou coleta, a não ser o que é voluntariamente colocado
numa mesa ou
na caixa pendurada
na parede. Deus estava presente de forma poderosa na noite passada.
Alguém começa a cantar, talvez cantem três ou quatro hinos, salpicados
de aleluias e
améns.
Depois, uma pessoa com a
alma sobrecarregada levanta-se
e grita: "Glória
a Jesus!" E entre soluços e
lágrimas conta uma
grande batalha e
uma grande libertação. Depois com
os rostos brilhando três ou quatro ficam de pé. Um começa a louvar o Senhor e
depois com as mãos levantadas irrompe em uma nova língua. O Pastor Pendleton agora conta como sentiu
necessidade e buscou o batismo, e como
Deus o batizou com uma experiência de presença divina, amor e ousadia, que
nunca antes conhecera. Os oficiais de sua igreja quiseram
que ele se
retirasse e muitos saíram com ele
e uniram-se ao Pastor Bartleman. Depois uma senhora idosa de doces feições, uma Luterana alemã,
testemunhou que quando
ouviu o povo louvando a Deus em línguas, orou
para ser
batizada no Espírito.
Depois que estava já deitada
começou a falar em línguas e louvou ao Senhor a noite inteira, para espanto de
seus filhos. "Depois uma exortação em línguas, muito suave, veio do Pastor
Bartleman, e uma pessoa após a outra chegou ao altar, até que este se encheu de adoradores. Qualquer que seja a
crítica que possa ser feita
a este trabalho, ele é endossado
divinamente, e o Senhor acrescenta-lhes dia a dia, os que vão sendo salvos. Crê-se que este
Avivamento ainda está na sua infância
e garantem que um grande derramamento
é iminente. Estamos
na véspera desta dispensação. A mensagem que vem pelas
"línguas" é: "Jesus está voltando"."
O Dr. Dumble escreveu outra vez
para o mesmo jornal: "Na
igreja do Pastor Bartleman as
reuniões se realizam
todas as noites,
todo o dia
de domingo, e toda
a noite de
Sexta para Sábado.
Não há uma seqüência
fixa para as reuniões que devem seguir a direção
divina. O bendito
Espírito Santo é o dirigente responsável. Os líderes e pastores ficam
prostrados quase todo o tempo com
o rosto no pó, ou ajoelhados
no lugar onde
geralmente se encontra o púlpito;
más não há púlpito, coral, e nem órgão.
Uma jovem nessa reunião pela primeira vez foi visitada
pelo Espírito e ficou meia hora
com o rosto brilhando, deitada no
chão, sem perceber os que estavam
ao seu redor, tendo visões indescritíveis. Logo
começou a dizer: "Glória! Glória a
Jesus!" E falou fluentemente
numa língua estranha. No Domingo passado
a reunião foi de
manhã até à meia-noite. Não houve pregação,
só oração, testemunho,
louvor e exortação."
Na realidade, no princípio
tiraram-se, no máximo possível, as plataformas
e os púlpitos. Não
havia necessidade para
eles. Classes sacerdotais
e abuso eclesiástico deixaram de
existir. Todos eram irmãos. Todos estavam
livres para obedecer a Deus, que
podia falar através de quem quisesse. Ele
havia derramado Seu Espírito
sobre toda carne, até nos seus servos e servas (Atos 2:17, 18). Só homenageávamos os homens por seus dons e
ministérios dados por Deus. Quando
o movimento foi se apostatando, começou a se fazer
plataformas mais altas,
as roupas ficaram mais solenes, os corais foram organizados
e as orquestras
de instrumentos de cordas apareceram para deslumbrar o povo. Os
reis voltaram a seus tronos; não eram mais irmãos, e
por isto
as divisões se
multiplicaram.
Enquanto o irmão Seymour manteve
sua cabeça na velha caixa
de madeira, tudo correu bem em Azusa. Depois fizeram um
trono para ele também. Agora não temos só uma hierarquia, mas muitas.
O FUTURO DESTE
AVIVAMENTO
Escrevi para outro jornal
religioso o seguinte, em 1906: "Aflitos com a maldita incredulidade, prosseguimos
para cima com
a maior dificuldade, lutando pela restauração da
gloriosa luz e poder da igreja, antes derramados com tanta abundância, mas
agora há muito, perdidos. Temos estado por tanto tempo na escuridão da descrença causada pela
queda da
igreja, que nossa
tendência é resistir à luz, pois
nossos olhos estão fracos. A igreja caiu tanto
que quando Lutero tentou
restaurar a verdade de justificação pela fé a igreja de seu tempo resistiu e lutou contra ela como a pior
heresia. Alguns pagaram por
isso com suas próprias vidas.
Ocorreu o mesmo na época de Wesley.
Mas agora temos
a própria restauração da experiência de Pentecostes com as chuvas
serôdias, uma restauração do poder,
e de maior glória, a
fim de acabar
a obra que
foi iniciada. Seremos elevados ao nível primitivo da igreja para
terminarmos o seu trabalho, partindo do ponto onde nossos
antecessores pararam quando o fracasso os conquistou, e rapidamente
cumprindo a última grande comissão para
abrir o caminho para a volta de
Cristo.
"Devemos interromper os
séculos de fracassos da igreja e
a longa, sombria idade escura, e apressando o
tempo, ser totalmente
restaurados ao poder,
à vitória e à glória primitivos.
Procuremos sair pela
graça de Deus,
de um cristianismo corrupto,
retrógrado e espúrio.
As sinagogas de
uma igreja orgulhosa e
hipócrita estão voltadas
contra nós para
desacreditar-nos. Os
mercenários clamam por
nosso sangue. Os
escribas e os
fariseus, os sumo-sacerdotes ,
os principais das sinagogas estão todos contra
nós e contra Cristo.
"Los Angeles parece ser
o lugar e esta a ocasião, no plano de
Deus, para a restauração da igreja ao seu lugar, favor e
poder primitivos. Chegou a hora para a completa restauração da igreja. Deus
falou com seus servos em
todas as partes do
mundo, e todas
as nações, como
antigamente, vieram para o
Pentecostes, para depois sair e levar as boas
novas de salvação.
A base de operação para o último
Pentecostes mudou-se da
antiga Jerusalém para
Los Angeles. Por toda parte Deus tem criado um tremendo anseio por essa
experiência.
O País de Gales foi designado
apenas como o berço para esta restauração do poder de Deus."
De novo escrevi nesse jornal:
"Se algum dia
os homens tentarem
controlar, enquadrar ou se apropriar desta obra de Deus para sua própria
glória ou a da sua organização, descobriremos que o Espírito se recusará
a agir. A
glória nos deixará. Se neste
trabalho se der a Deus seu devido lugar, então, tornar-se-á um trabalho tal
qual os homens jamais sonharam ver. Quão horrendo seria se o Senhor fosse
forçado a retirar seu bendito Espírito de nós, ou privar-nos dele numa ora como
esta por causa das nossas tentativas de limitá-lo. Alguns dos
"gafanhotos devoradores" foram o espírito partidário, diferenças
sectárias, preconceitos, etc.,
todos carnais e contrários à lei do amor, do corpo único de Cristo. " Pois
em um só Espírito, todos nós fomos batizados, em um só corpo..." (I Coríntios 12:13). A satisfação conosco
mesmo nos levará a derrota. Oh! Irmão! Pare de
dar voltas incessantes neste caminho batido, onde toda erva já parou
de crescer, e busque pastos verdejantes, próximos às
águas correntes."
No "Way of Faith",
escrevi o seguinte: "Estamos voltando da "idade escura", da decadência e queda da igreja. Estamos
vivendo os momentos mais decisivos de toda a história. O Espírito Santo está
pondo de lado os
nossos planos, esquemas, tentativas, e teorias,
e está agindo,
Ele mesmo, novamente.
Aqueles que acolchoaram muito
bem seus ninhos
estão lutando ferozmente.
Não podem sacrificar-se para alcançar estas condições."
O minério precioso da
verdade, que trouxe a emancipação da igreja da escravidão do domínio humano,
veio à luz numa forma necessariamente rude no princípio, como metal bruto. Como
na natureza, ele estava cercado por toda espécie de
elemento desprezível e prejudicial.
Pessoas extravagantes e violentas tentaram
se identificar com o trabalho. Uma verdade gigantesca
está lutando no
seio da terra, soterrada pela
avalanche de males retrógrados que apareceram
através da história da igreja.
Mas ela em breve irromperá,
sacudindo todo este
refugo indesejável que ainda se
prende inevitavelmente a ela. Cristo
afinal será proclamado o cabeça.
O Espírito Santo é a vida. Os membros são em
princípio um só corpo."
Outros trechos
de "Way of
Faith":
"Percebemos atualmente entre
nós manifestações de uma nova
ordem que está saindo
do caos e
do fracasso do passado.
A atmosfera está
carregada de expectativa
pelo ideal. Mas a incredulidade atrasa nosso
progresso. Nossas idéias
preconcebidas nos traem diante das oportunidades, e nos levam a
perda e
a ruína. Mas o mundo
está acordado hoje, espantado do seu culpável sono de
indolência e morte.
Cartas estão nos inundando
de todos os
lados, do mundo
inteiro, perguntando
ansiosamente: "Que quer dizer isto?" Ah! Temos visto
o pulso da
humanidade, especialmente da igreja
de hoje. Há
grande expectativa. E
essas crianças ansiosas e
famintas estão clamando
por alimento. A especulação fria
e intelectual só lhes tem oferecido negativas. O reino do Espírito não
pode ser alcançado pelo intelecto
sozinho. O sobrenatural tem nos despertado novamente ao reconhecimento do fato
de que Deus ainda vive e opera entre nós.
"As maneiras antigas de
agir estão desaparecendo. O sino funerário anuncia sua morte. Novas formas, uma nova ordem e
vida, estão aparecendo."
"Naturalmente está
havendo uma tremenda batalha. Satanás move suas
hostes para impedir que isso se
realize. Nós, porém, venceremos. O minério precioso precisa ser refinado depois de ser extraído.
O preciosos deve
ser separado do
vil.
Pioneiros rudes abriram o
caminho para que nós avançássemos
pelo mato errado.
Espírito positivos e heróicos
são necessários para este trabalho,
mas depois formas mais puras surgirão."
Desde a queda do homem Deus
tem tido um único propósito e
interesse para a humanidade: trazer o homem de volta para
si. Toda a velha dispensação, com seus
divinos tratamentos, era para este fim. Deus reconhecia só um povo, o
povo de Israel. Ele tinha um
propósito nesta nação. Todas as sua
funções e atividades eram para um objetivo. Toda sua
adoração apontava para este fim: trazer de volta a raça humana, as nações, para
o verdadeiro conhecimento de Deus
e trazer o Messias para o mundo,
"então virá o fim" e a maldição será
retirada. A igreja está trabalhando hoje com todos os
seus recursos para este
fim e para
este propósito? Se estiver, certamente não caberá o acúmulo egoístico de
propriedades e riquezas além do que realmente precisamos. Não poderemos mais
ajuntar tudo que queremos para nós mesmos e depois jogar para o Senhor algumas
moedas das quais na verdade não precisamos. Invertemos
totalmente a ordem depois
da queda da igreja primitiva. Deus requer exatamente a
mesma consagração de todos. E é aqui que entra o caso de Ananias e Safira.
Não é
um décimo que
Deus quer nesta dispensação, mas tudo. Nossos corpos
são templo do Espírito
Santo e devemos pertencer-lhe cem por cento em todo o
tempo. Pertencemos a Ele. Ele nos
criou e nos resgatou
de volta, nos
redimiu depois que
havíamos hipotecado a propriedade dele, não a nossa, para o
diabo. Em nenhum sentido somos donos
de nós mesmos. Fomos redimidos de volta pelo sangue. Quanto tempo
levará, ou teria levado, para
evangelizar o mundo sob este
princípio de vida?
Pense nestas coisas! A igreja
está agindo normalmente, de acordo com
o padrão divino?
O sistema político-religioso, desde a igreja primitiva até hoje, é na
maior parte uma instituição híbrida,
mestiça. Está cheio
de egoísmo, desobediência
e corrupção. Seu reino se tornou "deste mundo", ao invés de ser um
chamada de cidadania celestial
com armas espirituais.
OS HOMENS QUE DEUS
USA
A questão doutrinária também
tem sido uma grande batalha. Muitos eram dogmáticos demais na Missão Azusa.
Afinal, doutrina é apenas o esqueleto da estrutura. São os ossos do corpo, mas precisamos de
carne para cobrir os ossos,
precisamos do Espírito no
interior para dar vida. As pessoas precisam do Cristo Vivo, não de
contendas dogmáticas sobre doutrina. A obra foi muito prejudicada no
princípio por zelo sem
sabedoria. A causa
sofreu o maior'
dano, como sempre,
por intermédio de pessoas que vinha das
suas próprias fileiras.
Mas Deus tinha verdadeiros heróis dos quais Ele
podia depender. A
maioria deste surgiu
da obscuridade total para
proeminência e poder
repentinos, e em
seguida desapareceram com a mesma rapidez, depois de concluída a sua obra.
Alguém o expressou bem:
"homens, como estrelas, aparecem no horizonte segundo a ordem de Deus". Esta é uma verdadeira
evidência de uma genuína obra de Deus. Os
homens não fazem os tempos, como alguém também disse acertadamente, mas
os tempos fazem o homem. Até chegar o tempo, nenhum homem pode produzir um avivamento.
O povo precisa estar preparado e
o instrumento também. O historiador D'Aubigné
disse bem: "Deus tira do mais extremo retraimento, os instrumentos
fracos, através dos quais ele se propõe
a realizar grandes
coisas, e depois
de permitir que resplandeçam por um tempo com fulgor
deslumbrante num palco
ilustre, Ele os despede novamente para a mais profunda
obscuridade". Em outro lugar, ele
diz: "Deus normalmente retira
os seus servos
do campo de
batalha apenas para mandá-los de volta, ainda mais fortes
e mais bem
armados". Foi assim
que aconteceu com Lutero, preso em Wartburg depois do seu triunfo
brilhante sobre os grandiosos da terra em Worms.
D'Aubigné ainda escreve: "Há
momentos, na história do mundo,
como na vida
de Carlos II (da Inglaterra) ou de Napoleão, que decidem a carreira e a
fama de um homem. É o momento em
que a
sua força e
potencial, de repente,
lhes são revelados. Há um momento
idêntico na vida dos heróis de Deus,
porém, é numa direção oposta. É
o momento em
que reconhecem pela
primeira vez a sua
incapacidade e insignificância. Daquela hora em diante recebem força de
Deus lá do alto. Uma grande obra de Deus
nunca é realizada pela força natural do
homem.
É entre os ossos secos, na
escuridão e secura da morte, que Deu
se apraz em selecionar os instrumentos pelos quais Ele
se propõe a irradiar através da terra sua luz, regeneração e vida. Zwínglio era
um homem de constituição, caráter
e talentos fortes, mas seu defeito era justamente ser esta a sua força.
E para que fosse um instrumento do agrado
de Deus, sua
força natural teria
de ser prostrada, e ele teria de
passar por um batismo de
adversidade, enfermidade,
fraqueza e dor. Lutero passou por isto naquela sua hora de angústia quando
sua cela e os longos corredores
do convento Erfurth
ressoavam com seus
gritos lancinantes. Zwínglio o
experimentou através de
entrar em contato
com enfermidade e morte."
Os homens precisam conhecer
suas próprias fraquezas antes que haja esperança de conhecer a força de Deus. A força natural
e a habilidade humana são as maiores barreiras à obra e a operação do
Espírito de Deus. Foi por isto que as
mortes espirituais eram tão profundas, especialmente na vida dos
obreiros e pregadores, nos primeiros dias da Missão Azusa, pois Deus
estava preparando seus
obreiros para a missão deles.
A CAMINHO DA UNIDADE
O Espírito Santo está
trabalhando para que haja unidade entre os crentes, para que haja apenas "um corpo", e
que a oração de Cristo seja respondida: "a fim de que todos sejam um, para que o mundo
creia" (João 17:21). Mas os santos
estão sempre dispostos demais para servir um sistema ou partido,
e para lutar
por interesses religiosos, egoístas ou partidários. O povo de Deus
está preso em gaiolas denominacionais. O
erro sempre leva
ao exclusivismo militante,
a verdade, porém, está sempre pronta para abaixar e lavar os pés dos
santos.
Pertencemos ao corpo de
Cristo completo, tanto no céu como na terra.
A igreja de Deus é uma só. É uma
coisa horrível ir por aí desmembrando o corpo de Cristo.
Como parecerão ridículas e
perversas as insignificantes divergências
entre cristãos à luz da eternidade. A questão é Cristo, não
alguma doutrina a seu
respeito. O evangelho leva à Cristo, e exalta a
ele, não a
alguma doutrina.
Conhecer a Cristo é o alfa e
o ômega da fé e prática cristã.
"A igreja
no princípio era uma comunidade de irmãos, guiados por alguns
irmãos" (D'Aubigné).
"Porque um só é vosso
Mestre, e vós todos sois irmãos"
(Mateus 23:8). Temos excesso do espírito de liderança. Este
espírito divide o
corpo e separa
os santos.
Estamos completando o círculo
da queda da igreja primitiva de volta ao
primeiro amor e unidade, ao único corpo de Cristo. É para esta
igreja "sem mácula,
nem ruga, nem qualquer coisa semelhante" (Efésios 5:27) que Cristo
voltará!
[i]
Shekinah - Palavra hebraica que significa
"habitação de Deus", e
foi usada por
alguns escritores para referir-se à
manifestação sensível da
presença de Deus
no tabernáculo e no templo, geralmente numa nuvem: Êxodos 40:34; I Reis
8:10,11; II Crônicas 5:14; Apocalipse 15:8.
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